segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Crise do Irã: um breve comentário





Passada a euforia (legítima) que expressei no post abaixo, cabe fazer uma análise um pouco mais fria da crise do Irã e seus últimos acontecimentos. E acho que isto deve ser visto a partir de dois prismas: um a respeito do que isso significa para nós brasileiros; e um outro a respeito do que isso significa na disputa internacional em si.

Para nós, brasileiros, é um dia histórico, que deve ser comemorado e lembrado, porque representa um feito nunca antes acontecido na história deste país, como gosta de falar o nosso presidente. Foi a primeira vez que mediamos (e com um êxito inicial) um conflito de proporção internacional fora de nossa vizinhança. Passamos a ocupar uma posição de destaque internacional nunca antes ocupada, é a consolidação da vitoriosa diplomacia brasileira dos últimos 8 anos (espero que não apareça nemhum louco para dizer que a diplomacia de Lula é continuação de FHC).

Ainda cabe lembrar que o mérito em questão é brasileiro, assim opinaram vários intelectuais iranianos. Nem a Turquia (membro da OTAN e aliada de Israel) e o Irã estavam muito dispostos ao acordo, foi o Brasil que virou o jogo. O gol de placa é nosso e ninguém tasca. Essas são as verdades que a mídia nacional, golpista e calhorda tentará esconder de qualquer jeito.

Porém, por mais gloriosa que tenha sido nossa vitória, ela ainda é muito pouco na disputa internacional que se desenrola. Poderíamos dizer que ganhamos uma batalha decisiva a qual era considerada perdida por muitos, mas estamos longe de ganhar a guerra. Essa vitória é apenas o marco que diz que a guerra não está perdida, e vai continuar, ou melhor, ela só está começando.

E essa guerra, entre outras coisas, diz respeito a uma nova configuração da geopolítica mundial. De um lado estão os países vencedores da segunda guerra mundial, que de alguma forma tentam manter a hegemonia das configurações mundiais que construíram no pós-guerra, isso inclui a Alemanha reconstruída por eles, e também, e, sobretudo, o Estado de Israel, também construído por eles. Do outro lado estão as nações emergentes que querem mais espaço na geopolítica mundial, com destaque para o Brasil. O Irã, a grande nação emergente do mundo islâmico é o grande empecilho ao expansionismo e dominação norte-americana e israelense naquela região, por isso é atacado. Ele (O Irã) é a única ameaça verdadeira ao casamento das trevas entre EUA e Israel.

Assim, além de alguns outros interesses que estão em jogo, como os interesses americanos no petróleo iraniano, esta guerra é por uma nova ordem mundial, a qual não interessa nem aos europeus (mergulhados numa crise) nem aos americanos. É claro que já sabemos que antes dos tanques e aviões, as armas mais usadas serão a de uma ideologia baseada no preconceito, aquela que demoniza e “descredibiliza” os inimigos, como já começaram.

Essa guerra só está começando e estamos longe de vencê-la, mas já mostramos que podemos muito mais do que imaginavam.

2 comentários:

Roberto Torres disse...

Do ponto de vista semantico, agora parece que a disputa se ecaminha do seguinte modo: o Ira nao merece confianca e os confiáveis Brasil e Turquia sao enquadrados como movidos por "interesses geopolíticos", ou seja, interessados em alcancar poder na ordem mundial e, apenas secundariamente, movidos pelo interesse na paz. O que sobra? A pretensao, posta como se fosse fora de questao, de que Europa EUA sao os portadores do interesse universal, este pela paz. Pode ser um raciocínio simples, mas me parece que é exatamente o monopólio da representacao do "interesse universal" o bem simbólico em jogo. O potencial do Brasil, como mediador, é o de questionar este monopólio caduco.

Brand Arenari disse...

A confirmacao de td q vc disse está aqui:
globo.com


Para jornais dos EUA, acordo é cartada do irã para evitar sanções
Assunto é destaque nos principais jornais do mundo; acordo 'descarrila' planos de Obama, diz 'Washington Post'.
BBC
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Os principais jornais dos Estados Unidos em suas edições desta terça-feira veem o acordo nuclear negociado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, com o Irã do presidente Mahmoud Ahmadinejad como uma cartada diplomática de Teerã para evitar uma nova rodada de sanções no Conselho de Segurança da ONU.

O "Washington Post" avalia em editorial que o acordo é "ruim" e "não fará nada para conter o programa nuclear iraniano".

"Pode, entretanto, descarrilar os esforços do governo Obama de concentrar a pressão internacional no Irã e dar ao regime mais tempo para enriquecer urânio e derrotar a sua oposição doméstica", diz o jornal.

"Em outras palavras, poderia ser um grande golpe diplomático para o regime do aiatolá Ali Khamenei, que foi muito habilidoso em explorar a aspiração dos líderes brasileiro e turco de afirmar seu papel global."

O acordo também foi parar na capa do "New York Times" e de outro jornal do grupo, o "International Herald Tribune". Para ambos os jornais, o acordo não toca na "questão central" do problema, que é a insistência iraniana de continuar enriquecendo urânio e a sua postura de impedir verificações independentes.

"Rejeitar o novo acordo, entretanto, poderia dar a impressão de que o presidente (dos EUA, Barack) Obama quer bloquear um possível meio-termo. E a negociação mostra como o Brasil e a Turquia, que se opõem às sanções por conta de seus próprios interesses econômicos, podem pôr a perder um frágil consenso internacional para elevar a pressão no Irã", diz o "NYT".

O tema foi capa do americano "The Wall Street Journal", que destaca a "reação de ceticismo" dos países ocidentais, em especial dos EUA, ao anúncio.