quarta-feira, 30 de junho de 2010

Perguntar não ofende, não é? Ou ofende?

Quem não consegue governar uma campanha, saberia governar um país?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os Blogs X grande mídia: uma proposta à blogesfera campista

Uma das críticas mais recorrentes contra a grande mídia é a falsidade de sua suposta neutralidade. Os nossos jornais, revistas e emissoras de TV não declaram nem assumem quem estão apoiando nas eleições presidenciais, como faz, por exemplo, a grande mídia estadunidense. Seria um ganho para nossa democracia se não fizessem assim.

Para não incorrermos neste erro, e assim oferecermos mais clarezas aos nossos leitores, desse modo qualificando o debate democrático em nossa região, sugiro que os blogueiros ou blogs da blogesfera campista declarassem seu apoio. Acho que isso seria uma experiência interessante.
Desde já, declaro que, imagino que a maioria deste blog, apóie a candidatura de Dilma, o que não deve ser novidade para ninguém. Da lista de nomes que aparecem aí do lado, acredito que, talvez, apenas meu amigo Bill não vote na Dilma.

Taí, a proposta está lançada, espero que os amigos da rede blog local gostem da idéia.

Criação Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher - Campos RJ


Prezados,

Divulgando informe da professora Ana Maria - DSSC/ UFF acerca da luta das mulheres em âmbito local.

Sintam-se a vontade para repassar a informação adiante.

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Em março de 2009, por ocasião do Dia Internacional da Mulher e do Trote cultural, a Deputada Cida Diogo foi convidada pela UFF-Campos, para discutir o tema:"Descriminalização do Aborto: direito das mulheres e questão de saúde pública", com alunos, professores, funcionários e a comunidade, momento em que a Assistente Social Margarida do Nascimento - Presidente do Conselho dos direitos da Mulher, entregou o Abaixo Assinado pela criação da Delegacia de Atendimento à Mulher. Portanto a importância da participação de todos nós, em mais esta etapa, que é esta reunião pública, para fortalecer esta luta histórica das mulheres em Campos e região.

Até lá.

Ana Maria/UFF

domingo, 27 de junho de 2010

Democracia e exclusão política: Irã


 

    Ainda que sem entrar no tema com grande esforço teórico e sensibilidade empírica, é possível perceber que, na "era pós-guerra fria" em que vivemos, vigora no mundo a busca por tornar hegemônico um conceito de democracia como forma de selecionar os "atores globais" (Estados-nacionais) para decisões políticas e de atribuir-lhes posições assimétricas neste processo. Segundo esta concepção, a democracia é, em si, a forma que deve ser assumida pelo Estado-nacional. Na base desta concepção está a visão de mundo de que em torno de Estados-Nacionais se organizam "sociedades nacionais" com mais ou menos democracia. E muitas com nenhuma democracia. Estas sociedades nacionais seriam "sociedades civis" de diferentes tipos e com diferentes culturas políticas ou até mesmo com valores, tradições e mentalidades antagônicas.

Esta idéia de sociedades organizadas em torno de Estados-Nacionais costuma ser chamada, na sociologia, de "nacionalismo metodológico". Eu creio ser ela mais do que isso: trata-se de uma crença genuinamente moderna, sedimentada em nossa experiência cotidiana quando usamos o conceito de sociedade, de Estado-nacional, de democracia. Métodos podem ser trocados como se descarta um objeto; crenças costumam ser viscerais e suas mudanças, assim como as "revoluções científicas", demandam morte de gerações. A antiga "teoria da modernização" está viva nos esquemas naturalizados de observar o mundo social. Esta via os países como sociedades nacionais e assim hoje se faz na mídia e até em grande parte da sociologia.

    Por conta disso, o que na Sociologia se chama hoje de "nacionalismo metodológico" é ainda um contínuo de plausibilidade que une ciência e senso comum. Os esforços de questionar esta plausibilidade espontânea estão à margem, face ao uso constante da noção de "sociedade nacional" e semelhantes, como se tais existissem na condição de unidades autônomas com valores e instituições particulares. É com base neste pressuposto que os produtores e consumidores do conceito hegemônico de democracia observam, perplexos quase sempre, problemas políticos em países como o Irã.

    Dispondo desta hegemonia, o "bloco histórico" do Ocidente vencedor da "guerra fria" assume e defende a posição de "portador de valores democráticos" e de uma missão civilizatória em nome destes valores. Nesta perspectiva vêem o Irã ou como uma 1) "sociedade inocente a ser salva de seu (s) tirano (s)" ou 2) como uma "sociedade suspeita de ser cúmplice de seu tirano". Oficialmente só pode vigorar a primeira, mas a segunda rola com forca "no silêncio". Se os iranianos não odeiam o seu presidente, são vistos como "infantis" ou fanáticos, restando-lhes subordinação e aprendizado às "normas da democracia". Neste terreno semântico o presidente ditador, no limite, não é digno de confiança e a ele não deve ser dada à palavra, senão para se desculpar e acatar. Quem não demonstra incorporar os "valores democráticos" deve ser excluído da democracia global, ou seja, do processo decisório da política.

Parece que o sistema político global tem no conceito de democracia a sua forma semântica atual de reproduzir a diferenciação vigente entre os Estados-Nacionais, sobretudo na dimensão centro/periferia. Nesta dimensão vê-se que o centro se percebe - ainda que não represente esta percepção, conferindo-lhe, ao invés disto, a condição de princípio naturalizado - como depositário regionalizado de valores universais que devem ser expandidos. No "sentido prático do conceito" reside a mesma função que em outra época coube à diferença explícita entre civilizados e bárbaros, ou seja, a função de sedimentar a diferença entre o centro e a periferia, no caso aqui, no terreno específico da política. A questão fundamental deixada na sombra por esta semântica da democracia é se, de fato, existem sociedades nacionais estruturadas por valores nacionais, valores estes representados na política nacional. Enfrentar esta questão exige uma visão sobre o processo de expansão de valores ou códigos valorativos específicos e ver se existem ou não "sociedades nacionais caracterizadas pela falta destes valores", mais exige mais do que isso: exige colocar em evidencia a função atual do uso desta diferença conceitual para reproduzir uma forma de diferenciação da política mundial que, ao se definir como democrática, intitula-se no direito e no dever de determinar quem deve ou não receber confiança, ou seja, quem deve ou não participar de situações decisórias importantes.

terça-feira, 22 de junho de 2010


Parabéns Dunga!

A resistência ao poder da mídia em determinar os “fatos” sobre os quais pensamos e que pesam sobre nosso comportamento cotidiano e extra-cotidiano não é uma questao de “esquerdistas”, de “chavistas” ou “lulistas”, é uma questao prática que pode se colocar diante da quaquer um que não tenha naturalizado a submissao à “agenda global” e que tenha que lidar com essa instituicao com frequência. Parece ter sido o caso do técnico Dunga.

Alimentada pela necessiade de produzir novidades em busca de audiência, a Globo dá sinais de que não aceita abrir mao de qualquer privilégio, e de privilégios contrários à liberdade de imprensa. Como pode uma emissora se dizer o suporte deste valor se seu sucesso consiste em ter a “exclusividade da informacao”? Isto talvez seja um paradoxo da mídia como um todo, mas que, de todo modo, só pode ser “evitado”( se é que assim podemos dizer) com concorrência.

Talvez num regime de mais concorrência, no qual não haja espaco para que uma emissora torne plasuível sua pretensao de representar os interesses da pátria (no caso ai, da pátria de chuteiras), seja menos naturalizada nas pessoas a atitude de ser “gentil” com a agenda do grande senhor, ou da “grande senhora”, a Globo. O que Dunga fez foi mostrar como não é natural obedecer ou ficar com medo de mostrar que não está disposto a obedecer, que é possível ser “honrado” na opiniao pública de outro modo. No cerne deste conflito está o mais poderoso e lapidar mecanismo da violência simbólica: o dominante, quando confrontado, busca lancar o oponente no terreno do ridículo. Neste terreno se trata de demonstrar que a ousádia do impensável é punida com a reprovacao moral da “opinao pública”, ainda mais se for endossada pela FIFA, como queriam. Dunga tratou de atualizar o impensável e de mostrar ao dominador que a imposicao do ridículo, em última instancia, é contingente.

Queira o destino que esse episódio no futebol tenha o vetor da vontade de desafiar a atual estrutura da opiniao pública no Brasil. Tratando-se disso, talvez possamos sonhar que a agenda pela mudanca estrutural da esfera pública no Brasil não é somente uma inquietacao sectária, como querem fazer crer, sempre sob a imposicao do ridículo, mais sim um problema real de pessoas até sem interesse por política partidária, mais com interesse em não engolir o dominador dos mais diveros modos e pelas mais diverdas cavidades.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Notícias UENF - Sobre a greve por tempo determinado

Prezad@s,

Invariavelmente nos posicionamos favoravelmente na luta pela manutenção da qualidade da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Divulgo comunicado enviado pela professora Simonne Teixeira acerca do conjunto de reivindicações da ADUENF.

Fica, pois, a esperança de que o movimento seja exitoso. Lastimável que a UENF, uma das maiores do país, após 08 longos anos de penúria e repressão sob a batuta garotista ainda não tenha recebido a devida atenção do atual governo. Cabe ressaltar que uma das vias que possibilitem a fixação dos docentes no norte fluminense é a recuperação dos seus salários.

Eis o texto:

No primeiro dia da greve por tempo determinado, que vai durar até a próxima sexta-feira, dia 25, a Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Aduenf) informou que vai acontecer na sede da Aduenf nesta sexta-feira (hoje), às 11h, uma reunião em que estará presente o deputado Comte Bittencourt (PPS), que é presidente da Comissão de Educação da Alerj. De acordo com o presidente da Aduenf, Marcos Pedlowski, o presidente da Comissão quis vir a Campos para se encontrar com os professores. Os funcionários técnico-administrativos da Uenf também aderiram à greve de uma semana.

Além da greve já iniciada, os professores da Uenf decidiram, em assembleia realizada na última quarta-feira, dia 16, a emissão de nota de repúdio a qualquer tentativa de extinguir o regime de Dedicação Exclusivo na UENF, emissão de nota de repúdio a qualquer tentativa de complementação salarial por meio de bolsas tipo “Pró-Ciência” como solução para a defasagem salarial, formação do comando de greve, realização de manifestação durante a festa de aniversário de 30 anos da Faperj na cidade do Rio de Janeiro, desautorizar a participação de associados da ADUENF nas reuniões de colegiados da UENF em que sejam membros durante períodos de greve, envio de correspondência ao Reitor da UENF solicitando que se posicione a favor da luta pela reposição de 82% de perdas salariais, ou que apresente sua renúncia ao cargo e indicativo de greve por tempo indeterminado a partir de 16 de agosto de 2010.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Início do Fim: o PT cava a sua tumba no Maranhão

Períodos de grandes conquistas chegam ao fim, grandes impérios começam pequenos, crescem e morrem, sempre foi assim na história, a diferença é o tempo que permanecem de pé. Mas vale lembrar que a queda começa sempre lenta, em atos supostamente imperceptíveis. É um pouco disso que o texto do Leandro Fortes nos mostra abaixo, o possível começo do fim de uma era. Talvez, ou muito provavelmente, o PT fique ao menos mais 8 anos no poder, mas o seu fim já começa a dar sinal agora, o caso do Maranhão é sintomático.

Nota: Antes que comece o debate queria informar aos possíveis leitores e debatedores que este debate é um debate interno, coisa de família. É um debate interno e familiar daqueles que acreditam na democracia, na justiça social, aos que apóiam partidos em que exista ou tenha existido democracia interna e por aí vai. Só estes tem a legitimidade de criticar o PT por isso. A notícia de uma intervenção central nos diretórios estaduais só causa espanto no PT, porque nos outros partidos da direita (PSDB, DEMo etc) isso nem sequer é um problema, porque não existe democracia interna lá. O problema da aliança contingente com o Sarney, não pode ser criticada por quem foi aliado histórico (sistemático) do Sarney. Enfim, uma crítica vindo destes setores da direita (e de quem acredita neles) seria o mesmo que um marido que espanca sistematicamente a mulher repreender um homem que foi grosseiro (agiu com violência verbal) com a esposa.
Leandro Fortes: O feitiço do Sarney
O Maranhão é o quarto secreto onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esconde, como Dorian Gray, uma resistente decrepitude moral de seu governo. Assim como o personagem da obra de Oscar Wilde, Lula se mantém jovial e brilhante para o Brasil e o mundo, cheio de uma alegria matinal tão típica dos vencedores, enquanto se degenera e se desmoraliza no retrato escondido do Maranhão, o mais pobre, miserável e desafortunado estado brasileiro. Na terra dominada por José Sarney, Lula, o anunciado líder mundial dos novos tempos, parece ser vítima do feitiço do atraso.
Dessa forma, em nome de uma aliança política seminal com o PMDB, muito anterior a esta que levou Michel Temer a ser candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, Lula entregou seis milhões de almas maranhenses a Sarney e sua abominável oligarquia, ali instalada há 45 anos. Uma história cujo resultado funesto é esta sublime humilhação pública do PT local, colocado de joelhos, por ordem da direção nacional do partido, ante a candidatura de Roseana Sarney ao governo do estado, depois de ter decidido apoiar o deputado Flávio Dino, do PCdoB, durante uma convenção estadual partidária legal e legítima, por meio de votação aberta e democrática.
Esse Lula genial, astuto e generoso, capaz de, ao mesmo tempo, comandar a travessia nacional para o desenvolvimento e atravessar o mundo para evitar uma guerra nuclear no Irã, não existe no Maranhão. Lá, Lula é uma sombra dos Sarney, mais um de seus empregados mantidos pelo erário, cuja permissão para entrar ou sair se dá nos mesmos termos aplicados à criadagem das mansões do clã em São Luís e na ilha de Curupu – isso mesmo, uma ilha inteira que pertence a eles, como de resto, tudo o mais no Maranhão.
Lula, o mais poderoso presidente da República desde Getúlio Vargas, foi impedido sistematicamente de ir ao estado no curto período em que a família Sarney esteve fora do poder, no final do mandato de Reinaldo Tavares (quando este se tornou adversário de José Sarney) e nos primeiros anos de mandato de Jackson Lago, providencialmente cassado pelo TSE, em 2009, para que Roseana Sarney reocupasse o trono no Palácio dos Leões. Só então, coberto de vergonha, Lula pôde aterrissar no estado e se deixar ver pelo povo, ainda escravizado, do Maranhão. Uma visita rápida e desconfortável ao retrato onde, ao contrário de seu reflexo mundo afora, ele se vê um homem grotesco, coberto de pústulas morais – amigo dos Sarney, enfim. Logo ele, Lula, cujo governo, a história e as intenções são a antítese das corruptas oligarquias políticas nacionais.
Lula, apesar de tudo, caminha para o fim de seus mandatos sem ter percebido a dimensão da imensa nódoa que será José Sarney, essa figura sinistramente malévola, no seu currículo, na sua vida. Toda vez que se voltar para o mapa do país que tanto vai lhe dever, haverá de sentir um desgosto profundo ao vislumbrar a mancha difusa do Maranhão, um naco de terra esquecido de onde, nos últimos 20 anos, milhares de cidadãos migraram para outros estados, fugitivos da fome, do desemprego, da escravidão, da falta de terra, de dignidade e de esperança. Fugitivos dos Sarney, de suas perseguições mesquinhas, de sua megalomania financiada pelos cofres públicos e de seu cruel aparelhamento policial e judiciário, fonte inesgotável de repressão e arbitrariedades.
Contra tudo isso, o deputado Domingos Dutra, um dos fundadores do PT maranhense, entrou em
greve de fome no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília. Seria só mais um maranhense a ser jogado na fome por culpa da família Sarney, não fosse a grandeza que está por trás do gesto. Dutra, filho de lavradores pobres do Maranhão, criou-se politicamente na luta permanente contra José Sarney e seus apaniguados. Em três décadas de pau puro, enfrentou a fúria do clã e por ele foi perseguido implacavelmente, como todos da oposição maranhense, sem entregar os pontos nem fazer concessões ao grupo político diretamente responsável pela miséria de um povo inteiro. Dutra só não esperava, nessa quadra da vida, aos 54 anos de idade, ter que lutar contra o PT.
Assim, Lula pode até se esquivar de olhar para o retrato decrépito escondido no quarto secreto do Maranhão, mas em algum momento terá que enfrentar o desmazelo da figura serena e esquálida do deputado Domingos Dutra a lembrá-lo, bem ali, no Congresso Nacional, que a glória de um homem público depende, basicamente, de seus pequenos atos de coragem.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

ÚLTIMA PARADA 174

O filme cujo título é o mesmo deste post, do diretor Bruno Barreto (2008) é o maior filme sobre nossa desigualdade social que já assisti. Ele também é autor de "O que é isso companheiro?" e "Dona flor e seus dois maridos". Não sou profundo conhecedor do cinema alternativo brasileiro. Mas este filme impressiona pela capacidade de mostrar a sorte de milhões de brasileiros nascidos na ralé. Baseado na história real, ele trata da origem do menino que se transformou de repente no sequestrador do ônibus 174, fato real de grande repercussão na mídia nacional, ocorrido há alguns anos no Rio.
Diferente de outros filmes brasileiros de grande produção e bilheteria, na onda do filão de vendas sobre a violência, que apenas "mostram" a violência no Brasil, mas não "tematizam" o porque da violência, como "Cidade de Deus", "Carandiru", o descaradamente conservador e não por acaso premiado "Tropa de Elite", "Verônica", ou "Querô", este filme de Barreto mostra como um menino abandonado "vira" bandido. A narrativa gira em torno da vida de dois meninos nascidos em favela, um treinado desde cedo para assumir o lugar do pai como traficante, e o outro vagando pelas ruas e pelo abandono familiar, institucional e social, desde que sua mãe, uma batalhadora dona de bar na favela, é assasinada num assalto.
Este último é o Sandro, protagonista principal. Sua ida para as ruas, incapacidade de permanecer na escola, impossibilidade de gravar seus raps, enfim, toda a contingência de sua vida é tematizada no filme. O contraponto com o outro menino o Alessandro, é fundamental para a compreensão do que acontece com Sandro, e por isso acho o filme genial. Alessandro foi treinado para ser o "malandro", cantado por Bezerra da Silva, o esperto, com inteligência e disposição para sobreviver no mundo do crime. Sandro não. Não foi treinado nem para o bem e nem para o mal. Não aprendeu a viver no mundo integrado da "boa sociedade", por não conseguir permanecer na escola, desde cedo apresentava dificuldades e com o assassinato traumático da mãe não conseguia mais aprender nada. Também não aprendeu a viver no mundo da rua, rejeitado pelos familiares, tratado formalmente por instituições de apoio social. Ele se tornou o "mané" das músicas de Bezerra. Bandido por acaso.
Sobrevivente da famosa chacina da Candelária, onde morreu sua verdadeira família, este menino vaga entre a tentativa de recuperar o rumo da vida, buscando a mãe, tentando mostrar seus raps, e a realidade de pequenos delitos pela sobrevivência. No final, as esquinas da vida transformam o menino abandonado em sequestrador. Nosso olhar dominante, cujo baluarte principal é a classe média, considera tal destino uma escolha de um vagabundo. Cada cena deste filme mostra os limites de nossas escolhas individuais. A beleza dos detalhes do filme eu deixo para o leitor conferir.
A arte crítica é aquela que mostra a dor humana. Com uma câmera na mão, ou uma caneta, não basta uma boa história, é preciso o interesse de quem mostra em enxergar a verdade. Não há verdade maior do que a dor humana e os limites reais de nossa vontade. Sandro só queria conhecer Copacabana, vontade derivada de um sonho da mãe, que lá almejava trabalhar. Não aprendeu bons costumes e nem aprendeu maus costumes, como seu colega traficante. Não aprendeu a se defender nem com armas legítimas nem com ilegítimas. Acabou se tornando o bode expiatório dos armados de ambos os lados. Desarmado, também foi desamado. Desalmado. Pobre Sandro. Pobre sociedade brasileira.
Enquanto continuarmos vendo nossa ralé como a protagonista dos nossos erros, não conseguiremos ver que muitos erros não possuem protagonista, e continuaremos sem enxergar a parte de erro que nos faz co-autores de uma sociedade desigual e violenta. Somos uma sociedade fragmentada por que nos percebemos fragmentadamente, por que nao percebemos que todos os brasileiros tem sonhos mas que nem todos tem a realidade que possibilita sonhos virarem realidade. Para Sandro, a realidade foi apenas sonho, e um sonho ruim.
Só podemos transformar a realidade quando sonhamos. Mas quando sonhamos a partir de uma realidade que permite a ação em prol de uma outra realidade melhor, vislumbrada no sonho. Não é o caso de pessoas como Sandro, infelizmente. E pior, não é o caso de muitos bem-nascidos, cuja realidade permitiria contribuir para outra melhor. Permitiria sonhar. Nossa classe média conservadora não tem este sonho. Eu tenho. E artistas como fez Barreto neste filme também tem. Bem vindos ao sonho, todos os leitores. Mas antes é preciso encarar a realidade. E esta, no Brasil, e em outros países de capitalismo periférico, é que nossa ralé não pode nem sonhar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Por que nós sempre perdemos para Garotinho?

Parte II- a nossa miséria moral
Continuando o post anterior sobre o tema, poderíamos dizer que a primeira causa que se destaca é o tamanho deste “nós”. É uma classe espremida entre classes muito mais poderosas, seja por causa do contingente numérico da classe que está logo abaixo ou pelo poder financeiro e simbólico da classe que está acima. Desse modo é quase impossível esta classe conseguir impor seus valores e interesses de classe neste jogo. E aí começa todos os seus erros, e o maior deles é a suposição que todas as outras classes vêem o mundo da política tal como eles, ou nas melhores intenções, deveria vê-lo.
Como suas necessidades básicas de sobrevivência já estão solucionadas, acreditam que a política é um espaço, sobretudo, de realização do imaginário “religioso”- moral, o que também é uma afirmação simbólica do estilo de vida engendrado pela classe. O principal produto desta relação com a política é a implementação de uma cruzada moral como sendo o elemento principal da agenda política, ou seja, todos os outros aspectos da política são secundários em relação ao desejo de moralização do mundo. E essa moralização se daria segundo os valores morais desta classe, claro!
Assim, seu projeto político para a nossa sociedade é: uma sociedade que seja capaz de montar um sistema de controle e punição eficiente que puna os “maus” e permita que os “homens de bem” reinem em paz sobre a terra. Essa visão simplista do mundo é sustentada em dois pilares: moralismo voluntarista e um forte casamento entre judiciário e aparato policial.
Do ponto de vista político eleitoral local isso é um fracasso, justamente porque não leva em conta os anseios e interesses das outras classes, assim é incapaz de seduzir fatias consideráveis da sociedade a ponto de se tornar um projeto robusto. Enfim, esse “nós” só fala pra si mesmo.
Os setores que estão abaixo desta classe têm anseios muito mais urgentes de serem solucionados do que propõe esse “nós”. A alimentacao do seu filho, o direito dele ter uma escola digna, ter uma profissão, poder ter um trocado para se divertir ou comprar um tênis da moda são mais importantes (óbvio!) do que moralizar o mundo. A insensibilidade desse “nós” que não enxerga um palmo além de sua classe é a principal causa do seu fracasso.
Por outro lado, essa tão sonhada moralização não interessa os setores de classe que estão acima. Afinal, muito dos negócios das classes altas necessitam de uma visão moral mais flexível do que propõe esse “nós”. No máximo adotam cinicamente o discurso da cruzada moral da classe média, sabendo que isso não se aplica a seu mundo, e que por baixo jamais apoiarão um projeto assim. Mais uma vez essa classe média está sozinha e desamparada em virtude de sua miopia política.
Neste jogo, ainda tem o temor que a classe média tem em relação à ascensão das classes pobres. Temem pela perda de um dos bens mais caros a estes animais simbólicos que somos nós, os humanos, ou seja, temem a perda dos bens simbólicos que legitimam nosso estilo de vida e garantem parte do sentido de nossa existência. É onde a irracionalidade entra na política, fazendo com que tomemos posições cruéis em defesa do espaço simbólico de nossa tribo.
Nesta luta em que “escolhas” afetivas ditam a disputa política, a classe média demoniza imediatamente qualquer política que ofereça o mínimo de dignidade às classes que estão abaixo, como também criam barreiras simbólicas (entre elas preconceitos) para garantir-lhes os privilégios adquiridos. (Falar sobre isso exige no mínimo mais dez pots).
Para finalizar, e deixar mais espaço para o debate, podemos dizer que Garotinho nos vence sempre porque ele, por pior que seja, por mais vil, vingativo, mesquinho, megalomaníco e sei lá mais o que, ele é muito melhor para a maioria da sociedade do que “nós” temos a apresentar à sociedade. Mesmo que em nenhum momento ele tenha pensado em elaborar políticas públicas que gerasse transformações profundas na sociedade no que se refere mobilidade social dos pobres como ocorreu no governo Lula (27 milhoes de pessoes saíram da pobreza), ou também que ele privatiza a prefeitura deixando margem para esquemas duvidosos, ele foi muito melhor para os pobres do que um projeto de “moralização do mundo” poderia ser. Não há como negar que projetos como “café-da-manha no trem”, “restaurante popular” e mesmo o discutível “cheque cidadão” tragam alguns preciosos benefícios aos setores mais pobres da população, enquanto a classe média oferece para estes setores um pacote de preconceito, polícia repressiva, cadeia e no melhor dos mundos um projeto de tutela destas classes, já que sugere sempre que ela não sabe votar. Enfim, Garotinho tem um projeto para eles, que pode ser questionável, mas ele tem. Assim ele reconhece de alguma maneira o papel das classes mais pobres no jogo político, a classe média soberba e infantilmente não reconhece o papel deles na política, os ignora.
Por outro lado, mesmo com o imenso ódio de classe que as elites tenham de Garotinho, ele soube dominá-las apresentando uma relação política que é de alguma forma vantajosa para essas classes. (Longe de querer defender Garotinho, imagino a dor desta elite em ter que negociar com tipo popularesco como ele.)
E “nós” temos o que para apresentar? Uma cruzada moralista, que além de míope e insensível, beirando a crueldade quando gastamos toda nossa energia para isso e esquecemos de necessidades maiores de nossa população, é pouco, muito pouco para seduzir a sociedade.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Com a palavra, o mestre, Eduardo Galeano

o texto de uma dos mais sensíveis escritores latinoamericanos, o uruguaio Eduardo Galeano, intitulado Operação Chumbo Impune:


Para se justificar, o terrorismo do Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Sequer tem o direito de escolher seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são punidos. Gaza está sendo punida. Converteu-se em uma ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou de forma justa as eleições no ano de 2006. Algo semelhante ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista ganhou as eleições em El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submetidos às ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência, os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com pouca pontaria sobre as terras que eram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficiente guerra de extermínio vem negando, há anos, o direito à existência da Palestina.

Pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel a está exterminando do mapa.

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão consertando a fronteira. As balas consagram os restos mortais, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que esta invadisse à Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que este invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina e, os almoços seguem. A comilança se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico gerado pelos palestinos na espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, e que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que zomba do direito internacional, e é também o único país que legalizou a tortura dos prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não poderia bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico poderia devastar a Irlanda para liquidar ao IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provêm da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional dos seus servos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam-se os milhares de mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humando, que a indústria militar está testando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. A cada cem palestinos mortos, há um israelense.

Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos chamam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos chamam a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que devastou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe?

É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os EUA se auto denominam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial aparece mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações bombásticas, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam suas mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma que outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século atrás essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti semitas.

Eles estão pagando, com sangue, uma conta alheia

Israel e sua máquina de mentiras

por Pepe Escobar, no Asia Times Online, tradução de Caia Fittipaldi

Imaginem se fossem comandos mascarados iranianos, atacando uma frota multinacional de seis barcos carregados com materiais de ajuda humanitária, em águas internacionais. EUA, União Europeia e Israel, fariam desabar uma avalanche apocalíptica de “choque e horror” sobre o Irã.

Em vez disso, foram israelenses mascarados; e perpetraram um golpe de diplomacia-de-assalto e assassinato na calada da noite – de ‘autodefesa’ –, em águas internacionais, a cerca de 130 km do litoral de Gaza.

E se fossem piratas da Somália? Não, não. São piratas israelenses, combatendo nebulosos “terroristas” muçulmanos. E pouco importa que a opinião pública no mundo árabe, os turcos, a Europa e todos os países em desenvolvimento estejam furiosos. E daí, que estejam furiosos? Israel sempre se safa, mesmo quando comete – como os turcos estão dizendo – “assassinatos” (e também quando pratica atos de “terrorismo de Estado”, nas palavras do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan da Turquia).

Cenas filmadas no convés do barco turco “Mavi Marmara” – que estão rodando o mundo, mas são quase invisíveis nas redes norte-americanas – não permitem qualquer dúvida sobre o que aconteceu. Comandos vestidos de negro, em trajes à prova de bala, armados até os dentes, israelenses, claro, abordaram o comboio de barcos em infláveis de alta velocidade, detonaram granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo e atiraram a esmo, munição real, contra tudo o que viam –, e um helicóptero militar sobrevoava os barcos. A certa altura, ouve-se o comandante turco do Marmara dizer, em inglês: “Ninguém tente qualquer resistência. Estão armados com munição [real].”

Ah, a “resistência”… A agência Debka, de fato, agência-máquina de distribuir falsas notícias, comandada pelo centro de inteligência digital do governo de Israel, descreveu os ativistas que viajavam como “armados com bombas, granadas de efeito moral, vidro quebrado, estilingues, barras de ferro, machadinhas e facas.” E para os comandos israelenses? Sobrou o quê? Pistolinhas de paintball?

E aí está – Monty Python mais um vez, tragicamente remixed para o século 21. As mais bem treinadas “forças especiais” do planeta, assaltam um barco no meio do mar, no meio da noite; e só queriam “conversar”. Mas foram atacados por um bando de terroristas armados com machadinhas e facas, num barco turco, abarrotado de remédios, sacos de cimento, material escolar, comida, purificadores de água, brinquedos – para 1,5 milhões de gazenses que estão morrendo morte lenta sob bloqueio de Israel já há três anos… porque elegeram democraticamente um governo do Hamás.

A agência Debka lamenta, só, que o exército de Israel [ing. Israel Defense Forces (IDF)] – “famoso pela capacidade no campo da eletrônica militar de inovação” – não tenha conseguido impedir a distribuição de sinais eletrônicos, de forma que continuaram a jorrar, dos barcos, texto e imagens enviadas de dentro. Melhor seria, comenta a Debka, que o mundo nada visse. A Debka também lamentou que o ataque tenha ocorrido em águas internacionais: “a zona de bloqueio começa a 20 milhas náuticas de Gaza. Acontecesse ali, seria mais fácil justificar a abordagem.” Obviamente, sabem que Israel não tem qualquer direito, pela lei internacional, nem dentro das tais 20 milhas náuticas, que são território de Gaza, sob ocupação ilegal de Israel.

“Estamos sofrendo muito…”

Ninguém suplanta Israel, em matéria de duplifalar a língua orwelliana do “guerra-é-paz”. Não só os comandos terroristas israelenses foram apresentados como vítimas.

Todo o mundo está sendo alvo, hoje, de um black-out de notícias, orquestrado por Israel. Ninguém sabe com certeza quantos civis morreram (nove, 19 ou 20? A maioria turcos? Talvez dois argelinos? Algum norte-americano ou europeu?) Ninguém sabe se tinham ou não tinham “armas”. Ninguém sabe em que momento os comandos israelenses perderam a cabeça, enlouqueceram e puseram-se a atirar contra tudo e todos (há testemunhas que falam de pessoas assassinadas nas próprias camas, dormindo).

Todos os passageiros, várias centenas, que viajavam nos barcos – muçulmanos, cristãos, diplomatas, funcionários de organizações não-governamentais, jornalistas – foram, de fato, sequestrados pelos comandos israelenses. Ninguém sabe exatamente onde estão.

No rádio, só estática. Hoje, só alguns milhares de “porta-vozes” de Israel controlam toda a informação, em todo o mundo.

Nas palavras de Avital Liebovitch, porta-voz do exército de Israel, chamando a atenção para a felicidade que foi os comandos estarem lá “com aquelas armas” para se defenderem! (Em Israel, hoje, estão sendo saudados como “bravos heróis”).

E por aí vai, a novilíngua de Israel. “Terroristas” do Hamás vestidos como pessoas comuns, ocuparam aqueles barcos e acorreram às praças no mundo, só para aparecerem na televisão como “manifestantes” em “manifestações” internacionais. Nos barcos, usaram outros manifestantes como escudos humanos. E abriram fogo contra os comandos mascarados israelenses.

Assessor do ministro dos Negócios Exteriores Daniel Ayalon, por exemplo, disse que o comboio é “uma armada movida a ódio e violência, a serviço da al-Qaeda”. Como se o Hamás e a al-Qaeda tivessem mudado de ramo e, agora, ganhassem a vida no contrabando de cimento, suco de laranja e brinquedos chineses.

Absolutamente não importa, em nenhuma das versões israelenses, que a Organização Mundial da Saúde, em relatório recente, tenha insistido em que Gaza, hoje – por causa do bloqueio israelense e ilegal que a frotilha tentava romper – está a caminho da pobreza absoluta, desemprego absoluto, absoluta falta de remédios e equipamentos médicos e está, literalmente, sendo assassinada, morta por fome; não menos de 10% dos gazenses, a maioria crianças, estão fisicamente condenadas a não crescer normalmente, por efeito da desnutrição.

Os comandos mascarados israelenses que assaltaram os barcos estavam, ali, defendendo o bloqueio ilegal de Gaza. Trata-se disso.

Judeus progressistas, vivam onde viverem, são os primeiros a admitir que a Israel de hoje vive sob governo de extrema-direita, paranoicos, convencidos de que são vítimas de uma guerra global de propaganda. Por isso a eterna sempre mesma mensagem dirigida ao mundo – convenientemente envelopada em dólares dos contribuintes norte-americanos. Calem a boca! Shut up. As vítimas somos nós! Nós sempre somos as vítimas. E quem não concorda é antissemita.

O bobo na Colina

Para felicidade de Israel, sempre há a terra pátria original da liberdade, terra de bravos. Só grandes fatias da população dos EUA, hoje, estão clamando por sanções contra o Irã e a RPDC, ao mesmo tempo em que fecham os olhos para o genocídio em que Israel trabalha, metodicamente, dia após dia, no Gulag israelense.

E só há um local, em todo o planeta, onde ainda há quem creia na narrativa vitimária de Israel (“somos as vítimas! Os judeus sempre são as vítimas!”) – vítimas, os israelenses, de uma frota de ativistas desarmados. Esse único local do mundo onde essa mentira ‘cola’ é o Congresso dos EUA. O Departamento de Estado dos EUA, em nota oficial, praticamente já processou, julgou e condenou os militantes pacifistas.

Quanto ao presidente Barack Obama dos EUA, até aqui se manteve tão mudo e invisível (imobilizado? Embaraçado? Assustado?) quanto nas primeiras semanas do vazamento do petróleo da BP no Golfo do México. A Casa Branca, de produção própria, só conseguiu “lamentar muito as mortes”. E nada disse contra Israel.

O israelense-em-chefe dentro da Casa Branca, Rahm Emanuel, em visita a Israel semana passada, convidara o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a visitar Obama, para fazer as pazes com Obama. O convescote estava previsto para essa 4ª-feira. Ontem, 2ª-feira, Netanyahu cancelou a viagem.

Diz-se em Washington que Obama, agora, esquecerá a questão das novas construções exclusivas para judeus na Cisjordânia e as abomináveis condições em que vivem os palestinos no Gulag de Gaza, tudo esquecido para sempre, em troca de um dinheiro extra, crucialmente necessário para que os Democratas vençam as eleições legislativas de novembro próximo. Obama esquece, e os doadores judeus metem a mão no bolso. Depois do massacre da madrugada da 2ª-feira, não há dúvidas de que o dinheiro aparecerá: basta que Obama não ultrapasse o limite da lamentação de mortes, e pronto.

Mais uma vez, Obama – pobre Obama, infeliz Obama! – é emasculado, tratado como satrapa de República de Bananas; e Netanyahu canta-de-galo, patético travesti da música Macho-macho-man, do [grupo] The Village People.

Dado que os barcos da frota humanitária viajavam sob bandeiras turca, grega e irlandesa, os comandos israelenses, de fato, atacaram um microcosmo-amostra da verdadeira “comunidade internacional” de carne e osso e sangue. – Netanyahu está sossegado, certo de que, mais uma vez, Israel se safará.

Presidente, presidente… Como é fazer o papel de bobo da Colina em Washington?

E quanto a nós, o resto do mundo, como é, fazermos também nós o papel de bobos da Colina – exceto países que, como Brasil, Rússia, Índia e China, mais Turquia, França e Espanha, podem manifestar-se livre e claramente, com horror, sobre o assalto israelense?

Há algo que podemos fazer – possibilidade que já se discute em algumas poucas latitudes: boicotar produtos israelenses, ou impor sanções a Israel. Ferir a economia deles. Isolá-los diplomaticamente. Se, para a maioria dos israelenses, todo o mundo é seu inimigo – governos, organizações, ONGs, agências de socorro humanitário, opinião pública – porque não os fazer experimentar o próprio remédio?

Que país é esse?




Aí vao as "pistas":

1. Um Estado moderno que tem como sua principal bandeira política o NACIONALISMO.

2. Esse Estado adota a doutrina do “Lebensraum” (espaço vital), ou seja, expandir seu território através invasões rápidas a territórios alheios, com a justificativa que isso é a garantia de sua paz e segurança.


3. Esse Estado ignora tratados internacionais, não se importa com a opinião internacional e age como bem entende em questões internacionais.
4. É um Estado altamente militarizado.

5. Isola minorias étnicas em guetos as privando das condições básicas de vida e dignidade humana.

6. É governado por um partido de extrema direita.

7. É um Estado do século XXI.

Alternativas:
( A) Laos
( B) Alemanha de Hitler
( C) Israel

Resposta: a alternativa correta é a “C”, mas só é possível identificá-la devido ao item “7”, porque todos os outros itens se encaixam tanto na alternativa “B” quanto na “C”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Por que nós sempre perdemos para Garotinho? Parte I





A resposta a pergunta do título não é o mais importante aqui, essa é muito simples, ele sempre ganhou porque “entendeu” melhor a sociedade em que vivia do que seus opositores, o que inclui esse “nós”. Assim o mais importante aqui é responder primeiro “quem somos nós”. Sem saber quem somos, não sabemos que armas temos e nem como podemos lutar.

Ante mais um corriqueiro escândalo na planície lamacenta a comunidade blogueira convocou esse “nós” para entrar em ação. Excelentes textos como os de Douglas da Matta, Cláudio Andrade, Ricardo André, Professora Luciana entre outros, pediram para que esse “nós” sai à luta, abandone momentaneamente as divergências e se una para salvar nossa cidade. Mas afinal quem somos nós?

Num primeiro olhar não é muito difícil definir quem são esse “nós”, ao menos em traços gerais. Esse “nós”, pelo menos na sua versão mais recente, é uma classe já histórica em Campos, a qual despontou na política nos meados da década de 80, embalada pela onda de redemocratização e “diretas já” e que tinha no PT e no “brizolismo” seu lugar de origem político-partidária. E com o lento e sofrível desenvolvimento da cidade, também se expandiu sofrivelmente.

Uma outra característica marcante desta classe é que ela é a construtora e mantenedora da pequena, porém hoje robusta esfera pública da cidade, a blogesfera local é a maior manifestação disto. Essa esfera pública é a arena comum onde a política é feita através de idéias e debates. Esta classe (“nós”) é assim por excelência a portadora da virtude democrática na planície lamacenta, como também é o centro reflexivo do município.

Somos na maioria oriundos de setores da classe média (baixa classe média e média classe média) e temos como atividade principal no mundo, ou seja, ganhamos a vida, através de nosso conhecimento intelectual. Nossa grande maioria sobrevive da venda de conhecimento intelectual. Assim, memória, informação e idéias são as mercadorias que oferecemos na grande feira da vida. Somos formados majoritariamente por professores, advogados, jornalistas, estudantes entre outros. Há também outros entre nós que vendem mão-de-obra qualificada que não são diretamente vendedores de produtos intelectuais, como os profissionais da saúde.

No geral, duas características nos marcam, ou seja, formam nossa “Klassenlage” (situação de classe) como diria o velho Max Weber: vivemos de produtos intelectuais e em geral temos um ganho fixo de origem “impessoal” (não dependemos de favores pessoais).

Quanto ao primeiro, assim como banqueiros são hábeis em lidar com o dinheiro e usam esse dinheiro no jogo político, nós somos hábeis em produzir informações e usamos isso no jogo político, talvez essa seja nossa única arma.

E quanto ao segundo ponto, ele é fundamental. É esta segurança econômica provinda da não dependência diretamente pessoal do ganho que é tanto a fonte de nossa coragem como também a possibilidade (eu disse a possibilidade) de fazer política com interesses mais distantes do nosso umbigo. Com isso quero dizer que não acredito que se possa fazer política em prol do “bem comum”, sem interesses, ou portando valores universais, mas sim que, se podemos nos aproximar disso de alguma maneira, essa classe (“nós”) tem as condições materiais para isso, já que empresários, a grande mídia e algumas outras classes economicamente privilegiadas tem grandes interesses nos cofres do Estado para o sucesso de seus negócios, e as classes mais desprovidas devem ter o direito LEGÍTIMO de fazer política com o “estômago”, assim são de alguma maneira mais vulneráveis.

Voltando a fonte de nossa coragem, é a garantia que o “leite de nossas crianças” e ou a cervejinha do fim de semana não estão em jogo, que nos permite expressar nossas opiniões na esfera pública sem ter medo. Desse modo, é a “impessoalidade” do nosso ganho que nos permite agir no mundo político democrático, é isso que nos faz tão “bravos” e “altruístas”. Creio que isso deve explicar o porquê de Garotinho e suas extensões corpóreas que caminham por aí (corpos sem vontade própria) odiar concursos e convocar concursados. É essa relação de ganho impessoal que os concursos promovem que permite a formação do “nós”.
Continuarei no próximo post a falar das causas de nossa derrota.