quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

LULA – O MAIOR ESTADISTA BRASILEIRO


Fabricio Maciel e

Roberto Torres


Nenhum bom livro de história do Brasil celebrou algum estadista brasileiro, até agora, mais do que Getúlio. Talvez Juscelino tenha chegado perto, com seu super plano de desenvolvimento. Mas a questão central que marcou a era Vargas foi maior do que a questão do desenvolvimento. Ele precisou enfrentar a primeira questão social do Brasil moderno, ou seja, iniciar a institucionalização da condição da classe trabalhadora enquanto digna de respeito mínimo, através de direitos básicos. Esta grande ação estatal certamente incomodou as elites agrárias brasileiras da época, para as quais, boa parte de seus explorados davam com isso um passo a frente em sua condição social.

Atualmente, alguns rumores, tanto do bem quanto do mal, já comparam Lula a Getúlio. Nenhum outro presidente brasileiro provocou tão fortemente a comparação, nenhum outro ousou desafiar o lugar canonizado de Getúlio, “pai dos trabalhadores”, em nosso imaginário nacional. Por que tanto admiradores quanto inimigos não conseguem escapar da comparação? Por que Lula incomoda. É impossível não perceber sua singularidade como pessoa, homem público e principalmente líder político. A esta altura do campeonato, falar da trajetória pessoal de Lula já é o de menos. Não precisamos nos prender a esta propaganda ideológica. Podemos recorrer a realizações concretas deste grande estadista, para compreender porque ele já tomou o trono de maior estadista brasileiro de todos os tempos.

Depois da reabertura democrática institucional, o Brasil cambaleou por mais de uma década, apostando todas as fichas na política econômica derivada da reestruturação produtiva mundial das últimas três décadas. Agora, parece que o Brasil finalmente toma seu rumo. Não apenas por que a política econômica de Lula é melhor do que as anteriores, superando-as, e não simplesmente sendo mais uma continuidade, como maldosos críticos vêm tentando sugerir. O que mais incomoda a seus inimigos é que ele finalmente enfrentou a grande questão social brasileira desde a integração getulista dos trabalhadores: o abandono político de nossa ralé, a parte de nosso povo desqualificada pelo mercado, que há gerações vaga entre a miséria e o trabalho extremamente precário.

O Bolsa Família é apenas o começo de uma nova era, que busca integrar à nação brasileira sua classe mais carente. Afinal, este é o único sentido verdadeiro da idéia de nação. Este é o papel mais digno que um estadista pode realizar. Utilizar a força do Estado nacional, cuja idéia só faz sentido quando inclui proteção social de todas as classes, para compensar relativamente aqueles que perderam no mercado. Por isso Lula incomoda tanto, incomoda aos inimigos do povo, incomoda principalmente a frações privilegiadas de classes integradas que sempre utilizaram o termo nação ideologicamente, no sentido da brasilidade, no qual todos somos “um” apenas na alegria, e nunca nos privilégios.

Episódios recentes envolvendo a fúria irracional da grande mídia só comprovam o gigantismo de Lula. Pela primeira vez um estadista brasileiro consegue estabelecer um vínculo afetivo verdadeiro com sua nação, e principalmente com aqueles que mais precisam. Lula seria mais um ideólogo da nação se este vínculo fosse meramente um paternalismo afetivo, forte angariador de votos. Mas não é. Lula expressa sua preocupação com os mais carentes falando diretamente a eles e, mais do que isso, o que realmente importa, iniciando na prática a solução de seu problema.

Mais do que Getúlio, Lula realmente incomoda a maior parte dos privilegiados e a todo o pensamento conservador, liberal e meritocrático, que há tempo já se tornou religião civil no Brasil. Ele consegue driblar todo o egoísmo institucionalizado das elites e classes médias com suas medidas práticas e legítimas de transferência de renda. A força de Lula é tamanha que ele se comunica com a nação cotidianamente, usando em seu favor o potencial de um de seus maiores inimigos, a grande mídia. O atual mal-caratismo indutivista e reducionista desta instituição não consegue impedir que Lula diga sempre a verdade sobre o egoísmo de todos os que se sentem incomodados com sua política social. Esta atitude faz com que ele não seja apenas um governante institucional e um administrador, apenas mais um presidente, mas que incorpore o verdadeiro sentido de um estadista, a saber, o daquele que age concretamente em favor da segurança social de todos os seus representados. A inclusao no patamar de seguranca social de um cidadao digno (algo para o que a política social de Lula aponta no horizonte) é para o Estado Nacao chamado Brasil a questao mais visionária que se pode colocar na agenda política. E nisto Lula foi até hoje o maior.

A importancia de Lula como chefe de Estado é a sua forma inovadora, revolucionária de se fazer representar como tal. Ao invés de entrar no falso endereco do homem público que seria capaz de por as questoes de Estado àcima dos interesses políticos, Lula é o chefe de Estado mais importante da nossa história até aqui justamente porque mostra o outro lado desta fórmula: colocar questoes de Estado acima de interesses políticos é fazer com que determinados interesses, antes na completa berlinda, possam ser vistos como interesses de Estado. Se Getúlio foi grande por colocar os interesses dos "setores médios" na agenda nacional, Lula foi maior justamente porque fez isso com os excluídos.


(Aproveitamos para desejar um feliz 2010 a todos os nossos amigos e a todos os amigos do povo brasileiro. Desejamos que 2010 e os anos seguintes no Brasil vivenciem a continuação progressiva das mudanças sociais e da melhora de vida dos mais carentes. Dedicamos este texto a todas as pessoas que já sofreram privações materiais e morais no mundo. Dedicamos também a nossos pais, eternos batalhadores. A eles, nosso muito obrigado.)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Reunião Anual dos Blogueiros - Versão 2.0

Prezad@s,

Amanhã teremos a segunda edição da reunião anual dos blogueiros mais ou menos etílicos. Ou seria uma reunião mais ou menos etílica? Ah, claro, não etílicos também devem ir. Não somos segregacionistas!

Tod@s estão convidad@s. Decerto não levarei vinil para sorteio mas pretendo levar algo aqui do acervo para ser degustado nessa festa tropical onde o subversivo senhor Samba pedirá passagem.

De todo modo aproveito, como é praxe, a chamada do companheiro Vitor Menezes:


Atenção senhores e senhoras! Atendendo intimação do pessoal do Sociedade Blog e do blog Outros Campos, este urgente! convoca solenemente todos os blogueiros que estiverem desocupados na próxima quarta, 23, 22h, para o nosso II Encontro.

Vamos aproveitar o furdunço da última noite do vinil do ano, na Taberna Dom Tutti (rua das Palmeiras, 23, próximo ao Alzira Vargas) para realizar mais este momento histérico.

Haverá amigo oculto de vinil. O sorteio é feito na hora e para participar basta levar um daqueles discos que você esqueceu no armário desde a adolescência.

No vinil vai rolar samba, para fechar o ano em alto astral.

Vamo que vamo!

PS: A histeria é por conta do Vitor.... Não nos responsabilizamos por patologias modernas demonstradas naquele espaço...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Lula vs. Globo


No início da década de 1980, centenas de milhares de brasileiros cantaram em coro “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo!”, quando a corporação na qual se apoiou a ditadura militar censurou as mobilizações populares contra o regime militar, utilizando fotonovelas e futebol para tentar anestesiar a opinião pública. Hoje, um segmento crescente do público brasileiro expressa seu descontentamento frente o grupo midiático hegemônico.

Por Dario Pignotti*, no Le Monde Diplomatique (Cone Sul e Espanha), via
Vermelho

Medições de audiência e investigações acadêmicas detectaram um dado, em certa medida inédito, sobre as relações de produção e consumo de informação: a credibilidade da rede Globo, inquestionável durante décadas, começa a dar sinais de erosão. Contudo, é possível perceber uma diferença substantiva entre a indignação atual e o descontentamento daqueles que repudiavam a Globo durante as mobilizações de três décadas atrás em defesa das eleições diretas.

Em 1985, José Sarney, primeiro presidente civil desde o golpe de Estado de 1964, obstruiu qualquer pretensão de iniciativa reformista relativa à estrutura de propriedade midiática e ao direito à informação, em cumplicidade com a família Marinho – proprietária da Globo, da qual, aliás, era sócio. O atual chefe de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva, parece disposto a iniciar a ainda pendente transição em direção à democracia na área da comunicação.

No início de 2009, no Fórum Social Mundial realizado na cidade de Belém, Lula convocou uma Conferência Nacional de Comunicação. A partir daí, mais de 10 mil pessoas discutiram em assembleias realizadas em todo o país os rumos da comunicação e definiram propostas para levar para a Conferência, realizada de 14 a 17 de dezembro, em Brasília.

“É a primeira vez que o governo, a sociedade civil e os empresários discutem a comunicação; isso, por si só, já é uma derrota para a Globo e sua política de manter esse tema na penumbra (...). O presidente Lula demonstrou estar determinado a instalar na sociedade um debate sobre a democratização das comunicações; creio que isso terá um efeito pedagógico e poderá converter-se em um dos temas da campanha (de 2010)”, assinala Joaquim Palhares, diretor da Carta Maior e delegado na Conferência.

O embate entre Lula e a Globo poderia ser resumido como uma disputa pela verossimilhança, um bem escasso no mercado noticioso brasileiro. Ao participar quase que diariamente de atos ou eventos públicos, o presidente dialoga de forma direta com a população, estabelecendo um contrato de confiança que contrasta com a obstinação dos meios dominantes em montar um discurso noticioso divorciado dos fatos que, às vezes, beira a ficção.

Lula configura um “fenômeno comunicacional singular; o povo acredita nele, não só porque fala a linguagem da gente simples, mas porque as pessoas mais carentes foram beneficiadas com seus programas sociais; isso é concreto, o Bolsa Família atende a 45 milhões de brasileiros que não prestam muita atenção ao que diz a Globo”, observa a professora Zélia Leal Adghirni, doutora em Comunicação e coordenadora do programa de investigação sobre Jornalismo e Sociedade da Universidade de Brasília.

“Por que Lula ganhou duas vezes as eleições (2002 e 2006), uma delas contra a manifesta vontade da Globo? Por que Lula tem uma popularidade de 80%?”, pergunta Adghirni, para quem “as teorias de comunicação clássica que estudamos na universidade não são aplicadas ao fenômeno Lula. Desde a teoria da ‘agulha hipodérmica’ até a da ‘agenda setting’, dizia-se que os meios formam a opinião ou pautam o temário do público, mas com Lula isso não ocorre: os meios de comunicação estão perdendo o monopólio da palavra”.

Por outro lado, como se sabe, a construção de consensos sociais não se galvaniza só com mensagens racionais ou versões críveis da realidade, também é necessário trabalhar no imaginário das massas, um território no qual a Globo segue sendo praticamente imbatível. A empresa do clã Marinho controla o patrimônio simbólico brasileiro: é a principal produtora de novelas e detém os direitos de transmissão das principais partidas de futebol e do carnaval carioca.

Frente à gigantesca indústria de entretenimento da Globo, o governo é praticamente impotente. Não obstante, a imagem do presidente-operário provavelmente ganhará contornos míticos em 2010, com o lançamento do longa-metragem Lula, o Filho do Brasil, que será exibido no circuito comercial e em um outro alternativo (sindicatos e igrejas). O produtor Luis Carlos Barreto prevê que cerca de 20 milhões de pessoas assistirão à história do ex-torneiro mecânico que se tornou presidente, o que seria a maior bilheteria da história no país.

O balanço provisório da política de comunicação de Lula indica que esta tem sido errática. Em seu primeiro mandato (2203-2007), impulsionou a criação de um Conselho de Ética informativa, iniciativa que arquivou diante da reação empresarial. Após essa tentativa fracassada, o governo não voltou a incomodar as “cinco famílias” proprietárias da grande imprensa local, até o final de sua primeira gestão.

Em seu segundo governo – iniciado em 1° de janeiro de 2007, Lula nomeou Hélio Costa como ministro das Comunicações, um ex-jornalista da Globo que atua como representante oficioso da empresa no ministério. Mas enquanto a designação de Costa enviava um sinal conciliador aos grupos privados, Lula seguia uma linha de ação paralela.

Em março de 2008, o Senado, com a oposição cerrada do PSDB, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, aprovou o projeto do Executivo para a criação da Empresa Brasileira de Comunicações, um conglomerado público de meios que inclui a interessante TV Brasil, para a qual, em 2010, o Estado destinará cerca de US$ 250 milhões. O generoso orçamento e a defesa da nova televisão pública feita pelos parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) indicavam que Lula havia decidido enfrentar a direita política e midiática. Ao mesmo tempo em que media forças com a Globo – ainda que não de forma aberta -, Lula aproximou posições com as empresas de telefonia (interessadas em participar do mercado de conteúdos e disputar terreno com a Globo) e algumas televisões privadas, como a TV Record – de propriedade de uma igreja evangélica.

A estratégia foi tomando contornos mais firmes no final do mês de outubro quando Lula defendeu, durante uma cerimônia de inauguração dos novos estúdios da Record no Rio de Janeiro, o fim do "pensamento único" capitaneado por alguns formadores de opinião (em óbvia alusão à Globo) e a construção de um modelo mais plural. Dias mais tarde, o mesmo Lula afirmava: “Quanto mais canais de TV e quanto mais debate político houver, mais democracia teremos (...) e menos monopólio na comunicação”.

Com um discurso monolítico e repleto de ressonâncias ideológicas próprias da Doutrina de Segurança Nacional (como associar qualquer objeção à liberdade de imprensa empresarial com ocultas maquinações “sovietizantes”), o grupo Globo lançou uma ofensiva, por meios de seus diversos veículos gráficos e eletrônicos, contra a incipiente tentativa do governo de estimular o debate sobre a atual ordem informativa, que alguns definem como um “latifúndio” eletrônico.

O primeiro passo neste sentido, assinala Joaquim Palhares, foi “esvaziar e boicotar a Conferência Nacional de Comunicação, retirando-se dela, dando um soco na mesa e saindo impestivamente para tentar deslegitimá-la”, movimento seguido por outros grupos midiáticos. O segundo movimento consistiu em articular um discurso institucional para fazer um cerco sanitário contra o contágio de iniciativas adotadas por governos sulamericanos como os da Argentina, Equador e Venezuela, orientadas na direção de uma reformulação do cenário midiático.

A Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) “temem que o que ocorreu na Argentina se repita no Brasil; eles veem essa lei como uma ameaça e começaram a manifestar sua solidariedade com a imprensa da Argentina”, afirma Zélia Leal Adghirni. O receio expresso pelas entidades representativas dos grandes conglomerados midiáticos é o seguinte: se o descontentamento regional contra a concentração informática ganha força junto à opinião pública brasileira, poderia romper-se a cadeia de inércia e conformismo que já dura décadas e, quem sabe, iniciar-se um gradual – nunca abrupto – processo de democratização.

O inverso também se aplica: se o Brasil, liderado por Lula, finalmente assumir como suas as teses do direito à informação e à democracia comunicacional, é certo que essa corrente de opinião, atualmente dispersa na América Sul, poderá adquirir uma vertebração e uma legitimidade de proporções continentais.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A contrarrevolução jurídica



por Boaventura de Sousa Santos







Está em curso uma contrarrevolução jurídica em vários países latino-americanos. É possível que o Brasil venha a ser um deles.

Entendo por contrarrevolução jurídica uma forma de ativismo judiciário conservador que consiste em neutralizar, por via judicial, muito dos avanços democráticos que foram conquistados ao longo das duas últimas décadas pela via política, quase sempre a partir de novas Constituições.

Como o sistema judicial é reativo, é necessário que alguma entidade, individual ou coletiva, decida mobilizá-lo. E assim tem vindo a acontecer porque consideram, não sem razão, que o Poder Judiciário tende a ser conservador. Essa mobilização pressupõe a existência de um sistema judicial com perfil técnico-burocrático, capaz de zelar pela sua independência e aplicar a Justiça com alguma eficiência.

A contrarrevolução jurídica não abrange todo o sistema judicial, sendo contrariada, quando possível, por setores progressistas.

Não é um movimento concertado, muito menos uma conspiração. É um entendimento tácito entre elites político-econômicas e judiciais, criado a partir de decisões judiciais concretas, em que as primeiras entendem ler sinais de que as segundas as encorajam a ser mais ativas, sinais que, por sua vez, colocam os setores judiciais progressistas em posição defensiva.

Cobre um vasto leque de temas que têm em comum referirem-se a conflitos individuais diretamente vinculados a conflitos coletivos sobre distribuição de poder e de recursos na sociedade, sobre concepções de democracia e visões de país e de identidade nacional.

Exige uma efetiva convergência entre elites, e não é claro que esteja plenamente consolidada no Brasil. Há apenas sinais nalguns casos perturbadores, noutros que revelam que está tudo em aberto. Vejamos alguns.

- Ações afirmativas no acesso à educação de negros e índios. Estão pendentes nos tribunais ações requerendo a anulação de políticas que visam garantir a educação superior a grupos sociais até agora dela excluídos.

Com o mesmo objetivo, está a ser pedida (nalguns casos, concedida) a anulação de turmas especiais para os filhos de assentados da reforma agrária (convênios entre universidades e Incra), de escolas itinerantes nos acampamentos do MST, de programas de educação indígena e de educação no campo.

- Terras indígenas e quilombolas. A ratificação do território indígena da Raposa/Serra do Sol e a certificação dos territórios remanescentes de quilombos constituem atos políticos de justiça social e de justiça histórica de grande alcance. Inconformados, setores oligárquicos estão a conduzir, por meio dos seus braços políticos (DEM, bancada ruralista) uma vasta luta que inclui medidas legislativas e judiciais.

Quanto a estas últimas, podem ser citadas as “cautelas” para dificultar a ratificação de novas reservas e o pedido de súmula vinculante relativo aos “aldeamentos extintos”, ambos a ferir de morte as pretensões dos índios guarani, e uma ação proposta no STF que busca restringir drasticamente o conceito de quilombo.

- Criminalização do MST. Considerado um dos movimentos sociais mais importantes do continente, o MST tem vindo a ser alvo de tentativas judiciais no sentido de criminalizar as suas atividades e mesmo de o dissolver com o argumento de ser uma organização terrorista.

E, ao anúncio de alteração dos índices de produtividade para fins de reforma agrária, que ainda são baseados em censo de 1975, seguiu-se a criação de CPI específica para investigar as fontes de financiamento.

- A anistia dos torturadores na ditadura. Está pendente no STF arguição de descumprimento de preceito fundamental proposta pela OAB requerendo que se interprete o artigo 1º da Lei da Anistia como inaplicável a crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de corpos praticados por agentes da repressão contra opositores políticos durante o regime militar.

Essa questão tem diretamente a ver com o tipo de democracia que se pretende construir no Brasil: a decisão do STF pode dar a segurança de que a democracia é para defender a todo custo ou, pelo contrário, trivializar a tortura e execuções extrajudiciais que continuam a ser exercidas contra as populações pobres e também a atingir advogados populares e de movimentos sociais.

Há bons argumentos de direito ordinário, constitucional e internacional para bloquear a contrarrevolução jurídica. Mas os democratas brasileiros e os movimentos sociais também sabem que o cemitério judicial está juncado de bons argumentos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Racismo na UERJ
Numa das poucas instituições sociais pela qual devotamos expectativas positivas quanto ao convívio com as diferenças e à diversidade de pensamento, observamos de tempos em tempos o outro lado da fachada liberal a qual alguns intelectuais, políticos e “celebridades” se apegam e teimam em negar o óbvio: a inefetividade de direitos universais manifestada no racismo de classe que quase sempre se traveste de racismo de cor. Os últimos acontecimentos na UERJ são graves e merecem reflexão. Que os representantes dos segmentos docente, discentes e de funcionários dessa comunidade universitária sejam vigilantes quanto à punição dos agressores. Divulgando o primeiro dos protestos realizados na UERJ:
ATO EM LEGÍTIMA DEFESA
Àquelas e Àqueles que aguardavam, o tempo chegou: Ato em Legítima Defesa a favor da equidade racial e repúdio as agressões raciais ocorridas na UERJ e no em torno.
No horário de Brasília às 17horas terça feira dia 15 de dezembro de 2009.
No Hall do Queijo
Em menos de uma semana agressões racistas ocorreram nesta Universidade. No sábado dia 05 de dezembro de 2009 a Negra estudante do serviço social foi agredida por aluno branco do IME – UERJ que a xingou de Chimpanzé e na última sexta feira dia 11 de dezembro, 3 alunos brancos do curso de FILOSOFIA - UERJ depredaram a sala Abdias Nascimento, sede coletivo Denegrir, a chutes, seguidos gritos ofenderam todas e todos as negras e os negros com as seguintes palavras: “ COTISTAS DE MERDA!, PODER ARIANO, PODER BRANCO, SOMOS BRANCOS POR ISSO SOMOS SUPERIORES E DOMINAMOS TUDO e pichações racistas onde afirma no banheiro feminino: “MULHERES NEGRAS SÓ PODEM TER 3 FILHOS POR QUE O 4º É FORMAÇÃO DE QUADRILHA”.
NÃO PODEMOS DEIXAR ISSO PASSAR EM BRANCO.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O medo da rua

Quero começar dizendo que não desejo parecer arrogante escrever mais um texto de Berlim. Estou a trabalho e não de férias por conta própria. Uma das coisas que mais me impressiona é não sentir medo de andar na rua. É uma sensação impressionante. Apreciar a beleza de uma grande cidade, como qualquer capital brasileira, sem o medo da violência. A sociedade é altamente policiada, neurótica como nós brasileiros somos com nossa violência, mas por motivos distintos. As neuroses do velho mundo são mais íntimas. Não dependem de querermos nos livrar de um terço da população que ameaça a segurança do espaço público.
O medo que aqui se sente dos skinheads, uma minoria, é o medo que se sente no Brasil de uma maioria, principalmente nas capitais. Em Berlim se sente realmente o que é um espaço público, no qual você se sente tão a vontade quanto dentro de casa. No Brasil somos socializados com medo da rua. Ou se é classe média trancado no carro e no condomínio ou se socializa na brasilidade ambigua que lida com os vizinhos perigosos, em bairros pobres, com tato, medo e respeito passivo. Logo, os honestos e decentes sentem prazer quando o Caveirão sobe o morro e aparece no Fantástico. Nos sentimos um pouquinho defendidos.
Este dado parece associado ao erro de Roberto Damatta ao afirmar que no Brasil casa e rua são opostos. Não são assim por que a casa é o melhor lugar do mundo, mas por que a rua não é dos melhores. Por aqui, se fala em sociedade do risco. Mesmo se tendo a rua como um lugar seguro.
A noção de espaço público não se dissocia da idéia de segurança. O que todas as comparações entre centro e periferia que vem a mente da maioria das pessoas que conhece a Europa nunca percebe, entretanto, é que nossa violência depende da segurança deles. OU vice versa. O século XX foi o século da auto proteção da burguesia mundial e de seu espaço, de suas nações. Este fenomeno não se dissocia da divisão internacional da produção, que precariza as sociedades periféricas, tornando-as mais tensas, desiguais, nervosas e perigosas. Não se tem calma com as necessidades materiais ameaçadas. Logo, parece que o centro é mais civilizado, pois o maior grau de dignidade constroi uma sociedade mais calma, quase todo mundo sabe que vai achar sua comida em casa ao chegar.
Num refluxo do capitalismo mundial, agora a ralé tenta entrar no centro. É severamente controlada, atráves de uma tecnologia de Estado, de um biopoder, como diria Foucault, que agora se configura entre Atlantico NOrte e o Resto. ESte é o novo muro de Berlin. Esta é a nova ordem mundial. Os portoes do primeiro mundo estão fechados e bem controlados. A tecnologia de EStado agora é multinacional. OU será multicultural...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O que é multiculturalismo?

Fabrício Maciel


Tenho agora a oportunidade de conhecer Berlin, uma das capitais multiculturais do mundo. A cidade é marcada pela presenca de etnias distintas das nativas, dentre elas os arabes, dentre os quais muitos comerciantes. O convivio parece pacifico. O mundo funciona normalmente. Logo me lembrei do recente livro de Richard Sennett, Carne e Pedra, no qual ele analisa dentre outras coisas a realidade da Nova York multicultural, semelhante a nossa Sao Paulo, Cidade do Mexico, Bombaim, e tb Berlin. O autor percebe o multiculturalismo como um traco marcante destas cidades, nas quais o capitalismo funciona atraves de maos etnicas distintas que cada ves mais tem conseguido conviver juntas,
Este parece o mote de nosso tempo, do novo capitalismo, flexivel, no qual pessoas migram todo o tempo em busca da dignidade. a partir disso podemos pensar no que é o multiculturalismo como um todo, como uma marca economica e cultural do mundo moderno. Seu discurso é o do convivio, do acordo, do respeito a toda forma de diferenca e etnia, o que normativamente pode ser muito bom, a partir de qualquer valor moderno. Nenhum governo atualmente pode prescindir deste discurso e de uma pratica semelhante que de fato tem realisado bons acordos internacionais.
Esta é a epoca do presidente negro da nacao mais rica, do presidente nordestino no Brasil, dos nacionalismos latinoamericanos que oferecem pouco perigo a nova ordem mundial, pos bipolar, agora multipolar, na qual uma idéia predominante é que as relacoes e o jogo de poder entre as nacoes tornou se menos hierarquisado e mais dinamico, abrindo margem para o crescimento de nacoes perifericas. É o caso do Brasil. todos os numeros do governo Lula sao recordistas, o que neste aspecto nao deixa duvidas de que sua linha de governo e a melhor. Entretanto, ha algo sobre o qual pouco se reflete no mundo multicultural.
Trata se de uma hierarquia opaca entre nacoes ricas e pobres, esquecida e legitimada pela ideia de multi. tudo hoje e multi. os aparelhos eletronicos sao cada ves mais multi. e as pessoas tb. o drama da classe media mundial, estudado pelo proprio Sennett e por outros, é ter que se adaptar rapidamente as exigencias de qualificacao das empresas, e apresentar espirito de criatividade. ser multi de si mesmo. Entretanto, ha outro drama maior. o de uma rale mundial, multicultural, heretogenea, que agora vem tomando a europa num refluxo historico do capitalismo.
este expurgou ate durante o Welfare State a pobresa e precarisacao para sua periferia, atraves do processo de reestruturacao produtiva, no qual uma nova divisao de trabalho no mundo aperfeicoou a dominacao do Atlantico norte, vigente desde sempre. isso dependeu de uma nova divisao tecnologica, na qual a periferia fica com o trabalho bracal que sustenta o capitalismo mundial. mas o centro tb precisa deste trabalho. hoje muitos imigrantes da periferia se tornam rale no centro. etnia e nacionalidade quase se tornam sinonimo de classe. E o discurso multicultural afirma que esta e a epoca da igualdade na diferenca. Talves seja melhor falar em igualdade formal, com avanco de direitos e diferenca. Ou sera desigualdade na pratica e indiferenca?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Seminário - Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política

Prezad@s,

Venho divulgar o seguinte seminário, pilotado pelo Darlan Ferreira Montenegro:

Título: "O Avesso do Príncipe: Programa e Organização nas origens do Partido dos Trabalhadores"
Data: Sexta-feira, dia 11 de Dezembro de 2009.
Horário: a partir das 14:00 horas.
Local: sala 107 - CCH - UENF

Trata-se de seminário que ocorrerá dentre as atividades da disciplina do professor Rogério Dultra, em curso neste segundo semestre de 2009.

A revista Veja, e as artimanhas do senhor da mentira

Qualquer menino ou menina, mesmo muito jovem, sem sequer ter lido uma linha de algum manual medieval que os ensinasse a perceber a presença oculta daquele o qual nós não devemos falar o nome, sabe muito bem, ou já ouvir falar, que “ele” se esconde nos detalhes, e que é através destes que ele age.

E na matéria abaixo, oriunda do “Blog do Azenha”, o nosso Azenha mostra ser digno de uma cátedra inquisitorial das melhores universidades, porque mostrou saber sentir o cheiro de enxofre a milhas de distância. E eu que sou um leigo nestas artes, arrisco a dizer, que talvez a grande imprensa brasileira seja a morada que o “senhor da mentira” encontrou para atacar e confundir o povo de Deus.

"A corrupção, na Veja













Curioso: só neste último caso a denúncia da revista não tem nome, nem partido. Por que?

PS: O leitor Edu Marcondes me manda outra capa, de 2000 (governo FHC), para provar que pelo menos a Veja é coerente. É a capa que aparece abaixo.






segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Reingresso na UFF

Caros,

Repasso informações recebidas da UFF, particularmente dos professores de Campos dos Goytacazes:

A UFF Campos oferece 60 vagas para o reingresso no curso de Licenciatura em Ciências Sociais (Complentação Pedagógica) para Bachareis em Ciências Sociais. Oferecem, também 20 vagas no Bacharelado para graduados em Serviço Social, Letras, História, Geografia, Direito.
O período de inscrições para o concurso de Reingresso é de 4 a 10 de dezembro de 2009.
Mais informações em no site http://www.coseac.uff.br/reingresso/2010/vagas.htm.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A imprensa aloprou

Por Alberto Dines (01/12/ 2009)

A Folha de S.Paulo consegue se superar a cada nova edição. Mais surpreendente do que a publicação do abjeto texto de Cesar Benjamin (sexta, 27/11), sobre o comportamento sexual do líder metalúrgico Lula da Silva quando esteve preso em 1979, foi a completa evaporação do assunto a partir do domingo (29), exceto na seção de cartas dos leitores.

Num dia o jornal chafurda na lama, dois dias depois se apresenta perante os leitores de roupa limpa e cara lavada, como se nada tivesse acontecido. E pronto para outra.

Não vai pedir desculpas? Não pretende submeter-se ao escrutínio da sociedade? Não se anima a fazer um debate em seu auditório e depois publicá-lo como faz habitualmente? E onde se meteram os procedimentos auto-reguladores que as empresas de mídia prometem há tanto tempo quando se apresentam como arautos da ética? Não seria esta uma oportunidade para ensaiar algo como a britânica Press Complaints Comission (Comissão de Queixas contra a Imprensa)?

E por que se cala a Associação Nacional de Jornais? Este não é um episódio que põe em risco a credibilidade da instituição jornalística brasileira? Um vexame destas proporções não poderia servir de pretexto para retaliações futuras? Ficou claro que depois do protesto inicial ("Isto é uma loucura!"), o presidente Lula encerrará magnanimamente o episódio. A Folha, em compensação, enfiará o rabo entre as pernas.

Ninguém estrila

É bom não perder de vista o fato de que esta lambança de um jornal isolado será fatalmente estendida à mídia como instituição. E logo alimentará as inevitáveis desavenças da próxima campanha eleitoral. Isto não interessa aos que desejam preservar o resto de republicanismo desta imensa republiqueta nem àqueles que levam o jornalismo a sério e não querem vê-lo desacreditado, como acontece na Venezuela.

A verdade é que a imprensa brasileira aloprou, levou a sério sua proximidade com o show-business; a obsessão pelo espetáculo e pela "leveza" levou-a para o âmbito da ligeireza, vizinha da irresponsabilidade.

Por outro lado, o controle centralizado das redações associado ao terror de iminentes demissões em massa desestimula qualquer cautela e a mínima prudência. Ninguém estrila ou esperneia. Os jornalistas brasileiros, apesar de tão jovens, andam encurvados – de tanto dar de ombros e não importar-se.

Ano penoso

Há exceções, tênues, percebidas apenas pelos especialistas, porque nossa mídia – ao contrário do que acontece nos EUA e Europa – faz questão de apresentar-se indiferenciada, uniformizada, monolítica, sem nuances.

Este 2009 foi um ano penoso para a Folha, o jornal talvez prefira esquecê-lo. Mas seus parceiros de corporação deveriam refletir sobre o perigo de atrelar uma indústria ou instituição aos faniquitos juvenis de quem ainda não conseguiu assimilar os compromissos públicos de uma empresa privada de comunicação.

***

Em tempo: O recuo da Folha na edição de terça-feira (1/12) é ainda mais vergonhoso do que a denúncia da sexta-feira anterior. Colocar na boca do pivô do episódio que "o artigo de Benjamim é um horror" é uma manobra capciosa, covarde, para responsabilizar um articulista delirante e inocentar diretores irresponsáveis. A Nota da Redação, na seção de cartas, está atrasada quatro dias: pode satisfazer as dezenas de missivistas que se manifestaram, mas despreza os milhares que, horrorizados, leram o resto do jornal.

III Jornada de Políticas Sociais da UENF

Será em 03/12/09, das 8h às 17h, no Anfiteatro 4 do Centro de Convenções da Uenf, a 3ª Jornada do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Uenf. O evento, que tem apoio da Capes, será aberto às 8h30 pela professora Sônia Martins de Almeida Nogueira. Em seguida, a professora Martha Tupinambá Ulhôa discorre sobre o tema 'Interdisciplinaridade na pesquisa em Artes'. Após a palestra haverá debate mediado pelo professor Marcelo Gantos.

Das 10h30 às 12h, será realizado um painel com trabalhos representativos das diversas linhas de pesquisa do Programa de Políticas Sociais. O painel será apresentado pelos alunos Carlos Moraes (Linha 1), Júlio Cezar Pinheiro de Oliveira (Linha 2), Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Junior (Linha 3) e Josete Soares Peres (Linha 4). A coordenação dos trabalhos é da professora Silvia Alicia Martinez.

O professor João Lupi ministra palestra às 14h sobre o tema 'O doutorado interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC (Florianópolis): experiências, resultados e dificuldades'. Em seguida, às 15h30, haverá mesa-redonda para debater o tema 'A pós-graduação interdisciplinar: visões e expectativas'. Os debatedores serão os professores Pedro Geraldo Pascutti e Édson Correa da Silva. A moderadora será a professora Simonne Teixeira.

O encerramento está previsto para as 17h, quando será realizada a atividade cultural 'Tango & Dança', com o argentino Aldo Priore. Mais informações podem ser obtidas pelo tel (22) 2739-7281 ou pelo email pgps-cch@uenf.br.

Fonte: http://www.uenf.br.