domingo, 30 de maio de 2010

É puro suco...

Pensei em escrever algo sobre a conjuntura atual, mas Brizola Neto em seu blog "Tijolaço" disse tudo o que eu, e muitos dos que firmam suas trincheiras no terreno democrático-popular da política nacional, gostaria de dizer:


O perigo da volta do Serra que "já foi"

Por Brizola Neto
O projeto que a direita traçara, cuidadosamente, para tentar retomar o poder total - porque totalmente do poder ela jamais saiu - está arruinado.
A essência deste projeto era a desinformação e o esfriamento do debate político. O desconhecimento de Dilma, seu quase anonimato, era o seu trunfo. E, convenhamos, isso correspondia a uma realidade.
Uma realidade que prevalecia, se dependesse apenas do processo político convencional, inclusive das estruturas partidárias que apoiam Dilma, perdidas em composições eleitorais, disputas por "cabeças de chapa" e disputas de "espaço interno". As estruturas políticas convencionais de nossa "esquerda" estão acomodadas, sofrendo da "modorra" criada por anos de governo, de cargos, de praticar uma política que, ia se tornando semelhante, em matéria eleitoral, à dos políticos conservadores.
Alguns fatos, porém, mudaram esta situação.
O primeiro, e mais importante deles, é que Lula nem de longe trabalhou com a tese de que seu retorno ao poder em 2014 fosse o objetivo central e, portanto, nunca adotou a posição de d'après moi le deluge (depois de mim, o dilúvio, que teria sido uma frase dita por Luís XV, rei da França). E olhem que isso não é raro com governantes populares e bem avaliados, e os mais velhos podem traçar paralelos com o que ocorreu com JK.
Ao contrário. Lula, desde o momento em que escolheu Dilma sinalizou que quem enfrentaria o processo eleitoral não seria o PT ou os aliados da base do Governo, mas ele, pessoalmente. Ele, que pela sua origem e estatura, sabe que o sucesso de seu governo deveu-se não à máquina, mas a si mesmo, quis alguém externo à máquina partidária, que não tinha como desafiá-lo e quem não restava alternativa de, mesmo sem grande ânimo, senão aderir - para alguns com certo contragosto - à candidatura de Dilma.
Tenho certeza que foi enorme o sofrimento pessoal do presidente ao sacrificar Ciro Gomes - que não apenas foi um aliado fiel como é uma figura humana cativante - em nome desta identificação única: Lula é Dilma e Dilma é Lula.
E Lula enfrentou, pra valer, o processo eleitoral. Expôs-se até ao risco de quebra de sua "unanimidade", jamais recolheu-se a uma falsa posição de árbitro ou de alheio ao processo, não seguiu o modelo "Bachelet" de manter-se um tanto quanto afastado da dinâmica eleitoral para que um eventual insucesso eleitoral não tisnasse sua "canonização" política, o que era algo tão forte que até mesmo Serra - o prévio Serra - não exitava em exaltar.
Ficou claro o que Lula quis deixar claro: Lula é Dilma e Dilma é Lula.
O segundo fator foi, por conta disso, a lucidez do povo brasileiro. Na sua simplicidade, soube - e está sabendo cada vez mais - ler o que dizia o presidente e corresponder a este entendimento. A adesão à candidatura de Dilma espalhou-se como uma imensa hera, incontrolável, por vezes - para escandâlo dos sabichões elitistas - de forma aparentemente irracional (mas, no fundo, totalmente lógica e razoável, por identificação a um momento novo do país). Era a "muié do Lula", termo que nossos "punhos de renda" desprezavam, mas que para o nosso povão, na sua sincera e genial compreensão, resumia perfeitamente o significado da candidatura que ele propunha às massas. Ah, como este nosso povo é lúcido quando os líderes se oferecem a ele como referência!
Ficou claro que Lula é Dilma e Dilma é Lula.
O terceiro fator, menos importante do ponto de vista de massas, mas importantíssimo para que o debate formal e midiático não ficasse totalmente sob as rédeas da direita - como sempre aconteceu - foi esta nossa incipiente comunicação via web. As manobras, a parcialidade da mídia, as manipulações das pesquisas, tudo isso que sempre se fez impunemente nos processos eleitorais, de repente, viu-se sob o crivo de dezenas de milhares de olhos e suas contradições foram expostas, escritas num lugar em que centenas de milhares ou até milhões de pessoas poderiam ver.
Se a crise do capitalismo mundial abalou o mundo do pensamento único, foi aqui - e não na mídia convencional - que os outros pensamentos, as outras análises, os outros enfoques, as outras verdades encontraram o seu cana de expressão aberta, já não mais restritas aos círculos acadêmicos, partidários, corporativos.
Uma leitora, num depoimento que me comoveu profundamente, disso outro dia que tinha largado as panelas do jantar de sua família para ler uma determinada análise política. Será que os nossos analistas políticos se dão conta do sentido sublime e genial desta participação de alguém que, para eles, é uma pessoa amorfa, conduzida de forma incipiente pelo markentig?
A mudança de posição de Serra, abandonando o "lulismo", tem dois significados.
O primeiro é que desabou a pretensão da direita de, sob mil artifícios da mídia e de pesquisas (e ambas se confundem, não é?), inaugurar a campanha eleitoral, com o "favoritismo" de Serra. Este favoritismo seria a sua legitimação. Seria sua "ligação com o povo", que o absolveria de ser, como é, o candidato anti-povo.
Ele a perdeu. Ele está fadado a começar a campanha como o candidato das elites, do "grand-monde", da ordem interna e da obediência externa.
E isto quer dizer que seu "teto" baixou para algo como os 30% dos votos que a direita, em geral, consegue reunir em qualquer pleito eleitoral. São estes que Serra busca consolidar. Ninguém ache que o sentimento anti-Lula se resuma aos 5 ou 6% que aparecem como avaliação de "ruim ou péssimo" nas pesquisas sobre o seu Governo. Ele é correspondente, isso sim, ao 24 ou 26% que não são classificados como "aprovação".
Você pode mesmo verificar entre o seu círculo de relacionamentos que os que classificam o Governo como "razoável" são, em geral, eleitores do candidato anti-Lula.
Mas não se ganha eleição com 25 ou 30%.
É preciso criar uma crise que desestabilize esta tendência natural.
Econômica, seria o ideal. Mas o caminho para isso parece estar fechado pela punjança que a economia brasileira tem, neste momento e, ao que tudo indica, terá nos próximos meses.
Resta a crise institucional. E aí, já vimos que estamos diante de alguém desligado de qualquer princípio ético e moral, que é capaz de mentir, de camuflar, de esconder ou de intrigar de todas as formas.
Nosso dever, aqui nesta nossa pequena janela que lança luz sobre os fatos, é não descuidar e nunca achar que o inimigo está derrotado. Porque ele não segue as regras do jogo democrático e eleitoral.
Vamos vencer, sim. Mas o preço desta vitória ainda nos será muito caro. Virão ainda mil e uma armações, além das que já estão em curso.
Talvez nos sirva o preceito bíblico: vigiai e orai. Mas com um acréscimo: vigiai, orai e lutai.
Comecemos mais uma semana de combate, meus amigos.
Com a serenidade dos que têm a razão ao seu lado.
Mas com a dedicação e a coragem dos que sabem que estão lutando uma grande batalha histórica.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto...

O melhor nome, sem duvidas, era o Ciro. Mas isso nao esta mais em discussao ha algum tempo. Acontece que o Ciro nao eh do PT, e Lula jamais apoiaria alguem, mesmo aliado, de fora da sigla.

Votarei na Dilma pq ela eh Lula. Contudo, sua pouca rodagem, carisma e discurso pobre muito me preocupam. Outra questao que poucos falam eh que recentemente ela teve cancer, e o vice eh do PMDB. Nao me chamem de abutre ou algo do genero, mas nao gostaria de ver o poder maximo cair nas maos do partido do Sarney...