domingo, 13 de dezembro de 2009

O medo da rua

Quero começar dizendo que não desejo parecer arrogante escrever mais um texto de Berlim. Estou a trabalho e não de férias por conta própria. Uma das coisas que mais me impressiona é não sentir medo de andar na rua. É uma sensação impressionante. Apreciar a beleza de uma grande cidade, como qualquer capital brasileira, sem o medo da violência. A sociedade é altamente policiada, neurótica como nós brasileiros somos com nossa violência, mas por motivos distintos. As neuroses do velho mundo são mais íntimas. Não dependem de querermos nos livrar de um terço da população que ameaça a segurança do espaço público.
O medo que aqui se sente dos skinheads, uma minoria, é o medo que se sente no Brasil de uma maioria, principalmente nas capitais. Em Berlim se sente realmente o que é um espaço público, no qual você se sente tão a vontade quanto dentro de casa. No Brasil somos socializados com medo da rua. Ou se é classe média trancado no carro e no condomínio ou se socializa na brasilidade ambigua que lida com os vizinhos perigosos, em bairros pobres, com tato, medo e respeito passivo. Logo, os honestos e decentes sentem prazer quando o Caveirão sobe o morro e aparece no Fantástico. Nos sentimos um pouquinho defendidos.
Este dado parece associado ao erro de Roberto Damatta ao afirmar que no Brasil casa e rua são opostos. Não são assim por que a casa é o melhor lugar do mundo, mas por que a rua não é dos melhores. Por aqui, se fala em sociedade do risco. Mesmo se tendo a rua como um lugar seguro.
A noção de espaço público não se dissocia da idéia de segurança. O que todas as comparações entre centro e periferia que vem a mente da maioria das pessoas que conhece a Europa nunca percebe, entretanto, é que nossa violência depende da segurança deles. OU vice versa. O século XX foi o século da auto proteção da burguesia mundial e de seu espaço, de suas nações. Este fenomeno não se dissocia da divisão internacional da produção, que precariza as sociedades periféricas, tornando-as mais tensas, desiguais, nervosas e perigosas. Não se tem calma com as necessidades materiais ameaçadas. Logo, parece que o centro é mais civilizado, pois o maior grau de dignidade constroi uma sociedade mais calma, quase todo mundo sabe que vai achar sua comida em casa ao chegar.
Num refluxo do capitalismo mundial, agora a ralé tenta entrar no centro. É severamente controlada, atráves de uma tecnologia de Estado, de um biopoder, como diria Foucault, que agora se configura entre Atlantico NOrte e o Resto. ESte é o novo muro de Berlin. Esta é a nova ordem mundial. Os portoes do primeiro mundo estão fechados e bem controlados. A tecnologia de EStado agora é multinacional. OU será multicultural...

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