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quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Ricardo Musse, professor do Departamento de Sociologia da USP, lança o manifesto e nós aqui repercutimos.


Estamos buscando adesões a um Manifesto supra-partidário, contra o retrocesso que significaria a eleição do Serra. Caso você concorde com o texto abaixo (tb. em anexo) tenha interesse em assiná-lo, por favor, me avise: rmusse@usp.br.

Abraço
Ricardo Musse

MANIFESTO EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política sistemática de sucateamento da rede pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da rede pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores mais qualificados. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

sábado, 28 de novembro de 2009

I Colóquio da Uenf em Educação Básica


Se você é professor ou professora da rede pública e deseja se informar em detalhes sobre o Plano Nacional de Formação de Professores (ParFor), que oferece cursos superiores de licenciatura em instituições públicas, a Uenf está criando a oportunidade ideal para tirar todas as suas dúvidas. Será realizado em 30/11, no Centro de Convenções da Universidade, o I Colóquio da Uenf em Educação Básica. Além de massificar informações sobre o Plano do MEC para qualificar os professores, o Colóquio vai discutir a educação superior a distância com professores do Norte e do Noroeste Fluminense.


O Colóquio começa às 9h e terá, entre outras, a presença da professora Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e membro do Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Básica. O tema geral é o seguinte: 'Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica e a Educação a Distância: apontando as perspectivas para o Norte/Noroeste Fluminense'. O evento pretende motivar os professores do ensino básico e informá-los sobre os caminhos para acessar a formação de que necessitam, além de promover o conhecimento e adesão dos docentes da Uenf ao programa de educação a distância.

O primeiro item da programação será a abertura oficial, com a presença do reitor da Uenf, Almy Junior, e de representantes de outras instituições públicas que aderiram ao ParFor, o programa de qualificação de professores lançado pelo MEC. Também está prevista, a confirmar, a participação de representante da Secretaria de Estado de Educação. A mesa terá ainda a pró-reitora de Graduação da Uenf, Lílian Bahia; e o coordenador do curso de Biologia a distância pelo Cederj na Uenf, Milton Kanashiro.

Em seguida, às 9h30, a professora Maria Izabel Azevedo Noronha, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, vai abordar aspectos do ParFor. Está prevista a presença de representantes das Secretarias de Educação do Estado e do Município de Campos, que deverão explicar como se dá a seleção dos professores que se candidatam às vagas e o encaminhamento destes nomes às universidades ou institutos participantes do programa. O público poderá fazer perguntas e esclarecer suas dúvidas.

A partir das 13h30, os participantes do Colóquio assistem a duas palestras: 'Apresentação da plataforma Moodle', com Daniel Salvador (Consórcio Cederj); e 'Produção de material didático para educação a distância (EAD)', com Cristiane Brasileiro (Cederj). Paralelamente, a partir das 14h, haverá uma oficina sobre a Plataforma Freire (ambiente da internet onde os professores se candidatam às vagas abertas pelas universidades) dirigida especificamente a representantes das secretarias de Educação dos Municípios e das Coordenadorias Estaduais. A oficina será ministrada por técnico da Capes, o órgão do MEC responsável pela elaboração e gestão desta política pública.

Às 15h10, todos se reencontram na mesa-redonda 'Educação a distância; uma modalidade que veio para ficar?'. Com a moderação do professor Milton Kanashiro, a mesa reunirá as professoras Ana Beatriz Garcia, docente da Uenf e diretora acadêmica do Cederj; e Rosana Giacomini, coordenadora do curso de Química a distância pelo Cederj na Uenf e participantes do Consórcio Cederj. O encerramento será às 17h.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

I Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica

Prezad@s,

A universalização do acesso escolar, sabemos, não é necessariamente sinônimo de democratização do ensino, pois podemos considerar, entre outros exemplos, o demorado retorno da Sociologia às salas de aula no ensino médio, passados mais de duas décadas da redemocratização do país, configurando desde então um prejuízo para a educação escolar dos jovens, privados que foram (e ainda são) do aprendizado dos conceitos básicos dessa ciência e das questões de ontem e de hoje legadas pelos "clássicos" Durkheim, Marx e Weber e pelos demais autores que seguiram suas pegadas e se lançaram em novas trilhas no acidentado terreno da modernidade tardia. À emergência de situações e problemas que desafiam os canônes da razão instuída dentro e fora das escolas, viabilizou-se somente nos anos 2000 o ensino de Sociologia no nível médio e pouco a pouco este tema começa a se institucionalizar como um campo de pesquisa. Nesse sentido, é oportuno o debate organizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Confiram e participem!

* Texto abaixo extraído de: www.sbsociologia.com.br

I Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica
Reflexão sobre as experiências nas universidades e nas escolas.

Data: 25 de julho a 27 de julho de 2009

Local: IFCS/UFRJ, Largo São Francisco, Rio de Janeiro (RJ) Realização: SBS e UFRJ

Inscrições em breve! O evento visa a promover uma discussão ampla sobre as conseqüências da obrigatoriedade do ensino de sociologia na escola média brasileira, como foco: no ensino da disciplina, como conteúdos programáticos, metodologias de ensino, recursos e materiais didáticos; nos cursos de licenciatura e formação de professores; nas pesquisas sobre o ensino da disciplina; na constituição de uma comunidade de professores de sociologia no ensino médio.

terça-feira, 24 de março de 2009

Ensino de Filosofia e Sociologia em debate


Depois
de décadas de seu impedimento (e esquecimento) na educação básica, fruto das políticas educacionais do regime autoritário que não admitia quaisquer formas de pensamento que não se confundissem com uma propaganda dirigida do Estado mal-disfarçada em OSPB, a Filosofia e a Sociologia retornam ao seu lugar de direito: as salas de aula do ensino médio. Um longo caminho ainda está para ser trilhado np debate sobre os procedimentos metodológicos adequados à diversidade de seu público discente, assim como sobre sua plena incorporação como disciplinas regulares nas escolas de ensino médio. A proposta de um mini-curso com base em uma experiência de extensão universitária é mais do que bem-vinda.

Mini-curso de extensão sobre o ensino de Filosofia
e Sociologia no nível médio


Data: dia 27 de março de 2009
Local: Auditório I, Casa de Cultura Villa Maria
(Rua Baronesa da Lagoa Dourada, 234, Centro - Campos dos Goytacazes)

Programação

9h - Abertura e inscrições.

9h30 - Comunicação: "A Filosofia e a Sociologia nas escolas estaduais de ensino médio da região Norte Fluminense I: perfil docente, desafios e perspectivas".

Andreza Barreto (graduanda CISO / CCH / UENF).
Dante Mendonça (graduando CISO / CCH / UENF).
Renata Saul (Graduada CISO / CCH / UENF).

Debatedora: Andréia Trindade.

10h30 - Palestra: "O ensino de Filosofia no Brasil e a experiencia internacional: aproximações e distanciamentos".

Prof. Dr. Dalton José Alves (LEEL / CCH / UENF).

Debatedora: Laís Rodrigues.

12h - Almoço.

14h - Mesa: "A Sociologia no ensino médio: experiência, reflexividade e questões metodológicas atuais".

Profa. Dra. Adelia Miglievich Ribeiro (UFES / APSERJ).
Profa. Lic. Sônia Ferreira Jobim de Carvalho (Colégio Estadual Almirante Frederico Villar e Colégio Municipal Francisco Porto - Arraial do Cabo-RJ).

Debatedora: Andreza Barreto.

15h30 - Intervalo para o café.

16h - Mesa: "A introdução da Filosofia no currículo: a contribuição histórica da SEAF e os desafios da experiência do filosofar em sala de aula".

Profa. Ms. Ana Maria Felippe (Presidente da SEAF).
Prof. Dr. Olinto Pegoraro (UERJ / SEAF).
Prof. Doutorando Rogério Seixas (SEAF / Professor da rede estadual).

Debatedor: Dalton José Alves.

17h30 - Coffee Break e encerramento.
*Pré-inscrição para interessados no próximo curso
Obs.: Inscrições gratuitas, no local.
Obs.2: Haverá certificados emitidos pela PROEX - UENF.

Apoio: PROEX - UENF / Ed. Vapê
Realização: Projeto de extensão "Filosofia e Sociologia nas escolas estaduais de ensino médio da região Norte Fluminense I: capacitação e atualização de docentes"

Informações: (22) 9834-9181 / (22) 9838-7885

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Educação integral, para quê e para quem?

Por Paulo Sérgio Ribeiro

A institucionalização de um sistema de ensino é uma temática recorrente quando focamos a co-determinação entre a estratificação social e o monopólio da cultura letrada, delineando uma questão de fundo no estudo da formação social brasileira. A universalização quase irrestrita do acesso à escola para a população de sete a 14 anos, observável desde a década de 1990, é um avanço nas demandas pelo direito à educação, embora suceda em questionamentos entre a burocracia estatal e seus órgãos especializados, as organizações civis e os demais atores politicamente relevantes diante de impasses na atribuição de competências e alocação de recursos para o setor educacional na assimétrica federação brasileira. Em acordo com essas ponderações, a educação integral prescrita na LDB de 1996 como modalidade de ensino a ser expandida na educação básica é uma meta suscetível a inúmeros testes de meios nas políticas públicas em vigor. Assim, delimito a educação integral como um ethos escolar específico, cuja adoção pelas famílias é uma variável dependente de estratégias de socialização escolar afeitas à situações de classe.

No ensino fundamental, a universalização do acesso escolar não vem demonstrando ser uma medida resoluta para as deficiências no processo ensino-aprendizagem. Os fatores concorrentes para essas deficiências estão associados às condições intra e extra-escolares que influem no tempo médio de conclusão acima do desejável. Uma distorção que se acentua quando observadas as desigualdades regionais: em escala nacional, o tempo médio de conclusão no ciclo educacional obrigatório – as nove séries do ensino fundamental – corresponde a dez anos, podendo chegar a 13 anos na região Nordeste, tal como verificado em 2005 (Ipea, 2007). A presença massiva de estudantes repetentes impõe constrangimentos à organização das escolas, cujas deficiências de rendimento são reforçadas pelos limites quantitativos de vagas para reuni-los com os estudantes matriculados em idade própria. Nem mesmo a possibilidade de multiplicação de escolas responde eficazmente o problema, pois não altera as múltiplas causas da distorção idade / série. Todavia, o aspecto mais crítico do baixo rendimento escolar é o abandono definitivo da escola, ocorrendo em alguns casos quando os estudantes mal iniciaram sua vida escolar, o que os mantém ou os fazem regredir ao estado de analfabetismo.

Não obstante os limites de financiamento público no setor, a educação integral é um referencial possível para as famílias no que toca à correlação entre socialização escolar e socialização primária, assim como um segmento da administração pública na política educacional fluminense, dada a permanência dos Cieps. A educação integral, em sentido estrito, pode ser entendida como a transmissão de conhecimentos não exclusiva à herança social formalizada em conteúdos curriculares e, não obstante, como uma aspiração coletiva passível de consensos e dissensos nas concepções de famílias e professores acerca da divisão do trabalho escolar.

A democratização de oportunidades educacionais requer não apenas um novo patamar distributivo para as políticas públicas, mas a continuidade e a qualificação das discussões e pesquisas sobre a emergência de “responsabilidades educacionais, não tipicamente escolares” (Cavalieri, 2002) cuja tradução pelos professores e estudantes pode não ser bem-sucedida na ausência de um projeto político-cultural renovado para o ensino fundamental, que responde pelo grosso da população escolarizada no país. Sua abordagem enfatiza a dimensão integradora da educação face às demandas dificilmente assimiláveis pelos papéis tradicionais que demarcam a identidade profissional dos educadores. A socialização primária é cada vez mais co-extensiva à socialização escolar, caracterizando-se por “atividades relacionadas à higiene, saúde, alimentação”, assim como pela “grande dependência afetiva de parcela importante do alunado que, muitas vezes, tem na escola e em seus profissionais a referência mais estável entre suas experiências de vida” (Cavalieri, 2002, p.249). A negação por parte desses profissionais de responsabilidades entendidas como alheias ao ato de instruir é contraposta pelas evidências de que sua incorporação no sistema de ensino é inevitável. O problema é que tais demandas são incorporadas quase sempre sem planejamento, a despeito de sua institucionalização silenciosa nas escolas públicas.

As ambigüidades dos professores diante dessas mudanças são compreensíveis pelo modo como a socialização na escola torna-se uma esfera potencial de conflitos entre a instituição escolar e os grupos familiares situados em pólos extremos da escala social. A escolha do destino escolar orienta-se por uma noção de “boa educação”, um conjunto inarticulado de valores e interesses que define o estilo de vida de uma fração ou classe social. Noutros termos, o habitus de uma classe fundamenta-se em disposições socialmente adquiridas, inscritas de modo pré-reflexivo nas práticas e visões de mundo de indivíduos e grupos em uma mesma situação de classe. As escolhas das famílias quanto ao tipo de socialização dos filhos podem ser tomadas como “livre” escolha apenas em termos de oportunidades objetivas de adequação entre o ethos familiar e a organização escolar.

“A violência simbólica nunca se exerce sem a cumplicidade (extorquida) dos que a sofrem”, lembra Bourdieu, o que equivale a dizer que a reprodução de condições sociais adscritas no percurso escolar é indissociada da forma como famílias e professores avaliam-se mutuamente. No senso comum pedagógico predomina a idéia de que há uma divisão do trabalho na qual a família educa e a escola ensina. A insuficiência de socialização prévia é diagnosticada pela maioria dos professores como prejudicial à aprendizagem, obrigando-os à tarefa de ensinar comportamentos que poderia e/ou deveria ser exclusiva à instituição familiar. Essa exigência é tomada como um “desvio” de suas tarefas ordinárias. A percepção dos professores deve ser analisada não como um mote para sua culpabilização diante do fracasso escolar generalizado, mas como um apontamento para novas competências profissionais ante a participação da mulher no mercado de trabalho e a mudança de seu status social (há muito distante do exclusivismo doméstico), a reestruturação dos arranjos familiares e o prolongamento do tempo vivido por crianças e jovens na escola. A incorporação nas últimas décadas das grandes massas no sistema de ensino no país implica na entrada de crianças oriundas de camadas pauperizadas que partilham modos de educar diversos dos que organizam a escola.

Ao ingressar seus filhos na escola, famílias de elite e famílias das camadas populares têm interesse não apenas na transmissão estrita de conhecimentos, mas no aprendizado de comportamentos socialmente valorizados. Entretanto, o conteúdo dessas expectativas e a realização das mesmas variam conforme a posição que essas famílias ocupam na hierarquia social e, por conseguinte, com o grau de proximidade da cultura escolar dominante. Assim sendo, para as famílias de elite tende a haver mais chances de se obter concordância entre a escolha da escola e o controle da educação ali realizada, ao contrário das classes populares, marcadas por inúmeras dissonâncias entre a socialização primária e a socialização escolar.

Em uma perspectiva relacional das classes sociais, a confrontação de grupos de elite e classes populares ocorre com referência a modelos hegemônicos de socialização escolar. Com efeito, a luta de classes é uma luta pela (re)definição de princípios de visão e de divisão do mundo estabelecidos nos termos de uma classe ou fração de classe dominante que, difundidos de modo inconsciente, servem de orientação para a classe dominada em condições sócio-econômicas que as separam no espaço social e físico. Tais esquemas de classificação são dotados de uma “cumplicidade ontológica” com as formas de apropriação do capital simbólico em trajetórias escolares distintivas do ethos de classe das camadas de alta renda que, a despeito das alterações de sua composição social nos ciclos de modernização experimentados no século passado, intervieram no controle da expansão escolar de modo a operar no monopólio dos poderes públicos o monopólio de fato da cultura letrada.

A ideologia do mérito, que justifica a noção de desempenho diferencial a partir do esforço individual na incorporação do saber escolar, dissimula as condições prévias para a formação e transmissão do capital cultural e, assim, o fundamento sócio-econômico da distinção social na confluência da origem familiar com o capital escolar. Com efeito, basta que a escola efetive o desiderato universalista de tratar em igual medida todos os estudantes, a despeito de desigualdades diante da cultura atribuíveis a uma socialização primária desfavorável, para que a esperada eqüidade formal na transmissão de conteúdos disciplinares e na avaliação da aprendizagem confirme, na prática, a naturalização do privilégio cultural na socialização escolar.

Famílias de camadas populares têm grande probabilidade de exporem-se a duas escolhas mutuamente excludentes: engajamento dos filhos em uma economia domiciliar e no trabalho remunerado não-formalizado ou o ingresso na escola pública. Todavia, está implícito nessa escolha mais do que uma necessidade material pungente, considerando que a opção dos pais pela inserção precoce das crianças no mundo do trabalho decorre de uma demanda de socialização escolar não atendida, discernível pela oferta desigual do tempo nas práticas escolares e de todos os recursos estratégicos provenientes do mesmo. as classes populares, assim como os grupos de elite, procuram escolas com as quais tenham afinidades, embora, no caso das primeiras sob o reconhecimento tácito de que sua educação familiar é considerada ilegítima em relação às práticas escolares que submetem seus filhos, o que não impede necessariamente a elaboração de estratégias de intervenção direcionadas para a conservação / transfiguração de seu ethos familiar, que tende a se confundir com o ethos das classes trabalhadoras, matizado pela valorização da disciplina e do saber prático corporificados numa visão de mundo ambígua e reativa à socialização escolar em sua contigüidade com a cultura de elite.

Um novo marco para a regulação do sistema de ensino encaminha-se para ou, ao menos, está constrangido à tentativa de viabilizar uma oferta equânime de tempo e espaço na escolarização da população brasileira que comporte demandas correlacionadas à socialização primária, posto não ser monopólio de uma única classe ou grupo social. Subscrevo o diagnóstico de Cavalieri (op. cit.) de que essas demandas “vem ocorrendo por urgente imposição da realidade, e não por uma escolha político-educacional deliberada”, o que tende a reforçar uma ausência de razoabilidade nos processos decisórios do setor educacional.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

I Encontro Estadual de Ensino de Sociologia

Prezad@s,

A despeito da Vejinha e de FHC finalmente a Sociologia adentra as fileiras, junto de sua avó a filosofia, do Ensino Médio (ou ensino secundário) após o longo exílio nos anos de chumbo. Cabe apenas reforçar que no lugar destas tiveram lugar as temíveis "Moral e Cívica" e "OSPB" com sua retórica nacionalista e francamente anti-reflexiva.

Bem, como muito tem sido especulado, vide a Vejinha, divulgo o I Encontro Estadual de Ensino de Sociologia (site do evento: http://www.ieees.fe.ufrj.br/) onde muito poderá ser desmistificado. Dentre as questões os visitantes verão que não estarão sendo ensinadas temas como "faça sua própria guerra de guerrilhas em sua escola", "linchando o burguês". "queimando igrejas em cinco passos" ou "deflorando as filhas da classe média" como querem crer.

Em verdade, apesar de ser um tema absolutamente polêmico em um país de analfabetos funcionais, a sociologia e a filosofia podem ser mecanismos deflagradores de processos de reflexividade contribuindo tanto para o famoso "conhece-te a ti mesmo" quanto também para situar jovens em formação diante de temas e processos que afetem a qualidade de suas vidas em sociedade.

Assim este primeiro encontro é oportuno para esta conjuntura. Divulguem, conheçam e participem.