terça-feira, 22 de junho de 2010


Parabéns Dunga!

A resistência ao poder da mídia em determinar os “fatos” sobre os quais pensamos e que pesam sobre nosso comportamento cotidiano e extra-cotidiano não é uma questao de “esquerdistas”, de “chavistas” ou “lulistas”, é uma questao prática que pode se colocar diante da quaquer um que não tenha naturalizado a submissao à “agenda global” e que tenha que lidar com essa instituicao com frequência. Parece ter sido o caso do técnico Dunga.

Alimentada pela necessiade de produzir novidades em busca de audiência, a Globo dá sinais de que não aceita abrir mao de qualquer privilégio, e de privilégios contrários à liberdade de imprensa. Como pode uma emissora se dizer o suporte deste valor se seu sucesso consiste em ter a “exclusividade da informacao”? Isto talvez seja um paradoxo da mídia como um todo, mas que, de todo modo, só pode ser “evitado”( se é que assim podemos dizer) com concorrência.

Talvez num regime de mais concorrência, no qual não haja espaco para que uma emissora torne plasuível sua pretensao de representar os interesses da pátria (no caso ai, da pátria de chuteiras), seja menos naturalizada nas pessoas a atitude de ser “gentil” com a agenda do grande senhor, ou da “grande senhora”, a Globo. O que Dunga fez foi mostrar como não é natural obedecer ou ficar com medo de mostrar que não está disposto a obedecer, que é possível ser “honrado” na opiniao pública de outro modo. No cerne deste conflito está o mais poderoso e lapidar mecanismo da violência simbólica: o dominante, quando confrontado, busca lancar o oponente no terreno do ridículo. Neste terreno se trata de demonstrar que a ousádia do impensável é punida com a reprovacao moral da “opinao pública”, ainda mais se for endossada pela FIFA, como queriam. Dunga tratou de atualizar o impensável e de mostrar ao dominador que a imposicao do ridículo, em última instancia, é contingente.

Queira o destino que esse episódio no futebol tenha o vetor da vontade de desafiar a atual estrutura da opiniao pública no Brasil. Tratando-se disso, talvez possamos sonhar que a agenda pela mudanca estrutural da esfera pública no Brasil não é somente uma inquietacao sectária, como querem fazer crer, sempre sob a imposicao do ridículo, mais sim um problema real de pessoas até sem interesse por política partidária, mais com interesse em não engolir o dominador dos mais diveros modos e pelas mais diverdas cavidades.

17 comentários:

Claudio Kezen disse...

Caro Roberto:

Evidentemente, ninguém em sã consciência acha saudável a tentativa da Globo de manipular e monopolizar a informação.

Mas, puta que pariu. Eu nunca vi tanta punheta para politizar e chamar de "resistência ao poder da mídia" a imbecilidade, idiotice e falta de educação pura e simples.

O Dunga é apenas um recalcado e se provavelmente ele lesse seu post te chamaria de bosta, cagão ou coisa do tipo.

Ele já ofendeu jornalistas de todas as empresas de jornalismo, sem distinção de hierarquia, poder ou tamanho.

Além disso, ofender o Drogba ao fim do jogo como ele fez, aos berros de filho da puta apenas mostram que ele é um desequilibrado.

Menos, meu caro...

Mr Gayrrisson disse...

Olha, eu virei fã do Dunga!
Além de ser um Cafuçu MA-RA-VI-LHO-SO, não se intimidou com o assédio da imprensa que quer transformar tudo em produto.

Ok, reconheço que ele é meio "grosso" (ai, isso é tão másculo!), mas são raríssimos os exemplos públicos deste tipo de resistência

Bjx!

Roberto Torres disse...

Carao Cláudio,

claro que há a nossa "interpretacao". Mas porque a falta de educacao nao é uma resistência ao poder da mídia?

Ele já deu outras entrevistas (ao terra, depois tento achar) criticando abertamente a globo.

Detesto a "filosofia de jogo dele.

Agora pera lá, "mostram que ele é um desequilibrado". Por favor, argumente. Um jargao moralista destes vindo de voce eu só posso esperar argumentos rs.

grande abraco,

Anônimo disse...

qual é o grande motivo que faz a ESPN também perseguir o Dunga?

Roberto Torres disse...

Nao sei anonimo, o que voce acha?

Brand Arenari disse...

Caros debatedores,
acho que o ponto central aqui não é o julgamento de Dunga. Se ele agiu intencionalmente ou não, ou se ele é legal ou não (eu particularmente acho ele um “grandessíssimo” babaca, concordo com o Cláudio que ele é um recalcado).
Acho que o mais importante aqui é perceber como que atos supostamente não políticos ou despretensiosos politicamente (ao menos conscientemente) podem ter efeitos políticos devastadores. A queda do muro de Berlim teve alguns casos deste tipo, talvez a queda de Collor também tenha tido alguns casos destes.
O “cala-boca-galvao” e o “um dia sem globo” são movimentos espontâneos da garotada da internet (ao menos parecem ser) nada tem a ver com esquerdistas ou sei lá o que lutam contra o monopólio da Globo. Assim como o Dunga está a anos-luz de agir conscientemente movido por valores da “esquerda” que se chocam com o jeito de ser da “rede Goebells”. No entanto, sua insubordinação ao império global e, sobretudo a reação destemperada e infantil da Globo, tornaram a birra de um repórter com um treinador carrancudo num fato político, agregando forcas das mais díspares. A ação de Dunga conseguiu reunir tanto tolos de esquerda como nós, que odiamos a globo; muitos setores da grande mídia que sofrem com o monopólio da globo (inclusive Folha de SP); garotada da internet movida pela filosofia do “pânico na TV”; patriotas nacionalistas e etc. Acho que foi por isso que o Dunga de vilão nacional vai aos poucos virando um ícone de resistência.

Brand Arenari disse...

Nota complementar:
Para entender a disputa Dunga X Globo, e conseguintemente o texto do Roberto, não podemos olhar a questão a partir dos palavrões (se é que cagao é palavrão) do Dunga, mas sim do fato do Dunga impedir a exclusividade e monopólio da Globo ante a selecao. Esse ato é o centro da questão e também da insubordinação heróica do Dunga.
Recomendo ler os textos do PVC-ESPN, do Azenha (blog eu vi o mundo) e do Rodrigo Vianna (blog escrevinhador) sobre o caso.

Claudio Kezen disse...

Amigos:

Aceito que a insubordinação à "toda poderosa" Globo é interessante e necessário, mas a forma é importante nesses casos.

Acho um ato de oportunismo que pensadores de esquerda se apropriem de fatos aleatórios para "deitar" discurso contra um alvo comum.

Imaginemos nossas reações ao ver alguém defendendo conscientemente ou não os intereses dos Marinho com a truculência do Dunga ou a desfaçatez do Boris Casoy?

É por aí minha crítica ao post do Roberto.

Abraços.

PS: Brand, também acho que cagão não é um palavrão, mas no contexto da entrevista coletiva é um insulto, não?

Claudio Kezen disse...

Brand, a dica do PVC da ESPN é muito boa. Aliás, sou fã de carteirinha deles e não abro mão de acompanhar a programação do canal.

Abraço.

morganaprofana disse...

Uii,

adoro papo cabeça. cabeça, tronco e membros(uiiii!)

venham me visitar no blog bolsa da morgana(www.morganaprofana.blogspot.com)

Brand Arenari disse...

Fala Claudio,
eu tb sou fa da ESPN, especialmente do PVC, acho que o jornalismo esportivo é antes e depois dele.
Quanto a nossa conversa aqui, concordo com vc que foi um insulto, acho que o termo cai melhor do que condená-lo por falar palavrões. Mas vale lembrar que neste momento (o do insulto do Dunga) o Alex Escobar falava alto no telefone, numa conversa em que insultava o Dunga.
Mas acho que no geral o que tem nesta história é o mito sedutor de Davi e Golias, há mais de três mil anos essa história nos seduz. Todos nós nos sentimos vingados quando um fraco desafia um gigante. Um ato de coragem, mesmo vindo de alguém que nós não gostamos, nos empolga muito, nos dá forca para lutar, enfim, nos dá esperança contra a injustiça perene na qual os fortes massacram sempre os fracos. Quem se identifica com essa história é quem não está satisfeito com as injustiças do mundo, já quem a repele, é quem se identifica afetivamente com o dominador, acho que foi isso que Roberto também queria mostrar de alguma maneira.
E os “esquerdistas tolos”, dentre os quais me incluo, tem essa síndrome masoquista de se identificar sempre com os mais fracos, parece que é uma vontade de perder sempre. Assim a insubordinação do Dunga é uma mensagem de esperança aos “Davis” deste mundo, ou seja, este episódio, o qual é muito maior que o Dunga, é a renovação do mito citado, da esperança de que o gigante pode ser destruído.
Imagino que vc não goste muito do Rodrigo Vianna, mas recomendo mais uma vez a leitura, o texto dele é bastante esclarecedor.

Um abraço e obrigado por nos proporcionar um debate tão legal.

Djamilla Olivério disse...

Caros,
se olharmos a situacao partindo do ponto de vista que o Dunga foi um grosseiro, ignorante, que nao devia nada que ter feito aquilo, caímos exatamente no que a Globo quer mostrar. Eu também nao concordo com vááárias coisas que ele diz e faz enquanto técnico, mas julgo ser importante ponderar melhor as coisas.
Este atrito entre Dunga e Globo nao é de hoje e por isso, devemos ver a trajetória como um todo.
Se olharmos o dia do jogo, desde as horas antes até o momento em que o jornalista é xingado (na minha opniao, Dunga chamou ele na xinxa mesmo), veremos um comportamento muito questionável por parte da Globo (apesar de que, o padrao globo ser como um todo questionável).
O que a globo publicava sobre o Luís Fabiano, horas antes do jogo? Que ao fim do jogo contra Costa do Marfim, o camisa 9 iria quebrar a tradicao construída desde 86, ao ficar de jejum durante seis jogos oficiais. Mais uma vez, a Globo nao quis considerar o fato de que o jogo ainda nao havia ocorrido, e deu como verdade a "quebra da tradicao".
nao podemos esquecer também do comportamento do Jornalista da Globo, que durante a entrevista coletiva, levantou-se, deu as costas para a comissao técnica e comecou a falar no celular, ao vivo com Tadeu Schimidt. Nem sequer se deu ao trabalho de sair do local. O conteúdo da fala, era contra o Dunga, que por sua vez ouviu e questionou o jornalista. De forma grosseira, o jornalista, sem deixar de falar no celular (ao vivo) disse: "nem estou olhando para você, Dunga" e aí comecou a reclamar do técnico. Porque este jornalista usou deste subterfúgio mesquinho, idiota e pouco viril e nao disse tudo o que ele falou na cara do Dunga?
Acho que se olharmos o todo da situacao, veremos que Dunga, como todos, nao tem sangue de barata. Tem uma rixa com uma imprensa que como já dizia Brizola, "boicota" e chegou num momento em que ele quis extrapolar. E se nao fosse o trato da Globo, este incidente seria normal, um atrito entre um jornalista e um técnico, como há entre jornalistas e atores, jornalistas e deputados e etc.
Dunga errou. O jornalista errou antes. Mas Roberto acerta ao dizer que ainda que Dunga esteja errado, sua insubordinacao é importante, ou nao se pode questionar o poder dos acordos da Globo? É um sinal de que até quem é diretamente subordinado aos mandos e desmandos da emissora, como um reles técnico, está se cansando.

Décio Vieira da Rocha disse...

Acho que esse debate é interessante e também acho que posso dar alguma contribuição receitando o artigo do Juca Kfouri na revista versus-http://www.versus.ufrj.br/vs_n4/vsn4_entrevista.html
O debate vai também além da rede globo e entra também no senado e nas questões econômicas do país.
Que o Dunga é um idiota todos concordamos, mas as mazelas do futebol tem sido expostas diariamnete, acredito que o Dunga lute contra a globo braviamente, mas há questões da corrupção que não são colocadas e deixo o aritigo que explica melhor do que eu.
Obs:Me sinto bastante encorajado a lutar pelos Davis e nem por isso me considero um esquerdista, embora eu tenho achado complicado falar de esquerda no Brasil pós-Lula.

Brand Arenari disse...

Só para apimentar o debate, que está muito bom. Qual a diferenca entre o atrito do Dunga X Alex Escobar e o do Kaká X Kfouri?
Acho essa uma boa questao. Por que o segundo nao teve a dimensao do primeiro?

Décio Vieira da Rocha disse...

Será que isso não é algo muito óbvio?

Brand Arenari disse...

Debater com gente inteligente é bom por isso, nao precisamos falar muito e fica td muito claro.
Décio, vc poderia discorrer mais um pouco sobre o assunto, nem sempre é óbvio para td mundo, e às vezes cada um tem o seu óbvio.
Valeu.

Décio Vieira da Rocha disse...

Perdão,às vezes por querer ser sucinto demais posso cometer falha.
A questão é que o Juca Kfouri aluno de grandes mestres como Fernando Henrique e Gabriel Cohn toca na ferida do futebol brasileiro que é um problema histórico e só é visto em época de copa do mundo.No caso da discussão do Kfouri com o kaká é a discussão do Dungax Alex Escobar ao contrário, afinal a globo quer um marketing do Kaká(que por sinal dá muito dinheiro) e não tem o menor interesse em promover o kfouri já que ele é contra a construção de estádios para copa, a favor de pessoas que façam um plano para o esporte brasileiro(como nas universidades norte americas onde esporte é obrigatório)entre outras coisas as quais defende.
Destruir a imagem do Dunga é o que a Globo quer já que ele saindo eles impõe um fantoche para que seja o novo técnico.
O monopólio da informação é bastante interessante sempre...