quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A imprensa aloprou

Por Alberto Dines (01/12/ 2009)

A Folha de S.Paulo consegue se superar a cada nova edição. Mais surpreendente do que a publicação do abjeto texto de Cesar Benjamin (sexta, 27/11), sobre o comportamento sexual do líder metalúrgico Lula da Silva quando esteve preso em 1979, foi a completa evaporação do assunto a partir do domingo (29), exceto na seção de cartas dos leitores.

Num dia o jornal chafurda na lama, dois dias depois se apresenta perante os leitores de roupa limpa e cara lavada, como se nada tivesse acontecido. E pronto para outra.

Não vai pedir desculpas? Não pretende submeter-se ao escrutínio da sociedade? Não se anima a fazer um debate em seu auditório e depois publicá-lo como faz habitualmente? E onde se meteram os procedimentos auto-reguladores que as empresas de mídia prometem há tanto tempo quando se apresentam como arautos da ética? Não seria esta uma oportunidade para ensaiar algo como a britânica Press Complaints Comission (Comissão de Queixas contra a Imprensa)?

E por que se cala a Associação Nacional de Jornais? Este não é um episódio que põe em risco a credibilidade da instituição jornalística brasileira? Um vexame destas proporções não poderia servir de pretexto para retaliações futuras? Ficou claro que depois do protesto inicial ("Isto é uma loucura!"), o presidente Lula encerrará magnanimamente o episódio. A Folha, em compensação, enfiará o rabo entre as pernas.

Ninguém estrila

É bom não perder de vista o fato de que esta lambança de um jornal isolado será fatalmente estendida à mídia como instituição. E logo alimentará as inevitáveis desavenças da próxima campanha eleitoral. Isto não interessa aos que desejam preservar o resto de republicanismo desta imensa republiqueta nem àqueles que levam o jornalismo a sério e não querem vê-lo desacreditado, como acontece na Venezuela.

A verdade é que a imprensa brasileira aloprou, levou a sério sua proximidade com o show-business; a obsessão pelo espetáculo e pela "leveza" levou-a para o âmbito da ligeireza, vizinha da irresponsabilidade.

Por outro lado, o controle centralizado das redações associado ao terror de iminentes demissões em massa desestimula qualquer cautela e a mínima prudência. Ninguém estrila ou esperneia. Os jornalistas brasileiros, apesar de tão jovens, andam encurvados – de tanto dar de ombros e não importar-se.

Ano penoso

Há exceções, tênues, percebidas apenas pelos especialistas, porque nossa mídia – ao contrário do que acontece nos EUA e Europa – faz questão de apresentar-se indiferenciada, uniformizada, monolítica, sem nuances.

Este 2009 foi um ano penoso para a Folha, o jornal talvez prefira esquecê-lo. Mas seus parceiros de corporação deveriam refletir sobre o perigo de atrelar uma indústria ou instituição aos faniquitos juvenis de quem ainda não conseguiu assimilar os compromissos públicos de uma empresa privada de comunicação.

***

Em tempo: O recuo da Folha na edição de terça-feira (1/12) é ainda mais vergonhoso do que a denúncia da sexta-feira anterior. Colocar na boca do pivô do episódio que "o artigo de Benjamim é um horror" é uma manobra capciosa, covarde, para responsabilizar um articulista delirante e inocentar diretores irresponsáveis. A Nota da Redação, na seção de cartas, está atrasada quatro dias: pode satisfazer as dezenas de missivistas que se manifestaram, mas despreza os milhares que, horrorizados, leram o resto do jornal.

6 comentários:

Roberto Torres disse...

É o nosso cancer esta imprensa...
Quando sabemos dos bastidores, para o que ajuda muito a internet, é impossível controlar o ódio...
Mas o pior é que existe uma máquina de fabricar jornalistas prontos para "chamar o patrao de colega" e desde sempre renunciar a qualquer autonomia na construcao diária dos fatos.

xacal disse...

temos folha lá, e folha cá...são folhas de embrulhar peixe podre, e o nosso estômago...

Brand Arenari disse...

Parece que a folha de Sp vem seguindo o caminho da Veja, ou seja, perda de credibilidade nos setores menos conservadores da classe média. Nao custa lembrar que há uns 10 anos atras muita gente lia a Veja, mas hj quase ninguem le mais, apenas setores raivosos da direita dao alguma credibilidade a Veja. A folha, que já foi um bom jornal, está indo para o mesmo caminho.
Só discordo que ela possa ser chamada de folha de embrulhar peixe podre. Pq no tiete nao tem mais peixe, nem mesmo podre.

Paulo Sérgio Ribeiro disse...

As únicas folhas da "folha" que não merecem embalar peixe podre são as do caderno "Mais!". Quanto ao César Benjamin, cai como uma luva o dito "nada mais conservador do que um ex-comunista".

Fabrício Maciel disse...

A edição recente de Veja está batendo no filme de Lula com a crítica chula de que é ideológico...quem dera a eles que tivessem uma história de vida e político semelhante, digna de um filme desses.

bill disse...

Cláudio (não sei quem é) escreve no blog do Nassif:

1)Se mentira, é mais uma mentira do Cesinha em nome da sua causa política; ser O comissário do povo.

2) Se foi uma blague, um sarro, uma gozação do Lula, lembrar deste tipo de brincadeira como se fosse uma denúnica é mau caratismo ao estilo McCarthy.

3)Se foi uma fala à vera, retratando uma verdade, o silêncio do CB à época foi um ato de covardia; sua denúncia agora, mero oportunismo.

Abraço.