Boa leitura!
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Em entrevista publicada na edição deste sábado (21/11/09) do jornal Folha da Manhã (www.fmanha.com.br), o jornalista Marcelo Canellas toca em vários pontos que deverão ser debatidos em profundidade durante o 1.º Simpósio Nacional de Jornalismo Científico, que se realizará dias 25 e 26/11, no Centro de Convenções da Uenf. De forma explícita ou implícita, Canellas antecipa diversas questões de fundo da programação do Simpósio.
O jornalista participou do chamado ‘Pré-Simpósio’, na última quinta, 19/11/09, ministrando a palestra ‘O papel do jornalista na comunicação da ciência’. A entrevista foi concedida ao repórter Ewerton Corrêa, do segundo caderno da Folha da Manhã.
Cabe registrar que a inscrição no Simpósio pode ser feita gratuitamente até 23/11/09, em www.uenf.br/simposio.
Eis os pontos levantados por Canellas, com grifos nossos, seguidos dos respectivos comentários:
I - Traduzir a linguagem técnica, fugir ao hermetismo
‘A contribuição que podemos dar é perceber o que a universidade ou instituto de pesquisa fazem pela própria comunidade. Quais são suas ações e de que modo elas interferem na vida de um todo. E essa ideia de que o conhecimento é algo hermético, que deve ficar circunscrito aos muros das universidades vai contra a democracia. É aí que entra o papel do jornalista, no sentido de ajudar os cientistas e os pesquisadores a tornarem o conhecimento gerado por eles acessível à população.’
Comentário:
Este é o aspecto mais básico, o ponto de partida da discussão: a importância da abertura e reforço de canais de interlocução entre a academia e os demais âmbitos da sociedade. Este ponto tende a ser consensual, mas ainda não toca — como o entrevistado fará adiante — em questões teoricamente mais aprofundadas.
II - Jornalismo com profundidade
‘Precisamos formar jornalistas mais familiarizados com esse tema, com mais ferramentas teóricas, para discutir esse assunto e apresentá-lo para a população que é completamente leiga. Eu não acredito que seja necessária uma formação específica, ou seja, ser um médico ou biólogo, basta exercer um jornalismo como deve ser exercido, com profundidade, buscando conexão entre causa e consequência e tentando explicitar realmente como surgiu determinado conhecimento, como foi gerado e para que ele vai servir.’
Comentário:
Jornalismo de verdade, aplicado a qualquer área (Economia, Política, Ciência, Esporte etc), envolve apreciação crítica, consulta a diferentes fontes, explicitação do processo (e não apenas do resultado), abordagem do ingrediente político (quais são os interesses envolvidos, quais foram as concepções ou visões que se confrontaram até que alguma prevalecesse etc.).
Esta temática levantada por Canellas deve permear todo o Simpósio, mas há de ser analisada mais especificamente na mesa ‘Por um jornalismo científico mais crítico’, dia 25/11, quarta, às 16h, com a participação de Cilene Victor da Silva (presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, ABJC), Ricardo André Vasconcelos (blog ‘Eu penso que...) e Adelfran Lacerda (ex-assessor de Comunicação da Uenf). O tema também é tocado pela presidente da ABJC na entrevista ao próximo número da revista Nossa Uenf (http://www.uenf.br/index.php#
III - Prioridades nas pesquisas
‘Um exemplo concreto é que das quatro principais doenças negligenciadas do mundo, três acontecem no Brasil. São doenças negligenciadas por falta de pesquisas científicas. A única que não acontece no Brasil é a doença do sono,existente na África. Mas a malária, leishmaniose e a doença de Chagas são todas elas doenças infecciosas originárias da pobreza, e os laboratórios não têm interesse em pesquisar. Então, caberia às universidades e institutos de pesquisa fazerem isso. Além disso, está faltando da parte da imprensa brasileira colocar esta discussão na sociedade. São milhões de brasileiros que estão carentes desse conhecimento’.
Comentário:
Por aqui se vê que a tarefa do Jornalismo Científico é bem mais complexa do que apenas ‘traduzir’ a informação científica para uma linguagem acessível. Quem decide sobre o que é prioridade nos investimentos em ciência e tecnologia? Como decide? Que interesses estão em jogo? Parece claro que o processo será mais transparente e democrático na medida em que setores mais amplos da sociedade sejam informados sobre estas questões.
O Simpósio terá uma mesa com representantes das três principais agências estaduais de fomento do país (Fapesp, Faperj, Fapemig). Eles vão debater os parâmetros que têm regulado o apoio à divulgação científica por parte destas instituições. Será em 26/11, quinta, às 14h.
IV – Espaços para ciência na mídia
‘Existem jornais que têm espaços reservados para ciência e tecnologia, mas ainda é um espaço pequeno. Existe uma demanda reprimida que não é atendida pelos meios de comunicação.’
Comentário:
O aspecto qualitativo das matérias científicas é crucial, mas não é possível pensar em informação qualificada, elaborada e reflexiva sem espaços na mídia. Esta é uma questão nacional, que também cabe no contexto local de Campos (RJ) e região.
No âmbito local, em termos quantitativos, perdemos, junto com a interrupção na circulação do Monitor Campista, uma página semanal de noticiário sobre ciência e tecnologia. Em termos qualitativos, seria o caso de aproveitar o Simpósio para tentar propor a instalação de editorias de ciência nos nossos veículos de comunicação. O material produzido pelas assessorias é um avanço em relação à ausência de matérias sobre ciência, mas o horizonte a ser perseguido provavelmente é o de redações que utilizem estes releases como matéria-prima para suas próprias construções.
Leia também:
Cobertura da palestra de Canellas feita pela Ascom/Uenf:
http://www.uenf.br/index.php#
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