Fabrício Maciel
Dois fatos recentes me chamam a atenção e parecem concatenados. Fidel nos aparece com um broche contendo a bandeira norte-americana e Obama diz que Lula é o cara, enquanto liderança e político. Há algum tempo atrás o primeiro fato seria estranho até para os mais conservadores. Me parece que ambos traduzem bem a era pós guerra-fria, a "nova ordem mundial", descrita como possivelmente mais democrática, pelo menos na relação entre as nações. Nesta nova era, que até um Caetano celebrou, as relações de poder internacionais são mais difusas e heterogêneas, uma vez que não há mais o mundo polarizado como antes, havendo agora vários polos em busca de hegemonia.
Parece que mais do que nunca estamos na era dos acordos. A política de blocos economicos e políticos, só omite a desigualdade histórica entre as nações. Para um Obama, pega super bem dizer que Lula é o cara. Tal fala, contextualizada se olharmos como Obama olha, de cima, deixa claro que ele diz isso sobre o contexto do eixo Sul. Por aqui de fato Lula é o cara. Seu eficaz governo não deixa de se encaixar no tom do discurso de senso comum mundial atual: Brasil, um país para todos, é a versão brasileira da nova ordem multiculturalista. Este termo sugere uma era que respeita mais as diferenças, mais tolerante, menos agressiva, de mais entendimento, e neste contexto pega bem Fidel aparecer como alguém menos fechado à política mundial, menos radical, menos arrogante (como o lulinha paz e amor) mais aberto ao novo mundo, à nova ordem mundial.
A nova ordem dita multicultural omite, no entanto, que relativamente a lógica da economia mundial mantém um Atlântico Norte rico e legitimado, em detrimento de países inteiros, como na África, afundados em miséria histórica e esperando que a lógica do desenvolvimento chegue. Enquanto isso fatos emblemáticos como os dois citados só reforçam o ideal de ordem mais democrática em todos os aspectos.
3 comentários:
Muito boa chamada Fabrício!! A nocao de multiculturalismo nos faz pensar que vivemos numa “aldeia global” na qual tribos exóticas se reúnem e vivem para mostrar suas excentricidades aos outros, num grande festim estético-edonista. Mas eles se esquecem que estas “tribos” não ficam trocando espelho por um tacape, ou um pente por sementes e madeira, mas sim existe um Mercado global organizado, o qual rege a vida destas pessoas e cria e normatiza hierarquias entre elas.
Abraço.
Exato Brand, o senso comum culturalista moderno, nesta versao contemporânea, sutilmente desconecta valores e identidades culturais das vidas de carne e osso que precisam trabalhar e sobreviver neste mercado global, o que é cada vez mais evidente na ralé global de imigrantes que já se aloja agora na Europa.
muito bom o "festim estético-edonista" hehe.
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