sábado, 30 de outubro de 2010

O QUE É REPÚBLICA NO BRASIL DE 2010?


Recentemente, comemoramos os 25 anos da nova república. Há um grupo de intelectuais e políticos, dentre os quais conheço e tenho amizade com vários, que defende o ideal da democracia brasileira através da perspectiva de aperfeiçoamento de nossa nova república, ou seja, a que vivemos no contexto pós re-abertura democrática. Intelectuais como Werneck Viana e Chico de Oliveira, que dispensam apresentações, bem como Fernando Henrique, têm apresentado críticas sistemáticas ao governo atual e assim assumido o papel de oposição em nossa dinâmica democrática atual.

Gostaria de apresentar algumas lacunas e algumas pequenas confusões que, a meu ver, surgem do posicionamento desta atual oposição ao governo do partido dos trabalhadores. A primeira:

O que é oposição?

Penso que não podemos confundir oposição x situação com direita x esquerda. A primeira "oposição", pra não perder o trocadilho, refere-se simplesmente a condição contextual de qual coligação partidária está no poder e qual não está. Este ponto me parece fundamental, pois parece ser um dos pilares da insatisfação e consequente crítica de muitos intelectuais que outrora apoiavam o partido dos trabalhadores.

Agora, direita x esquerda é outra coisa. São definições de lugares políticos inspiradas no contexto da revolução francesa que se formam a partir de ideologias. Um dos principais argumentos dos defensores da nova república é que são oposição ao governo atual e que este deixou de ser esquerda quando chegou ao poder. Aqui existe uma pequena confusão que merece esclarecimento. Chegar ao poder não significar deixar de ser esquerda, não necessariamente. Um dos principais argumentos sustentados por pelo menos três correntes intelectuais inspiradas nos três nomes citados acima é o de que o PT não fez o que poderia fazer quando chegou ao poder.

Logo, teria deixado de ser esquerda e necessitaria de uma oposição que se apresentasse como a nova esquerda. Parece que as idéias de Chico de Oliveira representam os ideais dos partidos "pequenos" da nova suposta esquerda brasileira, e principalmente do Psol. Estes sustentam um discurso um pouco mais assumidamente radical do que os outros dois grupos. O argumento é simples, o PT não implantou o socialismo porque não quis, e pronto. Respeito, mas considero uma postura muito confortável, principalmente para intelectuais como eu que tem seus empregos e sua dignidade garantida, se esconderem em partidinhos que não vão chegar ao poder tão cedo e se evocarem como oposição e defensores do socialismo.

O argumento em defesa do PT, neste ponto, é realista. Considero socialista e revolucionário, no sentido contextual da palavra, o enfrentamento teórico e político, desde o primeiro governo Lula, da questão social central do Brasil, a da desigualdade econômica crônica. Um dos argumentos do segundo grupo de oposição, representado por Fernando Henrique e que apóia a candidatura do PSDB, é o de que o PT teria meramente continuado alguns programas sociais anteriores. Este argumento é falso, porque não se trata de uma continuação. O PT sistematizou e criou programas novos e integrados em uma dimensão inédita na história do Brasil, sendo os principais o Bolsa Família e o Microcrédito para pequenos empreendimentos.

Logo, chegar ao poder não significa deixar de ser esquerda. Dilma disparou em pontos nas pesquisas recentes, usando roupas vermelhas com a tradicional bandeira do PT e tendo como frase central no horário eleitoral, "A presidente que não vai deixar privatizar a Petrobrás e o Pré-Sal". O argumento e a postura são legitimamente de esquerda e não estão sendo abandonados, por pessoas que não abandonaram o navio quando a real esquerda chegou ao poder no Brasil. Há algum tempo atrás eu não imaginava que chegaríamos a um momento deste no Brasil. Agora que chegamos, devemos ter frieza e saber com ele lidar. Agora que uma esquerda organizada desde a classe trabalhadora brasileira chegou ao poder e tenta mais uma vez se reeleger, para continuar negociando contra o mercado e o capital internacional e em favor do bem estar geral da população, me vêm intelectuais com o discurso de oposição e da república.

Muita gente me parece simplesmente atuar no mero jargão da "oposição pela oposição". Mas vamos no que realmente importa para decidir uma eleição. O terceiro grupo, cuja figura de Werneck me parece baluarte, é o que votou em Marina e agora migra em boa parte para o lado da "oposição". Outra parte permanece se percebendo como a "terceira via", insatisfeita com tudo, mas que não resolve nada. Ora, alguém precisa governar o país, alguém precisa trabalhar...Bem, os três grupos compartilhar com um argumento que me apavora pelo seu simplismo: o de que a figura carismática de Lula tenha engolido o partido e seja ameaça aos ideais republicanos e, logo, à democracia.

Outra confusão que merece esclarecimento: democracia e república não são sinônimos. Parecem ser no discurso do PSDB e do PV. Temos no Brasil formalmente uma república presidencialista e buscamos um processo de construção democrática, ponto este no qual todo mundo concorda, desde o PT até todos os seus opositores. A confusão central está na questão do que é democracia e de como construí-la. O discurso compartilhado principalmente pelas correntes do PSDB e do PV, bem como de seus aliados, formais ou não, explícitos ou não, é o de que a democracia se alcança pelo aperfeiçoamento da república. Acho que o PT e intelectuais simpatizantes concordam com este ponto. Entretanto, para a oposição atual, que não é esquerda como eu já disse, o caminho é o aperfeiçoamento das instituições democráticas de nossa nova república, ainda adolescente.

Este posicionamento tem duas limitações. Primeiro, é abstrato, porque considera a república como instituições, mas não considera os interesses das pessoas representadas por elas. Esta é a marca do PT. Sempre foi, uma vez que se origina na classe trabalhadora brasileira. Segundo, o que completa o anterior, este posicionamento é omisso e falho na luta contra a desigualdade porque, na medida em que se concentra no aperfeiçoamento do Estado, com o discurso anti-corrupção, não enfrenta os maiores corruptos e geradores de exploração, que são os senhores do mercado. E isso além de reduzirem o discurso anti-corrupção ao discurso anti-PT, como se este partido tivesse inventado isso.

Encerrando, é possível ser de esquerda estando no poder. Este é outro ponto teórico manipulado contra o PT. O argumento sutil é o de que esquerda e direita simplesmente não existem, sustentado mesmo por pessoas das três correntes que apresentei, que ao mesmo tempo, na prática, se percebem como esquerda, nova esquerda ou terceira via, o que no final dá tudo no mesmo. Bem, ser de esquerda no Brasil de 2010 significa enfrentar o mercado com a legitimidade e os recursos do Estado, como vem sendo feito desde Lula. Defender e construir uma república significa sistematizar políticas de diminuição gradual da desigualdade econômica, ponto este intimamente associado ao anterior, ou seja o enfrentamento e a negociação sistemática diante do mercado e do capital internacional. Construir uma democracia significa buscar com políticas concretas, e não com discursos abstratos acerca de instituições, o bem estar de todos os seus representados, e não meramente esperar que o desenvolvimento econômico e o aperfeiçoamento institucional operem por osmose ou por mágica a redução da desigualdade social no Brasil contemporâneo.

Desejo um excelente final de semana e um bom voto a todos os brasileiros.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vídeo Aula Portal Capes

Prezad@s,

Uma pausa para respirar....

Divulgo a didática aula do pessoal da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina sobre "Novo Portal Períodicos Capes".

Está disponível aqui:



Vale a pena...Divulguem! O Portal ainda é muitíssimo subutilizado.

O QUE É DEMOCRACIA NO BRASIL DE 2010?

Os tucanos falam em democracia o tempo inteiro. Na reta final, tentam desesperadamente associar a imagem do PT e principalmente de Dilma ao autoritarismo. Estranho isso. Nos faz refletir sobre um dos conceitos mais primários das ciências sociais. Então, vejamos o que seria a democracia no Brasil de 2010.

Se alguém evoca com veemência um dos valores fundadores do ocidente, é preciso observar quais são as práticas e a visão de mundo desta pessoa ou deste grupo para ver se são coerentes com os valores que afirmam defender. De modo simples, no pensamento moderno qualquer prática que se diga democrática deve se apresentar como contrária a qualquer comportamento que pareça autoritário.

Na antiga democracia grega, este conceito não era sinônimo de igualdade política e social. Remetia-se a um formalismo de enfrentamento e discussões nos quais não participavam os escravos, considerados naturalmente como gente inferior. Estes não eram, neste sentido, cidadãos, pois não participavam das decisões da cidade. No contexto dos Estados nacionais modernos, sob o qual vivemos, a idéia de democracia e o esforço em se criar instituições coerentes com ela foram ampliados. Democracia hoje significa igualdade política e social, o que naturalmente pressupõe igualdade econômica, exatamente o que faltava para que a democracia grega fosse perfeita e o que supostamente colocaria a democracia moderna como superior a antiga.

Curioso isso. Os tucanos atuais no Brasil, pseudos-baluartes da democracia, que falam em união e paz o tempo todo, não apresentam a igualdade econômica como prioridade em seus discursos, e muito menos em suas práticas partidárias e programas de governo. Que idéia de democracia é essa? O projeto político e o discurso partidário do PT, por outro lado, tem como prioridade a redistribuição sistemática de renda e o amparo econômico às classes populares. A IGUALDADE ECONÔMICA É PRIORIDADE PARA O PT. Logo, devemos desconfiar da tentativa de associação da imagem deste partido com o autoritarismo.

Por isso, em vésperas da eleição mais acirrada no Brasil desde a re-abertura democrática, devemos pensar bem em no que é ser democrático e no que é ser autoritário na realidade brasileira atual. O discurso pseudo-democrático do PSDB é abstrato, pois só fala em desenvolvimento econômico o tempo inteiro, sem enfrentar a questão básica de como este desenvolvimento deve lidar com a questão da injustiça social no Brasil, ou seja, sua desigualdade econômica. Neste aspecto, é semelhante ao ideal de democracia grega, praticado apenas por quem era considerado cidadão, e estes eram os que tinham superioridade econômica, ou seja, não eram os escravos.

É assim que o PSDB vê e trata as classes populares no Brasil, ou seja, não as considera sistematicamente, não as coloca como prioridade na ação do Estado. Acusam o PT de ser autoritário exatamente por fazer isso. Logo, fica fácil deduzir qual ideal de governo é realmente democrático e sinônimo de igualdade política, social e econômica. Pensando e agindo desta maneira, os governos tucanos sempre trataram as classes populares como sub-cidadãos, exatamente como se fazia com os escravos na Grécia antiga.

Na verdade, o que está por trás do maldoso discurso contra o PT, de que a distribuição de renda, o que não significa tirar de quem tem, mas usar o Estado para reparar desigualdades históricas, associando o PT a uma idéia de autoritarismo, é o egoísmo de classes privilegiadas que prioriza a manutenção de uma sociedade meritocrática e, logo, desigual. Não por acaso as privatizações, marca registrada dos tucanos, são sempre uma prioridade neste ideal de desenvolvimento. O ideal democrático deles é entregar os recursos nacionais nas mãos do mercado, a principal instituição moderna geradora de desigualdade. Assim, a pergunta que não se deve nunca calar, considerando que democracia deveria ser sinônimo de igualdade em todos os aspectos da vida, é a seguinte: quem pratica realmente a democracia no Brasil de 2010?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Atualização da Carta à População do Norte/Noroeste Fluminense

Prezad@s,

Fiz a atualização da carta com as novas adesões. Até o sábado pela manhã é possível participar da mesma.

Creio que por volta de meio-dia do sábado enviarei a carta atualizada em um último esforço de militância e lucidez política digital. Afinal, em meio a tanta desonestidade intelectual e baixaria, nossa contribuição ambiciona apresentar uma narrativa cristalina e de alto nível sobre o que temos na memória do que foi uma temerária gestão do PSDB particularmente no campo de educação, ciência e tecnologia.

Podem enviar as adesões para meu e-mail: georgecoutinho@gmail.com

Até lá, por favor, espalhem a carta. Vamos apostar em nosso poder de convencimento. Mesmo sabendo de nossos limites.

Por fim, mesmo que eu não responda ou atualize imediatamente eu lhes peço paciência. Esse é um ato de militância espontânea e enquanto trabalhador tenho que atender demandas outras.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

QUEM É A ELITE DA TROPA?

Em resposta ao meu Xará Bill, considerando a importância do tema, posto este texto que não contraria o dele em alguns pontos, mas discorda em outros, mantendo assim a saudável prática do debate respeitoso que sempre buscamos neste blog, e que infelizmente se perdeu na atual campanha eleitoral à presidência. O texto foi levemente editado para esta versão aqui. Temos aqui um debate sobre a política atual, mas também sobre os limites e possibilidades da arte no mundo contemporâneo.


É curioso que um filme cujo subtítulo é "o inimigo agora é outro" e cujo tema central é o combate à corrupção na política seja lançado no Brasil em pleno início de segundo turno para eleições presidenciais entre PSDB e PT, cujos discursos e práticas políticas, contrário a um dos sensos comuns mais difundidos sobre o tema, o de que seriam a mesma coisa, são exatamente o combate à corrupção no Estado (PSDB) e o interesse na redistribuição de renda e na ascensão econômica e política das classes populares (PT).

Achei engraçado que, quando foi lançado o filme "Lula, filho do Brasil", ouvi gente dizendo coisas do tipo "apenas Hitler financiou um filme próprio", sem naturalmente provar que Lula teria financiado o próprio filme. Agora me aparece este Tropa 2 em pleno segundo turno... A estratégia dos tucanos, filiados ao partido ou não, assumidos ou não, ou seja, uma das maiores estratégias dos inimigos do PT, tem sido a associação, na maioria dos casos, implícita e sutil, da imagem do partido ou de figuras expressivas dele, com o autoritarismo.

Como toda mentira para "pegar" precisa ser sutil, ou seja, uma meia-verdade, que apele para aparências e dados parciais, neste caso não é diferente. Não posso afirmar que o filme é dos tucanos ou pago por eles, mas como cidadão antes de tudo, eleitor e intelectual, posso refletir e apresentar algumas possíveis afinidades entre o filme e os discursos simpatizantes aos tucanos.

Como eu dizia, acerca do filme sobre a vida de Lula, os inimigos do PT sustentaram o argumento do autoritarismo, central ao lado do argumento da corrupção no Estado. No geral, tentaram associar a imagem de Lula ao fascismo, mesmo depois de oito anos de sucesso no governo, em favor das classes populares. Em sua passagem na UFJF, que presenciei, pude escutar algum incauto desdenhando da performance de Lula, que fala gesticulando os braços, e associando-a ao "Hay Hitler".

Primeiro, há um preconceito de classe nesta postura tucana, cuja maldade me entristece, pois ao escarnecer o jeito de classe popular de Lula também se escarnece e explicita o preconceito contra a classe trabalhadora e a ralé, que ele mais representa. É lógico que a imagem contrária é a do jeito bem comportado, da pessoa calma e auto-controlada, da figura de FHC e que Serra se esforça a ser.

Como toda mentira é ambígua, precisa confundir o leitor, agora sutilmente se associa a imagem específica de Dilma ao autoritarismo. Para parecer crítico, o argumento conservador tentou ser sutil. Conseguiria, se não tropeçasse em seu próprio preconceito de classe, que não consegue esconder a raiva pela ascensão econômica e moral das classes populares no Brasil de Lula. Nem me venham com a falácia da continuidade da política dos tucanos, pois tal ascensão dependeu da sistematização de políticas específicas de redistribuição, como o fomento pesado ao crédito para a chamada classe C.

Bem, a criação da imagem autoritária de Dilma tentou ser sutil, por exemplo, em edições recentes da Veja, que está fazendo uma seqüência cujas capas todas se remetem ao trocadilho do "Polvo" no poder. Numa delas, a sacanagem disfarçada de crítica e bom senso finge admitir que reconhece avanços de Lula, postura ensinada com todo o cinismo e fingimento da classe média mais estabelecida, e praticada por seu mentor FHC. Ele andou escrevendo coisas recentes neste tom. A revista dizia que Lula resolveu o problema do autoritarismo e da discórdia, mas que Dilma parecia ser um passo atrás neste avanço do partido e do governo.

O mesmo preconceito de classe que tenta associar os representantes das classes populares no poder com autoritarismo, é o que ditou o tom do Tropa de Elite 1, sobre o qual publiquei um artigo (O que o BOPE representa para a brasilidade), cujo link se encontra em meu blog www.macielfabricio.blogspot.com. Neste primeiro filme, o tema explícito era a corrupção da polícia e a dificuldade de se enfrentar o problema da segurança pública. O tema implícito era o preconceito de classe, visível se observarmos com calma que, ao invés de um problema de corrupção, como principal questão nacional, o que temos é uma questão de classe, na qual a realidade do BOPE é ralé matando ralé, pois os membros do batalhão são em maioria oriundos de classes populares, colocando seus corpos em defesa das classes estabelecidas.

Agora, em pleno segundo turno, o inimigo tucano não é outro, como afirma o Tropa 2. O inimigo é o mesmo, ou seja, as classes populares, só que o ódio incitado, por ser o momento da eleição, não é diretamente contra a ralé desesperada na miséria que comete crimes, como no primeiro, mas sim contra os seus representantes que estão no poder. Afinal, nunca se falou tanto em corrupção, algo presente em todo capitalismo que já existiu e em todo Estado nacional moderno, logo, presente em cento e poucos anos de Brasil república anteriores ao governo Lula. Mas, parece ficar claro com o discurso dos tucanos e com este filme Tropa 2, se olharmos com calma que, como a mentira tem que ser sutil, é lógico que o bordão seja "o inimigo agora é outro". O tema assumido do filme é a corrupção da política, como todos sabem.

Achei curioso a fala de um conhecido diretor do cinema brasileiro, Daniel Filho, no último festival de cinema realizado no Odeon do Rio de Janeiro, sobre o fato de o filme de Lula ter sido indicado para competir ao Oscar estrangeiro. Engraçado como as coisas sutilmente se encaixam. Ele acaba de lançar um belo filme sobre Chico Xavier, certamente uma das personalidades mais importantes da religiosidade brasileira, e por acaso também em época de eleição. Seria ingenuidade e imprudência de sociólogo se eu afirmasse ao leitor que tudo isso é encomendado pelos tucanos. Mas posso incitar a reflexão das afinidades de uma concepção de classes estabelecidas com a produção artística em plena época de eleição, e não qualquer eleição, mas sim uma na qual o único governo depois de Getúlio que enfrentou severamente a questão social central do Brasil, que é a de classe, procura eleger sua sucessora.

Daniel Filho, inconformado desde seu lugar estabelecido de classe, com o fato de o filme que mostra ao mundo um representante do lado mais prejudicado do Brasil chegando ao poder ter sido indicado no lugar dos conservadores, fino que é este diretor, foi afinado com o discurso que atribui ao PT o autoritarismo e, logo, deixa nas entrelinhas que os democráticos são outros...Seu comentário foi educadamente sarcástico: "como é mesmo o nome do filme? Lula, o 'dono' do Brasil?" (o nome correto do filme é "Lula, o filho do Brasil"). Com todo o respeito que tenho às religiões, como instituições legítimas, e a religiosidade como um todo, como fenômeno humano universal, bem como à figura de Chico Xavier e a seus fiéis e admiradores, como sociólogo tenho a obrigação de não esconder o dado de que o espiritismo se trata de uma religiosidade muito mais de classe média no Brasil, ainda que Chico tenha ajudado muita gente pobre. Nada disso é calculado. Acho que temos aqui a expressão artística de um conteúdo de classes estabelecidas, contrário aos ideais do governo federal atual, sendo este o que tenta sistematicamente minimizar a desigualdade de classe no Brasil.

Assim, a pergunta que quero deixar para a reflexão é: o que é ser autoritário e o que é ser democrático? O discurso do combate à corrupção no Estado refere-se à "nação" e ao "país" em abstrato. Ora, ninguém fez isso melhor do que Hitler...O discurso e a prática que admite a pesada desigualdade de classe no Brasil é concreto, pois não existe um país ou uma nação sem classes sociais. A própria existência do conceito de classe só faz sentido se pensarmos na desigualdade. Logo, quando ele é sutilmente tirado de foco pelo discurso anti-corrupção, abandona-se a questão social mais importante, marca esta registrada dos tucanos e de seus simpatizantes.

Espero ter contribuído para uma reflexão sobre quem é a "Elite da tropa" que afirma agora pretender enfrentar a corrupção na política, corrupção esta que por acaso sempre favoreceu às classes estabelecidas e não às classes populares. Ou alguém acha que a ralé, despedida do mercado e a classe trabalhadora brasileira, dispersa batalhando em grande parte no trabalho precário, levam vantagem com a corrupção em Brasília?

Quanto à ralé, foi o PT que sistematizou todas as políticas de amparo imediato. quanto à classe trabalhadora, nossos batalhadores, também foi o PT que fomentou recursos para suas ascensão e melhor qualidade de vida. Então, caro leitor, quem é o inimigo nesta história?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CARTA PARA A POPULAÇÃO DO NORTE/NOROESTE FLUMINENSE

Campos dos Goytacazes, 26 de outubro de 2010

CARTA PARA A POPULAÇÃO DO NORTE/NOROESTE FLUMINENSE

CIDADÃOS E CIDADÃS DAS REGIÕES NORTE E NOROESTE FLUMINENSE

Nós, PROFESSORES E PESQUISADORES que atuamos nas regiões Norte e Noroeste Fluminense, vimos nos dirigir a todos que contribuem para a construção da sociedade brasileira nesta delicada conjuntura eleitoral. Queremos dar nosso testemunho do quanto é importante votar na DILMA PARA PRESIDENTE para garantir e ampliar as conquistas do nosso povo com o Governo Lula.

A razão desta carta é a defesa veemente da continuidade e do necessário aprimoramento dos investimentos na EDUCAÇÃO, na produção de conhecimento, de pesquisa e na formação de profissionais de excelência no Brasil. Este círculo virtuoso tornou-se realidade justamente com a chegada do Partido dos Trabalhadores e de LULA no executivo federal. Há dados oficiais de diferentes origens que podem atestar o que afirmamos.

Muitos de nós acompanhamos “a grande noite” da temerária gestão do senhor Paulo Renato de Souza, ministro da Educação de Fernando Henrique Cardoso. Seja enquanto servidores públicos ou estudantes vivenciamos a situação de precariedade infra-estrutural, a ausência de concursos públicos, a quantidade irrisória de verbas para a produção de pesquisa o que fez com que os docentes daquele período amargassem achatamento salarial e lidassem invariavelmente com sua criatividade e disposição altruísta no ofício científico. Outros tantos aposentaram-se ou simplesmente se demitiram por não considerarem minimamente atraente a permanência na carreira docente durante os anos de gestão de PSDB. Era comum na época a expressão “fuga de cérebros” que representa, de forma trágica, prejuízos financeiros e simbólicos irreparáveis para o nosso país. Nos Governos do PSDB não se construíram Escolas Técnicas nem Universidades Públicas. Para estudar, só pagando. Foi uma política contra os pobres, contra a maioria do povo.
A recuperação e substantiva ampliação da rede federal de ensino, no âmbito técnico e superior, tornou-se prática sistemática somente após o término deste período de trevas, quando, por exemplo, a biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ ficou simplesmente fechada por um longo período em virtude da ausência de manutenção.

Por tudo isso, em defesa da qualidade do ensino público gratuito e de qualidade, que não se resume somente a Escolas Técnicas, como demagogicamente aponta oposição, vimos lhes convidar para a reflexão necessária.

Devemos ao Governo Lula e à filosofia de trabalho da candidata DILMA ROUSSEF o aumento das vagas e do acesso dos estudantes das famílias mais pobres tanto ao ensino técnico quanto ao ensino superior gratuitos. Além disso, contamos com o futuro GOVERNO DILMA para continuar as políticas de EMPREGO E RENDA que aumentaram enormemente o emprego, a quantidade de trabalhadores com carteira assinada, o salário mínimo e a política de assistência, com o Bolsa Família, o PRONAF, além de muitos outros. A continuidade dessas políticas é fundamental para que os jovens das famílias mais pobres possam se dedicar totalmente ao estudo e à formação profissional e PARA QUE TODOS OS BRASILEIROS TENHAM UM FUTURO MELHOR.

VOTAREMOS, NESTE ESPÍRITO, NA CANDIDATA DILMA ROUSSEF DO PARTIDO DOS TRABALHADORES, NA CERTEZA DE QUE SÓ DILMA PODERÁ GARANTIR A CONTINUIDADE DA INCLUSÃO DE TODOS OS BRASILEIROS NOS DIREITOS DE CIDADANIA.

Votarão 13 no dia 31 de outubro:

Prof. Ana Maria Almeida da Costa UFF-Universidade Federal Fluminense

Artur Dalla Cypreste, Mestrando do PPGSP - Programa de Pós Graduação em Sociologia Política da UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Betina I. Terra Azevedo Arenari - Professora Instituto Federal Fluminense e mestra em Biotecnologia pela UENF

Brand Arenari - Doutorando em sociologia na Universidade Humboldt Berlim-Alemanha


Carla Inês Soares Praxedes - Doutoranda em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal (UFF) e Professora do Instituto Federal Fluminense (IFF)

Prof. Carlos Eugênio Soares de Lemos, Professor Adjunto de Teoria Social e Coordenador da Universidade da Terceira Idade - UFF- Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes

Daniel Pinheiro Caetano Damasceno – Bacharel em Ciência da Educação - UENF (2006) Mestre em Sociologia Política - UENF (2009) e Doutorando em Sociologia Política – UENF

Fabrício Maciel, doutorando em ciências sociais na UFJF e na H S Freiburg, Alemanha. Professor da especialização em políticas públicas e gestão social da UFJF.


Francisca Caroline Rangel de Avila Mestranda em Sociologia Política - UENF - Bacharel em Ciências Sociais - UENF - Bacharelanda em Direito - UCAM


Prof. George Gomes Coutinho – Professor Assistente de Sociologia UFF- Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes e Doutorando em Sociologia Política UENF

Gerson Tavares do Carmo - Professor Institutos Superiores de Ensino do CENSA / Professor do Programa de Licenciatura PARFOR-Uenf / Recém Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Uenf

Prof. Guilherme Vieira Dias - Professor de Geografia do Instituto
Federal Fluminense (IFF) e da rede estadual de ensino.

Prof. Halisson dos Santos Paes - Professor da Universidade Cândido Mendes e do ISECENSA - Instituto de Ensino Superior do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora.

Prof. José Luis Vianna da Cruz – Diretor do Polo Universitário da UFF em Campos dos Goytacazes

José Henrique Mendes Crizostomo - Sociólogo e mestrando em Sociologia Política pela UENF

Lorena Rodrigues Tavares de Freitas Graduação em Ciências Sociais (UENF) Mestrado em Ciências Sociais (UFJF) Doutoranda em Sociologia Política (UENF)

Prof. Maycon Bezerra de Almeida - professor de Sociologia do Instituto
Federal Fluminense

Manuela Vieira Blanc, doutoranda PPGSP/UENF

Marcus Cardoso da Silva Mestrando Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política UENF

Paula Aparecida Martins Borges Bastos - Doutora em Medicina Veterinária - IF Fluminense - campus Bom Jesus do Itabapoana.

Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Jr. Sociólogo e Mestre em Políticas Sociais (UENF). Doutorando em Sociologia (UNESP-Araraquara


Renan Lubanco Assis – Licenciado em História pela Uniflu (Campos, RJ) (2007) e Mestrando em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).

Rafael Pinheiro Caetano Damasceno - Doutorando em Sociologia Política – UENF

Prof. Roberto Moraes – Instituto Federal Fluminense (IFF)

Roberto Dutra Torres Junior - Doutorando em Sociologia pela Humboldt Universität zu Berlin

Prof. Rodrigo Anido Lira - Professor da Universidade Candido Mendes

Prof. Rodrigo Rosselini Julio Rodrigues - Professor do Instituto Federal Fluminense

Sana Gimenes Alvarenga Domingues - Mestre pelo PPGSP/UENF

Suelen Salih Teixeira - Engenheira Metalúrgica pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), mestranda em engenharia mecância na Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita (UNESP)


Prof. Dr. Thiago Motta Venancio - Pós-doutorando do National Institutes of Health (EUA) até 25/11/2010 e Professor Associado do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) - UENF a partir de 27/11/2010

Viviane Aparecida Siqueira Lopes - Professor-Assistente da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Walter Luiz Brasil Medeioros, prof.IFF - Campos -RJ. Doutor em Química Orgânica

Yolanda Gaffrée Ribeiro. Mestranda em Sociologia Política - UENF

domingo, 24 de outubro de 2010

Tripas da elite

Estar sob efeito de uma experiência poderosa pode não favorecer um texto reflexivo sobre a tal experiência. Peço desde já que entendam que o texto abaixo se guiará por tal experiência e por uma tentativa reflexiva de captá-la com palavras.
A experiência diz respeito à continuação de “tropa de elite”, de José Padilha, filme arriscado e não menos polêmico. No primeiro filme, correu-se vários riscos. Do personagem de Wagner Moura, capitão nascimento, diziam “fascista”, “faxineiro étnico”. Da direção diziam moralista ao culpabilizar o lado da demanda. Da estética diziam “sangrenta” e sensacionalista. A meu ver o Filme mostra como um jovem que quer ser advogado, e estuda para tanto, pode se transformar em uma máquina de guerra. É basicamente um filme inspirado em “Nascido para matar”, de Stanley Kubrik: nele estão os mecanismos rituais de incorporação (socialização) do indivíduo à lógica sistêmica, como membro reprodutor de seu ethos.
A lógica sistêmica, com seus mecanismos autoreprodutores, no primeiro filme, aparece primeiramente sob o amálgama da luta entre duas polícias, uma corrupta e subserviente e outra não subserviente, mas que se utiliza de meios ilícitos para cumprir com o dever. A socialização se dá nestes dois espaços, o limite é tênue, a incorporação dos membros é questão de vida ou morte para a manutenção dos limites sistêmicos, seja de um lado ou de outro.
No primeiro filme há outra dialética, aquela que contrapõe esta polícia e a ralé que sobrevive à custa do tráfico de drogas. Esta dialética é a que se destacou mais no primeiro filme, creio que por dois motivos. Por um lado satisfaz à expectativa justicialista dos cariocas, classe média, zona sul. Por outro, apresenta a valentia implacável do capitão nascimento, talvez o maior personagem pop da história do cinema brasileiro.
Em camadas, Padilha vai costurando um enredo que de forma macro expõe as várias dialéticas que resultam na guerra impessoal que se vive nestes âmbitos: aparato estatal de segurança pública e tráfico de drogas. Talvez não houvesse espaço para tratar de outros âmbitos, como, direitos humanos, imprensa e a política. Mas a crítica não perdoou esta ausência.
O segundo filme complexifica sua tour de force pela tragédia carioca. Estes âmbitos são contemplados. Agora, retornando a hipótese Kubrikiana, invertendo-a, o filme é de desocialização: Como um implacável capitão, cumpridor de sua função, com uma certeza inviolável na verdade deste dever, é levado a uma dialética de novo tipo, contra seu próprio self, uma dialética interna: eu sou o que sou para a manutenção sistêmica?. Como nos diria Parsons, Nascimento era demasiadamente dopado pelo sistema, mas não aceita isso. A tomada de consciência do agora Coronel, faz do filme um caso raro no cinema brasileiro.
Agora é polícia contra a política, a política contra a polícia. Não aparece a figura do usuário (até aparece...) e o tráfico é o mal menor. Agora a dialética se dá “No centro do sistema”. No centro desse “sistema-mundo”, como diria Braudel, a fenomenologia conflui para a manutenção do poder central, especificamente dos políticos, no sentido abstrato e impessoal, que se nutrem de dinheiro e voto a partir dos laços com as milícias. É um argumento poderoso e que poderia se desdobrar. Chega a Brasília... mas poderia chegar em outra camada, na geopolítica mundial, no sistema-mundo de uma sociedade cada vez mais (des)integrada, cada vez mais com medo e cada vez mais desigual.
O filme assim, a meu ver, fecha a série “favela movie” de forma brilhante. “Cidade de Deus” era sobre os traficantes, “Cidade dos homens” sobre a população atingida pela guerra, “tropa 1” era sobre a polícia. “Tropa 2” é sobre a política que dá origem à série. Ele politiza a estética da droga, da morte, da arma, da pobreza. Sai das ruas e vai para o congresso.

sábado, 23 de outubro de 2010

A Globo é o encosto que atravanca o debate público no Brasil

A manipulação de imagens no intuito de „comprovar“ a tese da agressão a José Serra deveria ter sido o fundo do poço de nossa grande mídia, sobretudo das Organizações Globo. Mas não é o fundo do poço, pois parece não haver limites para este tido de imprensa, que se julga dona da verdade, a ponto de poder dar a ela a roupagem que bem entende. Não se trata apenas de que “a Globo mente”, que manipula a informação como quer, sem nenhuma autocrítica. Autocrítica? Isto, não visão deles, se resume ao esforço de corrigir erros ortográficos e gramaticais. O problema, muito maior, é que a Globo nos impôs o seu padrão de qualidade e que este padrão representa a obstrução do debate sobre os grandes temas (rechaçados pelo “padrão Globo” como “temas polêmicos”) em favor da novelizacão da opinião pública. As Organizações Globo representam um entrave para nosso aprendizado político. O padrão de concorrência que impõe não deixa espaço para que a sociedade seja escandalizada com seus problemas mais importantes, sendo obrigada a se escandalizar com “bolinhas de papel”.

Como somos levados a nos ocupar com uma variedade de escândalos durante estas eleições gerais, sem que a “questão social” nos escandalize? Como é possível que um país marcado pelo abismo de classes e pela segregação étnica de diversas esferas sociais – apesar dos avanços recentes – não torne estas questões o foco do debate público? Só vejo uma resposta: temos uma imprensa, uma “estrutura da esfera pública” (Habermas) que se define pela oclusão destes “temas polêmicos” da pauta de produção sistemática de notícias e escândalos. Quando digo que o problema de nosso aprendizado político é a Globo e seu “padrão de qualidade” que se alastra pela imprensa, isento sim os candidatos, Dilma e Serra: a “questão social” como pauta foi abraçada pelos dois como eixo de campanha, ainda que não com a mesma credibilidade quando se trata de um “abraço tucano”. Mas isso jamais foi discutido pela imprensa. Não se discute os ganhos e os dilemas das atuais políticas. Ou se tenta demonizá-las, ou não se fala delas na grande mídia.

Não posso obviamente deixar de olhar a imprensa brasileira com os parâmetros do que vejo acontecer na imprensa alemã. Neste outono a imprensa alemã, especialmente jornais de maior qualidade como o “Die Zeit, se encontra inserida num debate cotidiano sobre os dilemas da “cultura e da nação alemã” face ao desafio de “integrar os muçulmanos”, sobretudo os turcos, que já contam como uma parcela expressiva da população. Neste debate há a posição firmada (inclusive pela chanceler Angela Merkel) de que a “cultura dominante” do país é e deve seguir sendo a “judaico-cristã” ; ou ainda a de que o país “não precisa mais de migrantes de outros círculos culturais”. Já a imprensa pauta a discussão tentando situar o tema da “integração dos imigrantes” no debate de longa duração sobre o projeto de nação do País. “Que país queremos ser? Uma ilha isolada de “pureza cultural” ou uma democracia multicultural como os EUA? “Como vamos lidar com o problema da inclusão social dos não suficientemente incluídos”? Não acho que os ventos aqui soprem em boa direção. A xenofobia cresce no país, sobretudo o “anti-islamismo”. Mas a imprensa está interessada em discutir o curso dos ventos, e por isso coloca questões sobre o projeto de nação que deve ou não ser seguido. Onde estão as questões nacionais na pauta da imprensa brasileira? Onde se discute inclusão social entre nós? Como é possível se preocupar com o “fortalecimento de instituições democráticas e republicanas” sem tocar no tema da inclusão dos excluídos nestas instituições?

Podemos dizer, com pouco medo de errar, que os candidatos, Dilma e Serra, se aproximam muito mais de nossos problemas do que a imprensa e que até nossos políticos estão mais perto de escandalizar a sociedade com a “questão social do que nossos jornalistas e seus “colegas-patrões”.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

“Reflexão sobre o momento político” *

“Permito-me compartilhar reflexões políticas que podem informar escolhas difíceis e o exercício responsável do voto. Lembro que escrevo esse texto enquanto cidadão, em caráter pessoal, sem qualquer envolvimento das instituições a que sou ligado.

Desde seu início, mantive posição crítica ao governo do presidente Lula. Não me parece que essa experiência de poder tenha enfrentado diretamente, ou em tempo hábil, alguns sérios problemas que assolam a sociedade brasileira, como a política fisiológica, o oligopólio dos meios de comunicação de massa, os riscos ao caráter laico do Estado e os entraves estruturais à inovação e à ciência de qualidade. Passando ao largo desses temas, certamente polêmicos, e que merecem debate intenso no Congresso e fora dele, ou retraindo-se diante das reações negativas, o governo perdeu a oportunidade de constituir uma maioria real, calcada em maior conscientização e sensibilização da opinião pública e da sociedade civil e, portanto, capaz de defender seus méritos.

Apesar de todas as dificuldades, não tenho dúvidas de que a aliança que governa o Brasil representa grandes avanços que a diferenciam substancialmente de governos anteriores. A ascensão de Lula não foi apenas um símbolo de superação e amadurecimento político. Mais do que isso, seu governo foi marcado por compromissos sociais e por apostas democráticas no potencial do Brasil cujos precedentes são raros e insipientes. Em quadro de perplexidade em relação a modelos de sociedade aptos a transformar o país, o governo compreendeu a correlação de forças do mundo contemporâneo e soube ser pragmático ao conciliar objetivos conceitualmente contraditórios, conforme esquemas aceitos até então, como combate à inflação e rápido desenvolvimento econômico, emprego com proteção social e aumento do mercado de trabalho, modelo exportador de commodities e expansão do mercado de consumo interno.

Proponho, assim, discutir dois temas que conheço bem: Defesa da Democracia e Política Externa (fiz mestrado e doutorado em teoria da democracia e trabalho agora com política externa, como diplomata), e que marcam a distância entre o período 2003-2010 e aquele imediatamente anterior. Essa comparação é fundamental porque José Serra esteve na linha de frente do governo tucano, enquanto Dilma Rousseff ocupou postos-chave no governo liderado pelo PT.

Defesa da Democracia

Parte significativa da imprensa e a oposição têm feito severas críticas ao que consideram ameaça à democracia no governo Lula. O argumento desse tipo sugere que a candidata Dilma constituiria risco ainda maior, em razão de seu “estilo” autoritário. Vale lembrar que Lula não hesitou em rechaçar os boatos de terceiro mandato, o que seria uma tentação óbvia, dada a ausência de sucessores naturais e dada sua extraordinária popularidade pessoal. Dilma, por seu turno, deu provas de compromisso com a democracia, de luta contra a ditadura, tendo coordenado ações do governo que não se cansam de procurar ouvir a sociedade em diversos fóruns, conselhos e conferências, cujo propósito é fazer com que as políticas públicas sejam mais que jogadas de marketing ou decisões de um líder incontestável. Tive oportunidade de ver isso ocorrer nas áreas de educação e de segurança alimentar e nutricional, em que se percebe um diálogo legítimo entre governo e movimentos sociais, que reconhecem seus papéis distintos, mas compartilham códigos discursivos e referenciais comuns, em poucas palavras: “falam a mesma língua”.

Ressalte-se que o histórico do PSDB e de seus aliados é bastante questionável nessa área. Em fins 1993 e 1994, ocorreu no Brasil um processo de revisão constitucional, previsto pela Constituição de 1988. Naquela época havia grande expectativa de que o Partido dos Trabalhadores seria vitorioso nas eleições presidenciais de 1994. E não foi por acaso que a maioria governista modificou o mandato presidencial de cinco para quatro anos, sem possibilidade de re-eleição, por meio da Emenda Constitucional de Revisão no. 5, de 7 de junho de 1994. Esse casuísmo gritante, às vésperas da eleição, não foi caso isolado. A Emenda Constitucional nº 16, que aprovou a re-eleição para os cargos do executivo brasileiro, beneficiando diretamente o Presidente Fernando Henrique Cardoso, data de 4 de junho de 1997, apenas um ano e poucos meses antes do escrutínio de 1998. Mais recentemente, José Serra, enquanto pré-candidato e depois candidato à Presidência da República, defendeu explicitamente o fim da re-eleição, em óbvia tentativa de sinalizar apoio ao projeto de Aécio Neves para 2014 e viabilizar maior coesão do PSDB nas eleições de 2010. Não me parece tratar-se de modo republicano de lidar com as instituições democráticas.

Penso a questão da re-eleição em sua dimensão política de mudança intempestiva e casuística das regras do jogo democrático. As muitas alegações de corrupção e compra de votos no Parlamento, dominado pela aliança PSDB-PFL (esse último, o nome antigo do Democratas), deveriam ter sido mais bem investigadas. No entanto, não acredito em paladinos da moralidade; não são úteis à democracia, pois reduzem instituições e procedimentos à vontade dos “homens de bem”. A corrupção não é novidade em nenhuma democracia (alguns defendem mesmo que a corrupção seja constitutiva da democracia, na medida em que valores tradicionais se esgarçam e se perdem referenciais de ética em sociedades modernas e complexas); o que importa é fortalecer os mecanismos pelos quais uma nova ética pública, ainda que sempre precária, seja constituída, informada por instituições abertas à crítica e à possibilidade de reformas. É preciso analisar como funcionaram as instituições capazes de investigar e punir crimes e irregularidades e defender a Constituição.

A Polícia Federal (especialmente sob o comando de Márcio Thomaz Bastos, então Ministro da Justiça, e o Ministério Público Federal, e seus procuradores-gerais escolhidos pela própria instituição, têm dado mostras de isenção e grande ativismo nos últimos anos, o que contrasta com a lentidão e os constantes arquivamentos no Ministério Público sob a égide de Geraldo Brindeiro. A primeira votação feita pela Associação Nacional dos Procuradores da República para formar a lista tríplice ocorreu em 2001. Os mais votados foram os subprocuradores-gerais Antonio Fernando de Souza, Cláudio Fonteles e Ela Wiecko Volkmer de Castilho. O presidente Fernando Henrique Cardoso recusou os nomes. FHC preferiu reconduzir, pela quarta vez, Geraldo Brindeiro ao cargo de procurador-geral. À época, Brindeiro ganhou o apelido de “engavetador-geral da República”. O presidente Lula, apesar de não ser obrigado a seguir a lista da ANPR, prestigia desde 2003 os indicados pela instituição.

Acrescente-se que o governo FHC contou com ampla maioria no Congresso Nacional, podendo valer-se de inúmeras reformas constitucionais, do instrumento das medidas provisórias, coibido apenas em 2001, e vencendo as eleições, ambas as vezes, já no primeiro turno. Mas a grande imprensa brasileira não considerou nada disso um risco à democracia. Ora, sempre haverá riscos à democracia, e a sociedade deve estar em constante alerta, porém tais riscos não podem imobilizar a ação política, nem impedir a discussão de temas polêmicos.

Costuma-se falar, nesse sentido, que o governo Lula cerceia a liberdade de imprensa ou que tenta controlar os meios de comunicação social de massa. Na verdade, o governo enfrenta muitas resistências ao tentar aprofundar o caráter republicano e democrático de nosso sistema de comunicações. Tornou-se um tabu sequer discutir um novo marco regulatório do setor, quando o mesmo poderia ser construído de modo democrático, com o fim de tornar o acesso à informação mais amplo e sem qualquer atentado aos contratos existentes ou à liberdade de expressão. De certa forma, houve um avanço importante com a criação de empresa pública (não-estatal), sistema previsto no art. 223 de nossa Constituição. O sistema público presta contas à sociedade e não ao governo, como é o caso da Empresa Brasil de Comunicações (EBC), que segue o modelo bem-sucedido da Corporação Britânica de Difusão, a BBC, unificando e gerindo a Radiobrás e as emissoras federais já existentes sob um novo marco de controle social. Faz parte da democracia criticar a própria democracia, buscar mecanismos de seu aperfeiçoamento, assim como deve fazer parte dela a crítica a seu elemento constitutivo, a imprensa.

Política Externa

Aqui o divisor de águas é desconcertante. Com base em melhor compreensão da correlação internacional de forças e em crença permanente no potencial do Brasil, os condutores da política externa nacional enfrentaram com altivez os grandes temas que afligiam o Brasil. Foi relativizada a a fé do governo FHC em organismos multilaterais como ONU e OMC e na relação sempre preferencial com EUA e Europa, buscando-se abordagem mais pragmática que identificasse e conciliasse melhor os princípios e os interesses da sociedade brasileira. Façamos um apanhado:

 A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que representaria grandes perdas para o projeto de um Brasil e de uma América Latina soberanos e prósperos, foi exitosamente enterrada. O governo FHC parecia inclinado a buscar algum tipo de acordo com os EUA, que permitisse a entrada em vigor da ALCA. Os setores industriais e de serviços teriam sido afetados de forma quase irreversível.
 A Rodada Doha de negociações da OMC encontrou a firmeza de propósitos de um grupo que transformou a própria gramática dos arranjos políticos no âmbito daquela organização: o G-20, que reuniu países de agricultura de subsistência e grandes países exportadores em desenvolvimento para contra-arrestar o domínio da pauta e das decisões que exerciam Europa e EUA.
 Novas embaixadas foram abertas ou reabertas em inúmeras capitais da África e da Ásia. Essa ênfase em relações bilaterais com o mundo em desenvolvimento garante presença e informação de primeira-mão em ambientes cada vez mais cruciais para o desenvolvimento econômico mundial. Além disso, nossa capacidade de barganha frente às potencias ocidentais, sem dúvida importantes, aumenta consideravelmente na medida em que temos outras alternativas de comércio, intercâmbio, cooperação e investimento. Essa política também atende à reivindicação histórica de maior integração com a África e com a América Latina, regiões que compartilham conosco uma identidade, uma história de colonialismo, culturas, religiões e populações.

- Novos grupos foram criados para reinserir o Brasil no mundo de forma mais soberana e capaz de promover os seus interesses sem idealismos estéreis:

• O IBAS, articulação internacional de Brasil, Índia e África do Sul, representa uma aposta principista em valores democráticos comuns e também a consciência crítica do lugar que tais nações ocupam na hierarquia de poder do mundo, bem como a capacidade delas de lutar, conjuntamente, por sua superação.

• O BRIC, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, busca explorar áreas de cooperação entre grandes economias que tendem, permanecendo no rumo certo, a exercer cada vez mais influência na economia global.

• As cúpulas que reuniram os países da América do Sul e os países árabes abriram um campo promissor para o engajamento da sociedade brasileira, resgataram uma importante herança constitutiva de nossa nacionalidade e inseriram o Brasil e a América do Sul num jogo que é definidor do escopo de ação das grandes nações.

• As cúpulas que reuniram América do Sul e África desempenharam papel semelhante e forjaram relações que não apenas abrem mercados para o Brasil, mas, sobretudo, contribuem para o desenvolvimento sustentável africano, interessante para o Brasil no longo prazo, especialmente com padrão inovador de cooperação técnica nas áreas de agricultura, energia, biocombustíveis, educação e medicina.

• O início do fim do G-8 e sua paulatina substituição pelo G-20 financeiro, por definição mais inclusivo, não ocorreram sem a posição convicta do Brasil de que um novo espaço, em que tivéssemos participação integral, fosse estabelecido (no G-8 éramos convidados, porém devíamos chegar quando os debates fundamentais já haviam sido travados).

• A União das Nações Sul-americanas (UNASUL, de 2004)) deu expressão concreta ao desejo de integração física e cooperação política dos povos de nosso continente.

• A primeira Cúpula dos Estados da América Latina e do Caribe (de 2009, na Costa do Sauípe, Bahia) constituiu novo espaço de discussão valioso de um grupo de nações que se vê em situação similar no contexto de globalização econômica e cultural, e em posição semelhante diante da riqueza de seus vizinhos ao norte do Rio Grande (que separa o México dos EUA).

- O Brasil não se furtou a atuar com coragem e independência no Conselho de Segurança das Nações Unidas, acreditando na sua capacidade de negociação, no que representamos de novo no jogo de poder tradicional e em nossa competência diplomática. No que diz respeito à questão nuclear iraniana, o resultado foi um acordo entre Brasil, Turquia e Irã (a Declaração de Teerã) que será lembrado sempre como tentativa digna de evitar a guerra, ou mais propriamente, de evitar o desenho de um caminho de sanções e reprimendas que geram radicalização de ambos os lados e aumentam sobremaneira o risco da guerra. Por um lado, caso a guerra ocorra, o acordo terá sido a prova de que havia uma alternativa. Por outro, caso um acordo abrangente com o Irã seja alcançado, é inevitável que elementos da referida Declaração sejam utilizados. E nos momentos de indefinição, como o atual, a ação brasileira constitui exemplo de que é perfeitamente possível discutir racionalmente com os líderes iranianos e que uma atitude de cooperação é mais produtiva que a arrogância dos ultimatos.

É por tudo isso, em nome da democracia e por todas as conquistas do governo Lula, que defendo a candidatura Dilma 13. A alternativa do PSDB-PFL/Democratas não pode representar a continuidade de nossas conquistas recentes, apesar de discursos falaciosos que fazem tudo parecer uma questão de gerenciamento dos atuais modelos e programas, que dependeria da experiência ou da competência dos líderes. Há diferenças de fundo, que não podem ser reduzidas sem estelionato eleitoral, e que passam por compreensões díspares do lugar do Brasil no mundo, do potencial de desenvolvimento e igualdade da sociedade brasileira e do papel do Estado em nosso espinhoso caminhar de emancipação social e econômica. Essas diferenças, por seu turno, podem-se refletir em oportunidades ou entraves para a vida digna e a autonomia de milhões de brasileiros. Aos que votaram nulo, se abstiveram, optaram por Marina, ou por outros candidatos da esquerda, faço um apelo sincero para que não deixem de escolher um dos dois projetos conflitantes que se apresentam hoje ao Brasil."

Pablo Ghetti

* O
texto abaixo é de autoria do campista Pablo Ghetti. Pablo é diplomata e PhD em Direito pela Universidade de Londres (Birkbeck) e mora atualmente em Brasília, depois de viver mais de cinco anos em Londres. O texto fui publicado no Blog do Roberto Moraes.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bolinha de papel


Bolinha de papel

João Gilberto

Composição: Geraldo Pereira

Só tenho medo da falseta,
Mas adoro a Julieta como adoro a
Papai do Céu
Quero seu amor, minha santinha
Mas só não quero que me faça de bolinha de papel
Tiro você do emprego,
Dou-lhe amor e sossego,
Vou ao banco e tiro tudo pra você gastar
Posso, Julieta, lhe mostrar a caderneta
Se você duvidar

Cinco Ondas da campanha contra Dilma Rousseff

or Rodrigo Vianna

O jornalista Tony Chastinet é um especialista em desvendar ações criminosas. Sejam elas cometidas por traficantes, assaltantes de banco, bandidos de farda ou gangues do colarinho branco. Foi o Tony que ajudou a mostrar os caminhos da calúnia contra Dilma, como você pode ler aqui.

O Tony é também um estudioso de inteligência e contra-inteligência militar. E ele detectou, na atual campanha eleitoral, o uso de técnicas típicas de estrategistas militares: desde setembro, temos visto ações massivas com o objetivo de disseminar “falsa informação”, “desinformação” e criar “decepção” e “dúvida” em relação a Dilma. São conceitos típicos dessa área militar, mas usados também em batalhas políticas ou corporativas – como podemos ler, por exemplo, nesse site.

Na atual campanha, nada disso é feito às claras, até porque tiraria parte do impacto. Mas é feito às sombras, com a utilização de uma rede sofisticada, bem-treinada, instruída. Detectamos nessa campanha, desde a reta final do primeiro turno, 4 ondas de contra informação muito claras.

1) Primeira Onda – emails e ações eletrônicas: mensagens disseminadas por email ou pelas redes sociais, com informações sobre a “Dilma abortista”, “Dilma terrorista”, “Dilma contra Jesus”; foi essa técnica, associada aos sermões de padres e pastores, que garantiu o segundo turno.

2) Segunda Onda – panfletos: foi a fase iniciada na reta final do primeiro turno e retomada com toda força no segundo turno; aqueles “boatos” disformes que chegavam pela internet, agora ganham forma; o povão acredita mais naquilo que está impresso, no papel; é informação concreta, é “verdade” a reforçar os “boatos” de antes;

3) Terceira Onda – telemarketing: um passo a mais para dar crédito aos boatos; reparem, agora a informação chega por uma voz de verdade, é alguém de carne e osso contando pro cidadão aquilo tudo que ele já tinha “ouvido falar”.

4) Quarta Onda – pichações e faixas nas ruas: a boataria deixa de frequentar espaços privados e cai na rua; “Cristãos não querem Dilma e PT”; “Dilma é contra Igreja”; mais um reforço na estratégia. Faixas desse tipo apareceram ontem em São Paulo, como eu contei aqui.

O PT fica, o tempo todo, correndo atrás do prejuízo. Reparem que agora o partido tenta desarmar a onda do telemarketing. Quando conseguir, a onda provavelmente já terá mudado para as pichações.

Há também a hipótese de todas as ondas voltarem, ao mesmo tempo, com toda força, na última semana de campanha. Tudo isso não é por acaso. Há uma estratégia, como nas ações militares.

O que preocupa é que, assim como nas guerras, os que tentam derrotar Dilma parecem não enxergar meio termo: é a vitória completa, ou nada. É tudo ou nada – pouco importando os “danos colaterais” dessas ações para nossa Democracia.

Reparem que essas ondas todas não foram capazes de destruir a candidatura de Dilma. Ao contrário, a petista parece ter recuperado força na última semana. Mas as dúvidas sobre Dilma ainda estão no ar.

Minha mulher fez uma “quali” curiosa nos últimos dias. Saiu perguntando pro taxista, pro funcionário da oficina mecânica, pro vigia da rua de baixo, pra moça da farmácia: em quem vocês vão votar? Nessa eleição, pessoas humildes- quando são indagadas por alguém de classe média sobre o assunto - parecem se intimidar. Uns disseram, bem baixinho: “voto na Dilma”, outros disseram “não sei ainda”. Quando minha mulher disse que ia votar na Dilma, aí as pesoas se abriram, declararam voto. Mas ainda com algum medo de serem ouvidos por outros que chamam Dilma de “terrorista”, “vagabunda”, “matadora de criancinhas”.

O que concluo: as técnicas de contra-inteligência de Serra conseguiram deixar parte do eleitorado de Dilma na defensiva. As pessoas – em São Paulo, sobretudo -têm certo medo de dizer que vão votar em Dilma.

Esse eleitorado pode ser sensível a escândalos de última hora. Não falo de Erenice, Receita Federal, Amaury – nada disso.

Tony teme que as o desdobramento final da campanha (ou seja a “Quinta Onda”) inclua técnicas conhecidas nessa área estratégico-militar: criar fatos concretos que façam as pessoas acreditarem nos boatos espalhados antes.

Do que estamos falando? Imaginem uma Igreja queimando no Nordeste, e panfletos de petistas espalhados pela Igreja. Imaginem um carro de uma emissora de TV ou editora quebrado por “raivosos petistas”.

Paranóia?

Não. Lembrem como agiam as forças obscuras que tentaram conter a redemocratização no Brasil no fim dos anos 70. Promoveram atentados, para jogar a culpa na esquerda, e mostrar que democracia não era possível porque os “terroristas” da esquerda estavam em ação. Às vezes, sai errado, como no RioCentro.

Por isso, vejo com extrema preocupação o que ocoreu hoje no Rio: militantes do PT e PSDB se enfrentaram numa passeta de Serra. É tudo que o que os tucanos querem na reta final: a estratégia, a lógica, leva a isso. Eles precisam de imagens espataculares de “violência”, da “Dilma perigosa”, do “PT agitador” – para coroar a campanha iniciada em agosto/setembro.

Espero que o Tony esteja errado, e que a Quinta Onda não venha. Se vier, vai estourar semana que vem: quando não haverá tempo para investigar, nem para saber de onde vieram os ataques.

Tudo isso faz ainda mais sentido depois de ler o que foi publicado aqui , pelo ”Correio do Brasil”: uma Fundação dos EUA mostra que agentes da CIA e brasileiros cooptados pela CIA estariam atuando no Brasil – exatamente como no pré-64.

Como já disse um leitor: FHC queria fazer do Brasil um México do sul (dependente dos EUA), Serra talvez queira nos transformar em Honduras (com instituições em frangalhos).

Os indícios estão todo aí. Essa não é uma campanha só “política”. Muito mais está em jogo. Técnicas de inteligência militares estão sendo usadas. Bobagem imaginar que não sejam aprofundadas nos dez dias que sobram de campanha.

Por isso, o desespero do PSDB com as pesquisas. Ele precisa chegar à ultima semana com diferença pequena. Se abrir muito, até a elite vai desconfiar das atitudes das sombras, vai parecer apelação demais.

Por último, uma pergunta: por que o “JN” adiou o Ibope – que deveria ter sido divulgado ontem? Porque Serra estava na bancada do jornal.

A Globo não quis constranger Serra com uma pesquisa ruim? Imaginem as pressões sobre Montenegro, de ontem pra hoje? O PSDB precisa segurar a diferença em 8 pontos no máximo.Para que a estratégina de ataque final, na última semana, tenha chance de surtir efeitos.

Estejamos preparados pra tudo. E evitemos entregar à turma das sombras o que ela quer: agressões contra Serra, contra Igrejas, contra carros de reportagem.

O Brasil precisa respirar fundo e passar por esse túnel de sombras em que acampanha de Serra nos lançou.

Cesaropapismo às avessas ou o Retorno do Padroado pulverizado


Instantaneamente, detonou em minha boca o paladar do Guaraná Ita que bebia antes das aulas de História do amigo Renato Barreto. Demorei a compreender a memória gustativa, mas em seguida descobri o porquê. Em minha memória estavam encobertos as proposições do professor sobre o regime do padroado. Em linhas bastante gerais, o acordo devia-se a um tratado entre os países ibéricos e a Igreja Católica que teve impacto no Brasil, onde esta religião teria o monopólio da Fé em troca da auto-adminstração das Igrejas. Ou seja, o Estado bancava as igrejas e impedia a entrada de novos concorrentes, e a Igreja cedia as nomeações de padres e bispos ao Estado. Porém, também me recordo que a assistência social era concedida pela própria Igreja. Lembro-me, por exemplo, da roda dos excluídos e outros tantos serviços como os registros de nascimento que se misturavam ao batismo, assim como os registros casamento etc.
Entretanto, ao doce do Guaraná se misturou também um estranho amargo. Foi quando voltei às consciência e reli a matéria replicada abaixo.
Toda comparação de períodos históricos é absolutamente complexa e corre o sério risco de cair no ridículo. Mas confesso que fiquei intrigado com a proposta do PSDB de privatizar o sistema assistencial no Brasil e entregá-lo às Igrejas.


Da FOLHA DE SÃO PAULO

Campanha de Serra faz ofertas a evangélicos


BRENO COSTA
DE SÃO PAULO



A campanha de José Serra (PSDB) está oferecendo benefícios a igrejas evangélicas e a entidades a elas ligadas em troca de apoio de pastores à candidatura tucana. O mesmo foi feito na campanha do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O responsável pelo contato com os líderes é Alcides Cantóia Jr., pastor da Assembleia de Deus em São Paulo.

Ele responde pela "coordenadoria de evangélicos" da campanha, criada ainda no primeiro turno exclusivamente para angariar apoios entre evangélicos.

"Disparo entre 150 e 200 telefonemas por dia, mais ou menos", diz Cantóia, que trabalha numa espécie de guichê montado no térreo do edifício Praça da Bandeira (antigo Joelma), quartel-general da campanha de Serra. No local, ele também recebe pastores para "um café".

Os telefonemas são feitos para pastores de várias denominações em todo o Estado de São Paulo, em busca de pedido de voto em Serra entre os fiéis de suas respectivas igrejas.

Segundo Cantóia, entre os argumentos para conquistar o engajamento dos evangélicos, além do discurso relativo a valores, como a posição contrária à descriminalização do aborto, está a promessa de apoio a parcerias entre essas igrejas e entidades assistenciais a elas vinculadas com prefeituras e governo, em caso de vitória tucana.

Como exemplo, cita a possibilidade de, com os tucanos no poder, igrejas poderem oferecer apoio a crianças e adolescentes, complementando o período que elas passam na escola. Assistência a idosos também é citada.

"O objetivo é levar as crianças para dentro da igreja", afirma o pastor. "Esse é um dos argumentos. Seriam igrejas em tempo integral, complementando a atividade da escola."

Cantóia afirma, também, tentar intermediar demandas recebidas de pastores junto a prefeituras. Por exemplo, pedidos para que entidades funcionem como creche ou que virem intermediárias do programa Viva Leite, do governo estadual.

Alcides diz ter sido um dos articuladores que levou os pastores Silas Malafaia, do Rio de Janeiro, e José Wellington Bezerra, de São Paulo, ambos da Assembleia de Deus, a gravarem depoimentos de apoio a Serra, exibidos em sua propaganda na TV.

O Conselho dos Pastores de São Paulo, que reúne representantes de diversas denominações protestantes, estima que cerca de 80 mil pastores em SP apoiem Serra.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Detalhes sobre o telemarketing do mal

Por Rodrigo Viana

http://www.escrevinhador.com.br/

Enquanto alguns no PT comemoram o Vox Populi, Serra já contra-ataca.

Vamos deixar claro: essa é a eleição dos movimentos subterrâneos, não captados pelas pesquisas. No primeiro turno, o PT acreditou nas “qualis” e na “eleição decidida”. Os boatos moveram a montanha e levaram Serra (com a mãozinha verde de Marina) para o segundo turno.

Agora, as pesquisas refletem o bom momento de Dilma, que mudou a pauta semana passada (trouxe à tona Paulo Preto, privatizações e a onda de baixarias).

Só que já há uma nova onda, que pode ter reflexos nas pesquisas da semana que vem: é o terrorismo difuso! Ele vem na forma de panfletos (distribuídos de porta em porta nas áreas mais pobres do Nordeste), com afirmações maldosas sobre a vida sexual de Dilma; e vem , também, na forma de um gigantesco esquema de telemarketing.

No Escrevinhador, já noticiei esse fato aqui.

De ontem, pra hoje, recebi – via twitter e também no blog - dezenas de mensagens de pessoas que receberam ligações. É o telemarketing das sombras em ação.

Alguns exemplos:

- PaulaBeiro @rvianna Hj ligaram aqui para casa (Goiânia) com gravação contra Dilma.

- @Eleitor_2010 Eu achava q o tal telefonema do PSDB falando da Dilma era lenda! Olha o número aí! Acabei d atender: http://twitpic.com/2z1b89

Porto Alegre parece ter sido a cidade mais bombardeada, nas últimas 24 horas.

Vários leitores (alguns pedem sigilo) informam ter recebido a ligação de um outro número, de São Paulo: (11) 3511-1700. Liguei para lá. Uma mensagem informa que o o telefone “está programado pelo assinante para não receber ligações”.

Com ajuda do tuiteiro “páginadois”, descobrimos o nome da empresa que está autorizada pela Anatel a prestar esse tipo de serviço. A empresa fica no bairro do Paraíso, em São Paulo. Levantamos todos os dados: endereço, sócios etc. Preservamos o nome da empresa porque – aparentemente – é apenas uma prestadora de serviço.

Pode ter sido contratada para dar suporte à central de telemarketing – mas sem responsabilidade pelo conteúdo. Basta à campanha de Dilma acionar a PF e o MPE, para saber quem contratou a empresa. É algo que pode ser feito rapidamente.

O que pode ser feito também: quem receber a ligação deve tentar gravá-la. Várias secretárias eletrônicas têm esse serviço!

Há mais números de telefone, e nomes de outras empresas de telefonia. Marco Aurelio Weissheimer, do RS Urgente, também está investigando o assunto.

Mas a campanha do terror difuso não se restringe ao telemarketing.

- Há os panfletos religiosos (alguns apreendidos, mas milhares de outros sendo produzidos e estocados). Estamos checando nesse momento a denúncia de uma outra gráfica com panfletos contra Dilma.

São apenas alguns exemplos do que será a campanha até dia 31. Quem acredita em eleição já definida não conhece o “Coiso”. Botou na cabeça que deve ser o próximo presidente. Se tiver que criar um clima de conflagração pra isso, vai criar!

Pode-se esperar qualquer coisa até o dia da eleição.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Educação para poucos?

Texto de um colega, sobre o que se pode esperar de um governo Serra em relação à educação.

Li e subscrevo o Manifesto de Professores pela Educação Pública.

Acho que pode ser interessante a leitura do texto aos colegas
professores ou a quem já pode desfrutar do ensino público superior,
algumas palavras sobre a situação do ensino em São Paulo a partir dos
profissionais com ela envolvidos.

Não tenho a menor pretensão de alterar a opinião de ninguém. Mas dado
o obscurantismo neomedieval no qual se vê reduzido o debate destas
eleições no segundo turno, acredito que valha a pena a leitura, bem
como relembrar um personagem estranhamente evitado pelo discurso do
candidato José Serra, que mencionarei abaixo.

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=571&msg=Coment%26aacute%3Brio%20enviado%20com%20sucesso!&CFID=22034581&CFTOKEN=5d6e59d451cdf576-BB689EBC-C0F1-6883-96AD0FD611E3730C

Educação é um assunto sério, e basta procurar o que tem sido noticiado
sobre a atuação do famigerado ministro da educação do governo Fernando
Henrique Cardoso, o senhor Paulo Renato Souza, para ver com que
seriedade ele tem tratado o assunto no atual governo do estado de São
Paulo:

http://www.pt-sp.org.br/noticia.asp?p=Opini%E3o&acao=verNoticia&id=1397

Claro que um texto na página disponível na página do próprio PT só
poderia ser de crítica ao Serra e seus aliados, pode-se pensar em uma
primeira leitura.
Felizmente, o senhor Paulo Renato Souza é um sujeito de honestidade
impar. Ele realmente fala o que pensa sobre o ensino superior e a
partir disto, pode-se antever claramente um projeto de ensino com
nuances claras de elitismo. As palavas do provável ministro da
educação de um eventual presidente José Serra deixam isto claro:

Em uma entrevista concedida à revista Veja, há cerca de um ano:
http://veja.abril.com.br/281009/contra-corporativismo-p-019.shtml

A visão de Paulo Renato não é mal intencionada ou execrável, longe
disto. A instauração de critérios de avaliação para o ensino,
especialmente o superior (o que ele critica com maior veemência), tem
sido realizada nas últimas duas décadas e se encontra em estágio
bastante avançado, haja vista as avaliações periódicas do MEC aos
cursos de graduação; o gargantuesco relatório CAPES, tormento de todo
coordenador de Programa de Pós-Graduação; que contribuem para que os
professores sejam, cada vez mais, tanto pesquisadores quanto
profissionais vinculados ao ensino (deve-se ter em vista que o papel
da extensão universitária ainda precisa ser formalizado de um modo
mais objetivo). Adicionalmente, a instauração de classificações para
periódicos, mesmo com os problemas que possuem, quebram a lógica da
publicação por compadrio e obrigam os periódicos a terem conselhos
editoriais e revisores para a publicação de artigos acadêmicos,
melhorando a qualidade do que se publica no país; por fim, cada linha
do currículo Lattes é valiosa, o que leva a geração de uma
considerável neurose produtivista, que por mais perniciosa que seja,
com certeza é preferível ao marasmo e a um pradão anterior, no qual
apenas produzia-se pesquisa nos grandes centros, nas grandes
universidades (leia-se, no eixo RJ-SP), sendo as demais instituições
meros "colegiões" de ensino superior.

O estranho é que o que Paulo Renato parece clamar pela instauração de
uma meritocracia que já existe, em boa parte, no ensino superior. Seu
argumento é o de que as resistências a instauração de critérios
"meritocráticos" no ensino são fruto do "corporativismo" dos
professores. Tudo decorre da sobreposição indevida de ideologia à
racionalidade, segundo ele, que parece identificar as universidades
públicas com o que qualifica como "um marxismo de segundo ou terceiro
nível" e em sua análise, possivelmente a concepção liberal de que a
concorrência e competição são "em si" positivas não é ideológica; a
pecha de "idelógico" como sinônimo de "não racional" parece ser
exclusividade do pensamento marxista. A despeito das inclinações
pessoais dos professores pelo liberalismo ou pelo marxismo, um
imperativo básico (se existe algum) para qualquer diálogo realmente
produtivo sobre educação é um pluralismo mínimo, uma certa humildade
em se admitir que talvez (apenas talvez) que nem sempre a competição e
a concorrência sejam produtivas (imperativo liberal); assim como a
educação não deve reduzida a um meio para uma revolução socialista.
Estas duas concepções, levadas a seu extremo, ainda cheiram ao
determinismo científico próprio do fim do século XIX.

Sua versão liberal que, apropriando-se dos conceito de "luta pela
vida" e "sobrevivência dos mais aptos" apresentados por Darwin em seu
revolucionário "A Origem das Espécies", aplicava-o às sociedades
humanas, justificando as desigualdades de renda e a existência de
diferentes classes sociais com base nas desigualdades naturais
(qualidades ou defeitos pessoais) e naturalizando a sociedade
vitoriana: é o famoso "evolucionismo liberal", que ainda está vivo e
saudável em muitas esferas políticas e possui fortes afinidades
eletivas com boa parte do discurso de Paulo Renato. Um exemplo claro
foi uma polêmica recente com Lula, que segundo Paulo Renato "Lula não
estudou porque não quis; porque não valoriza a educação" (o texto
completo pode ser lido no site do próprio Paulo Renato:
http://www.paulorenatosouza.com.br/reportagemnoticia.asp?id=776).

A versão marxista desde progressismo vitoriano não é muito diversa.
Marx e Engels eram admiradores confessos da obra de Darwin e o modo
como é concebida a sucessão necessária entre os modos de produção, em
especial, a ênfase dada, pelo materialismo histórico (portanto, após a
morte de Marx, especialmente na sua vertente soviética) quanto à
inevitabilidade do colapso do capitalismo lembram muito do espírito da
Belle Epoque, aquele saudoso período no qual realmente se acreditava
que a ciência conduziria ao melhor dos mundos. Numerosos exemplos, ao
longo do século XX, permitiram ver que o colapso do "capitalismo"
talvez não fosse tão inevitável. Possivelmente porque "capitalismo"
não defina a mesma coisa que era designada por Marx, como modo de
produção, e as diversas metamorfoses que este conceito sofreu nos
últimos 160 anos.

Em suma, o debate sobre a educação, em especial no que tange ao ensino
superior, não pode ser reduzido a uma questão de fé. Explico: tanto a
posição liberal estrita defendida por Paulo Renato, quanto neste
marxismo (bastante raro, diga-se de passagem) que ele critica padecem
do mesmo problema - sustentam-se na "crença" na "fé" em sobrevivências
de um progressismo racionalista de fins do século XIX. O estágio no
qual se encontram os debates sobre a ciência e a razão no âmbito do
ensino superior não nos permitem admitir simplificações grosseiras
como estas duas posições extremas. É preciso que haja debate entre
propostas para a educação e o ensino, não promessas ou fórmulas
prontas como a apresentada por Paulo Renato.

Serra promete a criação de 1000000 de vagas no ensino técnico. O
número impressiona. Mas o cobertor é curto, de onde sairão verbas para
isto?
Tudo indica que o projeto de um eventual governo Serra seria retomar a
idéia aventada no governo Fernando Henrique e defendida abertamente
por Paulo Renato Souza. Ensino Superior, produção de tecnologia,
pesquisa não devem ser investimentos prioritários do Estado. As
universidades são para uma minoria da população brasileira, o que deve
ser oferecido para o povo é ensino técnico: mais barato, massificante
e rápido. Evidenciam-se os contornos de um projeto da educação de um
governo Serra, ninguém melhor do que Paulo Renato Souza para nos
explicar um dos pontos fundamentais dele:

"Pergunta:Em muitos países, as universidades públicas cobram
mensalidade dos estudantes que têm condições de pagar. Seria bom
também para o Brasil?
Paulo Renato: Sem dúvida. Só que esse é um tabu antigo no país. Se
você defende essa bandeira, logo o identificam como alguém que quer
privatizar o sistema. Preservar a universidade gratuita virou uma
questão de honra nacional. Bobagem. É preciso, de uma vez por todas,
começar a enxergar as questões da educação no Brasil com mais
pragmatismo e menos ideologia." (Extraído de entrevista a revista Veja
de 28/10/2009, acima citada).


Com certeza o governo atual está cometendo equívocos, omissões, etc.
Mas está investindo na educação, a partir de um modelo que visa
expansão do ensino, da pesquisa e da extensão. Conheço melhor o âmbito
do ensino superior, por isso me concentrei nele ao apresentar as
idéias acima.

Se há uma coisa que não tenho é certeza, mas isso não quer dizer que
algumas coisas não sejam certas. Uma delas me parece ser o fato de que
é melhor investir em educação, no ensino superior e em pesquisa e
extensão, mesmo sob pena de eventuais excessos, equívocos ou
similares, do que considerar isto algo como algo fora da competência
do estado ou justificar cortes de gastos públicos com educação com
base na "incompetência" de professores e gestores responsáveis pelas
instituições federais e estatais. Os critérios da iniciativa privada
são diversos das competências do governo em matéria de educação.
Exemplos simples: os laboratórios, capital pesado em pesquisas em áreas
vinculadas a desenvolvimento de medicamentos, alimentos, etc. Há
afinidades de interesses envolvidas, logo, colaboração. Em muitos
outros âmbitos observa-se o mesmo. Contudo... dificilmente uma empresa
privada (qualquer que seja) financiará uma pesquisa em filosofia, em
ciências sociais ou mesmo em história (embora, timidamente, este
quadro esteja mudando). O movimento é de mão dupla, de nada adianta
dizer que as universidades demonizam a iniciativa privada, se esta
mantém uma imagem de que o conhecimento produzido na universidade é
bacharelesco, portanto inútil. Paulo Renato, provável ministro da
educação em um governo Serra, defende uma visão tão extremista e
simplificadora quanto a que critica nos marxistas mais extremados
(talvez se irrite com eles pela identificação de suas posições
extremas): iniciativa privada é bom, sinal de competência; ensino
público é ineficaz, arredio à instauração da meritocracia de cima para
baixo, logo ruim.

Talvez uma alternativa para este aparente dilema entre extremos seja
retomar a base de qualquer democracia: o diálogo. Sem posições
irredutíveis. Sem fés inabaláveis (ou inatacáveis). Evitando
fundamentalismos de qualquer ordem.

Agradeço a atenção do(a) eventual corajoso(a) que tenha se disposto a
ler estas idéias e espero que ajudem a pensar e argumentar.

Um abraço a todos(as).
Francis Almeida – Professor/UFSM