segunda-feira, 29 de março de 2010

Para onde vai a Odisséia? Para mares nunca dantes navegados ou irá encalhar sua Nau na lama?

Foi só a vereadora Odisséia dar um tímido passo a esquerda, apontando para uma possível construção de algo genuinamente alternativo, para que aqueles que não têm o menor interesse em uma mudança verdadeira em Campos contra-atacassem, tentando puxar a vereadora para seu curral fétido e imundo.

É ridícula a tentativa de inventar figuras na política de Campos, e mesmo inventar projetos de um vereador que nunca foi petista e que nunca apresentou um projeto amplo para a cidade, para com isso, tentar enquadrar a vereadora na pseudo-alternativa que o ‘Pig campista” quer empurrar para Campos. ( Para mais detalhes sobre o “Pig Campista” ver: http://outroscampos.blogspot.com/2010/02/os-pigs-e-oposicao-em-campos.html )

A análise disso é que o cerco se fecha para a vereadora Odisséia, cada vez mais fica claro que ela deverá escolher qual tipo de projeto político ela buscará construir. Que ela estará contra o Garotinho, parece líquido e certo, porém resta saber em que lado das fileiras contra garotinho ela vai estar. Irá ela compor a base do projeto que visa vencer garotinho mesmo sem ter a pretensão de romper com o que ele representa ou ela buscará construir uma base genuinamente alternativa para Campos?

A primeira opção representa a aliança com o “garotismo” anti-garotinho, ou seja, a continuidade da maneira de fazer política engendrada por garotinho, só que pelas mãos dos filhos que ele criou e que brigaram com o “pai”, bem ao modo da relação de saturno e seus filhos na mitologia grega, filhos estes que no caso são Arnaldo Viana e Cia. Ainda nesta primeira opção estão a “viúvas do império rural”. Essas viúvas são partes do que sobrou da velha elite local, a qual foi destronada por garotinho e quer derrotar seu inimigo. Quem melhor representa isso é o Pig local e sua sanha em manipular e moldar um projeto pseudo-alternativo para a cidade. O velho e marcante conservadorismo se traveste de moderninho, finge querer mudança para manter as coisas como estão.

A outra opção é um trabalho árduo e arriscado, porque ainda não existe como um projeto, deverá ser construído entre anseios e vontades dispersas. Para isso terá que reunir os frangalhos do PT, movimentos sociais e sindicatos que ainda restam, setores do PPS, do PCdoB e Psol e acima de tudo mapear e entender com quais setores da sociedade campista poderá contar.

Qual lado ela irá optar? Não é fácil de prever, porque mesmo tendo ela participado do governo de Mocaiber sua história como militante antiga das lutas sindicais e do PT a empurram para o outro lado. Acredito que a resposta pode ser encontrada no tamanho da ambição da vereadora. A escolha é: ter papel de destaque em um movimento que ainda precisa ser construído, mas poderá mudar a cara da cidade para sempre, ou ter um vida política com pouco brilho e talvez mais estável a curto prazo, porém correndo o risco de ter seu nome ligados a escândalos na política.

Essa é a pergunta que o povo de Campos espera que a vereadora responda. E então, para onde vc vai Odisséia?

sábado, 27 de março de 2010

Qual é mesmo o programa do PSDB para o Brasil?
Por Marco Aurélio Weissheimer
Um dos números mais terríveis do Ibope para o governador José Serra é o que aponta a manifestação espontânea de voto. Segundo a pesquisa divulgada nesta quarta-feira (17), o presidente Lula lidera com 20%, sendo seguido pela ministra Dilma Rousseff, com 14% e por Serra, com 10%. Ou seja, somados, Lula e Dilma chegam a 34% contra apenas 10% do tucano. As más notícias, para o PSDB, do levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria não param por aí: a diferença entre Serra e Dilma caiu 13 pontos percentuais em relação à última pesquisa Ibope. Na estimulada, Serra tem 35% e Dilma, 30%. Na pesquisa anterior, realizada em novembro, Serra tinha 38% e Dilma, 17%. O índice de rejeição da ministra caiu de 41% para 27% desde a última pesquisa. E 42% dos entrevistados não sabem que ela é candidata de Lula.
A pesquisa Ibope/CNI mostra que a avaliação positiva do governo do presidente Lula também cresceu. Mais do que isso, bateu seu recorde. O governo Lula foi avaliado de forma positiva por 75% dos pesquisados. Em novembro, esse índice era de 72%. Outros 19% avaliaram o governo Lula como regular, e apenas 5% como ruim ou péssimo. Já a aprovação pessoal do presidente Lula se manteve estável na casa dos 83%. Neste mês de março, somente 13% disseram desaprovar o presidente e 4% não souberam ou quiseram responder. Na comparação entre o primeiro e o segundo mandatos do presidente Lula, 49% consideram que o segundo é melhor que o anterior. Outros 40% consideram igual, e 9% dizem que o segundo é pior que o primeiro. O Ibope ouviu 2.002 pessoas entre os dias 6 e 10 de março.
Pesquisa confirma tendência de polarização
Em relação às candidaturas de Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV), a pesquisa não apresentou maiores novidades. Ciro caiu dois pontos em relação à pesquisa anterior, ficando com 11% das intenções de voto. Já a senadora Marina Silva manteve os 6% que conseguiu no último levantamento. Com a presença de Ciro, Serra tem 38% de preferência e Dilma, 33%. Neste mesmo cenário, Marina chega a 8%. Ou seja, a pesquisa Ibope apresenta a mesma tendência de polarização verificada nos levantamentos anteriores de outros anteriores. Até aqui, não há grande espaço para o surgimento da famosa “terceira via”, lugar acalantado tanto por Ciro quanto por Marina. Ainda é cedo, mas a disputa Dilma-Serra vai tomando conta, além do tabuleiro político, também da percepção do eleitorado.
Os números do Ibope reforçaram a preocupação dos partidários de Serra. Até a metade da tarde desta quarta, o site nacional do PSDB ignorava a pesquisa, sem fazer qualquer comentário sobre ela. Sinal de que falta o que dizer no momento. Pelo twitter, o presidente nacional da sigla, Sérgio Guerra, procurou minimizar o resultado dizendo que Serra “se manteve estável” na pesquisa porque “não faz campanha eleitoral antecipada”. “O Serra operou esse tempo todo como governador. Não operou como candidato”, disse Guerra, esquecendo-se de mencionar as agendas carnavalescas de Serra e as freqüentes inaugurações de obras em São Paulo (atividades que, no caso da ministra Dilma Rousseff, segundo o PSDB, configurariam propaganda eleitoral antecipada).
PSDB sem programa e sem discurso
A dificuldade do PSDB com as palavras é compreensível. O partido tem um candidato conhecido, mas sem discurso e programa. E a cada nova pesquisa esse vazio vai sendo exposto. Neste novo levantamento do Ibope, há um dado muito expressivo: mais da metade dos entrevistados (53%) disseram que pretendem votar nas eleições deste ano em um candidato apoiado pelo presidente Lula. Some-se a este dado aquele que afirma que 42% dos entrevistados não sabem que Dilma é candidata de Lula e o tamanho do problema para os tucanos está bem configurado. Ainda segundo os números do Ibope, a candidata do PT ficou mais conhecida e a rejeição em relação ao seu nome caiu expressivamente. Em resumo, não uma única notícia boa para Serra na pesquisa, a não ser que se considerasse que Dilma poderia ter crescido ainda mais.
E, a julgar pelas projeções, isso deve ocorrer nas próximas pesquisas. O nome de Dilma é o único que vem crescendo desde setembro de 2009. Enquanto isso, Serra permanece estagnado, ou estável, como preferem dizer seus apoiadores. A diferença pró-Serra caiu de 20 pontos percentuais, em setembro, para apenas 5 pontos agora em março. O que os tucanos não querem reconhecer (e não podem) é que esse crescimento é acompanhado de uma alta aprovação das políticas do governo Lula. O Ibope avaliou essas políticas divididas em nove áreas: combate à fome e à pobreza, educação, meio ambiente, combate ao desemprego, combate à inflação, taxa de juros, saúde, segurança pública e impostos. Apenas nestas três últimas, o índice de desaprovação foi maior do que o de aprovação.
Criação de emprego: melhor fevereiro da história
A área mais bem avaliada é a de combate à fome, com 69% de aprovação. Em segundo lugar, vem a educação, com 62%, e, em terceiro, meio ambiente, com 58%. A pesquisa mostra ainda que, no que se refere ao combate ao desemprego, a aprovação voltou ao nível anterior à crise econômica internacional, 60%. E, pela primeira vez desde março de 2006, a aprovação da política de juros (46%) foi maior do que a desaprovação (44%). E isso que o Ibope não computou o efeito do melhor fevereiro da história na geração de empregos no país: mais 209 mil vagas no mês passado, o novo recorde histórico registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. O resultado é 52% maior do que a média dos melhores registros em fevereiro, que ocorreram entre 2003 e 2008.
Os números ajudam a entender os altos índices de aprovação do governo Lula. No primeiro bimestre de 2010 foram gerados 390.844 postos de trabalho, melhor resultado da série histórica para os meses de janeiro e fevereiro, superando em 66% a média dos melhores desempenhos, ocorridos entre 2003 e 2008. Nos últimos 12 meses, a variação acumulada do emprego formal teve alta de 4,63%, resultado da criação de 1.478.523 postos de trabalho, o maior aumento registrado desde dezembro de 2008, nesse tipo de comparação. O Brasil alcança assim a marca de 33.391.863 trabalhadores com carteira assinada. O setor de serviços, a indústria de transformação e a Construção Civil puxaram esse bom desempenho. Diante desses números, cabe perguntar: e aí Serra, qual vai ser mesmo o programa do PSDB?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Concurso público na área de Sociologia -
Teoria Sociológica
Edital nº 33/2010-R
a) Inscrições: 23/03/2010 a 13/04/2010
b)Área/sub-área:Ciências Sociais ou Sociologia/Teoria Sociológica (código. CNPq: 7.02.01.01-3)
c)Local de inscrição: Depto. de Ciências Sociais. 2ª a 6ª feira das 8:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 hs.
d) Informações adicionais sobre o programa e a bibliografia do concurso: Tel: 27-4009-2506 , ou nos seguintes e-mails: depcso@npd.ufes.br e luizmuramatsu@yahoo.com.br ou ainda no site do Centro: www2.cchn.ufes.br/depcso
e) Endereço para inscrição via correio:
Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes
Centro de Ciências Humanas e Naturais – CCHN
Departamento de Ciências Sociais
Campus Universitário de Goiabeiras “Alaor de Queiroz Araújo”
Av. Fernando Ferrari, 514 – Vitória –ES Cep: 29075-910
f) formulário e documentação para inscrição, no link abaixo:
http://www.drh.ufes.br/
g) Data provável das provas
Entre 16 a 23 de junho de 2010.
Prof. Luiz N. Muramatsu
Chefe Depto. de Ciências Sociais-Ufes

quinta-feira, 25 de março de 2010

OBSERVATÓRIO DE CONTROLE DO SETOR PUBLICO (OCSP)

Desejamos que essa iniciativa envolvendo a extensão universitária e a sociedade campista favoreça um debate propositivo sobre o controle social das políticas públicas. Desde já, contam com este blog para repercutir e discutir idéias e projetos acerca dessa questão que, sem dúvida, divide águas na planície goitacá.

A PROEX/UENF, por meio do projeto Participação Política e Estado, coordenado pelo Cientista Político Prof. Dr. Hamilton Garcia, em parceria com o Instituto Federal Fluminense (IFF), Universidade Candido Mendes (UCAM), empresários, líderes comunitários e sindicalistas locais, vem mobilizando a sociedade campista para o controle social sobre os governos locais. O projeto parte da premissa que o bom governo depende de mecanismos sociais de controle com a participação do cidadão na gestão pública, fiscalizando e monitorando as ações governamentais.

Nesse sentido, está em processo de estruturação o Movimento Nossa Campos (MNC), que pretende ser um pólo de atração dos diversos setores sociais interessados no bom governo.

Com vistas a isso, convocamos todos os interessados para se fazerem presentes à reunião desse domingo (28/03), na OAB*, às 16h para a fundação do OBSERVATÓRIO DE CONTROLE DO SETOR PUBLICO (OCSP) que, vinculado ao MNC e inspirado no Instituto da Cidadania Fiscal (ICF)**, pretende monitorar, progressivamente, os processos licitatórios locais – da divulgação dos editais à entrega das obras –, estimulando a livre concorrência entre as empresas e maximizando o uso dos recursos públicos em prol de toda a coletividade.

Movimento Nossa Campos, 24/03/2010

* Rua Barão da Lagoa Dourada, 201 - Centro -, em frente à Pça. do Liceu.
** Que desenvolveu tecnologia social informatizada, premiada pela ONU, visando o controle e fiscalização dos gastos públicos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Caros,

Como já é sabido o IUPERJ passa por sua pior crise. Após superar tantas outras, muitos acreditam que esta seja apenas mais uma. Infelizmente, a situação desta vez se mostrou além do que se poderia esperar de uma instituição de tamanha credibilidade nacional e internacional.
Individualmente o que podemos fazer é muito pouco, e uma delas é assinar o manifesto de apoio às soluções propostas de emancipar o IUPERJ da Universidade Cândido Mendes por meio da criação de uma organização de interesse público.

Abaixo segue a carta aberta dos professores da Casa. E aqueles que quiserem apoiar podem assinar a carta click aqui.

Na esperança de uma solução rápida e eficiente,

Vitor Peixoto



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Carta aberta dos professores do IUPERJ



Rio de Janeiro, 15 de março de 2010.


Prezados colegas e amigos do IUPERJ,


Voltamos, nós do IUPERJ, a recorrer aos colegas das Ciências Sociais e da Academia em geral. Dirão alguns decerto que se trata da continuada crise que os ocupou em nosso apoio, em momento crítico há seis anos atrás. Sim, é a mesma, só que agravada ao seu mais extremo limite, pois agora o que está em jogo é o encerramento das atividades da instituição.

Nestes últimos anos, a situação da Universidade Candido Mendes, mantenedora do IUPERJ, só fez deteriorar-se. Nos últimos dois anos, não recebemos 9 salários dos 26 devidos e vários direitos trabalhistas não são honrados desde 1999. Em 2010 não temos qualquer perspectiva de que receberemos salários ao longo de todo o ano letivo. Ora, como não temos recursos próprios, que fazer para evitar um desfecho que nos é catastrófico?

Estamos negociando com o Governo Federal, através do Ministério da Ciência e Tecnologia, a formação de uma Organização Social, entidade que propiciaria aporte de recursos públicos, inclusive orçamentários, e privados para o Instituto: trata-se da única alternativa capaz de garantir a sobrevivência institucional. Ocorre, porém, que não são poucos os obstáculos nesse caminho, até mesmo uma argüição de inconstitucionalidade das OS no Supremo Tribunal Federal. Se superados todos os obstáculos, vale lembrar, só alcançaremos resultados tangíveis em 2012, não obstante o apoio manifestado por diversas agências governamentais.

Incerto e longo, o caminho não será percorrido sem o apoio e a solidariedade da comunidade científica, os quais, diga-se a bem da verdade, jamais nos foram negados. O alerta aos poderes públicos só se efetivará de fato com crescentes manifestações de preocupação com o destino do IUPERJ.

O IUPERJ é sua história, o empenho de seus estudantes, funcionários e professores nestes últimos 40 anos; seus programas de Ciência Política e Sociologia, respectivamente com graus 6 e 7 na avaliação da CAPES e ambos totalmente gratuitos; as 281 teses de doutorado e 471 dissertações de mestrado aqui defendidas; o fato de que 41% de seus doutores egressos ensinam e pesquisam em universidades públicas e 23% o fazem em instituições particulares; os 40 doutores do exterior aqui diplomados; os 11 grupos de pesquisa ora cadastrados no CNPq. É por tudo isso que acreditamos numa solução institucional e decidimos iniciar o ano letivo mesmo sem salários.

Queremos continuar a fazer o que sempre fizemos. A instituição é maior que cada um de nós. Tudo faremos para tentar salvá-la, mas nem tudo está ao nosso alcance. Por isso, pedimos, e é este o verbo, o apoio dos colegas.

Adalberto Moreira Cardoso
Argelina Maria Cheibub Figueiredo
Carlos Antonio Costa Ribeiro
Cesar Augusto C. Guimarães
Diana Nogueira de Oliveira Lima
Fabiano Guilherme M. Santos
Frédéric Vandenberghe
Gláucio Ary Dillon Soares
Jairo Marconi Nicolau
João Feres Júnior
José Maurício Domingues
Luiz Antonio Machado Silva
Luiz Jorge Werneck Vianna
Marcelo Gantus Jasmin
Marcus Faria Figueiredo
Maria Regina S. de Lima
Nelson do Valle Silva
Renato de Andrade Lessa
Renato Raul Boschi
Ricardo Benzaquen de Araújo
Thamy Pogrebinschi


Textos sobre a crise no IUPERJ

O IUPERJ vale uma missa
Luiz Werneck Vianna

'Já estamos hoje no limite'
Entrevista com Jairo Nicolau

IUPERJ: desafio e crise
Gilberto Velho

USP - Departamento de Sociologia e Ciência Política
Antônio Flávio Pierucci e Álvaro de Vita

IUPERJ enfrenta crise financeira e deixa de pagar professores
Folha de São Paulo

Cartas dos Leitores
Jornal O Globo

Universidades privadas afundam em crise

Ponto Final
Ancelmo Gois

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mais do Mesmo

Roberto Torres


Há poucos dias postei um texto sobre a hegemonia do tema corrupcao no debate político nacional e local. Gostaria de continuar o assunto.

No último domingo o jornal Folha de Sao Paulo publicou uma reportagem http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u706596.shtml) sobre „consórcios paralelos“ criados por grandes empreiteiras a fim de neutralizar a concorrencia das licitacoes públicas. Segundos consta nos documentos do inquérito da Polífica Federal, construtoras acertam quem vai executar uma obra e entao participam separadamente da licitação. Escolhida a vencedora, a partilha é feita por fora, no tal „consórcio paralelo“.

O envolvimento de empreiteiras em casos de corrupcao nao é nenhuma novidade.Financiando campanhas, entre outras métodos, grandes empreiteiras conseguem anular a concorrencia na luta por recursos economicos através de relacoes de favor com políticos poderosos. Percebemos este fato como uma prova empírica de que o Estado corrompe a economia. A corruptibilidade do setor público seria a expecativa de ganho de agentes economicos dispostos a enriquecer sem competir. Ao fim e ao cabo se reproduz a visao de que a política é o reino do vício e da corrupacao e o sistema economico o das virtudes do trabalho e da concorrencia aberta.

Esta visao de mundo nao é nova e muito menos brasileira. Sua premissa fundamental é que o „capitalismo moderno“ seria um „capitalismo de direito“, como se houvesse uma tendencia evolutiva de que os „consórcios paralelos“ (um belo eufemismo pra máfia) cedessem lugar à transparencia dos programas de investimento economicos de „agentes privados“. Enfim, haveria uma afinidade fundamental entre a diferenciacao/expansao do sistema economico e o cumprimento da lei. Todo tipo de „relacao privilegiada“, „tráfico de influencia“, etc. seria uma fase de transicao para o „capitalismo moderno“. A relacao entre máfia e economia seria uma „sobrevivencia do passado“, um anacronismo, algo fora do lugar, sem razao de ser no presente. A realidade nao seria ela mesma.

Ao lado dessa projecao temporal, que desloca para o passado tudo aquilo que nao se adequa à uma compreensao ruim do presente, temos a regionalizacao: o passado está no Brasil, a corrupacao é patologia da América Latina, do Nordeste, de Campos, de Guarús etc. A razao é uma só: falta de moralidade no Estado ou pelo menos nos políticos „realmente existentes“.

Nessa visao está excluída a possibilidade de que a patologia seja gestada na economia mesmo. Nao se dispoe, com essa semantica que só enxerga corrupcao no Estado, a observar as estratégias que os próprios agentes economicos dispoem para driblar a lei, para neutralizar os pressupostos legais da concorrencia, atecipando-se a eles. É exatamente isso que mostra a reportagem do jornal, é exatamente isso que mostra a "regulacao" exergida pelas empresas de telecomunicacoes sobre as agencias reguladoras, e é exatamente isso que mostrou sobejamente a crise do capitalismo financeiro em 2008 nos EUA. Mas a vinculacao automática de corrupacao com política contínua em vigor.

sábado, 13 de março de 2010

Como se defender da “defesa” dos royalties?

Paulo Sérgio Ribeiro

A emenda do deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) a favor da distribuição equitativa dos royalties do petróleo entre as unidades da federação repercute no espectro político “campista” como uma situação-limite para os municípios do Norte e Noroeste Fluminense, na medida em que os respectivos orçamentos públicos passaram a ser constituídos, com graus de dependência variáveis, pelo volume desses recursos financeiros. É inegável a centralidade desses recursos para a política fluminense, a despeito do poder de influência de seus agentes na política nacional de petróleo. No entanto, a recente mobilização em Campos dos Goytacazes pela manutenção dos royalties suscita o entendimento (um tanto duvidoso) dos problemas do município como que resumidos à reedição de um “O petróleo é nosso!” numa campanha à esquerda e à direita pela defesa da legitimidade da distribuição atual dos royalties, já que estes seriam proporcionais às necessidades engendradas pelo crescimento econômico do eixo Campos-Macaé. Se este for o horizonte programático, predomina então uma visão economicista que tem por efeito negligenciar a discussão sobre o quão sustentado pode ser esse crescimento num cenário que faz coexistir tecnologias de ponta, super-exploração da força de trabalho e pobreza massificada.

Mesmo no caso de um apoio condicional àquela campanha por segmentos da sociedade civil capazes de vocalizar uma mudança de forma e de conteúdo da política em Campos dos Goytacazes há de se pensar um projeto de desenvolvimento que tenha o foco não necessariamente nas conseqüências de um novo arranjo distributivo dos royalties para esta porção do território fluminense, mas, primeiramente, na compreensão de seus antecedentes históricos. Para tal tarefa não encontro abordagem mais oportuna do que a de José Luis Vianna da Cruz (2005) ao qualificar o advento dos royalties do petróleo como uma face local de nossa modernização conservadora. O trabalho de Cruz expõe com clareza a reconfiguração política do norte do Estado do Rio de Janeiro a partir da onda de municipalização da segunda metade da década de 1980, além de indicadores sobre o mercado de trabalho que confirmam o aprofundamento das desigualdades sócio-econômicas nas últimas décadas. Vale a pena nos apropriarmos da maneira como Cruz interpreta tais indicadores, especialmente quando contextualiza o “regionalismo” como uma gramática política dominante que, hoje, é modulada pelo acirramento dos conflitos federativos em torno de um marco regulatório para o “Pré-Sal”.

Qual seria o fundamento prático do regionalismo na referida abordagem?

O progressivo esvaziamento econômico do Noroeste Fluminense com a erradicação da lavoura cafeeira em meados do século passado; o deslocamento do centro dinâmico da agroindústria sucroalcooleira para São Paulo e a desorganização da economia fluminense com a mudança do distrito federal do Rio de Janeiro para Brasília acentuariam a condição periférica do Norte Fluminense, dando margem a uma perspectiva de modernização que, durante a ditadura civil-militar (1964-1985), demarcava na monocultura da cana e na sua agroindústria o terreno por excelência de uma intervenção federal na região. Para Cruz, tal intervenção sedimentou um “fechamento da região”. Os não poucos recursos da União rubricados pelo Instituto do Açúcar e Álcool (IAA) e pelo Plano de Racionalização da Indústria Açucareira e do Programa Especial do Álcool (Proalcool) seriam repassados à região sob o controle estrito da oligarquia agrária de Campos dos Goytacazes, atestando a eficácia de um discurso sobre o desenvolvimento regional ancorado no prestígio de suas lideranças na região histórica do Norte Fluminense e na comunidade de interesses instituída na partilha do butim do Proalcool entre aquele patronato fazendeiro, mandatários, técnicos e alguns sócios menores no comércio e jornalismo locais (alguns editoriais ainda são bastante didáticos quanto ao teor bairrista dessas alianças).

Ora, a transferência de recursos para a região sob os auspícios da “Viúva” não era problema antes dos royalties, sobretudo quando traduzida pelo velho expediente do privatizar lucros e socializar prejuízos. A modernização da agroindústria sucroalcooleira tutelada pelo Estado implicou, por um lado, na expansão da monocultura da cana em detrimento das lavouras de subsistência e, por outro, no declínio da antiga cadeia produtiva que supria o aparato técnico das usinas devido à sua dependência tecnológica em relação à indústria paulista. Para o trabalhador rural haveria poucas chances de integrar-se àquele ciclo modernizador senão pela generalização do vínculo de trabalho clandestino – a ante-sala do inferno chamado trabalho escravo –, pela alternância do trabalho rural com o biscate urbano ditada pelo ritmo sazonal da produção açucareira e pela degradação de seu modo de vida com a favelização posta como alternativa (ou falta dela) ao recrudescimento do monopólio da terra. Cruz ressalta a pobreza estrutural dessa fração da classe trabalhadora, entregue à própria sorte ao engrossar o contingente de desempregados e subempregados cuja amplitude pressiona para baixo os salários e restringe as oportunidades de realização das camadas populares aos serviços não exigentes quanto à educação formal.

Com freqüência nos deparamos com o seguinte raciocínio: a diminuição dos royalties em Campos pode causar desemprego. Ora, por que o alarde? Talvez pela crença coletiva na correlação entre os royalties do petróleo e uma idéia difusa de “progresso”. Embora louvável quanto aos fins nela presumidos, tal crença não resiste a um único dado do trabalho de Cruz: os empregos gerados pelo complexo extrativista de petróleo, em torno de 40 mil desde os anos 1980, não superam o excedente de mão de obra produzido pelo simples crescimento vegetativo da PEA entre os anos 1970 e 2000 e pela perda de postos de trabalho no complexo açucareiro entre 1980 e 2000, respectiva e aproximadamente 40 e 35 mil pessoas, com o agravo de que não seria possível (nem razoável em face dos preceitos universalistas do direito ao trabalho) assegurar a partir da economia do petróleo uma reserva de mercado para a região posto que sua mão de obra é recrutada em todo o país. Desse modo, os royalties do petróleo, como recursos tributários oportunos para uma nova política de desenvolvimento que venha a incorporar a questão social radicada no Norte e Noroeste Fluminense, têm seus usos prescritos pelo consenso conservador em torno da “região” como um pretenso destinatário genérico daqueles recursos, servindo assim a toda sorte de mistificação.

Contra essa ideologia regionalista, vale lembrar a recomendação de Celso Furtado (2003), a qual José Luis Vianna da Cruz segue de perto, de não nos recolhermos nos antolhos da especialização nas ciências sociais que induzem a separar forçadamente o estudo dos fatos econômicos do estudo dos mecanismos de ordem sociocultural que condicionam o comportamento dos agentes que constroem esses fatos cotidianamente. Noutros termos, tanto ao estudioso quanto ao ativista cabe entender a conexão de sentido entre a idéia de região e as escolhas possíveis na disputa pela mudança da ordem social; disputa esta inscrita no próprio imaginário que permeia a região ora como a idéia de um futuro em aberto, ora como a morte no nascedouro de aspirações sociais progressistas sem as quais não se viabiliza a reconstrução do consenso em bases verdadeiramente populares.

A ascensão de um bloco de poder a partir dos impactos da economia do petróleo nos governos municipais não contradita, senão confirma, que o esvaziamento antes de ser econômico é político, na medida em que se reiterou sob novas formas o padrão de gestão pública caracterizado pelo poder desmedido de um grupo político que mantém o controle privado dos recursos federais arrecadados localmente. Aqui, creio que ser válido perguntar: como se defender da “defesa” dos royalties? Será que a resposta recairia numa espécie de regionalismo estratégico pelo qual se corre sempre o risco de legitimar os “de sempre” em prejuízo dos “de baixo”? Ou seria o caso de pensarmos que esse regionalismo é subsidiário da ausência de um debate sobre o orçamento público a ser promovido pelas forças de esquerda em Campos dos Goytacazes? Com um tímido e não menos sincero “otimismo da vontade” lembro do PT, do PSOL e de nossas poucas associações civis independentes como um campo político no qual os termos de um orçamento público participativo sejam discutidos e reivindicados de modo diverso da chantagem cínica e mal-disfarçada em slogans como “Nossa região” ou “Nossa Campos”.

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Recomendação de leitura: o trabalho de José Luis Vianna da Cruz que consultei encontra-se na coletânea, organizada pelo próprio autor, "Brasil, o desafio da diversidade", editada em 2005 pelo Senac. Outra boa fonte de estudo segue abaixo:

FURTADO, Celso. Raízes do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

Há também muitas pesquisas defendidas no curso de graduação em ciências sociais e nos programas de pós-graduação do CCH/UENF que tratam de temas e problemas relativos à região Norte e Noroeste Fluminense.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Exemplo de Pudim

O blog gostaria de parabenizar deputado federal Geraldo Pudim pela atitude democrática que teve nesta semana. É louvável a ação de um político que tem a coragem e o espírito democrático de debater com os blogueiros os problemas da cidade. Vale lembrar que políticos tidos como progressistas e de partidos de esquerda ainda não tiveram essa atitude em Campos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Para que defender a política da corrupcao?


Confirmando a visao que nós brasileiros temos sobre nosso país, a agenda política local nao deixa dúvida: nenhum tema político é mais importante do que o combate a corrupacao. Dizer o contrário na terra de Garotinho e sua tradicao provavelmente seja visto como um insulto cínico aos que se preocupam com a coisa pública. Gostaria de levantar algumas questoes a respeito.
Mesmo a corrupacao no Brasil sendo maior do que em países desenvolvidos é um enorme equívoco considerá-la como uma singularidade nossa. Precisamos nos rebelar contra este preconceito internacional que essencializa em nós uma patologia de todos os países. Preconceito que, entre outras coisas, serve de justificativa para que o Brasil page juros enormes ao sistema financeiro internacional. É em parte pela plausibilidade deste preconceito que nossas elites economicas naturalizam o fato de precisarmos pagar mais caro pelo crédito.
Por isso é preciso questionar como essa agenda contra a corrupacao, imposta internacionalmente e abracada internamente, toma o lugar da principal contradicao social existente entre nós: a exclusao social. Ao tomar nosso tempo e toda nossa energia para os assuntos políticos o tema da corrupacao funciona como um impedimento para a própria política: nao se discute o teor das decisoes políticas, para onde elas podem nos levar e de onde elas devem nos tirar, mas somente se sao ou nao corruptas. Nao se busca definir o bem comum, mas somente defende-lo da corrupcao. Isto nao significa que nao se deva condenar ou condenar menos a corrupcao. Mas é preciso questionar se ela é mesmo nosso maior desafio rumo a uma política melhor. Ao esgotar nosso incomodo com a corrupacao nao produzimos mais do que uma negacao da política, uma negacao que condena a política corrupta sem nada dizer sobre para que queremos a política.
Em Campos a situacao é bastante dramática. O Governo Rosinha foi eleito com o discurso de enfrentar a corrupcao de Mocaiber. A oposicao hoje pode constatar e denunciar que o discurso é falso, o que promete dividendos eleitorais no futuro breve. No fim a questao é mostrar quem é menos corrupto, quem escapa melhor da justica ou quem desmascara mais corrupacao. Assim parece se formar a orientacao de interesses dos políticos e de seus observadores locais. O dilema é que a causa do combate a corrupcao é travada em defesa da política moralizada sem que se crie nenhum tema atraente para que as pessoas se interessem por defender a política. Queremos defender a política de algo e a falta de um horizonte no qual faca sentido a política impede até a motivacao para esta defesa.

domingo, 7 de março de 2010

A miséria moral de ex-esquerdistas


por Emir Sader

Alguns sentem satisfação quando alguém que foi de esquerda salta o muro, muda de campo e se torna de direita – como se dissessem: “Eu sabia, você nunca me enganou”, etc., etc. Outros sentem tristeza, pelo triste espetáculo de quem joga fora, com os valores, sua própria dignidade – em troca de um emprego, de um reconhecimento, de um espaçozinho na televisão.

O certo é que nos acostumamos a que grande parte dos direitistas de hoje tenham sido de esquerda ontem. O caminho inverso é muito menos comum. A direita sabe recompensar os que aderem a seus ideais – e salários. A adesão à esquerda costuma ser pelo convencimento dos seus ideais.

O ex-esquerdista ataca com especial fúria a esquerda, como quem ataca a si mesmo, a seu próprio passado. Não apenas renega as idéias que nortearam – às vezes o melhor período da sua vida -, mas precisa mostrar, o tempo todo, à direita e a todos os seus poderes, que odeia de tal maneira a esquerda, que já nunca mais recairá naquele “veneno” que o tinha viciado. Que agora podem contar com ele, na primeira fila, para combater o que ele foi, com um empenho de quem “conheceu o monstro por dentro”, sabe seu efeito corrosivo e se mostra combatente extremista contra a esquerda.

Não discute as idéias que teve ou as que outros têm. Não basta. Senão seria tratar interpretações possíveis, às quais aderiu e já não adere. Não. Precisa chamar a atenção dos incautos sobre a dependência que geram a “dialética”, a “luta de classes”, a promessa de uma “sociedade de igualdade, sem classes e sem Estado”. Denunciar, denunciar qualquer indicio de que o vício pode voltar, que qualquer vacilação em relação a temas aparentemente ingênuos, banais, corriqueiros, como as políticas de cotas nas universidades, uma política habitacional, o apoio a um presidente legalmente eleito de um país, podem esconder o veneno da víbora do “socialismo”, do “totalitarismo”, do “stalinismo”.

Viraram pobres diabos, que vagam pelos espaços que os Marinhos, os Civitas, os Frias, os Mesquitas lhes emprestam, para exibir seu passado de pecado, de devassidão moral, agora superado pela conduta de vigilantes escoteiros da direita. A redação de jornais, revistas, rádios e televisões está cheia de ex-trotskistas, de ex-comunistas, de ex-socialistas, de ex-esquerdistas arrependidos, usufruindo de espaços e salários, mostrando reiteradamente seu arrependimento, em um espetáculo moral deprimente.

Aderem à direita com a fúria dos desesperados, dos que defendem teses mais que nunca superadas, derrotadas, e daí o desespero. Atacam o governo Lula, o PT, como se fossem a reencarnação do bolchevismo, descobrem em cada ação estatal o “totalitarismo”, em cada política social a “mão corruptora do Estado”, do “chavismo”, do “populismo”.

Vagam, de entrevista a artigo, de blog à mesa redonda, expiando seu passado, aderidos com o mesmo ímpeto que um dia tiveram para atacar o capitalismo, agora para defender a “democracia” contra os seus detratores. Escrevem livros de denúncia, com suposto tempero acadêmico, em editoras de direita, gritam aos quatro ventos que o “perigo comunista” – sem o qual não seriam nada – está vivo, escondido detrás do PAC, do Minha casa, minha vida, da Conferência Nacional de Comunicação, da Dilma – “uma vez terrorista, sempre terrorista”.

Merecem nosso desprezo, nem sequer nossa comiseração, porque sabem o que fazem – e os salários no fim do mês não nos deixam mentir, alimentam suas mentiras – e ganham com isso. Saíram das bibliotecas, das salas de aula, das manifestações e panfletagens, para espaços na mídia, para abraços da direita, de empresários, de próceres da ditadura.

Vagam como almas penadas em órgãos de imprensa que se esfarelam, que vivem seus últimos sopros de vida, com os quais serão enterrados, sem pena, nem glória, esquecidos como serviçais do poder, a que foram reduzidos por sua subserviência aos que crêem que ainda mandam e seguirão mandado no mundo contra o qual, um dia, se rebelaram e pelo que agora pagam rastejando junto ao que de pior possui uma elite decadente e em vésperas de ser derrotada por muito tempo. Morrerão com ela, destino que escolheram em troca de pequenas glórias efêmeras e de uns tostões furados pela sua miséria moral. O povo nem sabe que existiram, embora participe ativamente do seu enterro.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Notícias do Front: as tropas de Dilma já estão na margem do Oder, ou seria o Tietê? Parte 2

ATA DA REUNIÃO DO PIG

Amigos, os mesmos acontecimentos, mas deixando exalar um pouco mais de enxofre...


Instituto Millenium: A Conferência de Comunicação particular da direita

Fórum Democracia e Liberdade de Expressão exibe preocupação da mídia com avanços democráticos. Ataques a governos de centroesquerda e aos movimentos sociais dão o tom.

por Gilberto Maringoni, em Opera Mundi

“O Plano Nacional de Direitos Humanos [PNDH] é um totalitário”, “o stalinismo predomina no PT”, “temos de ir para a ofensiva”, “Vamos acabar com essa história de ouvir o outro lado na imprensa”, “governo cínico, cínico, cínico!”, “democracia não é só eleição”. Frases assim, proclamadas com ênfase quase raivosa, deram o tom no Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado na segunda (1), em São Paulo.

O evento, promovido pelo Instituto Millenium, foi uma espécie de Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) particular da direita brasileira, facção grande mídia. Revezaram-se nos microfones, convidados internacionais, donos de conglomerados e seus funcionários de confiança. Fala-se aqui da Editora Abril, da Rede Globo, da Rede Brasil Sul (RBS), da Folha de S. Paulo, do Estado de S. Paulo e agregados. Como se sabe, tais setores resolveram boicotar a I Confecom, um processo democrático ocorrido em todos os estados da Federação, que culminou em uma etapa nacional, realizada em dezembro último. Presentes nesta, cerca de 1,3 mil delegados, entre empresários, movimentos sociais e governo. O total de pessoas envolvidas em suas fases regionais envolveu cerca de 12 mil participantes.

Terceirizando a bílis

Pois o Instituto Millenium fez seu convescote para cerca de 180 participantes. Eram empresários, jornalistas e interessados, que desembolsaram R$ 500 cada um, por um dia de atividades. Na mira dos palestrantes, os governos de centro esquerda da América Latina, os movimentos sociais, o governo Lula e o PNDH. As intervenções mais moderadas foram as de Roberto Civita (Abril) e de Otávio Frias Filho (Folha), que buscaram, de certa forma, situar seus interesses na cena política. Externam o que se espera de proprietários de monopólios. Defendem a livre iniciativa de “investidas antidemocráticas como o controle social da mídia” e “menos legislação para o setor”, no dizer de Civita. Roberto Irineu Marinho (Globo) foi ainda mais discreto. Ficou na platéia e f ez uma única pergunta por escrito ao longo de todo o dia. Mantêm uma certa linha. Os três resolveram terceirizar a artilharia pesada para seus empregados, que fizeram uma verdadeira competição para ver quem seria o Carlos Lacerda (1914-1977) da Nova Era. O ex-governador da Guanabara, como se sabe, se notabilizou entre o final dos anos 1950 e início da década seguinte como o mais notável agitador, na TV e no rádio, em favor do golpe de 1964. Dono de uma retórica incendiária, Lacerda intimidava adversários e aglutinava seguidores para a derrubada do presidente João Goulart.

Nessa toada, os conferencistas tiveram a inusitada ajuda do Ministro das Comunicações Helio Costa,e do deputado Antonio Palocci (PT), como se verá adiante.

Visão particular da História

A primeira mesa trouxe três convidados externos, o argentino Adrian Ventura (La Nación), o âncora da televisão equatoriana Carlos Vera (Ecuavisa) e o venezuelano Marcel Granier (dono da RCTV, cuja concessão não foi renovada em 2007).

Arrogante e inflamado, Vera afirmou que em seu país “não existe liberdade de expressão”. Reclamou que seu canal de TV não recebe mais publicidade estatal e acusou o presidente Rafael Correa – “um ditador” - de ter sido eleito “por prostitutas”. Já Marcel Granier foi saudado como uma espécie de símbolo da luta pela liberdade de imprensa pelo apresentador Marcelo Rech, diretor da RBS. O proprietário da rede venezuelana denuncia “o autoritarismo do governo Hugo Chávez”. Desfia o que diz serem provocações, intimidações e a certa altura, de passagem, fala da “renúncia” de Chávez. Em nenhum momento menciona o golpe de Estado de 2002 e ao papel da grande mídia de seu país. Parece que toda a tensão em seu país nasceu por geração espontânea. Uma visão particular da História, sem dúvida.

Granier e seus colegas de mesa não deixam de deplorar a existência de aliados dos tais governos ditatoriais entre os empresários da mídia. Aliados, não. “Cúmplices”, sublinha o mediador Rech, com anuência dos convidados.

De costas para o governo

Logo após a mesa inicial, chega o convidado mais aguardado da manhã chuvosa, o Ministro das Comunicações Hélio Costa. Com seu inimitável penteado, o membro do governo falou o que a “seleta platéia”, conforme sua expressão, queria ouvir. Buscou esvaziar a Confecom de qualquer significado maior. “Através de três ministros, Luís Dulci, Franklin Martins e eu, o governo foi unânime em decidir que em hipótese alguma se aceitará algum tipo de controle social da mídia”. E enfatizou: “Isso não foi, não é e não será discutido”, enfatiza para gáudio da maioria dos presentes. Genial. O membro do primeiro escalão confraterniza-se com os que deploram seu governo como marcado por tendências discricionárias.

Libelu e Rolando Lero

A terceira mesa, intitulada “Ameaças á democracia no Brasil” foi a mais trepidante de todas. Contou com Demétrio Magnoli, o Gustavo Corção da Libelu, Denis Rosenfeld, o Rolando Lero na filosofia gaúcha, e Amauri de Souza, sociólogo. Na mediação, Tonico Ferreira (Globo).

Ferreira é mais um daqueles que um dia foram de esquerda e transitaram alegremente para a outra ponta do espectro político sem culpas. Chefe de redação do semanário Movimento, no final dos anos 1970, Ferreira, de saída, denuncia o caráter autoritário da lei eleitoral. “É censura”, diz ele, antes de passar a palavra a Magnoli.

Este não perde tempo. Logo faz um apanhado da história do PT e dispara: “A relação do partido com a democracia é ambígua. Juntamente com o PSOL, apoiou o fechamento da RCTV”. Acusa a agremiação de Lula de fazer uma volta atrás em seu ideário democrático. “Retomaram a idéia autoritária de partido dirigente e de democracia burguesa”, sentencia. E logo completa “Este movimento, de restauração stalinista, é reforçado pela emergência do chavismo e do apoio a Cuba”. Na platéia uma senhora murmura: “Que vergonha, nosso governo apoiar isso”.

O risco, para Magnoli é um possível governo Dilma, supostamente mais subordinado ao PT do que a gestão Lula. O fim das ameaças, para ele, só acontecerá “com a vitória da oposição”. Bingo! E culmina: “Não somos Venezuela e Cuba! Temos de falar que nós somos diferentes!”. Aplausos entusiasmados.

Rosenfeld vai pela mesma toada, mas busca elaborar uma “pensata” sobre o “corpo e o espírito do capitalismo”. Segundo ele, o corpo vai muito bem. “Os grupos econômicos ganharam muito dinheiro nesses oito anos”. O problema é o espírito, “os bens intangíveis”, revela o filósofo. A base material é garantida pelo governo, nas palavras de Rosenfeld, “As metas de inflação, a autonomia operacional do Banco Central e o superávit fiscal” mostrariam um rumo seguro. Mas o espírito está sendo minado, alerta. Esse ectoplasma é “a liberdade de expressão” que estaria ameaçada. E enumera os problemas, numa tediosa repetição: “O PNDH, o MST, a questão dos quilombolas” etc. etc. etc.

A sutileza do sr. Basile

O seminário foi sumamente repetitivo, diga-se de passagem. No período da tarde, os previsíveis Arnaldo Jabor, Carlos Alberto di Franco (Opus Dei) e Sidnei Basile (diretor da Abril) tentaram dar novas roupagens ao samba de uma nota só do evento. Basile, sob o olhar atento de Roberto Civita, seu patrão, defende um regime de autorregulação para a imprensa. “Algo semelhante ao Conar” (Conselho de Autorregulamentação Publicitária), formado pelas próprias agências, ao invés de uma lei para o setor.

A proposta é ensandecida. Se aplicada a toda a sociedade, com cada um supervisionando seu próprio setor, o mundo seria uma graça. Um exemplo. Não haveria mais leis de trânsito, sinais, placas, mão e contramão. Os motoristas se reuniriam e fazem um código de autorregulação. Se os pedestres reclamarem, basta acusá-los de tentar bloquear um dos mais sagrados direitos, o de ir e vir dos motorizados. Todos se atorregulariam e chegaríamos ao reino encantado de Basile. No meio de seu delírio anarquista, o executivo, sempre observado pelo patrão, acusou a convocação da Confecom por parte do Presidente da República como um ato “cínico e hipócrita”. Adendou: “Um conto do vigário”. Basile é de uma sutileza a toda prova.

Jabor, que aparentemente não preparou intervenção alguma, repetiu jaborices pelos cotovelos. Populismo autoritário, jacobinos, bolcheviques e quejandos formam o mundo a ser vencido. Homem experiente que é, contou mais uma vez já ter sido comunista. E disparou diatribes à granel. Impossível não lembrar de uma impagável frase do escritor paulistano Marcos Rey (1925-1999). Este dizia não gostar de dois tipos de gente, ex-comunistas e ex-fumantes, “porque ambos são metidos a dar conselhos”.

Reinaldos Azevedos às mancheias

A quarta mesa – “Liberdade de expressão e Estado democrático de direito” – contou com a participação de três luminares: Reinaldo Azevedo (Veja), Marcelo Madureira (Casseta) e o Dr. Roberto Romano (Unicamp), os dois últimos tentando ver quem era mais Reinaldo Azevedo que o próprio Reinaldo Azevedo.

O citado é um fenômeno da Natureza. Um criador de personagens. É uma espécie de Walt Disney de si próprio. Disney inventou o Mickey, o Pato Donald, o Pateta e uma plêiade de figuras inesquecíveis. Reinaldo Azevedo criou Reinaldo Azevedo. “Sou de direita!”, avisa de saída. “A imprensa tem que acabar com o isentismo e o outroladismo, essa história de dar o mesmo espaço a todos”.

Madureira foi mais um alardear sua condição de ex-comunista. Fez piadinhas, embora não se saiba se seu cachê incluía chistes e gags. Atacou tendências autoritárias e “recadinhos” oficiais. “O governo pressiona os editores com os anúncios da Petrobras e do Banco do Brasil. Isso é censura!” Com a presença do patrão na platéia, logo sublinhou: “A Globo não nos censura”.

Mas o humorista da tarde foi o Dr. Roberto Romano. Este revelou ao mundo uma nova teoria, que vai pegar. É sobre a militância. Atenção: “O partido de militantes causa a corrosão do caráter”. Guardem essa! Depois de A corrosão do caráter, de Richard Sennet, que fala dos vínculos trabalhistas e sociais tênues e sua influência no comportamento humano, um livro sério, o Dr. Romano vem com sua versão pândega. E explica: “No partido de militância não tem mais jornalista, médico e nem nada. Tem o militante que se reporta ao chefe”. Isso, para as muitas luzes do Dr. Romano, corrói o caráter. Olha lá, Brasil! A partir de agora, só se falará em outra coisa!

As pesquisas científicas do Dr. Romano o levaram a constatar, além de tudo, que “90% das ONGs são totalitárias”. Como o mediador William Wack prometeu publicar a fala original do Dr. Romano no site do Instituto Millenium, o mundo aguarda ansioso as fontes empíricas de tão bombástica revelação.

No fim de tudo, na última palestra, o deputado Antonio Pallocci veio confraternizar com aqueles que malharam sem dó seu partido e o governo que integrou até há poucos anos. Para agradar, também criticou o PNDH, no que foi cumprimentado ao final.

Tendências não democráticas

O Fórum do Instituto Millenium, apesar de seu tom folclórico, não é engraçado. Embora seja um direito democrático a organização de toda e qualquer facção política, é forçoso reconhecer que estas nada têm de democráticas ou plurais. Buscam se articular justamente para evitar reformas democratizantes no país e no setor de comunicação. Um ponto positivo é dado pela seguinte constatação: os monopólios de mídia se desgastaram com o boicote à Confecom. O tema da democratização da comunicação entrou na agenda nacional com força. O seminário é uma gritaria da direita. Sem problemas. O duro é buscarem, afirmar seus interesses contra a vontade e as necessidades da maioria da população.

Agradecimento

Este obscuro jornalista agradece sinceramente ao Dr. Roberto Romano pela menção ao texto “Instituto Millenium: toda a democracia que o dinheiro pode comprar!” , feita no calor de suas vibrantes intervenções. Apesar de ele ter recomendado às pessoas taparem o nariz para lê-lo, só posso ficar envaidecido com tão ilustre recomendação.

Publicado em http://www.operamundi.com.br/opiniao_ver.php?idConteudo=1063

quarta-feira, 3 de março de 2010

Os cânticos do golpe começam a ser entoados




A direita encurralada escolhe sempre a mesma saída, o golpe. Alguns comentadores políticos já tinham lançado esta hipótese: uma vitória acachapante de Dilma empurra a direita para o golpe. Como qualquer golpe não acontece de um dia para o outro, mas é sempre precedido por uma campanha de mentiras que seduzem os conservadores e canalhas de plantão, a estratégia de se criar um demônio inexistente começa a ser feita. Assim planejam, lançam primeiro uma nuvem de fumaça (de mentiras e demonizacoes), depois tanques e a infantaria.
Mas vale lembrar que tanques e infantaria são apenas metáforas, um golpe hoje no Brasil provavelmente não se daria pelo braço dos militares, mas sim pelo “mandarinato” jurídico da nação e pela nossa gloriosa mídia, a qual começa a se articular.
Vejam o texto abaixo, mas não deixem as crianças lerem isso:

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/bia-barbosa-grande-midia-organiza-campanha-contra-candidatura-de-dilma/



Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.

por Bia Barbosa, em Carta Maior
Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.
Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.
A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.
“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.
A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.
“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.
O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.
“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.
“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.
O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.
Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.
“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.
O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.
“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.
Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.
Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.
“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.
“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.
Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.

terça-feira, 2 de março de 2010

A prefeita Rosinha terá o nosso apoio na luta pelos Royalties!


Prefeita Rosinha pode ter certeza que o povo de Campos lutará lada a lado com a senhora pelos Royalties que é direito do povo campista. Mas isso só ocorrerá caso a senhora acorde em administrar democraticamente esses Royalties. Isso se daria com uma administração participativa dos recursos dos Royalties, como tem sido proposto por muitos blogueiros.

Desse modo, os professores e as professoras do município poderão opinar e designar o uso destes recursos para as necessidades de suas escolas; enfermeiros e enfermeiras, médicos e médicas e outros profissionais da saúde poderão também opinar e designar o uso destes recursos para as necessidades dos postos de saúde e hospitais, os pequenos produtores discutindo o uso destes Royalties para auxílio da agricultura e assim por diante, democraticamente, segundo as necessidades de cada área e de nosso povo em geral.

Contamos com os sindicatos e movimentos sociais que ainda se mantêm organizados e ativos como é o caso do MST e o SEPE, a FEC(?), o DCE da UENF e outros possíveis que não citei, assim como com a única representação progressista que nós temos, a vereadora Odisséia, para levar a cabo esta proposta.

AI-69



O blog “Outros Campos” agradece aos seus visitantes e freqüentes comentadores a participação, sem isto o blog não teria sentido. Aproveitamos também, para pedir aos mesmos que postem comentários que de alguma maneira se refira ao texto postado. Consideramos isso, um sinal de respeito com quem posta o texto, como também ao debate que temos cultivado aqui por quase dois anos.
Para proteger o maior patrimônio do blog, o debate, a junta militar que coordena o blog (veja a foto acima), com muito pesar baixou o ato institucional número 69. A partir deste decreto, os comentários continuam sem mediação prévia, porém, os que postaram o texto poderão excluir os comentários que acharem não condizer com o debate. E vale lembrar que o blog não é o STF, ou seja, não cabe recurso a cassação do “comentário”, não é Kassab?