sexta-feira, 1 de outubro de 2010

TEMOS "OPÇÕES" PARA PRESIDENTE?

FABRÍCIO MACIEL



Em vésperas do primeiro turno, a palavra “opção” não sai da mídia. Vejamos o que temos. José Serra se desesperou. Parece aquele funk carioca: “ah, que isso eles estão descontrolados”. Começou a agredir Dilma, com o apoio da Globo, num nível que dá até vergonha de comentar. Confesso que no primeiro debate entre os presidenciáveis achei que ele melhorou muito seu carisma. Jantou o debate. Dilma estava tensa e Marina boazinha como sempre. Alguma coisa aconteceu que balançou o nariz tucano. Engraçado. Uma das ondas infundadas contra o PT é dizer que se trata de um partido rachado. Pergunto-me: por que a candidatura de Serra foi um fracasso? Acho que ele até melhorou seu sorrisinho. Conclusão: além de um partido cuja única orientação ideológica é a administração empresarial, parece que os “serenos” tucanos molharam seus narizes com o sereno da noite escura que é a política mundial atual e estão mais rachados do que o bico dos tucanos de mau humor na Amazônia. Além de ser um partido conservador pseudo-progressista e reformista, não apresentou força nacional em suas alianças regionais. A ausência da figura de Fernando Henrique, grande figura do partido, sugere que Serra não era seu preferido. Sinto muito. Tiro no pé, ou talvez vento no nariz, dos tucanos.

Marina é a onda pseudo-esquerda. Cresceu um pouco nas parcas pesquisas de “opinião” e seus eleitores assumidos logo exageraram a dose (a maioria dos que conheço curtem doses estranhas). Tá valendo. Mas vamos à verdade. Falarei por minha experiência pessoal durante a campanha, no corpo a corpo, no mundo acadêmico, e na blogosfera. Todas as pessoas que conheço, sendo elas intelectuais inteligentes que nesse aspecto sempre tiveram meu respeito, continuam me decepcionando. Tudo bem, ideologia é igual a nariz (só para dar mais uma sacaneada nos tucanos), cada um tem a sua. Mas vamos assumir minha gente, o que realmente nos motiva. Me parece que existem dois tipos de eleitores verdes (qualquer alusão a marcianos seria maldade do leitor): os ingênuos, que apostam na cara boazinha de Marina, e os “conscientes”. Estes eu conheço mais, pessoalmente. Colegas acadêmicos, professores, alunos. O discurso é o da esquerda da esquerda, mas isso só quando se assume, por conveniência momentânea, que ainda existem direita e esquerda na política. Todos os que conheço, antes das eleições fazem parte da boa gente que acredita na política descentrada, no fim das classes sociais, no fim das estruturas hierárquicas de dominação. Não por acaso, levantando a origem social e política da maioria, não dá outra: classe média estabelecida, como origem social, e ressentimento com o PT, como passado político. Dá para imaginar os interesses neutros e altruístas desta galera.

Por fim, Dilma. Começou um pouco tensa, sendo acusada de pouco carisma. Curioso. Lula é acusado de muito carisma. Não sei o que essa gente quer. Nem sei se sequer querem. O fato é que, diferente da desunião tucana, (poderiam aprender com os simpáticos animais da Amazônia) Dilma avançou em tranqüilidade e equilíbrio durante a campanha. Não preciso falar de sua história, pois creio já estar bem divulgada. Um fato inédito: nenhum presidente jamais foi tão afinado com sua candidata como Lula. A cada dia que passou durante a campanha, melhoraram na divulgação honesta dos feitos de seu governo e na coerência. Para quem não sentia firmeza em Dilma, como se ela fosse governar sozinha, acho que não resta mais dúvida: Lula e Dilma são uma só cara. Ela aprendeu com o maior político do Brasil. Outros, como o candidato do Rio ao governo, Sérgio Cabral, também aprenderam. Basta lembrar o último pífio debate entre os candidatos ao governo do Rio. A cara boazinha de Gabeira convence pouca gente. O fantoche do Garotinho, só para não perder o trocadilho, “peregrinou” entre propostas vagas e ataques ridículos a Cabral. Superou Tiririca na comédia, ao perguntar para Gabeira o que ele achava de Cabral. Eu não imaginava que o cabra era tão tosco.

Conclusão: Dilma está bombando para estourar no primeiro turno. Que lição de coerência e limpeza na campanha. Está provando a cada dia que não é fantoche de Lula. Que bobice esta crítica. Quase não acredito quando ouço. Como podem os conservadores ainda acharem que o povo é tão burro a ponto de acreditar que apenas uma pessoa governa uma nação, e com isso alegar ridiculamente que Lula continuará governando. O próprio Lula, como ninguém, explica de forma simples: um presidente precisa de um bom time ao seu lado. E como se diz no futebol, em time que está ganhando não se mexe. Se FHC não tivesse outros preferidos e outros interesses, talvez a goleada no PSDB fosse menos vexatória. Sinto muito pelos tucanos. Eles que cuidem de seu próprio nariz.

Desejo a todos um ótimo fim de semana e um ótimo voto, “consciente”, é claro. Afinal, o voto é secreto e “opção” também é igual a nariz, cada um tem o seu. Apesar de que alguns tem uns maiores né. Fazer o que. No caso dos pacíficos bichinhos da Amazônia, a grandeza do nariz é natural. No caso dos políticos tucanos, digamos que uma síndrome de Pinóquio (seria uma maldição, para os exotéricos?) chegou para ficar. Enquanto isso, continuamos assistindo o time que está ganhando, jogando um futebol simples, apoiado no passe de bola, como todo grande time, time este que não se resume a Lula, Dilma e Cabral, mas inclui todas as pessoas que acreditaram e ainda acreditam na revolução realista que se presencia no Brasil. Não é a revolução encapuzada de Florestan Fernandes, nem a revolução passiva de Werneck Viana, mas a revolução lenta, constante, transparente e possível, iniciada por Lula e seu time. Uma revolução real, diferente do fetiche da revolução francesa que em sua versão marxista periférica imbui campanhas de inúmeros pequenos partidos de pseudo esquerda da esquerda da esquerda. (Afinal, a pseudo esquerda da esquerda é o PV né). A revolução brasileira é real, aqui e agora, está nos números da economia, da educação, do trabalho, da qualidade de vida melhorada dos mais pobres.

Viva o povo brasileiro. Viva o futuro. Hoje podemos falar no povo e nos pobres sem o fantasma da acusação do “populismo” e da “demagogia”. Passamos por isso. Em time que está ganhando não se mexe. Feliz voto a todos os brasileiros.

11 comentários:

Décio Vieira da Rocha disse...

Interessante o texto.Serra é um conservador que não tem margens reformistas e progressistas.Marina é a falsa esquerda(tudo o que eu queria nesse mundo é achar a verdadeira esquerda dentro desse país, se é que al existe).E Dilma?Dilma não é nada, mas tá fazendo uma boa campanha e vai ganhar, que legal.
Sérgio Cabral que faz acordos sujos com os municípios dando obras falsas nas eleições e obrigando a apoia-lo(prometendo até expansão da UENF para Italva com nove cursos novos)seria a direita progressista?Ah sim! Com certeza, foi ele quem criou as UPPs para matar bandido e fazer os luxuosos apartamentos de São Conrado valerem quase um milhão de novo.Puxa vida, porque que eu não pensei nisso antes?Malditas Ciências que não nos despertam na hora certa...

Fabrício Maciel disse...

Caro Décio,

muito obrigado pela leitura atenciosa e pelas críticas muito bem fundamentadas.

Também achava que Dilma não era nada, mas uma olhada em seu site pessoal me informou mais sobre isso. Sua atuação na energia do RS, dimensão esta fundamental para o conforto de qualquer sociedade, foi séria, honesta e competente. No governo Lula, não foi diferente.
Como chefe da casa civil, cargo mais importante no governo como todos sabem, ela aguentou a pressão enquanto o presidente, na condição de negociador entre a política economica externa e a política social interna, precisou tantas vezes abandonar o palácio, visitando de perto os problemas do país e viajando para fora de modo a estabelecer uma condição digna de economia emergente, ainda que eu tenha sérias restrições com este conceito inflado atualmente, devo admitir que para um país de economia semi periférica, como diria Wallerstein, isso é necessário.

O assunto Cabral é controverso. Sim, temos o PMDB como grande aliado. A governabilidade de uma nação com natureza rica, que enche os olhos do mundo, é tensa, e exige um presidente negociador. Esta é a realidade da política brasileira. Sem alianças como esta resta entregar o governo ao PSDB, PPS e DEM,cujos interesses sociais sempre foram explicitamente menores do que o PT e suas complicadas alianças pela governabilidade.

Tb não creio nas promessas de Cabral, mas precisamos dele e de outros para, como disse Lula, termos um time ao nosso lado. A democracia prática e realista, sem utopias, possível no Brasil de 2010 é essa. Digo isso com coração apertado mas com esforço de reflexão.

Concordo contigo no ponto de que matar bandidos e pacificar comunidades como Cabral tem dito é complicado. Não penso assim. Lula tb não, mas o governo estadual tem sua autonomia relativa. Dilma tb nao pensa assim.

Quanto a verdadeira esquerda, ela é histórica, se construiu em tres gerações e está no poder com o partido dos trabalhadores.

O conceito de esquerda em um país como o nosso, escravo do capitalismo mundial que a duras custas tem diminuido tal escravidão, significa, em minha visão, a difícil conciliação entre capacidade administrativa, governabilidade e interesses sociais. Quanto a este último ponto, o mais importante para mim, desconheço governo com maiores empenhos do que o atual.

A vida não é fácil, sabemos, muito menos para um país de modernidade periférica que precisa defender suas riquezas naturais e humanas dos interesses do capitalismo mundial. Quem achar esta tarefa fácil pode se candidatar a presidente nas proximas eleições, como fazem os pequenos partidos de pseudo esquerda da esquerda. Falar é fácil. Fazer, sao outros quinhentos, para lentamente desfazer as mazelas que os quinhentos anos de economia mundo causaram a países como o nosso.

Um único e grande exemplo do esforço do governo atual, com Dilma na casa civil, instancia na qual passam todas as coisas antes de chegar ao presidente negociador, é a renacionalização da Petrobras, agora com maioria das ações novamente estatais.

Sem contar o pagamento da dívida externa. HOje emprestamos dinheiro ao FMI, Lula, Dilma e o ministro da educação entram nas universidades, como pude ver pessoalmente em Juiz de Fora recentemente, e sao ovacionados, por professores e alunos tanto das classes médias quanto das populares, algo impensável na era FHC. Nenhum ovo arremeçado e nenhuma placa dizendo fora FMI. Este é o Brasil de hoje, um pouco melhor do que há oito anos.

abraço e obrigado pela presença

Fabrício Maciel disse...
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Décio Vieira da Rocha disse...

Uma instituição similar Existe com respeito a constituição dos departamentos executivos da administração.O mecanismo é bom quando a qualidade exigida dos candidatos são submetidas aos exames adequados, e quando são estabelecidas as regras adequadas para a promoção dos funcionários; quando as tarefas são convenientemente distribuídas entre aqueles que devem executá-las, quando elas são executadas dentro de uma ordem metódica e conveniente, e quando um registro correto e inteligível é feito depois de sua execução; quando cada indivíduo conhece suas responsabilidades, e suas responsabilidades são conhecidas pelos outros; quando em qualquer ato da administração, as melhores precauções são tomadas contra a negligência, o favoritismo ou a malversão. Mas os freios políticos não devem agir sozinhos, tanto quanto um arreio não pode guiar o cavalo sem o cavaleiro.Se os funcionários da fiscalização forem tão corruptos ou tão negligentes quanto aqueles que devem fiscalizar, , ou se o público, a mola-mestra de todo o mecanismo de fiscalização , for ignorante demais, passivo demais, ou cuidadoso e inatento demais para cumprir sua parte, pouco benefício poderá ser extraído do melhor aparato administrativo. Ainda assim um bom aparato é preferível a um mau aparato. Ele permite extrair o máximo da pouca força motriz, ou repressora do mau existente; e sem ele, nenhuma força motriz ou repressora seria suficiente. A publicidade , por exemplo, não constituirá nenhum impedimento ao mal., nem um sem estímulo ao bem,, se o público não quiser ver o que está acontecendo; mas sem a publicidade, como poderia o público refrear ou encorajar aquilo que não lhe foi permitido ver? A constituição ideal de uma função pública é aquela em que o interesse de um funcionário coinicide inteiramente com o seu dever.Nenhum sistema isolado nos levará a isso, mas nunca o conseguiremos sem um sitema habitualmente preparado para esse fim.

John Stuart Miil
Considerações sobre o governo participativo(pag 20, editora UNB)

Um texto bastante importante para as véperas das eleições, já que os candidatos a presidências tem algumas dificuldades públicas de conseguir fazer uma extensão que seja realmente reformista e necessária.



P.S-Só uma pequena colocação, o programa da Dilma informa que os projetos policias do governo federal vão se insipirar sim nas UPPs, enquanto isso a Colômbia toma todas as fronteiras brasileiras para abastecer seu mercado.

Décio Vieira da Rocha disse...
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Décio Vieira da Rocha disse...
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Décio Vieira da Rocha disse...
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Ramon Cristóvão Mancini disse...

E agora? O segundo turno tá aí! auehauheauehauehauhea

Virem-se, PeTralhada!

George Gomes Coutinho disse...

Caro Ramon Cristóvão Mancini,

Pela indigência intelectual do seu comentário ele merece aqui permanecer enquanto o mais poderoso exemplo de como NÃO se deve participar de um debate político ou de idéias.

Permanecerá como um monumento à incapacidade de boa parte do imaginário político dominante.

Fabrício Maciel disse...

George,

confesso que poucas vezes vi um amigo responder de forma tão elegante a uma agressão tão irrefletida.

Alguém deve ter sentido o mesmo que vc quando inventou o ditado do tapa com luvas de pelica. (deve haver aqui uma analogia com pelicano)

(qualquer confusão de pelicano com tucano é maldade do leitor e politicamente incorreto, mesmo por que uma das modinhas - quem me dera que fosse de viola - do momento é dizer que o partido do meio ambiente determinou, ops, preservou a democracia com o segundo turno...)

Não é à toa que George é xará de um tal de Harrison e de um tal de Lukacs...

Fabrício Maciel disse...

Respondendo ao Décio,

desculpe a demora. Todo candidato precisa de um discurso que toque no ponto modal de seus eleitores.

A questão social mais discutida sobre o Rio é violência e ponto. Cabral foi estratégico e não podia deixar de tocar nela.

Tb não gosto do discurso da pacificação, é o mesmo do filme Tropa de Elite, contra o qual eu mesmo publiquei um texto na época explicitando seu teor fortemente conservador.

mas vamos com calma, o Brasil não é o Rio e Dilma não é Cabral...

Extraindo a necessidade eleitoral do discurso, não podemos negar que a política ao qual ele se refere interferiu de modo positivo na vida de muitas comunidades.

As pessoas ligadas ao poder paralelo sao minoria em qualquer comunidade de qualquer grande cidade brasileira. As comunidades são habitadas por batalhadores que defendem diariamente sua dignidade e sua integridade física.

A interferencia feita no Rio é muito melhor do que a do Estado de Sao paulo por exemplo, e o de Minas, no qual morei por quatro anos. BH é cada vez mais violenta.
Cade a politica dos tucanos?

Não meteram o nariz onde não foram chamados, ou seja, no perigo que a desigualdade causa a grande parte da população, nao por acaso a mais carente em termos materiais.

abraço e sigamos no debate