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sábado, 4 de abril de 2009

Em busca da honra (ou o conteúdo cultural do americanismo tardio)

Talvez estejamos ainda estupefatos com a frase de Obama sobre Lula, na reunião do G20. De fato, soa como algo surpreendente porque nós nos acostumamos na velha posição criada por nosso “complexo de vira-lata”, e como que de súbito galgamos patamares evolutivos em direção à nova forma de Pit-Bull. Isto é o que ouvi, em várias análises de jornal, que preferiram isto a ressaltar explicações como “gentileza” ou “afago interessado”. Não é esta a frase que mais me atraiu na reunião do G20. A mais interessante foi a de Lula, explicando o ocorrido: “vocês acham que é fácil para um americano dizer isso?”. Lula aqui inverte o argumento, e de forma perspicaz foca os EUA, não o Brasil. Minha questão principal sobre o ocorrido vem exatamente desta inversão, e pergunto: qual é a atual atmosfera cultural americana sob a qual esta frase faz todo o sentido?
Nenhum outro país se viu tanto no cinema como os americanos (talvez os indianos). Grande parte da vida americana passou na tela, grande parte de seu imaginário foi estampado em película e exportado para o mundo todo. Estamos, pois, diante de um bem cultural que apresenta as auto-representações de uma nação inteira, que ademais serviu para perpetuar duas de suas características mais identificáveis: “a honra e o orgulho americano”. Estes dois elementos combinados criaram a figura do Xerife dos filmes de John Ford, a figura dos pioneiros que em caravanas expandiam os limites territoriais em direção ao oeste profundo. Dois atores marcaram época e incorporaram a imagem da bravura, da honra e do orgulho americano: Henri Fonda e Clint Eastwood. Nesta mesma época, década de 50 e 60, o sonho americano se concretizava na “golden age”. Este era o cenário cultural propício para a exaltação da honra. Isto perdurou e, na política externa, a expressão da honra e do orgulho americano ocorria nas famosas afirmações a respeito da “arrogância americana”, do unilateralismo. G. Bush foi a expressão radicalizada e tardia dessa atmosfera cultural, que obviamente expressava subliminarmente interesses econômicos.
Mas, em Bush, aquela atmosfera já havia mudado (saiu do cargo como o presidente mais detestado da história, e pelos americanos) e ninguém expressou tão bem esta mudança como o cinema. Não falarei da cinematografia de Eastwood, que dá uma guinada (em um de seus últimos, “A troca”, a inimiga é a polícia e no mais recente, “Gran Torino”, os imigrantes asiáticos são amigos). Não falarei também dos últimos filmes dos irmãos Coen, eles são canadenses (“Onde os fracos não tem vez” é emblemático, o xerife corre do bandido). O que mais me interessa é um dos maiores filmes da história do cinema, “Sangue negro” (There will be blood, EUA, 2007, Paul Thomas Anderson). Ali há a materialização de tal mudança na atmosfera cultural americana. Há a desconstrução dos dois personagens mais emblemáticos da história americana: o pioneiro, caracterizado por um pastor evangélico e um capitalista, explorador de petróleo (para a nascente indústria símbolo americana, a indústria de automóveis). Estas figuras, sempre idealizadas, se enfrentam em todo o filme, não pela honra, mas pelos seus próprios interesses econômicos, a ponto do capitalista se converter para que sua reserva seja aprovada pela comunidade, obviamente mediante uma doação para a igreja. Os símbolos da honra americana são figuras ridicularizadas. As cenas mais interessantes são os batismos: o pastor é mergulhado em uma poça de petróleo (à força) e o capitalista no “sangue de cristo” (na cena, Daniel Day-Lewis cinicamente deixa-se banhar). Não há em nenhum momento um único valor nobre a se ressaltar.
Poderia citar vários outros exemplos, eles têm aparecido com mais força. Mas o que interessa é que estes filmes captaram talvez uma mudança nos valores americanos. Em função das migrações latinas e asiáticas? Em função da radicalização da doutrina Bush? Não se sabe, mas talvez tudo isso tenha contribuído. A questão é que em tal atmosfera cultural a frase de Obama é possível e não mais tão difícil de ser dita. Mesmo o Brasil assumindo uma posição ímpar nas relações internacionais, o que acho ser o caso, esta frase só seria dita por um líder americano em tal atmosfera cultural.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Yes, can we?


Foreign Policy

Obama's Stance on Foreign Policy

Barack Obama will continue the long American tradition of smart diplomacy to keep the country safe while improving America’s standing in the world.

McCain's Stance on Foreign Policy

John McCain will carry on George Bush’s policy of unilateral action that puts American troops in harm’s way without exhausting diplomatic options.

Estas proposições nos interessam na vitória de B. Obama. Ainda que seja extremamente vaga, a idéia de diplomacia exposta pelos dois candidatos tem uma diferença: a de McCain já conhecemos, há 8 anos, a de Obama não. Acho que é isso que significa, ìnconscientemente, a esperança que este jovem mobilizou com o lema “yes, we can!”. A diplomacia nos é o tema mais sensível, já que sob os republicamos experimentamos o limite de nossa experiência de risco, quando G. Bush rebaixou a antes dicotomia ideológica aliados/ comunistas a aliados/ terroristas, isto foi uma perda política sem precedentes. A anterior se baseava na eficiência de dois sistemas de prover a melhor forma de vida, a nova se baseia na unilateralidade, como exposta acima por Obama. Afinal existe um sistema vitorioso, os inimigos teriam agora que se localizar em algum lugar, foram localizados no lado do fanatismo religioso e do gosto gratuito de sangue. Não há como fazer política internacional sem opositores, com inimigos, porque estes não sentam na mesa de negociação. Parece que há uma tendência a se sentar na mesa, de se enxergar opositores políticos nos Castros, em Chaves ou no Irã, por parte de Obama. Esta tendência é o que mobiliza nossas esperanças.