Fabrício Maciel
Acabo de sair de uma gripe daquelas. Com medo de ser a suína, corri para os hospitais de Campos. Fui direto no Ferreira, por toda a fama dele. Lá, os funcionários nada sabiam. Depois de algum tempo e um bate-boca básico, alguém chamou um médico que estava praticamente atendendo as pessoas na porta do hospital. Havia um rapaz visivelmente bem pior do que eu. O médico deu uma olhadinha rápida nele e disse: "é melhor vc ficar em casa se tratando por que aqui não temos leitos e a possibilidade de vc piorar é maior". Espantado, fui parar nos Plantadores, onde disseram haver o teste da gripe suína. Havia, mas nao naquele momento, era fim de semana. Como se a doença tivesse descanso. Disseram para ir ao PU da Saldanha Marinho. Nada sabiam por lá também. Aliás, no jogo de empurra básico, disseram que no Ferreira resolviam... Fui parar no HGG. Neste até fui atendido, mas depois de duas horas esperando fui embora. Achei melhor morrer em casa como o médico havia sugerido.
Alguns dias antes, eu havia me consultado no Hospital da Unimed, supostamente de classe média. Mas em Campos é igual a qualquer outro. Qualquer piada do Casseta e Planeta sobre planos de saúde precisaria ser exagerada aqui. Até o de Caruaru, no interior do Nordeste, é melhor do que o daqui. Fiquei aqui umas duas horas para uma consulta e Raio X. E não fizeram nenhum exame.
Bem, não estou contando muita novidade aqui para um bom leitor campista. Em época de novo vírus, o descaso com a saúde do campista continua. Jessé Souza e seu grupo de pesquisa denominam esta situação como má-fé institucional. Isto significa que as instituições modernas possuem uma função manifesta, no discurso, e outra latente, na prática, que geralmente distinguem classes sociais de acordo com seus valores objetivos na sociedade do mérito. Geralmente a ralé é quem mais sofre nas instituições públicas, e ainda mais quando a sobrevivência imediata do corpo está em xeque.
No entanto, toda a população paga numa circunstância como essa, onde o vírus não escolhe cor, gênero ou classe social. Toda a sociedade é nivelada por baixo quando temos instituições que desprezam o bem estar da população. Um dos fatores desta realidade sem dúvida deriva do velho problema de administração e boa vontade política, ou poderíamos dizer, boa fé. Quero declarar aqui uma nota pública de desprezo pelo desprezo da administração da saúde pública em Campos. Numa cidade rica de tantos royalties, é um vexame público um cidadão visivelmente doente ser incentivado a voltar para casa. Ou ficar duas horas no HGG como fiquei, onde só tinha um médico de plantão para tudo, emergência ou não. Isso é um vexame público, que me faz como intelectual sentir vergonha desta cidade.
Enquanto isso, nossa prefeita está inaugurando escolas, que parece dar mais visibilidade. Se houvesse pelo menos inteligência governamental, não precisaria nem haver boa vontade para com o povo, mas pelo menos noção administrativa, se faria neste momento uma política totalmente voltada para saúde pública. Algo do tipo: "nenhum campista morrerá de gripe suína". Seríamos exemplo para outras cidades, apareceríamos bem no Jornal Nacional. Teríamos orgulho desta cidade. Isso deveria ser a pauta do dia. Mas não, é mais fácil aparecer como mais uma cidade onde houve uns quatro ou cinco casos, como se isso fosse pouco.
É claro que a mídia exagera, que outros tipos de vírus sempre mataram e os números são omitidos. Os médicos que vi tentam amenizar sua debilidade coletiva com tais discursos. Isso não justifica a debilidade geral do sistema. Uma política de saúde totalmente nova, com recursos e acompanhamento profissional é urgente. Talvez uma estatística um pouco diferente seja possível.
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