segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Os PIGS e a oposição em Campos


O jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim cunhou o termo “PIG”, uma sigla que significa Partido da Imprensa Golpista, para retratar o papel que a grande imprensa desempenha no cenário nacional. A grande imprensa, ao invés de informar, age como um partido político, direcionando e construindo a pauta da oposição ao governo Lula, oposição esta em frangalhos devido ao estrondoso sucesso do Governo. A cada dia esta imprensa inventa crises e sonha com um golpe que retire Lula do poder. Vale lembrar que a verve golpista não é conjuntural, mas sim estrutural na casta da grande imprensa brasileira, ela sempre foi golpista, elitista e conservadora.

Assim, sabemos que, se meter descaradamente em política e ter vocação golpista não são nenhuma novidade nesta imprensa, porém essas suas características essenciais se radicalizaram nos últimos tempos, fazendo com que ela se aproxime mais de um partido do que de jornais ou emissoras de televisão, e é nisso que a sigla de PHA faz muito sentido. Num olhar rápido, poderíamos dizer que isso se deve a duas principais causas: (1) o desafio de uma instituição (grande imprensa nacional) chafurdada na ditadura de ter agora de sobreviver numa sociedade democrática (segundo o historiador Eric Hobbsbawm a democracia no Brasil começa com a eleição de Lula); e (2) também lidar com a repentina perda de poder diante a expansão da informação via internet, ou seja, perda do monopólio da informação, sua principal fonte de poder.
Mas afinal, poderíamos dizer que este processo do PIG nacional tem algo a ver com a situação sócio-histórica da planície pantanosa que pertenceu um dia aos índios goytacá? Acredito que, embora com muitas diferenças, há algumas semelhanças valiosas, as quais nos permitem essa comparação. De alguma maneira podemos pensar que o jornal campista Folha da Manha tem exercido um papel semelhante no que se refere à construção da pauta da oposição em Campos. No entanto, para transformar essa afirmação acima em algo sustentável, e não numa denuncia típica do “denuncismo terrorista” sem conteúdo do “garotismo”, precisamos olhar, mesmo que sucintamente, as possíveis diferenças e semelhanças com o quadro nacional.

Quanto às principais diferenças, a primeira delas é que a democracia ainda não chegou em Campos. Muito embora o movimento “muda Campos” tenha sido um robusto suspiro de democracia, o qual rompeu com o poderio das elites tradicionais agrárias, isso foi dissolvido pelo personalismo megalomaníaco do seu líder, a saber, Garotinho. Assim, o nosso PIG nunca teve de enfrentar um governo democrático, mas por seu lado, enfrentou um processo semelhante no que se refere ser expulso das barbas do poder. O governo Garotinho, com quem estes se aproximaram num primeiro momento, devido sua vocação por ser situação, lhe virou as costas e criou seus próprios meios de lidar com a imprensa, desse modo, com a vitória recente de Rosinha foram obrigados a ser oposição.

Já o fenômeno do declínio de poder da imprensa em virtude da expansão da internet é um episódio global, em qualquer canto desse mundo, sobretudo os jornais impressos, estão sendo impactados por isso. Não podem mais impor impunemente suas opiniões e às vezes sua versos distorcidas e mentirosas dos fatos para uma população passiva. A velocidade e a democratização da informação e da crítica oferecida pela internet, em especial os blogs que formam uma guerrilha foquista contra a grande mídia, destronam aos poucos os ex-latifundiários da informação. Do mesmo modo, a Folha da Manha é obrigada a enfrentar a rica blogsfera campista.
Assim como faz o PIG nacional, o PIG local quer compensar seu assombroso declínio de poder com o “aparelhamento” da oposição. Tentam dirigir e controlar a vida política do que poderia ser a oposição. Se no cenário nacional o PIG tenta reorganizar e levantar o moral das tropas Demo-tucanas que vem sendo massacradas pelos exércitos do presidente, e também procura inventar uma pseudo-esquerda, como é o caso do apoio a Marina Silva, na planície Goytacá a história não é muito diferente.
Depois da derrota do seu candidato nas últimas eleições, o PIG campista vive sobre o temor de perder seu braço político no Estado, devido ao fenômeno que sempre ocorre em Campos, ou seja, os vereadores querem ser sempre situação, não importa quem esteja no poder. Assim ela busca dar uma cara à oposição, e como faz o PIG nacional, chama os vereadores de oposição às falas. Um exemplo disso foi a última entrevista com a vereadora Odisséia, na qual a folha exige uma unidade e cara da oposição. A “Folha” alardeia que foi ela que colocou a pauta da luta contra o aumento do IPTU, o qual os vereadores aprovaram unanimemente (um exemplo sintomático do que estamos mostrando, a folha inventa uma oposição).

Mas a “Folha” também procurar construir e aparelhar uma pseudo-alternativa à esquerda, como faz o PIG Nacional com Marina Silva, ambos na tentativa de inviabilizar uma verdadeira alternativa. Nas últimas eleições, quando a rede blog campista começou a especular sobre a possibilidade de uma alternativa genuína aos arnaldistas e garotistas, dando espaço e fazendo entrevistas com os setores mais progressistas do PSDB e PT em Campos, a “Folha” logo respondeu dando espaço e também fazendo entrevistas aos setores mais conservadores destes partidos, querendo se apropriar de uma possível alternativa. Mas vale lembrar, que a “Folha” nunca deixou de apoiar a bloco arnaldista.
Ainda na tentativa de se apropriar e controlar uma pseudo-alternativa à esquerda, agora a “Folha” distribui espaços em seu jornal e na sua rede blog para setores do PT de Campos. Um outro exemplo sintomático disto que falamos é que como nas últimas semanas a rede blog se agitou cobrando uma postura mais à esquerda da vereadora Odisséia, exigindo dela uma clareza de postura em relação aos tradicionais blocos políticos de Campos, a “Folha” responde concedendo uma entrevista à vereadora. Desse modo, não foi a vereadora que respondeu em seu blog, ou por qualquer outro meio seu, as demandas da população, mas sim a “Folha” que dita quando e como a vereadora deve responder.

Isso é apenas um aperitivo para pensarmos o papel que a mídia busca exercer na política local, um convite para que possamos analisar e entender este processo, e até mesmo, através do debate, refutar algumas idéias que aqui postei.
Como última nota, vale lembrar que é muito clara a posição do PT e do governo Lula em relação ao PIG nacional, porém ainda não é muito clara a posição que o PT de Campos tem em relação ao PIG local.

9 comentários:

agitadorcultural disse...

Tirando as bandeirolas ao PT, excelente análise.

Bakhunin disse...

Não entendi.

Como assim "bandeirolas ao PT"?

Pelo que li, o artigo se refere, justamente, a imprensa, seu papel e sua relação com o único partido de esquerda que tem alguma relevância para merecer alguma análise.

Infelizmente(para a esquerda e para a Democracia)o PSOL e o PSTU se isolaram tanto que quase tocam o DEMO/PV como um encontro de extremos.

No texto, Brand nos dá um diagnóstico das dificuldades que o PT enfrenta nessa cidade para se consolidar como uma campo de oposição que represente alternativa de poder, o que é bem diferente da oposição "relógio quebrado" praticada pelo PSOL e PSTU(marcam a "hora certa" duas vezes ao dia, mas sempre estão parados no tempo).

Em Campos, pelo que entendi, não houve um governo democrático, e tampouco há uma oposição de esquerda democrática com os quais a imprensa tenha que se confrontar.

Por isso, as tentativas permanentes em transformar toda interlocução em captura.

Um abraço.

Brand Arenari disse...

Se falei muito do PT é porque acho que não tem como falar de política neste país sem falar do Governo Lula. Mas a minha admiração por esse governo eu deixo claro para todos e estou disposto a debater publicamente as minhas escolhas políticas. Essa é a relação saudável com a política que eu acredito. Assumir posturas, crenças, valores, interesses e partir para o debate.
O que quis demonstrar no post é que a imprensa é o avesso disso, ela faz política o tempo todo, e agora só faz política e mais nada, e finge não fazer. Quer manipular o jogo da política o tempo inteiro, quer impor seus interesses de classe e pessoais, fingindo informar as pessoas.
Eu quis de alguma maneira demonstrar como essa lógica nacional ocorre também em Campos. Acredito que desvendar as artimanhas do rabudo é o melhor meio de enfraquecê-lo, sem partir para um confronto direto com ele. Espero ajudar a deixar claro quem são os inimigos de uma alternativa genuína para Campos e como eles agem.

Um Abraço.

agitadorcultural disse...

Bakhunin, ninguém falou de PSOL e muito menos de PSTU.

E como disse antes, a análise em relação à mídia, tanto nacional quanto local, está excelente. Assino em baixo.

O problema é quando se puxa a sardinha para o tal governo Lula. Mas não quero desvirtuar a atenção do excelente debate em relação à mídia para a discussão partidária. Quanto à mídia local, ainda bem que temos a blogosfera campista e andamos muito bem com ela.

Roberto Torres disse...

Como partido dissimulado em meio de informacao desinteressado a mídia nao é ruim apenas quando difama governos em nome de seus interesses, mas também quando manipula a oposicao eleita, sobretudo quando esta nao tem cabeca própria, como é o caso de Campos.

Bakhunin disse...

Como assim?
"(...)Mas não quero desvirtuar a atenção do excelente debate em relação à mídia para a discussão partidária."

Se o próprio autor nos rvela que seu texto é justamente sobre mídia e partidos.

O que fiz foi apenas ressaltar que não dá para falar de mídia e política, sem falar no PT, porque PSOL e PSTU não tem relevância que mereça destaque, o que, para Democracia, como disse, é ruim.

Resumindo: no campo da esquerda, tirando o PT, não sobra muita coisa, ou quase nada.

Eu desconfio que não queres centrar a discussão nesse ponto porque deténs preferência por algumas dessas duas siglas, e temes ter que concordar que elas não ofereçam um contraponto digno de nota.

Um abraço

agitadorcultural disse...

Nem o PSTU nem o PSOL, e muuuuuito menos o PT merecem algum contraponto digno de nota.

São todos iguais. Se esperançar por alguma mudança em algum destes partidos é achar que alguma coisa vai mudar apertando o botãozinho verde do voto no dia da eleição.

Se esperançar com o PT ou com o DEM ou PSTU e PSOL é ser masoquista demais.

Fazer uma análise e ser imparcial é algo, às vezes, difícil ou quase impossível. Sempre tendemos a vender nosso peixe. Pra mim fica claro que o Brand, assim como outros membros da Outros Campos, não fazem mesmo questão de esconder a simpatia ou a filiação ao partido. E isso não desqualifica o debate de ninguém, mas, às vezes, fica "chapado" demais essas posições políticas (petistas) quando outros, que não fazem coro com a situação, venham saborear algumas ideias aqui nestes campos.

bill disse...

Caro agitador,

creio que o "outros campos" é mais plural do que você imagina... o próprio governo Lula é isso, né? O que muitas vezes leva a contradições.

Bakhunin disse...

ahhh, entendi,

o agitador está buscando um espaço idílico, ou hermeticamente fechado, à prova de contaminação política, onde possa "saborear" ciência no estado puro da arte.

é, quem sabe?

quando encontrar, destrua essa coisa, pois pode chocar algum tipo mutação genética positivista-nazista.

repito a frase:

"(...)Fazer uma análise e ser imparcial é algo, às vezes, difícil ou quase impossível."

aí nasce o ovo da serpente.

a nova religião a cientologia imparcial.

tenham santa paciência. é para isso que esse pessoal gasta mei imposto de renda?

para fazer umas provocaçõezinhas dessas do tipo do Bill?

arghhh!