sexta-feira, 9 de abril de 2010

De quem é a culpa da tragédia no Rio e Niterói?

Não sou muito fã de ficar elencando culpados nestas horas. Neste momento, acho que isso contribui muito pouco, quando não atrapalha. Porém, como isso parece ser um vício quase incontrolável da população, que se esbalda no espetáculo da mídia, e parece não temos como fugir, melhor que fique claro quem é o principal culpado (porque não há só um) do que aconteceu no Rio e em Niterói.

O principal culpado disto não é a imagem amorfa e abstrata do bode expiatório que a esquizofrenia nacional sempre culpa por qualquer coisa, ou seja: o “Governo”. Dizer que tudo é culpa do “Governo” é a forma infantil que uma gente que não aprendeu a ter responsabilidades por seus atos e escolhas, lida com os problemas.

O principal culpado disso também não é o presidente Lula. Culpar o Lula é tão somente a maneira que a mídia golpista se vale da esquizofrenia nacional (que tudo quer culpar o “Governo”), para assim perpetrar o seu golpe. Afinal, para a mídia Lula é o culpado de tudo, desde queda de avião até terremoto. Em breve, a mídia brasileira achará uma camisa do PT numa caverna no Afeganistão, e com isso vai comprovar que Bin Laden é petista. Logo, defenderão a tese de que os EUA devem invadir o Brasil.

No entanto, gostaria que ficasse claro para todos que, a maior culpada desta tragédia é nada mais nada menos que a nossa elite. Foi esta elite que até hoje é escravocrata no fundo da alma, que permitiu que por mais de um século essas “senzalas modernas” existissem nestas cidades. Nestes últimos cem anos, esta elite que se escandaliza com o MST, nunca se escandalizou com as condições sub-humanas que muitos brasileiros vivem nos morros. Esta elite nada fez para que outros seres humanos vivessem em melhores condições.

6 comentários:

Anônimo disse...

Boa a piada sobre a mídia e o Bin Laden.

Fabrício Maciel disse...

Brand, seu texto é uma flechada certeira no pensamento mais imediato do senso comum sobre as tragédias.

cabe acrescenter que a ação de tais elites (prefiro os termos classe dominante, mas todo mundo sabe do que estamos falando) só é possivel em uma sociedade cuja eficácia da ideologia do mérito e naturalização do sofrimento humano tem a ver exatamente com espírito escravocrata que sempre considera oos outros como coisa e objetos de apropriação.
nossa naturalização do sofrimento é aindamais sutil do que todas aquelas do nível perpetrado por bin laden, pois lá ha fortes crenças explicitas que sustentam a violencia e o abandono alheio.

enquanto aqui, a forte crença no merito pessoal nao é vista como tal, mas apenas como pensamento avançado de sociedades superiores.

Anônimo disse...

Os investimentos em moradias populares em lugares seguros e bem estruturados deve vir acompanhado do cumprimento da lei.

Por exemplo, se o governo oferece casas em bairros estruturados porem longe do centro, muita gente prefere continuar com as ocupacoes ilegais.

A proposito, muitas destas tambem sao feitas com casas de luxo, e alei tem que ser pra todos.

Brand Arenari disse...

Antes de mais nada, gostaria de lembrar que a lei não é sinônimo imediato de justiça. Lei é tão somente um acordo ou uma imposição, que normalmente favorece sempre quem ganha a guerra social. Assim, num debate mais amplo, não podemos reduzir nossas reflexões ao “moralismo jurídico”.
Antes de pregar a obediência civil, tão cara as classes dominantes, seria melhor olhar com mais cuidado a vida daquelas pessoas.
Só pra lembrar: por mais que o programa do governo federal “minha casa, minha vida” seja de longe o melhor da história deste país, ele ainda não é a facilidade e maravilha que vc falou.

Anônimo disse...

Sem o cumprimento da lei so nos sobra a barbarie.

Se a lei nao eh adequada, esta pode ser mudada pelos nossos nobres parlamentares.

Entendo que as leis e a historia que permeia a criacao da constituicao sejam bem mais do que “moralismo jurídico”.

Deixando o romantismo de lado, nao da para o cara que ganha salario minimo viver em Sao Conrado. Da mesma forma que em NY, ele nao viveria em frente ao Central Park ou a uma quadra da Torre Eiffel em Paris.

Meu argumento eh que a lei tem que ser aplicada a TODOS, mas as pessoas "menos privilegiadas" tem que ter alternativas decentes de vida, e nao ter que ir morar nas "Terras Prometidas" ...

Antonio disse...

Belo texto. Porém, acho que não devemos responsabilizar somente a elite. Me parece que essa discussão é longa demais, podemos abordar diversos fatores que influenciaram nessa tragédia, desde o êxodo,natural e previsível, saliente-se, rumo a cidade até a falta de politicas publicas para abrigar toda essa gente que chegava e não tinha para onde ir. Enfim, espero ter acrescnetado algo no debate.

Abraços!!