sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A LUTA CONTINUA

Nos idos dos anos 90, a clássica banda britanica Deep Purple, após uma forte crítica diante de um disco que pouco vendeu, lançou um já clássico como resposta, intitulado 'T he battle rages on'. Sugestivo. É assim que me sinto agora, com uma capa recente da Veja em mãos. Desesperada com a derrota de lavada para o PT na última eleição presidencial, a direita brasileira continua explicitando seu racismo de classe e usando suas armas públicas para disseminar o ódio e confundir o povo brasileiro.

Após o mega sucesso de Tropa de elite 2, a revista elege o Capitão Nascimento como 'Primeiro super-herói brasileiro'. Quem me dera que isso fosse mera brincadeira de gibi. A chamada ao pé da capa suscita a questão, mais ou menos assim, qual o recado que estão mandando milhões de brasileiros que assistiram e aprovaram o filme...Como manipulação da opinião pública é uma arte da direita e não é novidade para ninguém, vamos pular esta parte.

O que mais me apavora é a raiva de classe incitada contra as classes populares. Um super-herói nacional sempre simboliza e impõe uma identidade, ao invés de simplesmente emanar, como figura folclórica, da opinião do povo. Eu sempre critiquei o mito da brasilidade, cujo super-herói até então era o Zé Carioca, figura pacífica e do bem. Agora, a direita derrotada e raivosa, irada com a revolução concreta pela qual passa o Brasil contemporaneo, tenta forjar um super-herói ainda pior, pois se o Zé Carioca representava a figura passiva do brasileiro, ambígua, pois ao mesmo tempo bondosa, agora nosso super-herói é um ser honesto, ético, porém, como sempre foram todos os mitos brasileiros, porém, portador de uma ambiguidade muito pior.

Pior porque ele é mau, corajoso, sinistro, dá tiro na cara de traficante perigoso, lidera uma tropa de homens humildes transformados em máquina de guerra, contra outros homens e mulheres humildes, que como efeito de nossa desigualdade estrutural, se tornam criminosos e um problema para a segurança das classes estabelecidas. Por isso, Capitão Nascimento é o herói da classe média, que assiste com gozo quando passa no Fantástico o Caveirão subindo o morro e 'matando geral'. O pior é que tentam generalizar o mito para todos os brasileiros, incluindo aqueles mais humildes que, como sempre, serão os mais prejudicados por ele.

Que saudade do Zé Carioca. Se fosse ministro da cultura hoje, distribuiria um gibi com história de paz e amor para todos os brasileiros, e para as classes estabelecidas enviaria, como último privilégio, exemplares de uma edição especial, com capa dura, para que, por essa estética, eles pudessem dignar-se em aceitar e colocar para enfeitar suas estantes, no lugar da raivosa revista Veja.

2 comentários:

Roberto Torres disse...

Fabrício,

parece que a novidade agora é dizer que o governo está criando conflitos que nunca existiram no Brasil, a ponto de uma menina estudande de direito, motivada pelo ódio disseminado por Lula -deve ser pelo simples fato dele existir e ocupar o espaco que ocupa - fazer algo que ninguem em SP faz: depreciar pessoais do Nordeste.

Veja o Noblat hoje: bota a culpa pela divisao do Brasil entre ricos e pobres, norte e sul no....... adivinhem Lula.

Segundo o Noblat:

Foi Lula que incitou o ódio contra o nordeste, ou melhor, a "rivalidade regional" - como se fosse o caso de uma relacao simétrica.

Foi ele quem cirou o conflito de classes no Brasil.

E vai ser a Dilma quem vai criar o conflito de gênero.

Concordo com Noblat num ponto: demonizar a Mayara é injustica e nao querer ver de onde vem o problema. Mas a solucao dele, pra variar, é: vamos por a culpa no Lula.

Falar que existe racismo de classe, de cor e machismo agora é "politicamente correto". E o Jessé que achava que criticar o politicamente correto era coisa de esquerda...

Fabrício Maciel disse...

é verdade roberto,

outro ponto interessante é que umas das principais dissimulações da direita conservadora é confundir direita e esquerda com oposição e situação.

ser de esquerda hoje é mais difícil do que manipular seus argumentos sendo politicamente correto, significa também saber ser situação no governo e manter os ideais de esquerda, ou seja, agir como estado contra a ausencia de limites do mercado, o que exige dura negociação por parte de um presidente.