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quinta-feira, 25 de março de 2010

OBSERVATÓRIO DE CONTROLE DO SETOR PUBLICO (OCSP)

Desejamos que essa iniciativa envolvendo a extensão universitária e a sociedade campista favoreça um debate propositivo sobre o controle social das políticas públicas. Desde já, contam com este blog para repercutir e discutir idéias e projetos acerca dessa questão que, sem dúvida, divide águas na planície goitacá.

A PROEX/UENF, por meio do projeto Participação Política e Estado, coordenado pelo Cientista Político Prof. Dr. Hamilton Garcia, em parceria com o Instituto Federal Fluminense (IFF), Universidade Candido Mendes (UCAM), empresários, líderes comunitários e sindicalistas locais, vem mobilizando a sociedade campista para o controle social sobre os governos locais. O projeto parte da premissa que o bom governo depende de mecanismos sociais de controle com a participação do cidadão na gestão pública, fiscalizando e monitorando as ações governamentais.

Nesse sentido, está em processo de estruturação o Movimento Nossa Campos (MNC), que pretende ser um pólo de atração dos diversos setores sociais interessados no bom governo.

Com vistas a isso, convocamos todos os interessados para se fazerem presentes à reunião desse domingo (28/03), na OAB*, às 16h para a fundação do OBSERVATÓRIO DE CONTROLE DO SETOR PUBLICO (OCSP) que, vinculado ao MNC e inspirado no Instituto da Cidadania Fiscal (ICF)**, pretende monitorar, progressivamente, os processos licitatórios locais – da divulgação dos editais à entrega das obras –, estimulando a livre concorrência entre as empresas e maximizando o uso dos recursos públicos em prol de toda a coletividade.

Movimento Nossa Campos, 24/03/2010

* Rua Barão da Lagoa Dourada, 201 - Centro -, em frente à Pça. do Liceu.
** Que desenvolveu tecnologia social informatizada, premiada pela ONU, visando o controle e fiscalização dos gastos públicos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Entrevista Política Local - Prof. Hamilton Garcia de Lima

Na seção de hoje da “Entrevista do Outros Campos” trazemos a contribuição para a reflexão do professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense (LESCE/CCH), Dr. Hamilton Garcia de Lima. O prof. Hamilton, doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense, detém farta experiência na observação/análise da política brasileira tanto com trabalhos publicados na área quanto intervenções em jornais de circulação nacional como “O Globo” e “Gazeta Mercantil”. Nesta entrevista, realizada em dezembro último, o prof. Hamilton foi convidado a compartilhar algumas impressões sobre a política local, resvalando também na conjuntura nacional.


1 – Como o senhor avalia o fórum sobre eleições ocorrido na Universidade Estadual do Norte Fluminense onde o senhor mesmo foi um dos idealizadores?


O fórum foi um sucesso de crítica e um relativo fracasso de público. Relativo pois atraiu menos de uma centena de pessoas, mas reuniu setores importantes da sociedade local.
A escassez de público tem várias causas, mas talvez a principal seja o esvaziamento da esfera pública local, fruto de mais de uma década de hegemonia do clientelismo selvagem.
O importante, nesse caso, é que se conseguiu, apesar de todas as pressões em contrário, reunir uma massa crítica mínima para pensar os destinos da cidade. Acho que devemos dar continuidade a essa iniciativa, sobretudo no seio das universidades.


2 – O filósofo Roberto Mangabeira Unger disse certa vez que o político brasileiro tem “medo das idéias”. Isto explicaria o afastamento entre parte substantiva da “classe política” de Campos dos Goytacazes e os intelectuais?


A classe política brasileira, fazendo pequenas concessões, encontrou seu momento de glória com Lula no poder e seu escudo mágico chamado ibope. Popularidade é algo que se desmancha no ar, em meio a uma crise grave, como já vimos em dois episódios dramáticos do populismo brasileiro (1954 e 1964), todavia é irresistível no curto-prazo, sobretudo diante de partidos tão esvaziados como os que temos.
Enquanto durar essa lua de mel, que depende, no mais das vezes, da proximidade com um tipo específico de intelectual – voltado para servir ao poder –, a classe política não tem porque se arriscar na relação com os intelectuais que dão vida ao mundo da disputa pública dos interesses.
Aqui em Campos, as coisas podem degringolar mais rapidamente pois o pacto populista se alicerça, basicamente, no poder de cooptação da municipalidade, e sem ele o poder pode sentir a necessidade de reabrir seu diálogo com os intelectuais – não obstante a confusão reinante, no seio dos novos dirigentes, entre intelectuais e intelectualismo.


3 – O senhor poderia fazer um balanço do que foi o “muda Campos”?


Até onde sei, foi um movimento de jovens de classe média que conseguiram, graças à divisão nas oligarquias locais e ao carisma popular de um candidato (Garotinho), ganhar as eleições e renovar a classe dirigente local, mesmo tendo fracassado no intento de revolucionar o modus operandi da gestão pública.
O fracasso, em parte, se explica pela idiossincrasia da nova liderança eleitoral: preso a uma visão tradicional do poder, como glória pessoal, promoveu figuras anódinas de seu entorno na tentativa de minimizar disputas internas pelo poder. A tática saiu pela culatra pois, diante da poderosa máquina financeira em que se transformou a municipalidade, estes personagens demonstraram-se os mais aptos para o jogo da cooptação rude, sem carisma.
O hábito da renovação das pessoas no poder sem mudança profunda nos procedimentos é uma característica forte da cultura brasileira, que concebe qualquer mudança provocada pela razão humana como artificial, sendo preferida a via tradicional da longa seleção natural.


4 – Suas pesquisas tem enfocado enormemente a cidade de Campos dos Goytacazes e sua classe política. Há algo que lhe causa maior espanto? Se sim, o que?


Na verdade, não tem muito tempo que passei a me interessar pela política local, mas nesse curto período me chamou atenção o modo selvagem como a cooptação estatal operou por aqui nos últimos anos: as secretarias viraram governos paralelos, aparentemente inviabilizando uma direção centralizada, de forma a satisfazer o apetite dos grupos aliados no poder, mas também de justificar a sangria descontrolada dos recursos públicos com o esfarrapadíssimo "eu não sabia" – que, ao cabo, funcionou tanto no plano local como nacional.
Essa situação, sustentada por eleições livres, fez uma liderança comunitária da cidade produzir a seguinte pérola: “O voto corrompe, tanto o político como também o eleitor”.


5 – Como o senhor avalia a esquerda local? E particularmente, como o senhor interpreta os rachas dentro do Partido dos Trabalhadores local? Os “móveis” da ação estão no campo da disputa pura e simplesmente do poder ou por conta da ausência de uma identidade discursivamente elabora, clara e discernível?


Uma parte importante da esquerda local, inspirada no sucesso de Lula, foi cooptada pelo sistema – só que antes de chegar à chefia do governo – o que acabou por inviabilizar sua competitividade eleitoral. O grosso dessa disputa crucial se deu no PT e a parte mais esclarecida do partido, sabiamente, insistiu na política de resistência e, com isso, pode permitir ao partido, no futuro, tentar recuperar sua credibilidade política.
Mas, é preciso entender que a identidade discursiva da ala "lulista" era clara e discernível e seu móvel estava no sucesso – mal compreendido – da própria trajetória do líder: Lula foi o apologista da mudança radical num país que ama o gradualismo e sua abdicação oportunística, desapercebida pela massa, se deu em prol de uma política de resultados que coincidiu com a bolha consumista global. No caso de Campos, ao contrário, o adesismo precoce coincidiu com o início da crise da farra creditícia e com o desgaste agudo das forças no poder – momento propício para a transmutação da resistência em alternativa, como fez o PT em 2002, e não o contrário, como se fez com a entrada no Governo Mocaiber.


6 - Como avalia o percentual significativo de eleitores que votou em Makhoul e em Odete nas duas últimas eleições, respectivamente? O senhor acha que existe alguma coerência ideológica neste eleitorado na recusa às candidaturas bancadas por Arnaldo e Garotinho?


Com Makhoul era o momento da resistência, com Odete a resistência teve que ser reiterada em função do desastroso adesismo da maioria petista.


7 – Neste momento, na esfera pública campista, há um movimento pendular oscilando entre o mais puro fatalismo, de um lado, e algum tipo de esperança messiânica por outro. Quais são as perspectivas do senhor, enquanto analista social, sobre o futuro próximo de Campos?


O quadro é de um otimismo moderado pois, ao contrário do que ocorre com o carisma no plano nacional, aqui o carisma está dissociado da esquerda e até assume um certo ar neoconservador no seu arranjo partidário, o que permite aos críticos retomarem seu protagonismo oposicionista de praxe – restando apenas saber qual o nível de controle efetivo que os desmoralizados "lulistas" locais ainda terão sobre o partido. Se o PT local voltar ao seu leito "autêntico" a polarização política pode melhorar de qualidade, deslocando o clientelismo selvagem da oposição principal aos carismáticos no poder, o que fará bem à cidade.
Independente disso, todavia, os carismáticos têm um compromisso firmado com a racionalização das políticas públicas locais – o que serão obrigados a fazer até por conta da diminuição das transferências petrolíferas. Sendo assim, a sociedade civil pode recuperar o terreno perdido na interlocução com o Estado se souber se organizar para tal, sem partis pris.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Adesismo, Fisiologismo e outros ismos – os caminhos de uma política campista sem oposição

Em Campos dos Goytacazes paira uma desconfortável sensação na política local objetivada nos comentários dos experts e dos cidadãos. Esta sensação eu poderia sintetizar na ausência da própria idéia de oposição política sistemática na cidade. Tanto em prática quanto em discurso. A grande questão é compreendermos como, afinal, chegamos a este cenário de aridez onde a esfera pública permanece esquálida há pelo menos 16 anos, justamente após a movimentação e a euforia que propiciou o “Muda Campos”.

No dia seguinte após as eleições, em que houve a consagração de Rosinha Garotinho nas urnas, fiz minha caminhada habitual pela cidade e constrangido percebi que a maioria das referências ao candidato que obteve o segundo lugar, o ex-prefeito e atual deputado federal Arnaldo Vianna, tinha desaparecido. O indefectível apelo emocional de uma campanha “do coração”, onde não havia qualquer autopercepção dos desafios da cidade que obtém o 12º lugar no ranking do Produto Interno Bruto nacional com um IDH paralítico, estava na sarjeta. Literalmente. Não nos cabe aqui discutir o quão desastrosa e amadora foi a orientação (?!?) da campanha de Arnaldo Vianna em que o “metrô de superfície” foi apenas o símbolo anedótico de sua incapacidade propositiva. Mas ainda assim me impressionou, como eleitor, sociólogo e cidadão, a agilidade com que adesivos, placas e demais referências visuais simplesmente evaporaram em menos de 24 horas. Até mesmo o pequeno número de eleitores que foi à frente da casa do candidato após a reconhecida derrota prestar sua solidariedade após o segundo turno, onde o referido candidato obteve 43% dos votos (113.638 votos individuais), deveria causar espanto. Afinal o homem obteve mais de 100 mil votos!

Não me parece que o “choque” deva ser restrito ao desaparecimento, tão objetivo quanto simbólico, do rosto e da sigla de Arnaldo das ruas. Mais preocupante foi a repetição de um comportamento que tipifico como “adesista” pois notei que muitos veículos que até então mantinham a adesão ao candidato Arnaldo Vianna, não satisfeitos com o abandono a qualquer princípio de fidelidade ao mesmo, aderiram ao “15” da prefeita eleita. Utilizando aquele famoso e infame jargão, tornaram-se em menos de 24 horas “Rosinha” desde garotinho.... O adesismo é mais um sintoma que contaminou até mesmo formadores de opinião que, ao perceberem a inevitabilidade da vitória de Rosinha, aderiram de maneira oportunista ao coro dos contentes do 15. E esta posição adesista conquistou, pasmem, até mesmo parcela dos quadros do combalido e pouco convincente Partido dos Trabalhadores local.

Precisamos entrar no universo das possíveis motivações que animam a política em Campos dos Goytacazes. E de maneira arriscada irei propor, em forma de ensaio, alguns tipos ideais de comportamento que poderiam nos ajudar a compreender tanto a inexistência de uma oposição quanto o esvaziamento das referências de campanha e mesmo o adesismo. E penso que o termo “fisiologismo”, creditado ao ilustre jurista San Tiago Dantas (1911-1964), seja parte da solução. Não só para respondermos aos dois pontos anteriores mas, também, para pensarmos em uma outra questão cara aos especialistas: existe um “garotismo” no ar? Por hipótese momentaneamente eu responderia que não há um discurso “garotista”. Há sim uma prática, uma práxis política específica, que podemos identificar. E direi a frente porque.

Prosseguindo a prática do “fisiologismo”, em que há a acomodação dos mais díspares interesses e gramáticas morais sob uma mesma estrutura e é o verdadeiro “móvel” do adesismo, em Campos certamente esvazia fragorosamente qualquer possibilidade de discurso sistemático alternativo sobre a coisa pública. Ora, a res publica é usualmente interpretada nesta realidade como espaço para saqueadores, onde todos podem extrair ao máximo os vultuosos recursos em prol de seu conforto particular. Há um imaginário social sobre esta questão que é propiciado pela destituição de mecanismos de oposição legítimos. Não há um contra-discurso para a prática de barbárie com o aparato administrativo municipal. Ocorre sim um verniz de um discurso moralizador e messiânico, que pode ser uma tentativa de explicação do sucesso de Rosinha Garotinho nas últimas eleições. Mas, e onde situa-se a origem do “fisiologismo”?

Com os recursos dos royalties não há possibilidade, até o presente momento, de oposição sustentável. A vergonhosa situação dos terceirizados, o aparato de corrupção sistemicamente construído, deixando poucos espaços para discursos e agentes autônomos, é apenas parte da explicação e aquela que justamente nos salta aos olhos imediatamente por estar situada na superfície. Mas o problema está mais embaixo. Está no esvaziamento da esfera pública. A questão é compreendermos como isto ocorreu, nos restando as práticas fisiológicas e adesistas.

Parte da chave para responder a essa questão me veio a tona no importante Fórum ocorrido na UENF sob a organização do professor Hamilton Garcia de Lima. Conversando depois, em off, com parte dos convidados das mesas, foi ventilado o processo de cooptação que teria auxiliado a naufragar qualquer tipo de pretensão progressista do “Muda Campos”. Se Campos dos Goytacazes vivia, assim como o resto do país, o florescimento de uma sociedade civil atuante após o estrangulamento promovido pelos golpistas de 1964, o que nos colocou em atraso de décadas se compararmos com o levante da sociedade civil nos países centrais, a cidade particularmente teve seu processo inconcluso. Nas narrativas frustradas dos convidados ficou patente o esvaziamento das reuniões de bairros, das associações de moradores, dos intelectuais e mesmo da opinião pública promovido por práticas de cooptação e/ou cerceamento “arrasa quarteirão” ainda no primeiro governo Garotinho. E não é só isso.

Em dissertação de mestrado defendida na UENF por Dauro dos Santos Franco, na pós graduação em políticas sociais (disponível para download aqui), é possível observar que o número de cargos DAS passa do número de 89, no primeiro governo Garotinho, para 506 (?!?) no segundo governo. É esta prática que irá levar água ao moinho das práticas clientelistas transclassistas pois mistura-se o discurso messiânico e assistencialista para os agrupamentos pauperizados e as nomeações para as classes médias gerando o vinculo necessário de sobrevivência material entre a práxis do Garotismo, seus afilhados e seguidores como o próprio Arnaldo Vianna e Alexandre Mocaiber. Me parece suficientemente óbvio que estas classes dependentes das migalhas (de maior ou menor monta) do poder local não possam elaborar um discurso politicamente avançado. Sua sobrevivência imediata depende da manutenção do status quo e não conseguem imaginar outra forma de sobrevivência que não seja pela subserviência física e moral. Isto é certamente elucidativo para entendermos o adesismo descrito em parágrafos anteriores. E é esta práxis política que pavimentou o caminho para o consenso pró Rosinha detectado nessas eleições. Também é esta mesma práxis política que não pode nos causar estranhamento ao nos depararmos com partidos como o PSB, que até antes das eleições mantinha um discurso anti-garotinho, já ter anunciado a sua adesão ao novo governo. Rei morto. Rei posto. E fiel a quem quer que seja que mantenha o poder, não importando quem seja.

A persistência dessas práticas que torna possível entendermos um “modus operandi” garotista na planície. O que não implica afirmarmos que há um discurso próprio. Basta uma espiadela no repertório produzido pelo ex-governador, disponível em seu blog, para vermos que há a reprodução de um tom “anti-lula” ainda com menos profundidade do que os Mainardis e afins que pululam no pastiche que tem se tornado a imprensa nacional. Mas não há uma elaboração própria, uma interpretação sobre o que venha a ser o Estado ou mesmo traços de originalidade intelectual, o que demarcaria a efígie de um grande estadista. Há sim um discurso falso moralista ou criador de factóides... Justamente na esteira de um César Maia.

Retornando às práticas que propiciam e incentivam o fisiologismo e o adesismo o que assistimos são repetições de uma novela já conhecida. O que os agrupamentos que se beneficiam no curto prazo destas posturas devem compreender é que usualmente o vácuo político deixado realiza a implosão de possibilidades de fidelidade política. Com uma legião de dependentes materialmente da prefeitura não se realiza somente o esvaziamento da esfera pública e de sua conseqüente reflexividade. Se realizam as possibilidades do “adesismo” nada apegado a qualquer noção de fidelidade que poderia ser a base segura para qualquer projeto político consistente e sustentável no longo prazo. Até lá continuaremos com uma esfera pública local sem discurso próprio, acéfala, e onde a “oposição” muitas vezes se opera em um tom personalizado com ódios “pessoais” dado que inúmeras vezes a prefeitura tem prestado para nada muito maior do que agraciar aos amigos e punir os inimigos. Ao menos até o momento em que as posições de “amizades” mudem de configuração até as próximas eleições.

De todo modo com a não possibilidade de termos uma oposição criativa, duradoura e propositiva todos perdem. A democracia, a esfera pública, a sociedade e até mesmo os “donos do poder” pois estão se eximindo de aprendizados políticos e morais de soma positiva. Até lá que convivamos o pacto da mediocridade.

domingo, 5 de outubro de 2008

Aos finalmentes.... sobre Campos dos Goyatacazes - RJ

Bem, com 99% dos votos apurados e com o pronunciamento oficial da justiça eleitoral em âmbito local podemos afirmar que, até o dia de hoje, não teremos segundo turno em Campos dos Goytacazes.

Eis a contagem dos votos:

Rosinha (PMDB) - 117.994 votos;
Odete (PC do B) - 26.889 votos;
Feijó (PSDB) - 3.681 votos;
Marcelo Vivório (PRTB) - 959 votos

Sinaliza-se que os votos decisivos foram das zonas periféricas da cidade, onde o "voto esclarecido" da professora Odete teve menor impacto. Dizem que no Cefet-Campos houve até mesmo a vitória de Odete sobre Rosinha. Cabe depois uma análise do perfil de classe que vigorou nesta eleição... E das zonas eleitorais... Mas poderia arriscar que o Governo Federal pouco influiu de fato nas eleições por aqui. Campos com suas elites políticas movidas a royalties é quase insulada politicamente do resto do país.

Ainda ressalto que o clientelismo local é "transclassista" fazendo com que usualmente os chamados "votos independentes" não ultrapassem em muito a cifra dos 30000. Foi assim na última eleição em Campos. E nesta não foi diferente. Como dizemos aqui neste blog, o clientelismo e a corrupção em Campos são práticas sistêmicas.

Agora teremos os desgastantes dias torturantes em que uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, poderá dizer se o pdtista Arnaldo Viana terá seus mais de 100 mil votos computados. Afinal, com os votos de Arnaldo anulados Campos terá a espantosa porcentagem de mais 120 mil votos nulos! O que não anula as eleições mas nos causa um forte sentimento de ausência de legitimidade deste pleito... Afinal nem os maiores apoiadores do voto nulo alguma dia sonharam com esta cifra!

No plano do legislativo candidatos com práticas tradicionais de clientelismo, com aparatos robustos de campanha e redes pessoais de favores e dependentes foram eleitos ou tiverem o beneplácito da reeleição. Que venha a redução dos cargos por indicação política (os suntuosos mais de 3000 DAS da prefeitura de Campos), o repúdio ao nepotismo e a sonhada reforma política que desbarate as estruturas "assistenciais" nas periferias. Em caso oposto continuaremos patinando sobre o vácuo das boas práticas.

Pelo que vi na lista não creio que tenhamos nenhum candidato eleito para a câmara com práticas fora do script do que já estamos acostumados. Seja entre legendas de esquerda ou de direita.

Na verdade, como diria Slavoj Zizek, com essa esquerda quem precisa de direita?

Certamente virão outras análises dessas eleições, aqui mesmo... Mais profundas e com dados mais precisos. Mas, acredito que é necessário um posicionamento analítico provisório neste momento visando levantar a bola do debate.

Até porque, como tem sido a sina desta cidade, assim como em 2004 as eleições de 2008 ainda não terminaram extra-oficialmente.

Por fim, eu diria que Campos melancolicamente mais uma vez dá um passo a frente. E dois para trás.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Anotações sobre o I Seminário “Política, Eleições e Soluções para Campos dos Goytacazes” – Uma tentativa de balanço – Parte II

Sobre UENF e Sociedade Local – Da necessidade de criação de espaços favoráveis ao debate e sobre o papel da Universidade Pública (continuação)

Retornando ao início do meu argumento, a UENF ainda assim deveria ter preparado espaços para debate sobre a realidade política local em primeira hora. Deve fazer parte de sua importante missão aglutinar os setores ambicionando o franco debate de idéias e fatos na medida em que há um reconhecido vácuo na esfera pública para tal. E isto, claro, traria a sociedade política para a Universidade, o que faria com que a sociedade mesma se reconheça ainda mais na UENF, minimizando esta sensação de estranhamento que ainda persiste.

Neste sentido, se não houve uma atuação “de primeira hora”, o debate capitaneado pelo professor Hamilton Garcia de Lima vem antes tarde do que nunca. E em momento estratégico dada a proximidade do pleito eleitoral. Com o apoio do LESCE (Laboratório da Sociedade Civil e do Estado), da coordenação do curso de bacharelado em Ciências Sociais , do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP), da direção do Centro de Ciências do Homem (CCH), prof Hamilton propiciou um momento ímpar, dado que há inegável esforço pessoal do professor na realização do Seminário, e de conseqüências que devemos incentivar.

Primeiramente o Seminário propicia o início do “pagamento” desta dívida política entre UENF e sociedade local. Trouxe, sem preconceitos academicistas, diferentes atores da sociedade civil campista. O atual vice-prefeito da cidade de Campos dos Goytacazes Roberto Henriques, o ex-vice-prefeito Adilson Sarmet, Fábio Siqueira, professor da rede estadual e dirigente do atuante Sindicato Estadual dos Profisssionais da Educação (SEPE), Geraldo Coutinho, empresário e representando a FIRJAN (Federação das Industrias do Estado do Rio de Janeiro), Luis Aguiar, Frederico Veiga, Conrado Aguiar. Também tivemos a presença de outros agentes, ligados a intelligentzia local, que a despeito de suas carreiras voltadas “para dentro” da academia, tem um histórico da atuação “para fora” da mesma. Prof. Roberto Moraes, Prof. José Luis Vianna, Profª Denise Terra, Prof. Aristides Soffiatti, Prof. Renato Barreto, Prof. Almy Carvalho, Prof. Luciano D´Angelo, prof. Aílton Motta... Também participaram, de forma mais contundente no segundo dia do encontro, as candidatas Graciete Santana (PCB) e Odete Rocha (PC do B). Representando a candidata Rosinha Garotinho (PMDB) tivemos, também neste último dia, o jornalista Avelino Ferreira. A pluralidade teve lugar no evento, algo que é fundamental na medida em que a esfera pública é necessariamente plurivocal.

Nestes termos, em segundo lugar, tivemos o flagrante processo de tentativa de revitalização da esfera pública em um espaço público não cooptado.
É corrente por parte da imprensa local a sensação de que a campanha em Campos “corre morna”. Diria que esta é apenas uma meia-verdade. Esta corre morna somente no espaço público. No espaço privado, e no universo dos interesses particulares, há interesses econômicos sendo contemplados com promessas úmidas ao pé do ouvido. Articulações nas franjas da esfera pública são desenhadas loteando o poder local. Da mesma maneira como vem sendo prática corrente há vinte anos. Parcela substantiva da classe política local ainda não se “modernizou” no sentido de elaborar uma outra forma de se fazer política que não seja negociando clientelisticamente bolsas, empregos, tanques de gasolina... O cientista político Victor Nunes Leal prossegue inspirador em seu clássico “Coronelismo, Enxada e Voto”, embora que deva ser atualizado para a realidade de um mercado político dinâmico e perverso localmente. Um mercado político da barbárie.

Por conta dos constrangimentos causados pelas regras internas de funcionamento de uma esfera pública sadia, onde moralmente é condenável a gestão particularista da res pública, e na busca dos melhores argumentos racionalmente adequados de forma justificável para a realidade local, o seminário foi sim um bálsamo. E significa mais um passo de retomada da sociedade civil, que já teve lugar no recente “Chega de Palhaçada”, movimento que ocorreu ainda no auge da crise pós-11 de março, como um espasmo importante. Todavia não conseguiu alavancar um fórum permanente e independente de análise entre os diversos setores da sociedade civil campista poderiam efetivamente iniciar e pressionar pelas “boas práticas de governança” em nível municipal.

Ora, Campos dos Goytacazes não está fora do contexto nacional. Sem dúvida a sociedade civil começa somente a se descolar do Estado muito recentemente, na esteira dos processos de (re)democratização do país. Todavia estamos letárgicos ainda neste exercício que faz com que exista a demanda urgente em prol da revitalização da esfera pública local que foi cooptada e esmagada nos últimos vinte anos. Precisamos mais do que movimentos espasmódicos como o “Chega de Palhaçada”. Neste sentido o fórum foi mais um salutar exemplo de proposição e análise da sociedade local sobre esta mesma. Propiciada, como já disse, em “solo não cooptável”, justamente como deve ser. A grande cobrança que deve ficar é que este movimento não seja apenas mais um espasmo pouco freqüente.

(continua...)