Os tucanos falam em democracia o tempo inteiro. Na reta final, tentam desesperadamente associar a imagem do PT e principalmente de Dilma ao autoritarismo. Estranho isso. Nos faz refletir sobre um dos conceitos mais primários das ciências sociais. Então, vejamos o que seria a democracia no Brasil de 2010.
Se alguém evoca com veemência um dos valores fundadores do ocidente, é preciso observar quais são as práticas e a visão de mundo desta pessoa ou deste grupo para ver se são coerentes com os valores que afirmam defender. De modo simples, no pensamento moderno qualquer prática que se diga democrática deve se apresentar como contrária a qualquer comportamento que pareça autoritário.
Na antiga democracia grega, este conceito não era sinônimo de igualdade política e social. Remetia-se a um formalismo de enfrentamento e discussões nos quais não participavam os escravos, considerados naturalmente como gente inferior. Estes não eram, neste sentido, cidadãos, pois não participavam das decisões da cidade. No contexto dos Estados nacionais modernos, sob o qual vivemos, a idéia de democracia e o esforço em se criar instituições coerentes com ela foram ampliados. Democracia hoje significa igualdade política e social, o que naturalmente pressupõe igualdade econômica, exatamente o que faltava para que a democracia grega fosse perfeita e o que supostamente colocaria a democracia moderna como superior a antiga.
Curioso isso. Os tucanos atuais no Brasil, pseudos-baluartes da democracia, que falam em união e paz o tempo todo, não apresentam a igualdade econômica como prioridade em seus discursos, e muito menos em suas práticas partidárias e programas de governo. Que idéia de democracia é essa? O projeto político e o discurso partidário do PT, por outro lado, tem como prioridade a redistribuição sistemática de renda e o amparo econômico às classes populares. A IGUALDADE ECONÔMICA É PRIORIDADE PARA O PT. Logo, devemos desconfiar da tentativa de associação da imagem deste partido com o autoritarismo.
Por isso, em vésperas da eleição mais acirrada no Brasil desde a re-abertura democrática, devemos pensar bem em no que é ser democrático e no que é ser autoritário na realidade brasileira atual. O discurso pseudo-democrático do PSDB é abstrato, pois só fala em desenvolvimento econômico o tempo inteiro, sem enfrentar a questão básica de como este desenvolvimento deve lidar com a questão da injustiça social no Brasil, ou seja, sua desigualdade econômica. Neste aspecto, é semelhante ao ideal de democracia grega, praticado apenas por quem era considerado cidadão, e estes eram os que tinham superioridade econômica, ou seja, não eram os escravos.
É assim que o PSDB vê e trata as classes populares no Brasil, ou seja, não as considera sistematicamente, não as coloca como prioridade na ação do Estado. Acusam o PT de ser autoritário exatamente por fazer isso. Logo, fica fácil deduzir qual ideal de governo é realmente democrático e sinônimo de igualdade política, social e econômica. Pensando e agindo desta maneira, os governos tucanos sempre trataram as classes populares como sub-cidadãos, exatamente como se fazia com os escravos na Grécia antiga.
Na verdade, o que está por trás do maldoso discurso contra o PT, de que a distribuição de renda, o que não significa tirar de quem tem, mas usar o Estado para reparar desigualdades históricas, associando o PT a uma idéia de autoritarismo, é o egoísmo de classes privilegiadas que prioriza a manutenção de uma sociedade meritocrática e, logo, desigual. Não por acaso as privatizações, marca registrada dos tucanos, são sempre uma prioridade neste ideal de desenvolvimento. O ideal democrático deles é entregar os recursos nacionais nas mãos do mercado, a principal instituição moderna geradora de desigualdade. Assim, a pergunta que não se deve nunca calar, considerando que democracia deveria ser sinônimo de igualdade em todos os aspectos da vida, é a seguinte: quem pratica realmente a democracia no Brasil de 2010?
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