Antes do comentário quero publicizar os pêsames do Outros Campos, ainda que atrasados, a todos aqueles que neste momento sofrem a perda de algum ente querido em nossa última tragédia no ar. Acabo de ver o Fantástico e a novela midiática sensacionalizante da tragédia humana continua. O episódio atual é sobre um casal que aguarda notícias do filho. Com o coração apertado escrevo estas linhas. Após a tragédia no céu, na terra ela continua. Continua para as famílias, em particular, e para uma sociedade débil com seus dilemas sociais e humanos. A morte sempre foi ritualizada nas sociedades humanas. Nas modernas, ou avançadas, como gostamos de dizer, algo novo parece ocorrer. Os rituais, típicos da ação humana, naturalizam a dimensão sem precedentes das tragédias que vivemos. Naturalizam também suas causas, sempre omitidas ou simplificadas em nosso imaginário, o que explica a edição sensacionalista da mídia, seu reality show da tragédia.
A solidariedade de classe, em particular, da classe média, e a solidariedade nacional com as classes integradas, no geral, se completam. Não que a classe média seja boazinha, mas suas perdas humanas são sensacionalizadas de modo diferente daquelas da ralé. Nas primeiras são pessoas de verdade que morrem, alguém que fez algo de bom por sua sociedade, a ajudou a desenvolver, e está certo. No segundo caso, as mortes que surgem na mídia geralmente são de delinquentes, que só viram celebridades póstumas por serem considerados inimigos da mesma sociedade construída pelos primeiros. Está errado.
No geral, o triste fato permite algumas constatações igualmente tristes. Primeiro, para não sermos simplistas, a dimensão de perigo fora do alcance da tecnologia, sempre incompleta, fenômeno este mundial. Depois, a debilidade de uma esfera pública e de um imaginário nacional que geralmente funcionam por osmose, como paliativos, geralmente incapazes de se colocarem previamente com análise e ações práticas certo padrão de previsibilidade sobre a segurança nacional de todas as classes. Efeitos de um aprendizado moral e político historicamente fraco, queu só aprendeu a naturalizar certas desgraças como inevitáveis ou como espetáculos de dor. Tristes são estas famílias, com todo o direito. Triste é a nação brasileira agora, pela sensibilidade que o sensacionalismo ainda suscita, e pela incapacidade política. Triste sou eu escrevendo agora. Um abraço forte a todos que sentem agora diretamente ou não com tais perdas.
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