O perigo da volta do Serra que "já foi"
domingo, 30 de maio de 2010
É puro suco...
O perigo da volta do Serra que "já foi"
sexta-feira, 28 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Blog "Palavras Acesas" analisa a política local
O Blog palavras acesas faz uma análise da possibilidade política eleitoral de uma alternativa para Campos, mas ressalta:
Entretanto, é certo que para isto se tornar uma realidade será necessário um trabalho persistente, que influencie uma mudança de mentalidade. Não basta promover arremedos de mudança, nem remendar aqui ou ali, a saída para a situação caótica em que vive o povo campista deve ser marcada por uma transformação profunda.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
O “The Guardian” prova mais um crime de Israel. O que dirá nossa mídia e nossos conservadores de plantão?
O que dirá nossa mídia e nossos conservadores de plantão a respeito disto? Quem que não é confiável nas negociações internacionais?
Será que o “aquele nobre blogueiro campista” vai vomitar impropérios, naquele tom histérico contra Israel e seu representante máximo como andou fazendo contra o Irã e o Ahmanidejad?
Até onde irá o cinismo dos EUA e de nossa elite fascista e raivosa?
Confiram a matéria abaixo:
O jornal inglês The Guardian acaba de publicar, em sua edição eletrônica, um documento(veja ao lado)que prova que Israel não apenas tem ogivas nucleares desde os anos 70 como tentou vender algumas delas ao governo racista da África do Sul, nos tempos do apartheid, quando aquele país sofria as pressões de toda a comunidade internacional.
A Folha reproduz o conteúdo da matéria do jornal inglês, informando que no documento, “o ministro da Defesa sul-africano na época, PW Botha, perguntou sobre as ogivas e o então ministro da Defesa de Israel, Shimon Peres, ofereceu as armas “em três tamanhos” –se referindo a armas convencionais, químicas e nucleares. Shimon Peres é o atual presidente israelense.
Os dois ministros ainda assinaram um acordo de cooperação militar entre os dois países, sendo que o próprio acordo continha uma cláusula que determinava o mesmo deveria se manter secreto.”
Embora todos já soubessem que Israel tinha a bomba, agora surge um documento que o confirma oficialmente. Pior: assinado pelo atual Presidente do país, Shimon Peres. Pior ainda: que tentou vender armamento nuclear para um país que estava sob a condenação de todo o mundo.
Como fica agora a pressão americana sobre um simples programa de pesquisas iraniano, que todos sabem não ter armas nucleares e que é um dos principais alvos de Israel no Oriente Médio. O Governo Obama vai pedir sanções na ONU contra Israel? O caso Irã teve uma reviravolta, escrevam. Os EUA não têm como arrastar os demais países fingindo ignorar a prova real surgida hoje.
O Irã e o império decadente
Luiz Carlos Bresser Pereira*, na Folha de S. Paulo, em 23/05/2010
Há algum tempo, o establishment mundial recebeu com um misto de irritação e descrença a notícia de que o presidente Lula se dispunha a intermediar a questão do Irã.
Na semana passada a diplomacia brasileira alcançou um êxito histórico em Teerã ao lograr que o governo nacionalista islâmico do Irã aceitasse o acordo sobre a troca de urânio pouco enriquecido por urânio enriquecido a 20% nos mesmos termos que as grandes potências e a AIEA(agência atômica da ONU) haviam proposto há seis meses.
Não obstante, alegando que o acordo não assegura que o Irã não utilizará o restante do urânio em seu poder para se tornar potência nuclear, os EUA conseguiram convencer as demais grandes potências a levar ao Conselho de Segurança da ONU a proposta de novas sanções ao Irã. E adicionaram mais uma “razão”: assim, evitam que seu aliado Israel bombardeie o Irã. Significa isso que o acordo de Teerã fracassou?
As razões para ignorar o acordo bem pensado e realizado não se sustentam. A recusa dos EUA de continuar a negociação a partir dele deixou mais uma vez claro que seu objetivo principal não é evitar que o Irã tenha a bomba, mas é desestabilizar seu governo.
Desde a Revolução Islâmica de 1979, os EUA vêm procurando derrubar o governo nacionalista iraniano. Primeiro, porque o regime seria fundamentalista; depois, porque ameaçaria Israel.
Nesse sentido, suas ações não se limitaram ao “soft power” e à diplomacia, mas foram militares. Em 1981, financiaram uma guerra mortífera do Iraque de Saddam Hussein contra o Irã, que durou quase dez anos e terminou com a derrota da coligação americano-iraquiana.
Agora, depois de haver invadido e submetido seu antigo aliado, voltam- se de novo contra o regime dos aiatolás e de seu boquirroto e autoritário presidente, Mahmoud Ahmadinejad.
Mostram, assim, coerência em sua política imperial de controle político-militar do Oriente Médio. O fato de a China ter concordado em assinar o pedido de mais sanções significaria que não usará seu poder de veto no Conselho de Segurança? É possível, mas não é provável. A China assinou o pedido para, neste momento, não aumentar seu contencioso com os EUA, que já é grande.
Por isso, é bem possível que o acordo de Teerã e as reações que está provocando levem os chineses, que não têm interesse em que os EUA e a Europa aumentem ainda mais seu poder no Oriente Médio, afinal a recusar seu voto às sanções.
Os EUA são um império em decadência que tenta ser imperial em uma fase da história mundial na qual os impérios não fazem mais sentido.
Os dois últimos grandes impérios foram o britânico e o soviético. Fracassaram por diferentes razões, mas principalmente porque hoje mesmo países mais atrasados são membros plenos da ONU e não aceitam a dominação imperial.
Não obstante, os EUA insistem em terem bases militares espalhadas em todo o mundo para “legitimar” a imposição de sua vontade. Sabemos, porém, que não é com armas, mas com bons argumentos e com concessões mútuas que haverá paz entre as nações.
*LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC).
domingo, 23 de maio de 2010
Crise do Ira: Site Terra entrevista pesquisador frances
O especialista, que estuda o Irã há mais de 20 anos e é autor de dezenas de obras sobre o país, considera essa via pelas sanções "um caminho perigoso" já que, na ineficácia da punição, a única alternativa que restaria aos ocidentais seria a via militar.
Terra - As potências nucleares (G5+1) se posicionaram favoráveis à ação do Brasil, mas isso não impediu que os Estados Unidos entrassem com um projeto de resolução prevendo sanções ao Irã. Afinal, o que esses países querem?
Thierry Coville - Não sei exatamente. É verdade que estamos um pouco chocados com a incoerência que os países do G5+1 demonstraram ao longo da semana. Me parece que a única resposta que a comunidade internacional está encontrando ¿ ou ao menos estes seis países ¿ é de querer aplicar as sanções.
Eles cansaram de negociar?
As explicações para isso são várias. Primeiro, os Estados Unidos estão negociando essa questão há muito tempo com os europeus, os chineses e os russos e haviam finalmente conseguido convencê-los a adotar sanções. Agora, os americanos querem capitalizar estes esforços, sem levar em conta qualquer outro tipo de avanço. Isso significa que eles não querem "queimar" a imagem deste esforço todo e, para isso, preferiram não reconhecer a abertura que este acordo mediado pelos governos brasileiro e turco poderia representar. Outro fator, mais perigoso, é que a comunidade internacional pode estar voltando atrás e querendo mais do que queria antes em relação ao Irã. Podemos compreender que os países do G5+1 mudaram de estratégia de negociação e agora, ao contrário do que aconteceu em outubro do ano passado nas negociações de Genebra, eles decidiram que não querem mais que o Irã possa enriquecer urânio. Podemos dizer que se instalou um certo radicalismo da parte do G5+1. E um terceiro fator é que o governo americano começa a entrar em processo de campanha para as eleições do Congresso e não quer desapontar o seu público interno. O Congresso já vinha preparando sérias sanções ao Irã, então o governo pode estar jogando com as sanções mais leves para não desapontar os americanos. A ideia é de não dar a impressão de fraqueza face ao Irã, de não ser compreensivo demais. O Congresso e o Senado poderiam querer exigir sanções ainda mais graves se nada for feito agora.
Quais as consequências dessas sanções econômicas e comerciais que estão sendo discutidas agora?
O risco é que, aplicadas as sanções, os iranianos não queiram nunca mais ceder em nada. Se, quando eles cedem, eles recebem em troca este tipo de resposta, por que eles cederiam mais?
Lula afirmou que os países do G5+1 não aceitam mais nenhuma outra alternativa a não ser as sanções. Você concorda?
É exatamente isso. É um cenário de absoluto radicalismo pela parte do Ocidente. Hoje, eles agem como se a conferência de Genebra jamais tivesse existido porque o discurso é: ou vocês param completamente de enriquecer urânio ou haverá sanções. O fato é que estamos retornando à estaca zero nesta negociação, um ponto que já sabemos que não avança porque o Irã se acha no direito de ter o seu programa nuclear. A conferência de Genebra visava a sair deste impasse.
Ainda existe alguma chance de se evitar as sanções?
Eu ainda confio na inteligência dos protagonistas (risos). Me parece que este acordo Irã-Brasil-Turquia, mesmo se não é perfeito, representa um primeiro passo para se sair do impasse, restabelecendo um mínimo de confiança e retomando as negociações. Mas se as sanções são aplicadas, a reação normal do Irã vai ser de apertar ainda mais na queda de braço, nos levando para aquele velho caminho sem saída.
O que significa o papel que o Brasil desempenhou nesta negociação? O Brasil pode querer ser um negociador internacional de peso ou ainda é cedo para isso?
Não, de forma alguma. Mas não se pode esquecer que, por trás desta questão do programa nuclear, existe uma tensão entre Irã e Estados Unidos que já dura mais de 30 anos. Os dois países vivem em estado de quase guerra há muito tempo. No final das contas, se transformou em um afrontamento entre o Irã e o Ocidente. A ação de novos intermediários, como a Turquia ¿ um grande país muçulmano ¿ e o Brasil ¿ um grande país emergente, que além do mais tem o seu próprio programa nuclear e tem o direito de enriquecer urânio ¿ pode permitir restabelecer a confiança entre as duas partes. Os países emergentes podem desempenhar um papel de ponte: adquirindo a confiança do Irã e, do outro lado, mantendo a confiança dos grandes países desenvolvidos. O papel destes países, portanto, pode se transformar em fundamental para resolver esse tipo de questões. O paradoxo é que os países industrializados chamam a colaboração dos emergentes e depois dizem "não, mudamos de ideia".
Os países ricos estão prontos a aceitar novos negociadores nas questões-chave da política internacional?
Existem áreas mais suscetíveis para que isso aconteça. A questão nuclear é uma delas porque estava bloqueada. O esquema do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi definido após a Segunda Guerra Mundial e agora vivemos um outro esquema. Os países europeus e os americanos ainda não sabem como lidar com isso. Ficam se perguntando: "mas sempre fomos nós! Nós sempre decidimos tudo sem perguntar a opinião de mais ninguém".
Você acha que a atitude do Brasil foi mais positiva ou negativa para a sua imagem no exterior?
No meu ponto de vista, foi certamente positiva. Em uma negociação que estava bloqueada, deveria haver uma unanimidade em parabenizar a iniciativa destes dois países que permitiu de reabrir uma porta e restabelecer um pouco de confiança neste problema todo. Além do mais, ninguém sabe se as tais sanções vão funcionar. Todos os anos, quando se fala de sanções, os países que as defendem são incapazes de dizer se elas serão eficazes. Eu acho que elas não funcionariam.
Você não acha que a ação do Brasil poderá despertar a desconfiança do G5+1 face ao país, que afinal acabou dialogando de perto com um Estado dito "inimigo"?
Não, não acho. Eu acho que o descontentamento contra o Irã é tão grande que os países ocidentais entram em uma estratégia em que eles perderam o controle. A política de sanções é muito perigosa, porque se o braço de ferro continua, Irã tem todos os meios de dizer simplesmente "não, vamos continuar a enriquecer urânio". E neste caso os países ocidentais vão se dar conta, daqui a um ano, de que as sanções não adiantaram de nada. Então eles terão de encontrar uma outra solução. Ou seja, estamos adicionando tensão a um problema que já é tenso o suficiente. Quanto mais tenso fica, mais difícil é de voltar atrás.
E qual seria o passo seguinte?
Só restaria a opção militar. Eu acho que a iniciativa brasileira e turca dá novamente um caminho de negociação que já estava esquecido. Como vai se dizer que as sanções são o melhor caminho se o Irã acaba de fazer concessões a um novo mediador?
Você acha que, no fundo, o que os países do G5+1 querem é de fato uma intervenção militar?
É difícil de prever e ninguém pode dizer. Mas, para mim, está claro que este tipo de sanções que eles estão prevendo não vão jamais fazer o Irã mudar de ideia. Eu acho que estamos entrando direto em uma via bem perigosa. Tenho a impressão de que os governos ocidentais gastaram tanta energia convencendo os chineses e os russos sobre a política de sanções que eles esqueceram de refletir sobre eficácia dessa política.
Você acha que a ação do Brasil pode ter consequências na sua relação com os Estados Unidos?
Acho que existe um certo constrangimento americano pelo fato de o Brasil e Turquia, dois aliados deles, terem colocado o nariz naquele que sempre foi um domínio reservado deles (americanos). Como existe essa tensão histórica entre o Irã e os Estados Unidos, pode-se compreender o nervosismo dos americanos quando dois países que não vivem esse histórico chegam e desbloqueiam a situação desta forma. Eles perturbaram, de certa forma, um caminho em direção às sanções que já estava previsto.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
“Menas –”: a Folha de SP assume de vez o que é (2)
O Conversa Afiada republica artigo do Blog do Miro:
Paulo Nogueira e o macartismo da Folha
Preparando-se para a guerra eleitoral, a mídia demotucano já iniciou a “limpeza ideológica” nas suas redações. Na semana passada, o Grupo Abriu demitiu o editor da National Geographic do Brasil, Felipe Milanez, que criticou no seu twitter as distorções grosseiras da revista Veja. Agora, é a Folha de S.Paulo que dispensa o economista Paulo Nogueira Batista Junior, atual diretor do Brasil no FMI e um dos poucos colunistas que ainda justifica a leitura deste pasquim golpista.
O argumento usado é risível. A famíglia Frias alegou que “sua coluna é das mais longevas”, só não explicou porque outros antigos colunistas nunca foram molestados. Paulo Nogueira sempre foi um ácido crítico das políticas neoliberais de desmonte do Estado e da nação. Ele nunca deu tréguas aos tucanos colonizados, com seu “complexo de vira-lata”. Na luta de idéias em curso na batalha eleitoral, o economista seria um estorvo para José Serra, o candidato do Grupo Folha.
Relembrando as perseguições de 2006
Para disfarçar a sua política macartista de “caça às bruxas”, a Folha anunciou um novo plantel de colunistas, que inclui o Antonio Palocci. Com isso, ela tenta preservar a falsa imagem de “jornal pluralista”. Mas, como ironiza o jornalista Paulo Henrique Amorim, a jogada é rasteira. “Antônio Malloci, ex-ministro da Fazenda, como se sabe é um notável tucano que eventualmente milita no PT. Paulo Nogueira Batista Junior era um dos últimos vestígios de talento que a Folha exibia… A Folha, com um novo conjunto de ‘colonistas’, aproxima-se cada vez mais da treva sem fim”.
O clima de perseguição ideológica nas redações da mídia “privada” não é novidade. Na sucessão presidencial de 2006, ele também produziu suas vítimas, entre elas o jornalista Rodrigo Vianna, que não aceitou as baixarias da TV Globo na cobertura da campanha. Franklin Martins e Tereza Cruvinel também sentiram o ódio do “senhor das trevas” das Organizações Globo, Ali Kamel. Nos jornais e revistas, a perseguição fascistóide silenciou vários outros jornalistas.
A quem serve a liberdade de expressão?
Como afirma o professor Venício A. de Lima, estes episódios revelam “a hipocrisia geral que envolve as posições públicas dos donos da mídia sobre liberdade de expressão e liberdade de imprensa… As relações de trabalho nas redações brasileiras, é sabido, são hierárquicas e autoritárias. Jornalistas e editores são considerados, pelos patrões, como ocupando ‘cargos de confiança’ e devedores de lealdade incondicional”. Caso tentem manter a ética no seu trabalho jornalístico, eles são demitidos sumariamente.
Com a aproximação da eleição presidencial de outubro, o clima tende a se deteriorar ainda mais nas redações, comprovando a falsidade do discurso dos donos da mídia e das suas entidades – como Abert, Aner e ANJ – sobre a “ameaça autoritária” do governo Lula contra a liberdade de imprensa. “Episódios como este nos obrigam a perguntar, uma vez mais, para quem é a liberdade de expressão que a grande mídia defende?”, conclui o professor Venício A. de Lima.
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Crise do Irã: Diplomacia brasileira surpreende, e obriga E.U.A. a mostrar sua face obscura
Se a disputa diplomática em questão fosse uma partida de futebol, diríamos que o Brasil deu um drible desconcertante, humilhante, na diplomacia norte-americana. E como bons zagueiros brucutus que são, a “diplomacia” norte-americana quer apelar, quer dar um carrinho no meio do joelho do Brasil. Essa é a metáfora do que está ocorrendo.
Assim como nossa elite colonizada pensa de Lula, os norte-americanos achavam impossível para nossa diplomacia tropical obter algum sucesso nesta crise. Desse modo, Obama apoiou Lula na sua tentativa de diálogo, na certeza que Lula falharia. Logo, Obama não entraria em conflito com o Brasil e poderia aplicar suas sanções ao Irã, até mesmo com o apoio de um Brasil constrangido pela derrota diplomática. Essa era a aposta dos ianques.
Porém, o que era improvável para eles aconteceu, o Brasil e a Turquia conseguiram o acordo. E agora o E.U.A está sendo obrigado a mostrar a sua verdadeira face, aquela que não aceita diálogos e impõe suas vontades através da forca, como uma criança mimada. O E.U.A fingem dialogar com o mundo, porque quando sua vontade não é atendida, esquecem o diálogo e as regras e fazem o que querem. O que atesta isso é que no dia seguinte ao acordo os E.U.A. apresentaram seu plano de sanções já pronto, sem sequer ter analisado o acordo feito por Brasil e Turquia, eles contavam com o fracasso do Brasil.
Neste quesito o Bush era mais sincero que o Obama, jamais teria dado espaço para o Brasil, empurraria as sanções goela abaixo do Irã, como um Obama constrangido pelo “drible” do Brasil, e escondido covardemente atrás da Hilary Clinton, quer fazer agora, ou seja, dar a “tesoura voadora de Júnior Baiano”.
ASSEMBLEIA DA REDE MUNICIPAL
O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação é o legítimo representante dos Educadores (professores, pedagogos, animadores culturais, auxiliares de secretaria, serventes, merendeiras, vigias e outros) da Rede Estadual (RJ) e Municipal (Campos dos Goytacazes). Possui o REGISTRO SINDICAL que lhe confere o direito de representar tal categoria.
ASSEMBLEIA DA REDE MUNICIPAL
Dia 27 de maio, às 17h, no SEPE/Campos
Pauta:
• Prorrogação do concurso com chamada dos aprovados;
• Plano de Cargos;
• Plano Municipal de Educação;
• Imposto Sindical, etc.
Praça São Salvador, 41 – Sala 514 – Centro – Ed. Ninho das Águias –
Tel.: (22) 2735-2406 / 2734-6883 / 8821-0206 / 9837-2687
Mais uma da Folha de SP: o fantasma de Lacerda ronda o Brasil
Já era bem tarde da noite quando um colega, na Redação, veio mostrar a inacreditável entrevista de um general na "Folha". Ganhou página inteira, na contra-capa do caderno principal.
O jornal da "ditabranda" afunda, numa velocidade surpreendente.
Fiquei até com preguiça de escrever sobre as barbaridades ditas no jornal.
Lembrei-me da frase de Castelo Branco, o primeiro general-presidente da ditadura:
"Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar".
Vivandeiras alvoroçadas!
O general desprezava os civis que batiam as portas dos quartéis, a pedir o golpe!
As vivandeiras, na época, vinham da turma das senhoras católicas, da UDN...
Hoje, as vivandeiras estão nos jornais. Adoram um alvoroço!
Advinhem quem era a vivandeira, a levantar a bola para o general babar na gravata, na "Folha"?
Ela, a repórter cheirosa...
Adora um alvoroço. Fez alvoroço com a Frebre Amarela. Mandou o leitor se vacinar, irresponsavelmente - lembram?
Agora, virou vivandeira a bolir com os granadeiros...
Mas nao vou escrever mais. Felizmente, encontro um texto que diz mais sobre a entrevista canhestra. Está aqui, no portal Vermelho - http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=6&id_noticia=129504
terça-feira, 18 de maio de 2010
“Menas –” : a Folha de Sp assume de vez o que é
Porém, este caderno já não combinava mais com a truculência do jornal que publica dossiês falsos, falsifica fichas, entrevista banqueiro bandido perguntando o que ele achou da investigação que sofreu, publica denúncias falsas sem verificar, e por aí vai.
A verdade é que com o anúncio do fim do excelente caderno Mais+ da Folha de São Paulo, o jornal assume de vez o que é, ou se tornou, ou seja, um panfleto de direita, raivoso, lacerdista e golpista.
Alguns informantes meus me disseram que o lugar do caderno mais+ será ocupado por uma coluna de um blogueiro campista, tamanha é a afinidade entre as idéias do jornal e este blogueiro. Quem arrisca um palpite? Não é nem um pouco difícil. . .
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Acordo Brasil-Irã-Turquia é positivo e descrença "não tem sentido", diz consultor da AIEA
"O consultor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e assistente do presidente da Eletronuclear Leonam dos Santos Guimarães afirmou ao Opera Mundi que o acordo entre Brasil, Irã e Turquia é satisfatório e que o ceticismo das potências mundiais “não faz sentido”. Segundo ele, o Irã não tem estoque de urânio que o habilite a construir armas nucleares.
Para diplomatas ocidentais, há o perigo de o Irã ter acumulado mais urânio durante os últimos meses. Enviar 1.200 quilos para fora não seria mais suficiente para garantir os objetivos pacíficos do governo iraniano.
Leia abaixo entrevista com Guimarães.
A Crise do Irã: um breve comentário
Passada a euforia (legítima) que expressei no post abaixo, cabe fazer uma análise um pouco mais fria da crise do Irã e seus últimos acontecimentos. E acho que isto deve ser visto a partir de dois prismas: um a respeito do que isso significa para nós brasileiros; e um outro a respeito do que isso significa na disputa internacional em si.
Para nós, brasileiros, é um dia histórico, que deve ser comemorado e lembrado, porque representa um feito nunca antes acontecido na história deste país, como gosta de falar o nosso presidente. Foi a primeira vez que mediamos (e com um êxito inicial) um conflito de proporção internacional fora de nossa vizinhança. Passamos a ocupar uma posição de destaque internacional nunca antes ocupada, é a consolidação da vitoriosa diplomacia brasileira dos últimos 8 anos (espero que não apareça nemhum louco para dizer que a diplomacia de Lula é continuação de FHC).
Ainda cabe lembrar que o mérito em questão é brasileiro, assim opinaram vários intelectuais iranianos. Nem a Turquia (membro da OTAN e aliada de Israel) e o Irã estavam muito dispostos ao acordo, foi o Brasil que virou o jogo. O gol de placa é nosso e ninguém tasca. Essas são as verdades que a mídia nacional, golpista e calhorda tentará esconder de qualquer jeito.
Porém, por mais gloriosa que tenha sido nossa vitória, ela ainda é muito pouco na disputa internacional que se desenrola. Poderíamos dizer que ganhamos uma batalha decisiva a qual era considerada perdida por muitos, mas estamos longe de ganhar a guerra. Essa vitória é apenas o marco que diz que a guerra não está perdida, e vai continuar, ou melhor, ela só está começando.
E essa guerra, entre outras coisas, diz respeito a uma nova configuração da geopolítica mundial. De um lado estão os países vencedores da segunda guerra mundial, que de alguma forma tentam manter a hegemonia das configurações mundiais que construíram no pós-guerra, isso inclui a Alemanha reconstruída por eles, e também, e, sobretudo, o Estado de Israel, também construído por eles. Do outro lado estão as nações emergentes que querem mais espaço na geopolítica mundial, com destaque para o Brasil. O Irã, a grande nação emergente do mundo islâmico é o grande empecilho ao expansionismo e dominação norte-americana e israelense naquela região, por isso é atacado. Ele (O Irã) é a única ameaça verdadeira ao casamento das trevas entre EUA e Israel.
Assim, além de alguns outros interesses que estão em jogo, como os interesses americanos no petróleo iraniano, esta guerra é por uma nova ordem mundial, a qual não interessa nem aos europeus (mergulhados numa crise) nem aos americanos. É claro que já sabemos que antes dos tanques e aviões, as armas mais usadas serão a de uma ideologia baseada no preconceito, aquela que demoniza e “descredibiliza” os inimigos, como já começaram.
Essa guerra só está começando e estamos longe de vencê-la, mas já mostramos que podemos muito mais do que imaginavam.
Lula, o Grande
Pedro I da Rússia modernizou o império, ele foi um divisor de águas na história russa, colocou a Rússia nos trilhos que a levaram a se tornar uma das maiores potências mundiais, por isso recebeu a alcunha de “Grande”, passou a ser chamado de “Pedro, o Grande”.
Papel não muito diferente na história alemã teve o Frederico II, rei da Prússia. Foi pelas mãos dele que a Alemanha começou a deixar de ser uma coadjuvante na história européia, e se tornar uma potência, não só militar como também intelectual. Por isso, também passou a ser chamado de Frederico, o Grande.
Lula também despertou o gigante envergonhado e adormecido que vivia em nós, aquele do império tropical de Darcy Ribeiro. Não há dúvidas que o país nunca mais será o mesmo depois da passagem de Lula, que o mundo já nos vê de forma muito diferente. O desfecho da crise do Irã será o coroamento da “Era Lula” a qual espero que tenha apenas começado.
Será a maior vitória da diplomacia brasileira, mostrando ao mundo o estilo “Brasil de ser”. Uma diplomacia que privilegia o diálogo ao invés da truculência americana, que não se intimida em defender a paz e nem os países mais fracos no conflito com as velhas potências, uma diplomacia que se impõe e não se acovarda.
Por essas e outras já podemos começar a chamar o nosso presidente de “Lula, o Grande”!
sexta-feira, 14 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
A escravidão é moderna ou pré-moderna, capitalista ou pré-capitalista?
Parte I: um breve olhar sobre o passado
Neste dia em que lembramos o "fim" da escravidão, gostaria de levantar e articular algumas questões sobre o significado histórico e sociológico do trabalho forcado no Brasil. Tentarei ser rápido e direto. Qual o significado da escravidão para a construção do capitalismo e da modernidade no Brasil? A escravidão atrapalhou ou viabilizou nosso processo de integração à sociedade global moderna? A escravidão foi um obstáculo para que o Brasil realizasse seu "potencial" na modernidade ou ela foi precisamente uma forma moderníssima de resolver problemas igualmente modernos?
Em nenhuma colônia do "Novo Mundo" o trabalho escravo foi tão importante quanto aqui. Todas as relações sociais giravam em torno do trabalho escravo, de seus lucros, de seus privilégios e de seus conflitos. A ordem privada e a ordem pública estavam ligadas a partir da escravidão. Nenhuma questão ou interesse deu mais coesão à colônia portuguesa do que as questões e os interesses ligados à escravidão. Como demonstra sobejamente em seus trabalhos o historiador Luis Felipe de Alencastro, a escravidão produziu um sistema estável e intenso de relações econômicas no "Atlântico Sul", ligando diretamente a colônia e as costas africanas. Nenhum mercado se desenvolveu tanto e era tão importante quando o mercado de mão-de-obra escrava, e o mais importante é que este mercado se diferenciou a partir do "Atlântico Sul", ou seja, tornou-se relativamente autônomo do controle político burocrático da Metrópole: "desde o século XVII, interesses luso-brasileiros ou, melhor dizendo, brasílicos, se cristalizam nas áreas escravistas sul-americanas e nos portos africanos de trato. Carreiras bilatérias vinculam diretamente o Brasil à África Ocidental".
A meu ver, a questão decisiva aqui é a idéia de que o fato social mais importante da formação econômica e social do Brasil colônia, a escravidão, era resultado de relações e interesses gestados e organizados na própria colônia. Esta constatação quebra ao meio um hábito de pensamento que é central na construção de nosso imaginário nacional: o que foi feito de mau no Brasil, de "patológico", de violento seria decorrência da "herança portuguesa", sobretudo da "herança do Estado português". Ao fim e ao cabo temos uma oposição simbólica entre "Estado português" e "sociedade brasileira", consagrada, mais tarde, na tese do " Estado patrimonialista" de Raimundo Faoro. O núcleo desta tese insustentável (no entanto repetida como mantra por intelectuais da direita e da esquerda) é a idéia que o "Estado corrupto e autoritário" importado de Portugal, e não o mercado de escravos organizado autonomamente pela Colônia, explicam nossa "singularidade relativa", o que temos de diferente dos países Ocidentais do Norte. O trabalho de Alencastro refuta Faoro e sua tradição.
Mas a tese de Alencastro nos leva ainda mais adiante. Se o trabalho escravo constituia um "mercado de mão-de-obra" responsável por garantir o empreendimento colonial, e não uma mera imposição do Estado português, isto quer dizer que, embora não fosse um mercado de mão-de-obra livre, era sim um mercado livre de mão-de-obra. Ora, se era desse jeito, significa então que o trabalho escravo resolvia um problema que é, afinal e desde sempre, o problema da expansão do sistema econômico voltado para o mercado: como recrutar mão-de-obra, ou seja, engajamento pessoal com a produção sem o pressuposto do acesso direto ao produto do trabalho ou pelo menos a uma parte dele? Evidentemente aqui se trata de questão espinhosa no debate histórico-conceitual, sobretudo na tradição marxista: era o capitalismo mercantil apenas uma função de acumulação primitiva para o "verdadeiro capitalismo", o industrial, ou o capitalismo era capitalismo desde que a produção estivesse voltada para o mercado e que este mercado conseguisse regular os pressupostos para que a produção estivesse voltada para ele? Colocando de outro modo a questão: o que define a emergência de um sistema econômico autônomo e mundial e qual o papel da escravidão neste processo?
Ora, se a possibilidade de integrar o recrutamento de mão-de-obra à economia monetária constitui um passo decisivo na evolução do sistema econômico moderno, porque contrapomos de modo tão forte trabalho livre com trabalho escravo? Em que pese nosso julgamento moral prescrever enormes diferenças e a escravidão ser percebida como um "corpo estranho" no processo de evolução do capitalismo (que uma vez "moderno" não precisaria mais da escravidão), ela de fato resolve o mesmo problema que resolve a instituição do trabalho assalariado: torna-se possível recrutar mão-de-obra através de dinheiro (como mostra Alencastro) e não somente através do controle Estatal (como se crê quando, de modo imediato, se pensa a escravidão como empreendimento "pré-moderno" ou "pré-capitalista" do "Estado português").
Decisivo aqui é a constatação de que a escravidão constitui um fator de "progresso capitalista" no Brasil, permitindo a integração das mais díspares atividades coloniais a um mercado intercontinental de venda de mão-de-obra. Neste sentido, eu diria que 1) a escravidão sempre foi parte do processo de modernização que ocorreu no Brasil e que 2) sua importância contrasta com a auto-descrição euro-centrista que sempre observou o "novo mundo" como se ele não fosse parte da história do "velho mundo" ou como se o "capitalismo de direito" do Atlântico Norte fosse a única forma de o mercado recrutar mão-de-obra.
Mas se a escravidão no Brasil é um fenômeno do "nosso" processo de modernização, o que ela explica do Brasil hoje? Como podemos falar de uma "herança da escravidão" sem apelar para uma descrição essencialista, sem apelar para a metáfora obscurantista do "mal de origem"? Existe alguma coisa operando em nosso presente que foi inventada pela escravidão? Tentarei abordar estas questões numa próxima postagem.
Informe: Hoje é dia 14 de Maio em Campos dos Goytacazes
quarta-feira, 12 de maio de 2010
O PT-Campos e o “Garotismo”: o porquê de o PT rodar, rodar e parar no mesmo lugar.
Voltando aos argumentos desenvolvidos nos dois primeiros posts desta série, poderíamos dizer em uma linha que: tudo o que sobrou a Garotinho no que se refere à astúcia política, faltou ao PT. Toda capacidade de se movimentar politicamente em sintonia com as mudanças sociais, desse modo “entendendo” seu tempo e sua sociedade, e também a coragem em enfrentar os grupos políticos dominantes, ambas características que marcaram Garotinho, faltaram ao PT-Campos nestes longos anos. Vou tentar analisar esses dois pontos, deixando bem claro que o primeiro é muito mais importante, e buscando ver as conseqüências deste na formação do papel que o PT tem ocupado no jogo político local.
Quanto ao aspecto da coragem, o que é o menos importante que eu pretendo analisar, queria dizer que ele faz mais parte de minha retórica do que propriamente da análise. Ele serve só para lembrar que a Garotinho não hesitou em acreditar no “impossível”, enquanto o PT-Campos mergulhou num pragmatismo tacanho, o que é muito problemático para um partido que se diz de esquerda. O compromisso da esquerda tem que ser sempre com o aparentemente impossível, o que não quer dizer que isso seja um patrimônio da esquerda.
Porém, a meu ver, o fator determinante neste jogo parece ser a compreensão dos movimentos da sociedade e seu papel no jogo político, enfim, a relação dos partidos e projetos políticos com as classes sociais e o movimento destas classes na sociedade. Como sempre disse o professor de História Renato Barreto aos seus alunos (eu fui um deles): “ninguém governa pra si mesmo”. Nem mesmo o mais absoluto dos reis absolutistas governou para si mesmo, mas sim para uma classe social. Desse modo, fazer política é fazer promessas para uma ou mais classes, e saber seduzi-las, mostrar uma mensagem para elas, e resultados também. Foi esse jogo, que o PT-Campos não soube jogar.
Enquanto vimos neste debate como Garotinho andou em sintonia com os movimentos de seu e tempo e sociedade, ou seja, desafiou a classe política em decadência (isso não era obviamente claro naquele momento), ou seja, a oligarquia rural, e colou sua imagem e lançou suas promessas para a nova classe que surgia com força numérica, a periferia urbana (nem toda periferia urbana é ralé estrutural), o PT-Campos onde esteve neste jogo?
O PT-Campos daquele tempo era muito parecido com o PT-Nacional, era formado por uma mistura de classe trabalhadora nos moldes tradicionais (sindicatos) e uma classe média (intelectualizada) progressista. Assim como na realidade nacional, reuniam-se sindicalistas, estudantes, professores, bancários e etc., só não tinha o apoio dos setores progressistas da igreja católica que marcou o PT-Nacional, em Campos a Igreja andava de mãos dadas com a oligarquia rural (posso estar enganado quanto a isso). Mas no geral podemos dizer que o que marcava esse PT local também era o surgimento de uma nova classe social no município, ou seja, uma classe média progressista, era através dela que o partido aparecia para boa parte da sociedade campista.
Quanto a essa nova classe média, vale destacar o papel da antiga escola técnica federal. A antiga escola técnica era um núcleo de efervescência do partido, sobretudo núcleo intelectual, já que as faculdades locais e a igreja estavam muito mais próximas da oligarquia rural conservadora. Neste contexto a escola técnica era a resistência intelectual. No entanto, essa nova classe social a qual os professores da escola técnica representavam muito bem, era muito pequena para sustentar projetos maiores do partido, não poderia ela garantir vôos muito altos do partido.
No entanto, mesmo pequena, era a única identidade sólida de classe que o partido tinha, a qual não conseguiu manter. Os sindicatos iriam enfraquecer nos anos 90, abalando ainda mais o frágil partido. Assim o partido ficou perdido, sem nenhuma base social sólida, sem discurso e sem projeto. Cada liderança que surgia preferia alugar o partido para manter uma trajetória política individual medíocre, a despeito do partido, da idéia de construir uma base sólida a longo prazo. Dos anos noventa em diante o partido nunca se viu como um ator potencialmente forte, capaz de ter um projeto para a cidade. A derrota para Garotinho abalou fortemente o moral das tropas petistas, nunca mais levantaram a cabeça.
O fim disso é o partido sendo integrado a dinâmica do “garotismo” como um exército de reserva, pronto a ser integrado em algum lado, por um “salário” muito baixo, humilhante, sempre. Falta auto-estima a este partido, é um partido de derrotados e fracassados, que não vislumbram a possibilidade de vitória. E os últimos movimentos do partido indicam que eles estão muito satisfeitos em continuarem no “garotismo”, como um exército de reserva deste jogo político, no qual o maior perdedor é o município e a população de Campos.
terça-feira, 11 de maio de 2010
O Time da CBF
Não precisamos de muito para definir este time, uma palavra basta: Medíocre. O time é a cara do técnico. Embora com um excepcional goleiro (talvez o melhor goleiro que tivemos nos últimos tempos), uma zaga segura com Lúcio em grande fase, o resto deixa muito a desejar. E isso é sintomático neste time, a defesa é o que temos de melhor, logo nós brasileiros, a maior máquina de talentos futebolísticos do mundo. O medo é a marca da mediocridade, acha sempre melhor se defender, se proteger, nunca quer arriscar. O time da CBF parece que foi feito pelos tucanos, onde o medo sempre vença a esperança e a ousadia.
Mas não podemos esquecer que, alguns times medíocres já ganharam a copa do mundo, e esse também pode ganhar, o que eu não quero que aconteça.
Como última nota, gostaria de dizer que é injusto comparar este time com a seleção de 94, por pior nível técnico que aquela seleção tivesse, ela tinha um dos melhores ataques da história do Brasil, sempre, em qualquer conversa de futebol nos lembraremos de Bebeto e Romário.
Mas neste time da CBF e do Dunga, quem nós lembraremos? De um Kaká saindo de contusão? De um Robinho que deixou de ser promessa e não encantou? Talvez de Júlio Cezar e Lúcio. . .
segunda-feira, 10 de maio de 2010
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Parte 3: a “prefeiturização” do PT
Roberto Torres
Para entender o lugar do PT de Campos e sua evolução nestes intermináveis anos de “garotismo” nos parece necessário dividir (ainda que forcosamente) a trajetória do partido em duas fases. A primeira fase vai do rompimento do PT com as promessas do “Muda Campos” de Garotinho até a eleição municipal de 2000, quando o PT rompeu aliança com o candidato à reeleição Arnaldo Vianna e lançou Luiza Botelho como candidata a prefeita. Nesta etapa o PT era tipicamente um partido da assim chamada “sociedade civil organizada”. Suas principais lideranças vinham do movimento sindical, do MST e o partido tinha também certa influencia no movimento estudantil, sobretudo na antiga ETFC (Escola Técnica Federal de Campos).
O traco decisivo deste período talvez seja exatamente a capacidade, ainda que reduzida, de o partido oferecer possibilidades de carreira política sem depender dos dividendos de uma aliança com o “garotismo”, ou seja, da maquina política sustentada diretamente pela ocupação de posições em organizações do poder municipal. Este tipo de “carreira autônoma em relação ao garotismo” só era possível porque o partido conseguia organizar recursos (tanto materiais como simbólicos) da tal “sociedade civil organizada”. Prova disso é que, nesta primeira fase, tanto o ex-vereador Antonio Carlos Rangel como seu maior concorrente dentro do partido, Erik Schunk (hoje no PSoL), tinham forte capital político acumulado exatamente pela participação em organizações da “sociedade civil” (sindicalismo, no caso do primeiro, militância na aérea da saúde e penetração junto ao MST no caso do segundo e credibilidade no movimento estudantil no caso dos dois) e não nas organizações da prefeitura. Nesta fase podemos dizer, grosso modo, que o PT de Campos vivia o mesmo dilema do PT Nacional: como ser um partido que consiga penetrar nos setores desorganizados da cidade e da zona rurual? A grande diferença, no entanto, é que enquanto o PT nacional, a partir de 2002, começou a furar o bloqueio que o impedia de ter o apoio das massas, o PT de Campos jamais chegou perto disto – se chegasse teria, claro, ameaçado o “garotismo”. O que então mudou no PT local?
Desde que não conseguiu formar legenda para re-eleger o vereador Antonio Carlos Rangel (embora tendo sido um dos mais votados) para a Câmara Municipal em 2000 parece que o PT (comprovar esta tese exige uma pesquisa empírica) deixou paulatinamente de ser um partido da “sociedade civil organizada”, tornando-se um partido cada vez mais dependente de cargos e posições na organização do poder municipal para sobreviver. Desde então o partido tem que disputar espaços no “garotismo” para criar suas chances de carreira política – basicamente dinheiro e cabos-eleitorais oriundos da prefeitura. Junto com a falência de sua organização autônoma padece o partido gravemente da falta de lideranças carismáticas que consigam, em alguma medida, articular a insatisfação com o “regime do coronel bolinha”. O caso Makhoul em 2004 somente foi a tentativa de agregar um prestígio pessoal construído alhures para não sucumbir de vez.
A esta altura a pratica de filiações em massa para controlar as votações do partido em prol dos mais afoitos em disputar espaço dento do “garotismo” – sobretudo Hélio Anomal – já mostrava a forma caricatural da agremiação em seguir o modo de fazer política dominante na Cidade. O auge desta rendição ao “garotismo” foi a participação no governo Mocaiber, coroada pela candidatura de Hélio Anomal como vice de Arnaldo. Ainda que daí tenha saído o mandato da vereadora Odisséia, isto por si só não é nenhum avanço. Enquanto o capital político que a vereadora controla não for investido na reconstrução do partido como uma alternativa de poder, ou seja, na independência política frente ao “garotismo” não se poderá ter no horizonte uma alternativa que não seja uma mera oscilação entre os dois grupos que compõe o “garotismo”.
A única forma de o partido ressurgir da lama em que se meteu é olhar para os lados é buscar apoio em quem também não suporta mais o ambiente. Não adianta ficar esperando a insatisfação buscar o partido e vê-lo como alternativa. É preciso ir onde essa insatisfação é produzida. Cito dois exemplos desta insatisfação: o movimento dos professores, que é uma insatisfação articulada de um setor organizado, e os funcionários contratados que acumulam humilhação e raiva impotente com atrasos de salários e incerteza no emprego nas prestadoras de serviços (vide o caso da Nova Rio), mas não vêem nenhuma possibilidade de articular este sentimento ou mesmo de encará-lo como um problema efetivamente compartilhável. Que é uma tarefa difícil conseguir alguma penetração neste último setor, não resta a menor dúvida. A organização deste setor para funcionar como cabo-eleitoral é imprescindível tanto para Garotinho como para Arnaldo. E de fato a posição social de grande parte dos serventes, guardas, vigias, etc, os faz extremamente vulneráveis a este controle em época de eleição. Mas certamente existem rachaduras neste controle. Depois de alguns revezamentos dentro do “garotismo”, a busca por segurança (demanda inalienável de quem vive em uma situação instável) via emprego na prefeitura parece não desfrutar da credibilidade que já teve, sobretudo porque “a estação das tempestades e intempéries” já não ocorre só a cada quatro anos, com o risco do “outro lado ganhar” e empregar os “seus”. Ela pode vir a qualquer momento. Basta ir a uma escola municipal e conversar meia hora com uma funcionária da limpeza. A pergunta então é: se a tarefa de articular a insatisfação deste último setor é algo difícil e até improvável, que tipo de tarefa um partido como o PT pretende assumir na Cidade?
Diante desta questão nos parece ficar claro um dilema do PT em Campos. Diferentemente do PT a nível nacional o partido não possui identidade de classe, não sabe para quem falar e por isso o que falar. Não sabe onde buscar a forca do diferente e por isso não sabe para quem deveria ser um governo diferente. Em resumo: o partido não compreende e não formula, como organização que visa o poder, os conflitos sociais que Garotinho compreende tão bem para perpetuar seu modo de fazer política. Ora, se buscar o apoio dos setores organizados não basta para ameaçar o garotismo, mesmo sendo condição indispensável para isso, não resta outra alternativa a um partido que pretenda ser diferente “do que aí está” (para usar uma expressão de Leonel Brizola) senão acreditar no improvável e, no caminho de generalizar esta crença, aumentar a probabilidade deste improvável. Se é improvável que os servidores ameaçados pela insegurança econômica abandonem o barco do garotismo, continuará sendo impossível e até mesmo impesável algo diferente e novo enquanto não tivermos, do campo da política, um exemplo de que é possível viver sem isso.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
EUA, 5513 bombas; Irã, 0. E o Irã deve ser punido?
Os EUA revelaram hoje possuir mais de 5 113 ogivas nucleares ativas, capazes de destruir o planeta várias vezes. Isso sem falar nas milhares de armas nucleares que aguardam desmontagem. O Irã não tem nenhuma e é pressionado pelos EUA a interromper seu programa nuclear, que garante ser para fins pacíficos. Franz Kafka descreveria essa situação de maneira magnífica.
A ONU abriu hoje a conferência sobre o Tratado de Não Proliferação e o secretário-geral Ban Ki-Moon apelou pela eliminação completa do arsenal nuclear. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, presente ao encontro, pediu um calendário específico para a eliminação de todas as armas nucleares no mundo e questionou a presença dos EUA no conselho de governadores da Agência Internacional de Energia por ter utilizado bombas atômicas contra o Japão.
A despeito da briga diplomática, o discurso iraniano faz sentido. Como o único país do mundo ater utilizado uma bomba atômica contra populações civis, os EUA não têm autoridade para serem arrogantes neste tema. O mesmo se daria no combate às armas químicas, lembradas agora nos 35 anos do fim da guerra do Vietnã pelo uso intensivo de agente laranja, um desfolhante químico que dizimou áreas férteis, mutilou homens, mulheres e crianças e deixou uma seqüela de deformações genéticas nos vietnamitas.
A preocupação com o fim das armas nucleares é importantíssima, e qualquer país que ameace a segurança do mundo deve ser observado e até punido. Mas com um parâmetro único. Por que os EUA e outros países podem ter armas nucleares e outros não podem? Por que os países que têm armas nucleares não sofrem nenhum tipo de sanção? Por que países com conflitos graves internamente e/ou em suas fronteiras, como Israel e Paquistão, não despertam a mesma preocupação que o Irã? O próton é ideológico? O neutron islâmico é mau e o americano é bonzinho?
A conferência sobre o TNP vai durar um mês e é uma ótima oportunidade para um entendimento digno, de boa-vontade mútua. O discurso de supostas armas de destruição em massa já levou a guerras desnecessárias, provocadas unilateralmente pelo único país que as utilizou, e aumentou a insegurança no mundo.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Odisséia e Ilsan e as inevitáveis comparações: a atuação na mídia eletrônica
O Douglas já demonstrou as impressões inicias das relações de ambas em relação ao Pig impresso. Mostrou que logo na primeira entrevista ao Pig, Ilsan quis mostrar-se mais independente. E na mídia eletrônica parece que elas também estão atuando de forma diferente.
Odisséia debutou no mundo dos blogs falando através da rede blog do PIG. Mesmo muito criticada por isso, demorou muito em criar um blog independente. O seu blog inicial não era muito dinâmico, não acompanhava a velocidade de nosso tempo, além de ser evasivo no início, tratava quase que somente de assuntos de cunho nacional, o que lhe rendeu muitas críticas, sendo chamada por nós de vereadora com síndrome de senadora. Começou a falar um pouco mais da realidade local, se atrapalhou numa postagem sobre o caso de Barcellar, tendo que se explicar depois. Enfim, patinou um pouco, cometeu muitos erros.
Depois de um longo tempo, Odisséia criou o seu blog independente. Este ficou bonito, bem arrumado, mas ainda é pouco dinâmico, sem a velocidade necessária na internet. Na verdade o blog dela não é bem um canal de debate com a população, é mais um blog de informes sobre seu mandato, estes também lentos. O blog carece de discurso definido, ou seja, a vereadora não diz a quem vem em seu blog, nem mesmo uma mini-biografia tem lá, quanto mais deixar claro pra quem ela quer fazer política e o que ela pensa da política. O máximo que se pode interpretar ali é que ela se coloca como representante das mulheres.
Ilsan também lançou seu blog, tão bonito quanto o de Odisséia, porém bem mais dinâmico e com muito mais conteúdo. A vereadora Ilsan foi rápida em colar a sua imagem a Dilma, como também a do velho Brizola (No de Odisséia, nem uma fotinha do Lula, o político mais popular do planeta). Enquanto é quase impossível descobrir que Odisséia é uma vereadora do PT, no blog de Ilsan parece que ela é uma militante histórica do PDT, o blog está cheio de símbolos do partido. Só faltava fazer uma montagem dela com Getúlio, para mostrar o quanto ela é uma trabalhista histórica. O Blog da Ilsan, cheio de fotos, trata de temas variados, com dinamismo, e enfoca sua atuação como política em Campos, além de dizer em todas as linhas que quer debater com a população, que o blog é um canal para isso. Enfim, o blog de Ilsan mostra como ela sabe “vender o seu peixe”, independente se ele é podre (o que eu acredito) ou não (e jornal para embrulhar esse peixe não vai faltar, td mundo já sabe pra que serve certos jornais).
Para terminar eu diria que, se apresentássemos o currículo de ambas sem nome para estrangeiros associarem aos blogs delas, acho que poucos acertariam. Muitos achariam que o blog de Ilsan pertence a alguém que é uma militante sindical orgânica de um partido de esquerda, e que o blog de Odisséia pertence a uma mulher de um político local que resolveu fazer política na carona do marido.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
O PT-Campos e o “Garotismo”: o porquê de o PT rodar, rodar e parar no mesmo lugar
Não é possível avançar nesta análise sem olhar, ao menos rapidamente, algumas hipóteses desta ascensão. Muitos poderão rir da pretensão de tratar de um tema tão espinhoso e complexo como este numa postagem de um blog. Mas como nós não compactuamos nem com o elitismo e muito mesmo com a covardia da academia em lidar com temas importantes, seguiremos em frente.
Nos finais da década de 80 a sociedade campista estava em rápida transformação, milhares de trabalhadores rurais abandonavam o campo em virtude da crise e “invadiam” a cidade em busca de uma vida melhor. Um dos resultados disso foi um aumento significativo da periferia urbana, mudando a estrutura de classe do município. Os outrora trabalhadores rurais foram se tornando o que tradicionalmente se chama de sub-proletariados, e que nós preferimos chamar “ralé estrutural”. Os olhares de Campos que sempre estiveram voltados para o mundo rural começavam a mudar de direção, o mundo urbano da cidade ficava cada vez mais importante, sobretudo, politicamente.
Essa nova classe que surgia, não estava mais diretamente sobre o controle dos seus antigos patrões proprietários de terras, a velha oligarquia rural campista ainda não tinha se dado conta que os seus dias de glória de sua vida política estavam contados. Os seus antigos empregados agora na periferia urbana, vivendo de bicos e trabalhos informais, tinham mudado de vida e buscavam, claro, “vida nova”, mudanças. Alguém, mesmo que intuitivamente entendeu isso, e se transformou na voz, que vinha pelo rádio, desta mudança. Com um discurso raivoso contra os usineiros, que representavam o ápice da oligarquia rural, esse alguém que todos já sabem quem é começou a se tornar o fenômeno político que presenciamos.
Olhando hoje, parece que Garotinho foi o único a entender as mudanças sociais daquele tempo, perceber qual seria a classe decisiva no jogo político. Ele soube criar um elo de identidade com essa classe, que seria seu grande trunfo na vida política. Mesmo que num momento seguinte Garotinho conseguiu trazer para o seu lado alguns intelectuais, pessoas ligadas à vida cultural do município, uma parte da classe média que misturava brizolistas puro sangue com petistas puro sangue, esse romance foi breve. Garotinho voltou-se para a classe a qual soube criar uma identidade que lhe rendeu e ainda rende muitos frutos.
Vale lembrar que, embora pequena, uma “nova classe média” surgiu entorno de Garotinho. Não era ela no formato que apoiava o PT e Brizola, com professores, bancários e etc, mas sim formada por comerciantes, representantes, novos empreiteiros, sem o capital cultural daquela pequena classe média, mas com um ascendente capital econômico. (Isso é uma hipótese muito intuitiva que precisa ser verificada no debate, contamos com vcs.)
O resultado disso é que Garotinho aniquilou todos os seus adversários políticos, a tropas do general bolinha foram mais destruidoras que a Blitzkrieg de Hitler. A partir de suas vitórias acachapantes, Garotinho não ia saber mais o que eram inimigos externos em Campos, o seu exército não via mais ninguém na sua frente, estavam todos aniquilados. Garotinho teria que enfrentar apenas os inimigos que surgia de suas próprias fileiras, porque os outros não existiam mais. (É da ascensão de Garotinho e dos inimigos surgidos de suas fileiras que surge o “garotismo”).
Dos seus inimigos externos, podemos dizer que, o poder político da velha oligarquia rural sumiu sem deixar filhos. O fim do peso político do mundo rural, foi o fim deles. Eles foram obrigados a lutar numa guerra em que não conheciam bem o território e não dominavam as novas tecnologias de guerra, por isso Garotinho os empurrou para a história. Zezé Barbosa, Rockfeller, Severino Veloso e talvez também Alair Ferreira, sumiram sem deixar herdeiros. É impossível reconhecer alguém na política campista hoje, que tenha uma ligação histórica com estes velhos quadros de nossa política. Talvez, apenas o jornal “A Folha da Manha”, seja o único aliado da velha oligarquia rural, que conseguiu se reinventar, superar o golpe da fundação do jornal “O Diário” e continuar vivo no cenário político da cidade.
Olhar para o quadro dos vereadores que elegemos nos últimos anos, é uma boa forma de ver o tamanho das mudanças políticas que presenciamos. A velha oligarquia rural não elege nem mesmo um vereador, enquanto há um peso muito grande de vereadores que montam sua base de votos na periferia urbana.
Enfim, Garotinho é o grande vitorioso das mudanças na sociedade campista, e como vitorioso, reinventa o jogo da política local e impregna sua maneira de jogar em toda política, não há com analisar a política de Campos, sem olhar para sua ascensão.
Mas o PT de Campos, onde fica nesta história? É o que analisaremos na próxima parte.
O Governo Lula por Rodrigo Viana
Lula, social-democrata: avanços claros em 4 áreas
Um amigo jornalista, que prepara um livro sobre as crises "fabricadas" durante os dois mandatos de Lula, procurou-me para uma entrevista. Queria saber - por escrito - minha opinião sobre a relação imprensa/governo. Fez várias perguntas. Não vou aqui, claro, repetir tudo que respondi a ele. Até porque as respostas só fazem sentido no encadeamento da entrevista... E o material pertence a ele, não a mim.
Mas reproduzo a primeira das respostas, com uma avaliação geral sobre o significado do governo Lula.
É o balanço de um governo com muitas limitações, social-democrata moderado, mas que ainda assim significou um avanço enorme para o país... Esses avanços é que explicam o ódio que alguns setores ainda manifestam contra o "apedeuta", "ignorante", "nordestino vagabundo" etc etc etc...
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LULA - UM BALANÇO
A eleição de Lula, em 2002, deveu-se - em boa parte - à “fadiga” com as políticas neoliberais. Esse foi um movimento que se observou em toda a América do Sul. A eleição de Lula veio na mesma onda anti-liberal que levou ao poder Chavez na Venezuela, o casal Kirchner na Argentina, Tabaré (e depois Mujica) no Uruguai, Correa no Equador, Evo Moralez na Bolivia.
O curioso é que nesses outros países os liberais foram alijados do poder, saíram completamente derrotados (com excecao, talvez, do Uruguai, onde o governo da "Frente Ampla" tem características semelhantes com o de Lula).
Aqui no Brasil, a derrota dos liberais não foi completa. Lula teve que compor com os (neo) liberais, entregando o BC para um ex-tucano, e pactuando com o mercado uma política econômica conservadora (pacto expresso na famosa “Carta aos Brasileiros” de 2002; e na administração Palocci na Fazenda).
É preciso lembrar que, em 2002, Lula não sofreu ataques da chamada “grande imprensa”. A Globo estava fragilizada (com o “default” de sua dívida, herança dos anos de FHC), e os outros veículos compreenderam que – dado o fracasso do segundo mandato de FHC – a vitória de Lula seria inevitável. O que fizeram foi “domar” Lula. Engoliram a vitoria do petista, mas trataram de garantir que ela não significasse rompimentos.
Ainda assim, a eleição de Lula significou, sim, uma derrota para setores que dominaram o Estado brasileiro na década anterior.
Ao contrário do que se costuma dizer, Lula não foi “apenas” uma continuidade de FHC. Não!
Apesar de conduzir um governo muito moderado, Lula foi responsável por mudanças emblemáticas em pelo menos 4 áreas:
- criação de um mercado consumidor de massas (propiciada por uma somatória de políticas, entre elas a recuperação do salário-mínimo, a recomposição dos vencimentos do funcionalismo, o Bolsa-Familia, e a política mais agressiva de crédito) – tudo isso teve papel fundamental no enfrentamento da crise de 2008, já que o Brasil deixou de depender só das exportações e pôde basear sua recuperação no mercado interno;
- relação de respeito com os movimentos sociais – parceria com sindicatos, diálogo com as centrais, com o MST;
- recuperação do papel do Estado – fim das privatizações, novos concursos públicos, recuperação do papel planejador do Estado (por exemplo, no campo da energia, em que Dilma apoiou a criação de uma estatal para planejar novos empreendimentos hidrelétricos), fortalecimento dos bancos públicos (não mais como financiadores de privatizações fajutas, mas como indutores do desenvolvimento), fortalecimento da Petrobrás, com o Pré-Sal;
- política externa soberana – enterro da Alca, criação da UNASUL, valorização de parcerias com China, India, Irã; fim do alinhamento com os EUA.
Os três últimos pontos explicam o ódio que latifundiários, “grande imprensa” e parte da velha classe média (que não suporta o avanço de uma nova classe média, e gostaria de ver o Brasil no velho leito de dependência em relação aos EUA) sentem por Lula.
O primeiro ponto, em contraposição, explica porque parte do grande empresariado fechou com Lula: essa turma nunca vendeu tanto, nunca faturou tanto.
Lula ampliou as bases do capitalismo brasileiro. Lula faz um governo social-democrata moderado (e o empresário inteligente gosta disso)
A esquerda sempre pregou a “aliança da classe operária com as classes médias”. No poder, Lula produziu outra aliança: classe operária + grande massa desorganizada (e agora atendida por programas sociais) + grande empresariado.
De fora, ficou a classe média. Que berra na imprensa, ou em certos blogs onde corre o esgoto da direita. Esse povo é que tentou derrubar Lula em 2005 – com um discurso udenista.