Se a disputa diplomática em questão fosse uma partida de futebol, diríamos que o Brasil deu um drible desconcertante, humilhante, na diplomacia norte-americana. E como bons zagueiros brucutus que são, a “diplomacia” norte-americana quer apelar, quer dar um carrinho no meio do joelho do Brasil. Essa é a metáfora do que está ocorrendo.
Assim como nossa elite colonizada pensa de Lula, os norte-americanos achavam impossível para nossa diplomacia tropical obter algum sucesso nesta crise. Desse modo, Obama apoiou Lula na sua tentativa de diálogo, na certeza que Lula falharia. Logo, Obama não entraria em conflito com o Brasil e poderia aplicar suas sanções ao Irã, até mesmo com o apoio de um Brasil constrangido pela derrota diplomática. Essa era a aposta dos ianques.
Porém, o que era improvável para eles aconteceu, o Brasil e a Turquia conseguiram o acordo. E agora o E.U.A está sendo obrigado a mostrar a sua verdadeira face, aquela que não aceita diálogos e impõe suas vontades através da forca, como uma criança mimada. O E.U.A fingem dialogar com o mundo, porque quando sua vontade não é atendida, esquecem o diálogo e as regras e fazem o que querem. O que atesta isso é que no dia seguinte ao acordo os E.U.A. apresentaram seu plano de sanções já pronto, sem sequer ter analisado o acordo feito por Brasil e Turquia, eles contavam com o fracasso do Brasil.
Neste quesito o Bush era mais sincero que o Obama, jamais teria dado espaço para o Brasil, empurraria as sanções goela abaixo do Irã, como um Obama constrangido pelo “drible” do Brasil, e escondido covardemente atrás da Hilary Clinton, quer fazer agora, ou seja, dar a “tesoura voadora de Júnior Baiano”.
9 comentários:
E a nossa classe dominante, ou melhor, que se pretende assim, visto que sua hegemonia é fortemente questionada, é como um torcedor de um time muito fraco e violento, que diante de uma disputa da qual jamais participaria torce para o jogo sujo, onde vale o que for conveniente.
E veja só. Essa classe, cuja identidade é lapidada na mídia, mostra também sua outra face: de lagalista passa a torcer abertamente contra o direito. O acordo tripartite é uma proposta de seguir as leis da ONU sobre energia nuclear.
A propia AIEA se manifestou legitimando o acordo, aceitando leva-lo em consideracao com decisao jurídica. Os que se percebem como a vanguarda da civilizacao do Brasil apelam abertamente para o uso da forca contra a lei, deixando o legalismo para quando for conveniente.
Lula e sua forma de representar o povo brasileiro deram, no fundo, foi licao de civilidade ao mundo e à nossa classe dominante que se acha a vanguarda da civilizacao.
Dizem possuir "vergonha na cara", como repetem também os candidatos ao topo da vassalagem nacional,mas no fundo sao aferrados a um moralismo que nega à lei, ou seja, que é dual, e que defende a lei somente quando ela nao afrontar as relacoes de forca.
A postura de Obama significa uma dominação ainda mais sutil, numa era de acordos, diferente da era dos extremos de Hobsbawn. nesta atual, explicitar a linha dura Bush nao cola mais. Nao significa que Bush seja neste aspecto um pouco melhor, me parece mais que o governo americano percebeu bem o tom politico de seu tempo e se adaptou a altura.
Fabrício,
Eu acho que ele quis fingir fazer isso, mas nao conseguiu.
Aqui muita informação boa sobre esta questão:
http://www.blogdoalon.com.br/
A coisa não é tão simples quanto quer o Brand.
Fala Claúdio, valeu pela dica, legal o blog.
Foi lá e li, mas acho que nao entendi muito.
Onde o artigo do alon se opoe a ideia defendida aqui?
Vc poderia explicar?
Acho o blog do Alon muito interessantes, seja sobre política externa ou interna. Sempre leio.
Mas eu acho também que, junto com a análise, ele carrega uma visao de mundo que, a meu ver, é essencialmente conservadora: as possibilidades para o agir sao as apontadas pelas relacoes de forca vigente. Ou seja, ele nao ve nenhum sentido em um país como o Brasil questionar a pauta ou o "roteiro americano", como ele disse no seu último post. Para ele o nosso papel como "player global emergente" é o de endossar o roteiro vigente e de contribuir para que o ira faca as "coisas certas", claro dentro deste roteiro.
Assim ele diz:
"Em resumo, a permanência do Irã como nação soberana depende da renúncia definitiva ao uso da energia nuclear para fins militares. E de isso poder ser efetivamente verificado e fiscalizado pelas potências. Em suma, para manter sua soberania o Irã deverá renunciar a uma parte dela.
Justa ou injusta, essa é a situação. E os dirigentes iranianos estão diante da encruzilhada. Na qual, aliás, eles mesmos fizeram tudo para se meter. As escolhas colocadas aos países nos momentos-chave da História nunca são fáceis.
Será ótimo se o Brasil e Lula puderem ajudar o Irã a fazer a escolha correta. É o que farão, se estiverem movidos pelos propósitos certos, e não apenas pela busca dos holofotes".
Ele nao acredita na possibilidade de enfraquecer o poder do Ocidente. E fazer a "coisa certa", pra ele, é compartilhar desta descrenca. Existe todo um outro lado do mundo que nao compartilha desta descrenca, do qual Lula faz parte. E a questao do Ira nao é uma questao isolada. Ela toca num ponto que vai perdurar: quem define o roteiro.
A descrenca de Alon, no fim, recorre ao preconceito, ou seja, a uma forma irrefletida de dividir o mundo: os movidos pelos propósitos certos (quais? A paz mundial? quem está movido por este propósito? Os EUA?)e os que buscam holofotes (ou seja, emergentes como o Brasil e Lula, que, "como todos os emergentes" adoram, na visao dos que se julgam ungidos pelos propósitos certos, aparecer).
Ao fim e ao cabo, na visao de Alon, como eu comentei em outro post, parece fora de questao que o interesse universal (os propósitos certos), nao narcísico, é carregado pelo ocidente, enquanto que o interesse particular, a busca narcísica por holofotes, deve sempre funcionar como um "índice de desconfianca" para a conduta de países como o Brasil.
O Feuerwerk é gente da melhor da qualidade rs. mas o alinhamento moral naturalizado com EUA honra o sobrenome alemao.
Tb acho o Alon conservador, além de utilizar algumas certezas não tão certas assim sobre os interesses dos países. Ele supõe certos interesses que não são claros para ninguém.
No entanto, tanto neste texto que debatemos, como nos outros sobre a crise do Ira, não fiz nenhuma análise do conflito como um todo, somente do papel do Brasil nele. Fiz questão de dizer que por mais que tenha sido uma vitória para a diplomacia brasileira isso representava ainda pouco no jogo.
O texto em questão diz que o EUA subestimaram o papel do Brasil na negociação, ou seja, calcularam errado, e sofreram um baita constrangimento por isso. Não achei nada no Alon que contrarie essa tese. Mas os editoriais do NewYork Times e do The Guardian, atestam essa tese.
Postar um comentário