domingo, 21 de junho de 2009

A quem interessa o conservadorismo


O esforço da mídia hegemônica para deslegitimar o Congresso é a prova de que ela não gosta da Democracia.
Por Tales Faria, do Jornal do Brasil

Sempre gostei do jornalismo investigativo. E nunca fiz coro com aqueles que taxam como denuncismo aquilo que é simplesmente denúncia. E não vejo por que denunciar erros e desmandos em instituições seja uma forma de derrubá-las. Acho que, no mais das vezes, ajuda a aperfeiçoá-las.

Mas lembro muito bem um tempo em que sociólogos iluminados e arautos do conservadorismo defendiam arduamente a tese de que precisávamos parar com as denúncias. Que denuncismos não servem para preservar as instituições. Vi também o PT de um lado do balcão, bradindo o megafone das denúncias e, depois, na época do mensalão, atacando a irresponsabilidade dos acusadores. O mundo é assim, tudo depende de que lado cada turma está. Hoje tucanos e ex-pefelistas do DEM não falam mais em denuncismo. Resolveram bater pesado no Congresso. Como acho que DEM, PSDB e PMDB controlaram a maior parte do tempo o Congresso, especialmente o Senado, não posso deixar de concluir que essas denúncias vão acabar recaindo sobre eles próprios. Aí fico meio sem entender por que, então, insistem.

Para tentar compreender um pouco, resolvi dar um passeio pela internet. Naveguei por comentários dos blogs de política. Nos que reproduzem meus artigos, vi coisas como a do leitor que se assina Helvécio Pinton (hpinton@aurortextil.com.br):
“Há muito tempo defendia a ideia de que só uma bomba de nêutrons consertaria esse país. Começo a achar que, do jeito que andam as coisas, nem várias bombas de nêutrons dariam mais jeito... Estamos definitivamente arruinados em matéria de credibilidade”.

O internauta de apelido Beto (paraty47@bol.com.br) enviou:
“Todos os que criticam o período da ditadura militar lamentam a falta de oportunidade daquele período para os escândalos a que estamos assistindo no Executivo e no Legislativo. O limite do brasileiro é realmente muito grande. Em qualquer país civilizado esse Congresso já teria caído fora. Somos todos bobos porque não sabemos defender a nossa nação. Vivemos de jeitinho e somos conhecidos por isso lá fora. A cadeia está cheia de pequenos ladrões enquanto os grandes ladrões mandam no país. Quem manda concordar que as decisões sejam tomadas em Brasília, um verdadeiro arraial de Festa de São João”.

Vi até coisas como este comentário de Zilnard Carvalho (carvalho-43@hotmail.com):
“Quando Collor era candidato à Presidência, declarou certa vez que o Senado era um ninho de ratos e que iria acabar com isso. Ganhou, com uma avalanche de votos e foi deposto pelas intrigas do próprio Senado que soube comprar as declarações do irmão do Collor e, aproveitando-se da força da mídia, inventou, ensinou e incitou os caras pintadas de verde e amarelo a depor o presidente. Aquilo lá já deu até, como cria, chefe de quadrilha de matadores no Norte e Nordeste. Ali é o verdadeiro ninho ‘de tudo que é furto no país’, que o povo e a mídia, se querem uma nação passada a limpo, devem investigar mais ainda, e não fazer como o senhor Lula, que sempre passa a mão na cabeça deles como fez agora com o Sarney e suas trapalhadas. Será que o povo e a mídia já esqueceram que o Sarney, quando presidente do Brasil, esteve à beira do impeachement? Lembram-se quem, e o que o salvou? Pois aí está. Collor agora é da quadrilha e nós, quando povo, e a mídia continuamos a suar a camisa e fazer papel de palhaço às custas desta camarilha instalada em Brasília. O Brasil não é um país sério, disse um presidente francês. Aqui devia ter a guilhotina como teve a França. E a nossa política devia ser como no Líbano: roubou, perde a mão, estuprou é capado, e assim por diante”.

E veja o que postou o Paulo Fernando da Fonseca (paulofonseca60@yahoo.com.br) sobre artigo de outro colunista de política:
“Caro, improdutivo, escandaloso, portanto, nosso Congresso é de todo desnecessário. Sairia mais barato pagar a esses ladrões para que ficassem em suas bases”.

Pior. Em outra coluna, um internauta, dito Sergio-paulista (smassera@terra.com.br), postou a seguinte pérola:
“Este é o governo que permite tudo, desde que o apoie. Uma bomba H em Brasília resolveria todos os nossos problemas!”.

Bem, em política não há espaço para a ingenuidade. Vale perguntar por que quem resistia a dar eco a qualquer denúncia hoje finge não ouvir gritos de guerra como os dos desavisados comentaristas acima.