sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sobre a cortina de fumaça político-jurídica na planície....

Sobre a cortina de fumaça político-jurídica na planície....

George Gomes Coutinho


Nos últimos dias fui procurado por um órgão da imprensa local para apresentar impressões, evidentemente na ótica da “leitura do especialista”, sobre o qüiproquó político e jurídico que se arrasta na planície desde o afastamento da prefeita Rosinha. Todavia, dada a espessa cortina de fumaça ao redor desta conjuntura, o jornalista não me trouxe perguntas com o intuito de meramente obter um aval acadêmico para a sua reportagem. O mesmo me pareceu sinceramente imbuído do nobre intuito de compreender um fenômeno.

De meus contatos com a imprensa, usualmente onde a “opinião especializada” é um mero adorno para legitimar concepções de mundo previamente fabricadas, a postura do jornalista atônito me pareceu louvável e genuína.

A questão é que me parece que a confusão tem alguns atores importantes que contribuíram sobremaneira para a mesma. O judiciário, a classe política local e a opinião pública objetivada na “produção da informação” local. Confunde-se o desejo com o conjunto de fatos e são nestes, nos fatos, que encontramos o ás do baralho. A partir dos fatos que podemos imaginar, e não mais do que isso, os cenários possíveis decorrentes de mais este dramma bernesco.

Em diálogo virtual com Marcelo Bessa (aqui) a primeira constatação é a da possibilidade, ainda que remota (também assinalada por Douglas Da Mata aqui) da recondução da prefeita eleita ao seu cargo. Isto se dá em virtude da frágil luz ao final do túnel representada pela postura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ante os recursos passíveis de ainda serem impetrados.

Campos dos Goytacazes é a cidade que terá quase 2 bilhões de reais previstos em orçamento para o próximo ano. Isto, me parece, é um aglutinador nada desprezível dos interesses e da vontade de qualquer um que vislumbre o poder em âmbito local. Enquanto houver uma janela jurídica, evidentemente, a prefeita afastada irá urrar ante as cartas possíveis do direito positivo a plenos pulmões. Até porque não há outra via para o seu retorno, na medida em que o caminho “pelos braços do povo” seria risível. Na verdade, os “braços do povo” foram carcomidos enquanto um efeito colateral do próprio garotismo, na medida em que usualmente o semblante da sociedade civil local é bastante esquálido e desmobilizado. De todo modo, mesmo em um cenário oposto ante a inviabilidade jurídica, mesmo que as hostes fossem postas em movimento, em nada adiantaria.

O que me espanta é simplesmente sequer mencionarem a possibilidade acima citada. A condição de possibilidade remota não é sinônimo de que esta não exista. E a grande questão é que justamente neste ponto se encontra a prorrogação de atual condição política da cidade. Enquanto houver a viabilidade dos recursos a prefeita ainda pode ser reconduzida. No Brasil eleições ocorrem somente dentro dos trâmites ordinários ou em casos de excepcionalidade de vacância do cargo. Neste caso, juridicamente ainda não há vacância, portanto, eleições ainda são uma outra etapa.

Qual o grande problema do momento? A lentidão da conclusão deste caso no âmbito do judiciário por parte do TSE. Nem mais e nem menos. Enquanto prosseguir uma postura de procrastinação a cidade permanece refém e sem previsibilidade sobre a sua vida política. Em minha leitura, na composição do estranhíssimo imaginário político local, os danos são irreparáveis. Simplesmente a esfera política, enquanto fórum que seria legítimo para a discussão da vida em coletividade, apresenta-se enquanto espaço desmoralizado, imprevisível e nada confiável. Há a rotinização, aos olhos do “cidadão comum”, das rupturas e descontinuidades de projetos e ações. O poder executivo local, que seria marcado normalmente por uma maior proximidade com os seus cidadãos, transmite a sensação de ser demasiado plástico para que se deposite qualquer tipo de relação de confiança minimamente sólida.

Creio que uma ação coletiva de pressão da sociedade campista sobre o TSE poderia ser bem sucedida. Todavia, onde há a ação coletiva? Qual a mobilização real dos partidos no sentido de provocar tanto o esclarecimento quanto buscar uma solução célere? A estratégia, supondo que mereça este nome, de tratar as eleições como fato consumado não funcionou até o presente momento. Na verdade apenas engrossou a nuvem de fumaça que ainda persiste.

Nesse ínterim me espanta profundamente o cinismo institucional do prefeito interino. Situado em solo movediço por sua própria condição de interinidade, flanando entre obras e problemas... Alguém deveria lembra-lo que estamos sob os auspícios da chamada “democracia representativa liberal”. Ou seja, a única via de legitimar os governantes, salvo situações particularíssimas, deriva do voto dos governados. Não se trata de discutirmos a política formal agora em suas virtudes e vícios. É a que temos. Todavia me sinto particularmente incomodado com o prefeito interino simplesmente capitalizando politicamente a sua precária condição. Este não foi eleito para ocupar este cargo e foi conduzido a este por decisão judicial. Eis mais um fato que me parece esquecido.

Em suma: a defesa em uníssono das eleições diretas para Campos dos Goytacazes é importante para a consolidação das regras do jogo em âmbito local. Evocar o cartoon sempre inteligente do talentosíssimo e saudoso Henfil mexe com minha memória cívica e política afetivamente. A garantia da eleição direta por parte do presidente do TRE me parece uma conquista que seria obtida de forma ou de outra. Mas, me parece que a questão ainda é a responsabilidade política do TSE na lentidão da definição desta situação em uma cidade de quase meio milhão de pessoas e uma cifra quatro vezes maior de orçamento. Nesse ínterim convivemos com a ruína institucional da interinidade paradoxalmente ad eternum.

4 comentários:

Matheus disse...

Gostaria de pedir espaço ao blog para divulgar essa informação :


domingo, 26 de setembro de 2010Casa abandonada para estudante vira morada!
Campos, hoje, é um grande polo universitário. E ainda assim, nunca houve uma política pública para os estudantes que carecem de infraestrutura e incentivo. Por isso, nós Universitários (IFF, UENF e UFF) estamos ocupando esta casa por motivos acadêmicos.

Já que a mesma, hoje, não cumpre sua função social. Abandonada há anos, não paga impostos e serviria de grande valia para nós.

Portanto, reivindicamos:

Alojamento e casa de passagem – Mais de 50% dos alunos são oriundos de outras cidades ou até mesmo estados.

Restaurante Universitário (bandejão) – Necessitamos de um lugar onde possamos fazer nossa refeição diária e barata.

Espaços para diretórios e Centros acadêmicos – Não há nas faculdades um espaço para este fim.

Pré-vestibular social – Para que estudantes tenham acesso a um pré-vestibular gratuito e com qualidade.

Espaço Cultural – Um local para palestras, exposições, sarais, biblioteca e ações sócio-ambientais.

“Na minha escola não tem personagens, na minha escola tem gente de verdade”. Renato Russo

informação: www.universitariosemmovimento.blogspot.com universitariosememmovimento@gmail.com

Anônimo disse...

Prezado Roberto. Vou referir-me ao tema específico "Cortina de Fumaça Politico-Jurídica na Planicie. A meu modesto ver, são favas contadas, de que nossa terra terá Eleição Direta, segundo o Sr.Presidente do TRE-RJ. Após consulta ao TSE, feita pelo aludido, para mim, não há mais dúvidas. Aliás, não podería me furtar de comentar, matéria publicada do Professor Paulo Vizela, onde o mesmo, afirmou, antes mesmo da manifestação do Ilustre Presidente do TRE-RJ, de que a Eleição em Campos, para completar o mandato "Interrompido" tería que ser DIRETA. Cordiais saudações.

Anônimo disse...

Só esqueceram de comentar que o rigor da lei só é aplicado em Campos,pois em vários lugares os prefeitos foram afastados e estão recorrendo no cargo. Caso mais recente pudemos ver no amapá, onde o governador foi preso, solto e não somente voltou para o cargo como também continua no páreo para concorrer as eleições deste ano. Penso que as pessoas da nossa cidade precisam diferenciar as coisas. Uma coisa é gostar de Rosinha, isso ninguém é obrigado, outra é reconher que ela é a prefeita eleita legitimamente, pelo direito soberano do voto. E todos os que acompanhamos o cenário político sabemos que uma entrevista de rádio não tira mandato de ninguém, pois se assim fosse não haveria político no cargo. Então essa questão de eleição é somente para 2012, e os que não estiverem satisfeito terão que esperar ou mudar de cidade.( Não são amiga dos garotinhos)

Mr Gayrrisson disse...

A maior mentira politico-juridica dos últimos tempos é essa de que Rosinha foi afastada por uma simples entrevista.

Qualquer pessoa alfabetizada que leia a decisão do TSE, cujo conteúdo foi amplamente exibido na blogosfera, sobre o afastamento de Rosinha sabe que ela foi afastada por abuso de poder econômico e político. Afastada por ter usado a Radio e o Jornal "O Diário" (ou OrDInARIO) em sua Campanha. E no processo, ainda tiveram a desfaçatex de dizer que não sabem quem é o dono dessa rádio e desse jornal.

E isso é apenas o que pode ser provado. Todos sabemos que o abuso foi maior que esse.

A legitimidade de um governante depende a lisura do processo eleitoral, se o processo foi viciado, não há legitimidade!

A cassação de Rosinha prestou um grande favor à ela, que pode agora demonstrar o quanto gosta desta cidade morando bem longe daqui.

Agora vem com esse papo de que perderam o prazo para um recurso. Ora, que piada... Não recorreram por que sabem que não vencerão. Por que sabem que mais uma derrota só desgastaria ainda mais esse grupo político torpe que se ramificou e cooptou aliados do parasitismo político que se instaurou nesse município há mais de uma Década.

Pobre cidade rica... é isto que Campos é.