Alguns apontamentos sobre a eleição legislativa na Alemanha
Roberto Torres
No próximo dia 27 os alemães decidem a nova composição do parlamento nacional (Bundestag). A atual chanceler Angela Merkel, da democracia crista (CDU) é favorita nas pesquisas contra Frank Walter-Steinmeiner (SPD) para compor uma coalização e governar o país por mais quatro anos. Desta vez tudo indica que a coalização será com os Liberais (FDP), e não mais uma grande coalização com a social-democracia (SPD), como foi nos últimos quatro anos. As intenções de formar coalização, junto com o percentual de cadeiras dos partidos afins, decide quem governa o país. A social-democracia namora com os Verdes, descartando tanto a continuidade da grande coalização com a democracia crista, como uma coalização de três partidos que inclua “ a esquerda” ( die Linke), partido que congrega dissidentes do SPD e antigos membros do SED, o partido comunista da antiga Alemanha oriental. No entanto, uma reedição da grande coalizão entre CDU e SPD não é descartada por muitos analistas.
A posição do SPD em recusar uma aliança com o “die Linke” no plano nacional (no plano estadual alianças estão sendo costuradas) pode lhe custar uma derrota histórica, sobretudo porque o “dissidente” rejeitado é o partido que mais cresceu nas eleições estaduais e tende a confirmar este crescimento no plano nacional no próximo dia 27. O crescimento do “die Linke”, puxado pelo carisma de seu maior líder, Oskar Lafontaine, coincide com a radicalização de um discurso baseado em dois pilares: 1) um forte programa distributivista, baseado no aumento de impostos para o capital financeiro e para a grandes fortunas de pessoas físicas e no aumento do salário mínimo e 2) a exigência de que as forcas armadas alemãs deixem imediatamente o Afeganistão.
O partido de esquerda cresceu não apenas no “lado oriental” do país, freando o crescimento dos nazistas (NPD) nas regiões mais estigmatizadas pelo ocidente, onde o desemprego é maior e o regime de aposentadoria, por exemplo, não foi integrado à previdência do lado ocidental, expressando muito claramente que a antiga Alemanha comunista é vista como um “fardo” . Mas como o crescimento do “die Linke” também se deu no segundo estado mais rico (Saarland), não convence mais dizer que foi o resultado dos “pobres desorientados” que não sabem o que estão escolhendo, por não terem aprendido ainda a democracia, como acontece por exemplo no Brasil com o preconceito de São Paulo contra o voto do Nordeste.
O partido de esquerda parece ter abocanhado uma fatia significa do eleitorado de classe média (que talvez votaria no SPD ou nos Verdes) com seu discurso de retirada imediata dos soldados alemães do Afeganistão. O curioso é que, premido pelas possibilidades institucionais do sistema político alemão, o “die Linke” promete aos eleitores simplesmente a continuidade da luta ideológica e política do parlamento, de modo pressionar ou convencer outros partidos sobre os pontos essenciais do seu programa ao longo da legislatura. O partido está aberto a uma coalização com o SPD e com os Verdes, como existe na prefeitura de Berlin, rejeitada pelos social-democratas, que acusam o “die Linke” de prometerem o inviável e de não oferecerem base estável de sustentação para um governo.
Mas o que mais me chama atenção nestas eleições aqui não é nem o leque de opções partidárias, que é muito parecido com o Brasil. (a única diferença significativa é aqui não existe um PMDB), mas sim o efeito que o sistema de governo tem sobre o debate: parece ter forca no que os partidos falam e no que se espera deles uma relação direta, institucionalizada, entre crescimento do número de eleitores e preparação para assumir responsabilidades de governo. As possíveis coalizões são discutidas na campanha como tema que pode decidir o sucesso ou o fracasso dos partidos. Não faz nenhum sentido para um partido como o “die Linke” adotar um discurso de purismo ideológico e/ou rituais de seita imaculada como faz o PSol no Brasil. A necessidade de concessões ou mesmo de fusão de programas para governar é um fato que não é minimizado ou deixado fora do discurso. Se o partido se vê crescendo ele sabe que será procurado para governar uma hora ou outra, e essa atribuição não pode ser deslocada somente para os ombros de um sujeito.
Se não fosse o preconceito contra os supostos herdeiros da Alemanha Oriental, alguns no “die Linke”, a social-democracia poderia aqui formar um governo de esquerda, com um partido disposto a assumir responsabilidades de governo. Mas há um estigma, inclusive na mídia, que rotula uma aproximação com o “die Linke” como evidencia de desapego aos valores democráticos, por supostamente se tratar de um partido que traz de volta o passado. A social-democracia, que se firmou como a esquerda da “Alemanha Ocidental”, parece não escapar deste rótulo, pelo menos a nível nacional.
A posição do SPD em recusar uma aliança com o “die Linke” no plano nacional (no plano estadual alianças estão sendo costuradas) pode lhe custar uma derrota histórica, sobretudo porque o “dissidente” rejeitado é o partido que mais cresceu nas eleições estaduais e tende a confirmar este crescimento no plano nacional no próximo dia 27. O crescimento do “die Linke”, puxado pelo carisma de seu maior líder, Oskar Lafontaine, coincide com a radicalização de um discurso baseado em dois pilares: 1) um forte programa distributivista, baseado no aumento de impostos para o capital financeiro e para a grandes fortunas de pessoas físicas e no aumento do salário mínimo e 2) a exigência de que as forcas armadas alemãs deixem imediatamente o Afeganistão.
O partido de esquerda cresceu não apenas no “lado oriental” do país, freando o crescimento dos nazistas (NPD) nas regiões mais estigmatizadas pelo ocidente, onde o desemprego é maior e o regime de aposentadoria, por exemplo, não foi integrado à previdência do lado ocidental, expressando muito claramente que a antiga Alemanha comunista é vista como um “fardo” . Mas como o crescimento do “die Linke” também se deu no segundo estado mais rico (Saarland), não convence mais dizer que foi o resultado dos “pobres desorientados” que não sabem o que estão escolhendo, por não terem aprendido ainda a democracia, como acontece por exemplo no Brasil com o preconceito de São Paulo contra o voto do Nordeste.
O partido de esquerda parece ter abocanhado uma fatia significa do eleitorado de classe média (que talvez votaria no SPD ou nos Verdes) com seu discurso de retirada imediata dos soldados alemães do Afeganistão. O curioso é que, premido pelas possibilidades institucionais do sistema político alemão, o “die Linke” promete aos eleitores simplesmente a continuidade da luta ideológica e política do parlamento, de modo pressionar ou convencer outros partidos sobre os pontos essenciais do seu programa ao longo da legislatura. O partido está aberto a uma coalização com o SPD e com os Verdes, como existe na prefeitura de Berlin, rejeitada pelos social-democratas, que acusam o “die Linke” de prometerem o inviável e de não oferecerem base estável de sustentação para um governo.
Mas o que mais me chama atenção nestas eleições aqui não é nem o leque de opções partidárias, que é muito parecido com o Brasil. (a única diferença significativa é aqui não existe um PMDB), mas sim o efeito que o sistema de governo tem sobre o debate: parece ter forca no que os partidos falam e no que se espera deles uma relação direta, institucionalizada, entre crescimento do número de eleitores e preparação para assumir responsabilidades de governo. As possíveis coalizões são discutidas na campanha como tema que pode decidir o sucesso ou o fracasso dos partidos. Não faz nenhum sentido para um partido como o “die Linke” adotar um discurso de purismo ideológico e/ou rituais de seita imaculada como faz o PSol no Brasil. A necessidade de concessões ou mesmo de fusão de programas para governar é um fato que não é minimizado ou deixado fora do discurso. Se o partido se vê crescendo ele sabe que será procurado para governar uma hora ou outra, e essa atribuição não pode ser deslocada somente para os ombros de um sujeito.
Se não fosse o preconceito contra os supostos herdeiros da Alemanha Oriental, alguns no “die Linke”, a social-democracia poderia aqui formar um governo de esquerda, com um partido disposto a assumir responsabilidades de governo. Mas há um estigma, inclusive na mídia, que rotula uma aproximação com o “die Linke” como evidencia de desapego aos valores democráticos, por supostamente se tratar de um partido que traz de volta o passado. A social-democracia, que se firmou como a esquerda da “Alemanha Ocidental”, parece não escapar deste rótulo, pelo menos a nível nacional.
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