quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cesaropapismo às avessas ou o Retorno do Padroado pulverizado


Instantaneamente, detonou em minha boca o paladar do Guaraná Ita que bebia antes das aulas de História do amigo Renato Barreto. Demorei a compreender a memória gustativa, mas em seguida descobri o porquê. Em minha memória estavam encobertos as proposições do professor sobre o regime do padroado. Em linhas bastante gerais, o acordo devia-se a um tratado entre os países ibéricos e a Igreja Católica que teve impacto no Brasil, onde esta religião teria o monopólio da Fé em troca da auto-adminstração das Igrejas. Ou seja, o Estado bancava as igrejas e impedia a entrada de novos concorrentes, e a Igreja cedia as nomeações de padres e bispos ao Estado. Porém, também me recordo que a assistência social era concedida pela própria Igreja. Lembro-me, por exemplo, da roda dos excluídos e outros tantos serviços como os registros de nascimento que se misturavam ao batismo, assim como os registros casamento etc.
Entretanto, ao doce do Guaraná se misturou também um estranho amargo. Foi quando voltei às consciência e reli a matéria replicada abaixo.
Toda comparação de períodos históricos é absolutamente complexa e corre o sério risco de cair no ridículo. Mas confesso que fiquei intrigado com a proposta do PSDB de privatizar o sistema assistencial no Brasil e entregá-lo às Igrejas.


Da FOLHA DE SÃO PAULO

Campanha de Serra faz ofertas a evangélicos


BRENO COSTA
DE SÃO PAULO



A campanha de José Serra (PSDB) está oferecendo benefícios a igrejas evangélicas e a entidades a elas ligadas em troca de apoio de pastores à candidatura tucana. O mesmo foi feito na campanha do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O responsável pelo contato com os líderes é Alcides Cantóia Jr., pastor da Assembleia de Deus em São Paulo.

Ele responde pela "coordenadoria de evangélicos" da campanha, criada ainda no primeiro turno exclusivamente para angariar apoios entre evangélicos.

"Disparo entre 150 e 200 telefonemas por dia, mais ou menos", diz Cantóia, que trabalha numa espécie de guichê montado no térreo do edifício Praça da Bandeira (antigo Joelma), quartel-general da campanha de Serra. No local, ele também recebe pastores para "um café".

Os telefonemas são feitos para pastores de várias denominações em todo o Estado de São Paulo, em busca de pedido de voto em Serra entre os fiéis de suas respectivas igrejas.

Segundo Cantóia, entre os argumentos para conquistar o engajamento dos evangélicos, além do discurso relativo a valores, como a posição contrária à descriminalização do aborto, está a promessa de apoio a parcerias entre essas igrejas e entidades assistenciais a elas vinculadas com prefeituras e governo, em caso de vitória tucana.

Como exemplo, cita a possibilidade de, com os tucanos no poder, igrejas poderem oferecer apoio a crianças e adolescentes, complementando o período que elas passam na escola. Assistência a idosos também é citada.

"O objetivo é levar as crianças para dentro da igreja", afirma o pastor. "Esse é um dos argumentos. Seriam igrejas em tempo integral, complementando a atividade da escola."

Cantóia afirma, também, tentar intermediar demandas recebidas de pastores junto a prefeituras. Por exemplo, pedidos para que entidades funcionem como creche ou que virem intermediárias do programa Viva Leite, do governo estadual.

Alcides diz ter sido um dos articuladores que levou os pastores Silas Malafaia, do Rio de Janeiro, e José Wellington Bezerra, de São Paulo, ambos da Assembleia de Deus, a gravarem depoimentos de apoio a Serra, exibidos em sua propaganda na TV.

O Conselho dos Pastores de São Paulo, que reúne representantes de diversas denominações protestantes, estima que cerca de 80 mil pastores em SP apoiem Serra.

Um comentário:

Roberto Torres disse...

De arrepiar! Agora, até o dia 31 é assim: o Serra pode fazer tudo.

É preciso constatar, sobre a comparacao com o padroado, trata-se claramente de minar a autonomia e a liberdade da religiao através de determinados formatos instituicionais.