quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Encontro dos blogueiros conservadores, um direito de Campos!

Em meio as organizações de encontros dos chamados “blogs sujos”, tais como o encontro nacional dos blogueiros progressistas e dos blogueiros progressistas do estado do Rio de Janeiro, já devemos esperar que o outro lado também se organize, ou seja, teremos um “instituto millenium” da blogosfera.

Diante desta possibilidade, gostaria de reivindicar o direito legítimo de Campos dos Goytacazes sediar este evento. Afinal, a cidade tem um longa história de resistência conservadora na vida nacional. Ao longo do tempo fomos o núcleo de resistência à abolição da escravatura (até hoje nós somos né?); fomos um polo importante da versão fascista brasileira, a saber, o movimento integralista; depois fomos em certa medida a capital do movimento mais conservador do catolicismo, a TFP; fomos firmes na defesa da “Revolução Redentora de 64” e por aí vai.

Mas não devemos esquecer, como prova final de que merecemos sediar este evento, que somos a terra dos sonhos de Bornhausen (um dia, numa espécie de “profecia invertida” Bornhausen (ARENA/PFL/DEMO) profetizou que o Brasil ficaria livre desta raca (PT) por 30 anos) e de todos aqueles que odeiam os “petralhas”. Quem sonha com o fim do PT, venha para Campos, porque em Campos o PT não existe.

Por essas e outras, esse direito é nosso e ninguém tasca!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sobre a cortina de fumaça político-jurídica na planície....

Sobre a cortina de fumaça político-jurídica na planície....

George Gomes Coutinho


Nos últimos dias fui procurado por um órgão da imprensa local para apresentar impressões, evidentemente na ótica da “leitura do especialista”, sobre o qüiproquó político e jurídico que se arrasta na planície desde o afastamento da prefeita Rosinha. Todavia, dada a espessa cortina de fumaça ao redor desta conjuntura, o jornalista não me trouxe perguntas com o intuito de meramente obter um aval acadêmico para a sua reportagem. O mesmo me pareceu sinceramente imbuído do nobre intuito de compreender um fenômeno.

De meus contatos com a imprensa, usualmente onde a “opinião especializada” é um mero adorno para legitimar concepções de mundo previamente fabricadas, a postura do jornalista atônito me pareceu louvável e genuína.

A questão é que me parece que a confusão tem alguns atores importantes que contribuíram sobremaneira para a mesma. O judiciário, a classe política local e a opinião pública objetivada na “produção da informação” local. Confunde-se o desejo com o conjunto de fatos e são nestes, nos fatos, que encontramos o ás do baralho. A partir dos fatos que podemos imaginar, e não mais do que isso, os cenários possíveis decorrentes de mais este dramma bernesco.

Em diálogo virtual com Marcelo Bessa (aqui) a primeira constatação é a da possibilidade, ainda que remota (também assinalada por Douglas Da Mata aqui) da recondução da prefeita eleita ao seu cargo. Isto se dá em virtude da frágil luz ao final do túnel representada pela postura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ante os recursos passíveis de ainda serem impetrados.

Campos dos Goytacazes é a cidade que terá quase 2 bilhões de reais previstos em orçamento para o próximo ano. Isto, me parece, é um aglutinador nada desprezível dos interesses e da vontade de qualquer um que vislumbre o poder em âmbito local. Enquanto houver uma janela jurídica, evidentemente, a prefeita afastada irá urrar ante as cartas possíveis do direito positivo a plenos pulmões. Até porque não há outra via para o seu retorno, na medida em que o caminho “pelos braços do povo” seria risível. Na verdade, os “braços do povo” foram carcomidos enquanto um efeito colateral do próprio garotismo, na medida em que usualmente o semblante da sociedade civil local é bastante esquálido e desmobilizado. De todo modo, mesmo em um cenário oposto ante a inviabilidade jurídica, mesmo que as hostes fossem postas em movimento, em nada adiantaria.

O que me espanta é simplesmente sequer mencionarem a possibilidade acima citada. A condição de possibilidade remota não é sinônimo de que esta não exista. E a grande questão é que justamente neste ponto se encontra a prorrogação de atual condição política da cidade. Enquanto houver a viabilidade dos recursos a prefeita ainda pode ser reconduzida. No Brasil eleições ocorrem somente dentro dos trâmites ordinários ou em casos de excepcionalidade de vacância do cargo. Neste caso, juridicamente ainda não há vacância, portanto, eleições ainda são uma outra etapa.

Qual o grande problema do momento? A lentidão da conclusão deste caso no âmbito do judiciário por parte do TSE. Nem mais e nem menos. Enquanto prosseguir uma postura de procrastinação a cidade permanece refém e sem previsibilidade sobre a sua vida política. Em minha leitura, na composição do estranhíssimo imaginário político local, os danos são irreparáveis. Simplesmente a esfera política, enquanto fórum que seria legítimo para a discussão da vida em coletividade, apresenta-se enquanto espaço desmoralizado, imprevisível e nada confiável. Há a rotinização, aos olhos do “cidadão comum”, das rupturas e descontinuidades de projetos e ações. O poder executivo local, que seria marcado normalmente por uma maior proximidade com os seus cidadãos, transmite a sensação de ser demasiado plástico para que se deposite qualquer tipo de relação de confiança minimamente sólida.

Creio que uma ação coletiva de pressão da sociedade campista sobre o TSE poderia ser bem sucedida. Todavia, onde há a ação coletiva? Qual a mobilização real dos partidos no sentido de provocar tanto o esclarecimento quanto buscar uma solução célere? A estratégia, supondo que mereça este nome, de tratar as eleições como fato consumado não funcionou até o presente momento. Na verdade apenas engrossou a nuvem de fumaça que ainda persiste.

Nesse ínterim me espanta profundamente o cinismo institucional do prefeito interino. Situado em solo movediço por sua própria condição de interinidade, flanando entre obras e problemas... Alguém deveria lembra-lo que estamos sob os auspícios da chamada “democracia representativa liberal”. Ou seja, a única via de legitimar os governantes, salvo situações particularíssimas, deriva do voto dos governados. Não se trata de discutirmos a política formal agora em suas virtudes e vícios. É a que temos. Todavia me sinto particularmente incomodado com o prefeito interino simplesmente capitalizando politicamente a sua precária condição. Este não foi eleito para ocupar este cargo e foi conduzido a este por decisão judicial. Eis mais um fato que me parece esquecido.

Em suma: a defesa em uníssono das eleições diretas para Campos dos Goytacazes é importante para a consolidação das regras do jogo em âmbito local. Evocar o cartoon sempre inteligente do talentosíssimo e saudoso Henfil mexe com minha memória cívica e política afetivamente. A garantia da eleição direta por parte do presidente do TRE me parece uma conquista que seria obtida de forma ou de outra. Mas, me parece que a questão ainda é a responsabilidade política do TSE na lentidão da definição desta situação em uma cidade de quase meio milhão de pessoas e uma cifra quatro vezes maior de orçamento. Nesse ínterim convivemos com a ruína institucional da interinidade paradoxalmente ad eternum.

Coleção Brasilliana disponível na internet

Divulgando:


Editada originalmente pela Companhia Editora Nacional no período de 1931 a 1993, a Coleção Brasiliana reúne 415 volumes de autores brasileiros e estrangeiros que retrataram o país nos campos da História, Sociologia, Antropologia e História Natural, entre muitos outros.

O projeto Brasiliana Eletrônica apresenta a versão digitalizada da Coleção Brasiliana. As obras foram revisadas, sua ortografia atualizada, e são acompanhadas de apresentações críticas e biografias dos autores, preparadas por grandes especialistas acadêmicos.

Disponível aqui: http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

World Association for Public Opinion Research

Segue uma oportunidade para enviar trabalhos para congressos. Desta vez a WAPOR irá homenagear nosso grande professor Marcus Figueiredo com o prêmio para jovens pesquisadores.








PRÊMIO MARCUS FIGUEIREDO - JORNADA DE JOVENS INVESTIGADORES

A organização do IV Congresso Latino Americano da WAPOR abriu espaço para a participação de jovens pesquisadores e estudantes, que poderão apresentar seus trabalhos na Jornada de Estudantes e Jovens Pesquisadores em Opinião Pública. O melhor trabalho apresentado nesta jornada receberá o Prêmio Marcus Figueiredo, uma homenagem a este pesquisador por seu engajamento na formação dos cientistas políticos brasileiros na área de opinião pública.



A ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - www.abep.org/novo/ <http://www.abep.org/novo/> apoiará o prêmio, oferecendo um Curso de Metodologia e a publicação do artigo na Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia (PMKT). Além disso, a organização do evento oferecerá gratuitamente atividades de aperfeiçoamento metodológico aos participantes inscritos na jornada.



Oficina 1: Metodologias Qualitativas para Comunicação Política

Profa. Dra. Alessandra Aldé, Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ
Prof. Dr. Cloves Luiz Oliveira, Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

Oficina 2: Experimentos e Metodologias Quantitativas em Pesquisas de Opinião Pública

Prof. Dr. Mathieu Turgeon, Universidade de Brasília - UNB
Prof. Dr. Pedro Santos Mundim, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Oficina 3: Metodologia de Pesquisa do World Values Survey

Profa. Dra. Gabriela Catteberg, Universidad de Buenos Aires - UBA
Prof. Arhtur Leandro Silva, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

A s inscrições para a Jornada dos Estudantes e Jovens Pesquisadores e para as Oficinas de Metodologia já estão abertas e podem ser realizadas até o dia 15 de outubro de 2010.

Para maiores informações, visite o site: www.waporbh.ufmg.br/pt/inscricao-oficina.php <http://www.waporbh.ufmg.br/pt/inscricao-oficina.php>

quarta-feira, 22 de setembro de 2010


A "bola da vez" é a distribuição espacial da votação do PSDB por meso-região entre 1989 e 2006. Nunca é demais ressaltar os cuidados com o que se denomina inferência ecológica, que se refere exatamente às proposições realizadas ao nível individual por meio de dados agregados. Em outras palavras, não se deve fazer afirmações sobre os indivíduos através de informações agregadas. A exploração das distribuições espaciais, neste caso específico, devem ser tratadas com cautela, dado que existem heterogeneidades fortes dentro das meso-regiões. Portanto, o fato de um partido possuir resultados mais expressivos em polígonos com determinadas características, não significa necessariamente que os indivíduos com as características médias daquela localidade votaram no partido. Os mapas servem mais para exploração de dados e ilustrar evoluções do que para se fazer proposições explicativas.


O aviso aos navegantes de hoje é bastante direto: qualificar voto do eleitor por condição socioeconomica espacial é metodologicamente equivocado, e o fazer por condição socioeconomica do indivíduo é moralmente execrável.







terça-feira, 21 de setembro de 2010

Evolução Espacial da Votação do PT nas Eleições Presidenciais (1989 - 2006)


Na mesma toada do post anterior, seguem os mapas com a evolução da distribuição espacial da votação do PT nas eleições presidenciais de 1989 a 2006. A unidade de observação é a meso-região e as legendas estão divididas em 10 partes iguais. Quanto mais forte a cor, maior a votação percentual do voto do PT.

Espero que ajudem a surgir idéias na interpretação da evolução.










segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Distribuição espacial dos votos em 2006 no Estado do Rio


Seguem abaixo dois mapas com a distribuição espacial de votos nos municípios dos dois principais candidatos ao Governo do Estado em 2006. Quanto mais forte as cores, maior a votação do candidato naquele município.

Entretanto, aviso aos navegantes, a comparação se dá entre o próprio candidato, e não entre os dois candidatos. Isto significa que se deve ter cuidado com duas questões: uma baixa votação em um município não significa que o candidato perdeu naquela localidade; assim como ter um alta votação em um município não significa que aquela localidade contribuiu mais para a votação final do candidato, isto porque existe forte variação de votos absolutos entre os 92 municípios fluminenses (Rio de Janeiro, São Gonçalo e Duque de Caxias possuem juntos mais da metade dos eleitores).

Como o pleito parece já definido, a pergunta que surge é se este padrão de votação se repetirá em 2010.









O tempo em Campos

Em conversa neste final de semana na serra um colega me disse a seguinte frase:

"Como pode existir um município como Campos dos Goytacazes? Pois veja só: há bem pouco tempo parecíamos assistir eleições como se estivéssemos na República Velha, fraudes e mais fraudes. Prefeitos e mais prefeitos como se fosse um sistema parlamentarista desestabilizado... Mas agora parece até que melhorou, pois chegamos na década de 80 com a campanha das diretas já! Quem sabe?!"

Mais adiante acrescentou: "Vocês cientistas políticos não entendem nada de eleições, vivem por aí dizendo que as eleições são propedeuticas, que o exercício do voto é um aprendizado e blá, blá, blá. Se assim o fosse, o campista seria o cidadão mais apto do Brasil já que vota todo ano!".

Ao que um desconhecido que ouvia a conversa interviu e retrucou: "Vai ver que é o mais burro mesmo, erra, erra, erra e não aprende".

Pedi a conta e me despedi.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Valor da Notícia - Jürgen Habermas

Prezad@s,

Aproveitando a onda de debates deflagrada sobre as últimas atuações da grande mídia brasileira, apelidada de "velha mídia" pelos produtores outsiders de informação, resgato o texto "O Valor da Notícia" de Jürgen Habermas.

O texto publicado no Caderno Mais de 27 de maio de 2007 me parece conveniente. Cabe notar que um dos cães de guerra da direita raivosa brasileira, o inominável Reinaldo Azevedo, deu-se ao trabalho de chamar Habermas de "idiota", dentre outros epítetos, por ocasião da publicação deste texto.

Vale pensar se um homem com uma das produções mais marcantes e profícuas da filosofia do século XX poderia ser chamado de "idiota" que, no significado original em grego, significaria "incapaz politicamente". Ou mesmo se Azevedo se julgaria intelectualmente capaz de analisar a obra de alguém, composta de dezenas de livros e centenas de artigos, a partir de um texto de combate... De toda forma esta gente não me parece capaz de um diálogo sequer informado. O que dirá outras coisas...

Enfim.. desconfio que o "incapaz politicamente" seja Azevedo e seus asseclas espalhados pela "grande mídia" ou "velha mídia". Incluo aí seus clones no âmbito da imprensa local. Seja como for, episódios deste quilate me fazem há muito ter a mais plena desconfiança sobre os produtores de informação no nosso país. Igualmente penso, desde então, que a produção de informação deve ser vista como setor estratégico de informação para o público a partir da difusão de valores e questões NO público. Este deve ser o grande compromisso, pautado pela isonomia e pela equidade, da produção de informação em sociedades complexas. Caso contrário continuaremos a lamentar a barbárie midiátia e a apartação da inteligência e dos debates com conteúdos verdadeiramente republicanos de um lado e os jornalistas "insiders" ou simplesmente "de coleira" de outro como diria o saudoso Xacal.

Boa leitura!

Disponível em:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2705200707.htm (acesso em 09 de setembro de 2010)

O valor da notícia A imprensa de qualidade desempenha um papel de liderança: rádio e TVs dependem de temas e contribuições provenientes do jornalismo "argumentativo"

JÜRGEN HABERMAS

Semanas atrás, a página de economia do jornal alemão "Die Zeit" assustou seus leitores com a manchete "O quarto poder corre perigo?". Tratava-se da notícia alarmante de que o "Süddeutsche Zeitung" rumava para um futuro econômico de incertezas.
A maioria dos acionistas quer se ver livre do jornal; caso as coisas se encaminhem para um leilão, é possível que um dos dois bons diários supra-regionais da Alemanha [o outro é o "Frankfurter Allgemeine"] caia nas mãos de investidores privados, fundos de investimento ou conglomerados de mídia.
Haverá quem diga: "Business as usual" [negócios, como sempre]. O que poderia haver de alarmante no fato de que os proprietários queiram fazer uso de seu direito de se desfazer de seus negócios, sejam quais forem seus motivos?
A crise dos jornais, desencadeada no começo de 2002 pelo colapso do mercado publicitário, ficou para trás -no "Süddeutsche Zeitung" e em outros órgãos de imprensa da mesma dimensão. As famílias que agora se dispõem a vender sua participação detêm 62,5% das ações e escolheram um momento propício.
Apesar da concorrência digital e dos novos hábitos de leitura, os lucros vêm aumentando.
Deixando de lado a boa conjuntura econômica, os lucros se devem sobretudo a medidas de racionalização com impacto direto sobre o desempenho e a margem de manobra das redações. Notícias bombásticas à maneira do jornalismo norte-americano ditam a tendência atual.
Assim, por exemplo, o "Boston Globe", um dos poucos jornais de centro-esquerda dos EUA, teve que renunciar a todos os seus correspondentes no estrangeiro, enquanto os grandes encouraçados da imprensa nacional -como o "Washington Post" e o "New York Times"- temem a capitulação diante de fundos ou conglomerados ávidos por "sanear" jornais em vista de taxas de lucro descabidas; no caso do "Los Angeles Times", esse já é fato consumado.

Jugo do lucro
Há três semanas, o "Die Zeit" voltou à carga, falando de um "ataque de Wall Street à imprensa dos EUA".
O que há por trás desse tipo de manchete? Certamente, o temor de que os mercados não façam justiça à dupla função que a imprensa de qualidade até hoje desempenhou: atender à demanda por informação e formação, sem comprometer taxas de lucro aceitáveis.
Mas os lucros em alta não serão uma confirmação de que jornais "enxutos" satisfazem melhor os desejos de seus consumidores?
Conceitos vagos como "profissional", "arrojado" ou "sério" não servem apenas para velar a preeminência concedida ao leitor adulto, que sabe o que quer?
A imprensa terá o direito de, sob o pretexto da "qualidade", cercear a liberdade de escolha de seus leitores?
Por que forçar a leitura de reportagens áridas em vez de "infotainment" [fusão, em inglês, das palavras "information" e "entertainment", informação e entretenimento], comentários objetivos e argumentos circunstanciados, ao invés de encenações apelativas de personalidades e acontecimentos?
A objeção que se manifesta nessas questões se baseia na suposição polêmica de que os consumidores escolhem com autonomia, segundo suas preferências pessoais. Mas essa espécie de verdade acaciana certamente induz ao erro quando se trata de uma mercadoria tão peculiar quanto a informação política e cultural. Pois essa mercadoria a um só tempo atende e transforma as preferências de seus consumidores.

Formação em massa
Não há dúvida de que leitores, ouvintes e espectadores seguem suas preferências ao fazer uso dos meios de comunicação: querem se divertir ou se distrair, querem se informar ou tomar parte em debates públicos.
Mas, quando se interessam por um programa político ou cultural, quando recebem a "bênção matinal realista" da leitura de jornais, todos se expõem -com alguma medida de autopaternalismo- a um processo de aprendizado de resultados imprevisíveis.
No curso de uma leitura, novas preferências, convicções ou juízos podem se formar.
A metapreferência que orienta uma tal leitura se dirige então àquelas prioridades que se exprimem na auto-imagem de um jornalismo independente e que fundamentam o prestígio da imprensa de qualidade.
A polêmica sobre o caráter peculiar da mercadoria "informação e formação" faz pensar no slogan que fez furor quando do surgimento da televisão: essa nova mídia não seria mais que "uma torradeira com imagens".
Pensava-se que a produção e o consumo de programas televisivos podiam ser deixados inteiramente a cargo do mercado. Desde então, as empresas de comunicação cuidam de fornecer programas para seus espectadores enquanto vendem a atenção do público a seus anunciantes.
Sempre que imperou sem peias, esse modo de organização causou danos políticos e culturais. O sistema "híbrido" de televisão [na Alemanha] é uma tentativa de remediar o mal.
E as leis locais, as decisões de tribunais federais e os princípios de programação das emissoras públicas refletem a noção de que as mídias eletrônicas não devem satisfazer apenas as necessidades mais comercializáveis dos consumidores.
Ouvintes e espectadores não são apenas consumidores mas também cidadãos com direito à participação cultural, à observação da vida política e à voz na formação de opinião.
Com base nesses direitos, não é o caso de deixar programas voltados a tais necessidades fundamentais da população à mercê da conveniência publicitária ou do apoio de patrocinadores.
Mais ainda, as taxas que financiam esses serviços também não devem variar ao sabor dos orçamentos locais, isto é, da conjuntura econômica -é o que argumentam algumas emissoras num processo contra os governos locais, em trâmite no Supremo Tribunal Federal alemão.
A idéia de uma reserva pública voltada para a mídia eletrônica pode ser interessante.
Mas algo assim poderia servir de modelo para a organização de jornais e revistas "sérios", como o "Süddeutsche Zeitung" ou o "Frankfurter Allgemeine Zeitung", "Die Zeit" ou "Der Spiegel", para não falar das revistas mensais mais ambiciosas?

Efeito político
O resultado de um estudo sobre fluxos de comunicação pode ter interesse nesse contexto: ao menos no âmbito da comunicação política -ou seja, para o leitor enquanto cidadão-, a imprensa de qualidade desempenha um papel de "liderança": o noticiário político do rádio e da televisão depende em larga escala dos temas e das contribuições provenientes do jornalismo "argumentativo".
Suponhamos que uma dessas redações caia nas mãos de investidores que trabalham com lucros rápidos e prazos curtos: a reestruturação e o enxugamento nesses lugares estratégicos não tardarão a pôr em risco os padrões jornalísticos e a afetar em cheio a vida política.
Pois a comunicação pública perde vitalidade discursiva quando lhe falta informação fundamentada ou discussão vivaz, coisas que não se obtêm sem custos.
A esfera pública não teria mais como opor resistência às tendências populistas e não seria mais capaz de desempenhar funções que lhe cabem no quadro de um Estado democrático de Direito.
Vivemos em sociedades pluralistas. O processo de decisão democrático só pode ultrapassar as cisões profundas entre visões de mundo opostas se houver algum vínculo legitimador aos olhos de todos os cidadãos.
O processo de decisão deve conjugar inclusão (isto é, a participação universal em pé de igualdade) e condução discursiva do conflito de opiniões.
Pois tão-somente a discussão deliberativa fundamenta a suposição de que, no longo prazo, os processos democráticos propiciam resultados mais ou menos racionais.
A formação de opinião por via democrática tem uma dimensão epistêmica, uma vez que envolve a crítica de afirmações e juízos errôneos.
Esse é o papel de uma esfera pública dotada de vitalidade discursiva.
Esse papel se evidencia intuitivamente tão logo se tenha em mente a diferença entre o conflito público de opiniões concorrentes e a divulgação de pesquisas de opinião.
Opiniões que se formam por meio de discussão e polêmica são, a despeito de toda dissonância, filtradas por informações e argumentos, enquanto as pesquisas de opinião apenas invocam opiniões latentes em estado bruto ou inerte.

Mediação
É claro que os fluxos díspares de comunicação numa esfera pública dominada pelos meios de comunicação de massa não permitem o tipo de discussão ou consulta regrada que tem lugar em tribunais ou sessões parlamentares.
Mas isso também não é necessário, pois a esfera pública é apenas um dos elos relevantes: ela faz as vezes de mediação entre discursos e discussões nos foros do Estado, de um lado, e as conversas episódicas ou informais de eleitores potenciais, de outro.
A esfera pública dá sua contribuição à legitimação democrática da ação estatal ao selecionar temas de relevância política, elabora-os polemicamente e os vincula a correntes de opinião divergentes.
Por essa via, a comunicação pública estimula e orienta a formação da opinião e do voto, ao mesmo tempo em que exige transparência e prontidão do sistema político.
Sem o impulso de uma imprensa voltada à formação de opinião, capaz de fornecer informação confiável e comentário preciso, a esfera pública não tem como produzir essa energia.
Quando se trata de gás, eletricidade ou água, o Estado tem a obrigação de prover as necessidades energéticas da população.
Por que não seria igualmente obrigado a prover essa outra espécie de "energia", sem a qual o próprio Estado democrático pode acabar avariado?
O Estado não comete nenhuma "falha sistêmica" quando intervém em casos específicos para tentar preservar esse bem público que é a imprensa de qualidade.

Melhores resultados
O problema é apenas de ordem pragmática: como se alcançam os melhores resultados?
Em certo momento, o governo [do Estado] de Hessen concedeu ao jornal "Frankfurter Rundschau" um crédito subsidiado -sem sucesso. Mas as subvenções diretas são apenas um dos meios disponíveis.
Outros caminhos são as fundações com participação pública ou a renúncia fiscal para famílias envolvidas no ramo.
Nenhuma dessas soluções está livre de problemas. E ainda é preciso aclimatar a idéia de subvenções a jornais e revistas.
Em termos históricos, a idéia de regular o mercado da imprensa tem alguma coisa de contra-intuitivo. Afinal, o mercado foi outrora o cenário em que idéias subversivas puderam se emancipar da repressão estatal.
Mas o mercado só é capaz de desempenhar essa função se as determinações econômicas não penetrarem nos poros dos conteúdos culturais e políticos dispersos no mercado.
Agora, como antes, a crítica adorniana da indústria cultural constitui o ponto central. A observação cética é indispensável, pois nenhuma democracia pode se dar ao luxo de uma falha de mercado nesse setor.

JÜRGEN HABERMAS (1929) é um dos principais filósofos e sociólogos vivos. Colaborou entre 1955 e 1959 com Adorno e Horkheimer no Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, e lecionou nas universidades de Heidelberg e de Frankfurt. Entre suas obras de maior impacto traduzidas para o português estão "Mudança Estrutural na Esfera Pública", "Direito e Democracia" e "Consciência Moral e Agir Comunicativo" (Tempo Brasileiro). Este texto foi publicado originalmente no jornal alemão "Süddeutsche Zeitung". Tradução de Samuel Titan Jr.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A grande mídia e sua fantástica fábrica de escândalos

A grande mídia e sua fantástica fábrica de escândalos*

George Gomes Coutinho

Talvez a notícia do maior crescimento econômico brasileiro desde 1996 (aqui) , em um ambiente de profunda crise do capitalismo, nos forneça pistas sobre mais um escândalo fabricado. Afinal, o Brasil figura como um dos poucos países que irão sair desta crise estrutural com uma economia aquecida. Cabe acompanhar o derretimento da União Européia por exemplo.

Prosseguindo. Lhes pergunto se em um ano esta notícia sobre a filha de Serra retornará aos holofotes. Ainda, se a mídia dará o devido crédito para as investigações da Polícia Federal, lócus adequado para a investigação séria de crimes desta natureza. Afinal, em algum momento a grande mídia decidiu por eleger seus réus e apresentar respostas “conclusivas” em questão de minutos neste caso e em tantos outros. Deve ser alguma habilidade sobrenatural de jornalistas que faz com que investigações minuciosas de meses tenham soluções do tipo “fast food” em minutos... Me parece que estamos em mais um alarde do tipo “gripe suína”, gripe esta que matou tanto quanto a gripe comum mas que nos foi apresentada com um potencial mais destrutivo do que uma bomba de alguns zilhões de megatons.

Desculpem-me pela ironia. O problema é que não vejo mais como lidar sem desprezo com a grande mídia brasileira e seu séqüito de “fast thinkers”, aqueles intelectualóides darlings da mídia que repetem aquilo que os patrões dos jornalistas desejam que seja confirmado sob a égide de algum capital acadêmico. Não irei listar os nomes, que envolve historiadores, sociólogos e filósofos de quinta linha da universidade brasileira ávidos por minutos de estrelato em virtude de não terem em seu campo seja poder secular ou poder simbólico (prestígio) gerado por grandes contribuições. Aos fast thinkers adestrados, aqueles que constam no caderninho de telefones dos jornalistas queridos dos jornalões, devemos dedicar um outro momento de atenção. Voltemos ao “escândalo”.

Estou a me perguntar perplexo como tantos outros:

a) Qual o interesse de um grupo político que trafega num cenário de céu de brigadeiro, tendo todas as análises sérias indicado a vitória deste grupo há mais de um ano atrás, em expor elementos da vida particular da filha do cabeça de chapa da oposição? Se justamente a maioria dos analistas das "ciências da política" trabalhavam com uma verdadeira "lavada" eleitoral do PT? Estas informações apresentadas implicariam em algum tipo de vantagem comparativa para o PT no convencimento de seu eleitorado? Qual seria esta "vantagem"? Creio que a própria oposição deva esta explicação para o Partido dos Trabalhadores. Gostaria que as respostas fossem dirigidas para o cidadão comum como eu que sequer tem filiação partidária formal na medida que o “escândalo” tem sido tratado como fato político de grande monta para a democracia brasileira.

b) Se o vazamento das informações, que sem dúvida deve ser investigado com rigor e apuro, ocorreu no ano de 2009, porque justamente neste momento veio a tona? Quais os interesses estão postos a não ser o de fabricar um escândalo em um cenário de altíssima popularidade do executivo atual e de uma eleição com tom plebiscitário?

Ao ler o tom nitidamente golpista do grupo ao redor da família Marinho e dos Frias, e de seus "war dogs" como o infame Josias de Souza, percebo um certo frisson....

O próprio "jornalista" Josias de Souza em seu blog, altamente seletivo na hora de permitir comentários (sou um dos banidos por ele naquele espaço que se arroga democrático), declara que "Serra recupera uma postura oposicionista". Esbravejar, babar verde e disseminar calúnias sem investigação é um discurso "oposicionista" que esta direita considera defensável ou mesmo desejável? Pessoalizar debates é a meta desta "política de oposição" defendida pela mídia?

Evidente que recebi e-mails perguntando sobre o "marido" da Dilma... Mas, a estes não respondi.. na medida em que ainda não compreendi qual a conexão existente entre o que um candidato faça com a sua vida particular tenha a ver com sua eficiência na gestão da máquina pública... Justamente não respondi por considerar o elemento apresentado desprovido de inteligência e nada mais. Ainda, se os elementos exigidos da biografia da candidata seriam encontráveis dentre aqueles que estão a disseminar as tais perguntas que teriam importância decisiva no perfil do chefe do executivo. Seriam dotados de tal postura cívica de tamanha grandeza?

Prosseguindo, com este "escandâlo", onde ainda não entendi quais fins práticos seriam almejados para que a chapa com grandes chances de liquidar a fatura no primeiro turno buscasse tal recurso, vemos a despolitização dos rumos do país nos últimos anos da Nova República. Este sim seria o debate razoável e inteligente para um momento de eleição plebiscitária. Foram levantadas as simpatias ideológicas ou políticas do PT (talvez mais de suas divisões internas do que do partido como um todo) em inúmeros momentos. Mas, não creio que tenham sido discutidas com a justa atenção a gestão do conclave ao redor do executivo nacional, este sim um ponto fundamental na concepção de Estado que está em jogo.

No pais do futebol o debate político trafega como um debate sobre preferências do tipo "fla X flu"... Perdemos mais uma oportunidade histórica fundamental para discutirmos projetos e a sanha irracionalista ora raivosa, ora moralista parece se contentar com sua indisfarçável mediocridade ao ver sangue na arena.

Lamentável. Lamento ainda mais pela senhora Marina Silva que mancha seu currículo ao despolitizar seu discurso ao participar deste verdadeiro movimento de manada inflado pelos veículos de comunicação de massa. Perdeu uma ótima oportunidade de apresentar a questão de uma agenda "verde" para o eleitor comum.

Mais um momento "gripe suína" da grande mídia. O que hoje está nos grandes jornais em letras garrafais será minimizado muitíssimo no curto prazo. Justamente porque sinto um certo odor de enxofre desprezível, anti-republicano e golpista em mais este escândalo. Daquela gente de sempre que não sabe ainda a conviver com a democracia e está nos umbrais anti-diluvianos da política mesmo hoje. A concepção de que o “povo não sabe o que faz” é aquela mesma que não permitiu vergonhosamente a realidade do sufrágio universal até a Constituição de 1988.
Cabe notar que todos temos interesse em saber sobre o vazamento de dados de quem quer que seja enquanto uma questão fundamental de defesa e manutenção de nossa liberdade civil sempre em frangalhos. Digo nós, a esquerda ou a direita esclarecida. Mas, reitero, porque um vazamento de 2009 só chega a tona neste momento nos veículos de comunicação de massa e no discurso do candidato pré-derrotado para a presidência?

Jamais irão confessar o inconfessável.

Em outro momento discutirei com um pouco mais de parcimônia também a conexão entre grande mídia e a idéia de verdade. Porém, cabe lembrar rapidamente o insuspeito Niklas Luhmann que utiliza “o caso Bernardo Ricupero” como uma forma de demonstrar de forma cabal a desconexão entre “verdade” e mídia. O sociólogo alemão recupera este caso para lembrar que quando finalmente alguém emite uma sentença tida por “verdadeira” a própria mídia, segundo seus interesses, oculta aquele fato, distorce ou ignora em acordo com seu interesse maior: a sua própria auto-reprodução. Arrisco a dizer, portanto, que o discurso da “busca pela verdade” apresentada pela grande mídia enquanto via de legitimação de suas prátixa, e também pela pequena mídia seqüestrada por interesses tantos, é um discurso ficcional, hipócrita e desonesto.
Por fim, lembro-me de mais um alemão. O filósofo e sociólogo Jürgen Habermas há muito clama por uma regulação republicana da produção de informação, com regras próprias de ética e de produção de conteúdo. Afinal, lembra Habermas, a produção de informação nas sociedades de massa é algo de profundo interesse público. Questão esta séria demais para ficarmos reféns dos proprietários dos veículos de mídia e de seus empregados.


* Dedico este texto ao nobre visitante que assina por Décio Vieira da Rocha – grato pelo incentivo ao debate!