LULA – O MAIOR ESTADISTA BRASILEIRO
Fabricio Maciel e
Roberto Torres
Nenhum bom livro de história do Brasil celebrou algum estadista brasileiro, até agora, mais do que Getúlio. Talvez Juscelino tenha chegado perto, com seu super plano de desenvolvimento. Mas a questão central que marcou a era Vargas foi maior do que a questão do desenvolvimento. Ele precisou enfrentar a primeira questão social do Brasil moderno, ou seja, iniciar a institucionalização da condição da classe trabalhadora enquanto digna de respeito mínimo, através de direitos básicos. Esta grande ação estatal certamente incomodou as elites agrárias brasileiras da época, para as quais, boa parte de seus explorados davam com isso um passo a frente em sua condição social.
Atualmente, alguns rumores, tanto do bem quanto do mal, já comparam Lula a Getúlio. Nenhum outro presidente brasileiro provocou tão fortemente a comparação, nenhum outro ousou desafiar o lugar canonizado de Getúlio, “pai dos trabalhadores”, em nosso imaginário nacional. Por que tanto admiradores quanto inimigos não conseguem escapar da comparação? Por que Lula incomoda. É impossível não perceber sua singularidade como pessoa, homem público e principalmente líder político. A esta altura do campeonato, falar da trajetória pessoal de Lula já é o de menos. Não precisamos nos prender a esta propaganda ideológica. Podemos recorrer a realizações concretas deste grande estadista, para compreender porque ele já tomou o trono de maior estadista brasileiro de todos os tempos.
Depois da reabertura democrática institucional, o Brasil cambaleou por mais de uma década, apostando todas as fichas na política econômica derivada da reestruturação produtiva mundial das últimas três décadas. Agora, parece que o Brasil finalmente toma seu rumo. Não apenas por que a política econômica de Lula é melhor do que as anteriores, superando-as, e não simplesmente sendo mais uma continuidade, como maldosos críticos vêm tentando sugerir. O que mais incomoda a seus inimigos é que ele finalmente enfrentou a grande questão social brasileira desde a integração getulista dos trabalhadores: o abandono político de nossa ralé, a parte de nosso povo desqualificada pelo mercado, que há gerações vaga entre a miséria e o trabalho extremamente precário.
O Bolsa Família é apenas o começo de uma nova era, que busca integrar à nação brasileira sua classe mais carente. Afinal, este é o único sentido verdadeiro da idéia de nação. Este é o papel mais digno que um estadista pode realizar. Utilizar a força do Estado nacional, cuja idéia só faz sentido quando inclui proteção social de todas as classes, para compensar relativamente aqueles que perderam no mercado. Por isso Lula incomoda tanto, incomoda aos inimigos do povo, incomoda principalmente a frações privilegiadas de classes integradas que sempre utilizaram o termo nação ideologicamente, no sentido da brasilidade, no qual todos somos “um” apenas na alegria, e nunca nos privilégios.
Episódios recentes envolvendo a fúria irracional da grande mídia só comprovam o gigantismo de Lula. Pela primeira vez um estadista brasileiro consegue estabelecer um vínculo afetivo verdadeiro com sua nação, e principalmente com aqueles que mais precisam. Lula seria mais um ideólogo da nação se este vínculo fosse meramente um paternalismo afetivo, forte angariador de votos. Mas não é. Lula expressa sua preocupação com os mais carentes falando diretamente a eles e, mais do que isso, o que realmente importa, iniciando na prática a solução de seu problema.
Mais do que Getúlio, Lula realmente incomoda a maior parte dos privilegiados e a todo o pensamento conservador, liberal e meritocrático, que há tempo já se tornou religião civil no Brasil. Ele consegue driblar todo o egoísmo institucionalizado das elites e classes médias com suas medidas práticas e legítimas de transferência de renda. A força de Lula é tamanha que ele se comunica com a nação cotidianamente, usando em seu favor o potencial de um de seus maiores inimigos, a grande mídia. O atual mal-caratismo indutivista e reducionista desta instituição não consegue impedir que Lula diga sempre a verdade sobre o egoísmo de todos os que se sentem incomodados com sua política social. Esta atitude faz com que ele não seja apenas um governante institucional e um administrador, apenas mais um presidente, mas que incorpore o verdadeiro sentido de um estadista, a saber, o daquele que age concretamente em favor da segurança social de todos os seus representados. A inclusao no patamar de seguranca social de um cidadao digno (algo para o que a política social de Lula aponta no horizonte) é para o Estado Nacao chamado Brasil a questao mais visionária que se pode colocar na agenda política. E nisto Lula foi até hoje o maior.
A importancia de Lula como chefe de Estado é a sua forma inovadora, revolucionária de se fazer representar como tal. Ao invés de entrar no falso endereco do homem público que seria capaz de por as questoes de Estado àcima dos interesses políticos, Lula é o chefe de Estado mais importante da nossa história até aqui justamente porque mostra o outro lado desta fórmula: colocar questoes de Estado acima de interesses políticos é fazer com que determinados interesses, antes na completa berlinda, possam ser vistos como interesses de Estado. Se Getúlio foi grande por colocar os interesses dos "setores médios" na agenda nacional, Lula foi maior justamente porque fez isso com os excluídos.
(Aproveitamos para desejar um feliz 2010 a todos os nossos amigos e a todos os amigos do povo brasileiro. Desejamos que 2010 e os anos seguintes no Brasil vivenciem a continuação progressiva das mudanças sociais e da melhora de vida dos mais carentes. Dedicamos este texto a todas as pessoas que já sofreram privações materiais e morais no mundo. Dedicamos também a nossos pais, eternos batalhadores. A eles, nosso muito obrigado.)