segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Anotações sobre o I Seminário “Política, Eleições e Soluções para Campos dos Goytacazes” – Uma tentativa de balanço – Parte II

Sobre UENF e Sociedade Local – Da necessidade de criação de espaços favoráveis ao debate e sobre o papel da Universidade Pública (continuação)

Retornando ao início do meu argumento, a UENF ainda assim deveria ter preparado espaços para debate sobre a realidade política local em primeira hora. Deve fazer parte de sua importante missão aglutinar os setores ambicionando o franco debate de idéias e fatos na medida em que há um reconhecido vácuo na esfera pública para tal. E isto, claro, traria a sociedade política para a Universidade, o que faria com que a sociedade mesma se reconheça ainda mais na UENF, minimizando esta sensação de estranhamento que ainda persiste.

Neste sentido, se não houve uma atuação “de primeira hora”, o debate capitaneado pelo professor Hamilton Garcia de Lima vem antes tarde do que nunca. E em momento estratégico dada a proximidade do pleito eleitoral. Com o apoio do LESCE (Laboratório da Sociedade Civil e do Estado), da coordenação do curso de bacharelado em Ciências Sociais , do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP), da direção do Centro de Ciências do Homem (CCH), prof Hamilton propiciou um momento ímpar, dado que há inegável esforço pessoal do professor na realização do Seminário, e de conseqüências que devemos incentivar.

Primeiramente o Seminário propicia o início do “pagamento” desta dívida política entre UENF e sociedade local. Trouxe, sem preconceitos academicistas, diferentes atores da sociedade civil campista. O atual vice-prefeito da cidade de Campos dos Goytacazes Roberto Henriques, o ex-vice-prefeito Adilson Sarmet, Fábio Siqueira, professor da rede estadual e dirigente do atuante Sindicato Estadual dos Profisssionais da Educação (SEPE), Geraldo Coutinho, empresário e representando a FIRJAN (Federação das Industrias do Estado do Rio de Janeiro), Luis Aguiar, Frederico Veiga, Conrado Aguiar. Também tivemos a presença de outros agentes, ligados a intelligentzia local, que a despeito de suas carreiras voltadas “para dentro” da academia, tem um histórico da atuação “para fora” da mesma. Prof. Roberto Moraes, Prof. José Luis Vianna, Profª Denise Terra, Prof. Aristides Soffiatti, Prof. Renato Barreto, Prof. Almy Carvalho, Prof. Luciano D´Angelo, prof. Aílton Motta... Também participaram, de forma mais contundente no segundo dia do encontro, as candidatas Graciete Santana (PCB) e Odete Rocha (PC do B). Representando a candidata Rosinha Garotinho (PMDB) tivemos, também neste último dia, o jornalista Avelino Ferreira. A pluralidade teve lugar no evento, algo que é fundamental na medida em que a esfera pública é necessariamente plurivocal.

Nestes termos, em segundo lugar, tivemos o flagrante processo de tentativa de revitalização da esfera pública em um espaço público não cooptado.
É corrente por parte da imprensa local a sensação de que a campanha em Campos “corre morna”. Diria que esta é apenas uma meia-verdade. Esta corre morna somente no espaço público. No espaço privado, e no universo dos interesses particulares, há interesses econômicos sendo contemplados com promessas úmidas ao pé do ouvido. Articulações nas franjas da esfera pública são desenhadas loteando o poder local. Da mesma maneira como vem sendo prática corrente há vinte anos. Parcela substantiva da classe política local ainda não se “modernizou” no sentido de elaborar uma outra forma de se fazer política que não seja negociando clientelisticamente bolsas, empregos, tanques de gasolina... O cientista político Victor Nunes Leal prossegue inspirador em seu clássico “Coronelismo, Enxada e Voto”, embora que deva ser atualizado para a realidade de um mercado político dinâmico e perverso localmente. Um mercado político da barbárie.

Por conta dos constrangimentos causados pelas regras internas de funcionamento de uma esfera pública sadia, onde moralmente é condenável a gestão particularista da res pública, e na busca dos melhores argumentos racionalmente adequados de forma justificável para a realidade local, o seminário foi sim um bálsamo. E significa mais um passo de retomada da sociedade civil, que já teve lugar no recente “Chega de Palhaçada”, movimento que ocorreu ainda no auge da crise pós-11 de março, como um espasmo importante. Todavia não conseguiu alavancar um fórum permanente e independente de análise entre os diversos setores da sociedade civil campista poderiam efetivamente iniciar e pressionar pelas “boas práticas de governança” em nível municipal.

Ora, Campos dos Goytacazes não está fora do contexto nacional. Sem dúvida a sociedade civil começa somente a se descolar do Estado muito recentemente, na esteira dos processos de (re)democratização do país. Todavia estamos letárgicos ainda neste exercício que faz com que exista a demanda urgente em prol da revitalização da esfera pública local que foi cooptada e esmagada nos últimos vinte anos. Precisamos mais do que movimentos espasmódicos como o “Chega de Palhaçada”. Neste sentido o fórum foi mais um salutar exemplo de proposição e análise da sociedade local sobre esta mesma. Propiciada, como já disse, em “solo não cooptável”, justamente como deve ser. A grande cobrança que deve ficar é que este movimento não seja apenas mais um espasmo pouco freqüente.

(continua...)

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