Nos últimos dias, duas publicações sobre o biodiesel chamaram a atenção. A primeira fora publicada pela revista “The Economist”, no dia 26 de junho, e trouxe uma análise positiva à produção brasileira no artigo “Lean, green and not mean”. Expressava claramente um posicionamento contrário à crítica ecológica e alimentar, que prevê o desmatamento da Amazônia e o aumento dos preços dos alimentos como conseqüências indesejáveis da produção do biodiesel.
A “The Economist” trazia ainda análises da pesquisadora Márcia de Moraes (USP), onde se desmistifica as condições de trabalho na maioria das plantações de cana – por este estudo, as mortes por motivos de trabalho nos canaviais brasileiros são menores do que em outros setores produtivos similares (a mecanização é um dos principais fatores explicativos, em algumas regiões já é responsável por mais de 60% da colheita). Dessa forma, a matéria foi um tiro certeiro nos principais pilares das críticas conservadoras tanto externas quanto internas.
Não obstante, hoje o jornal americano “The New York Times” traz uma crítica ao biodiesel que desconsidera absolutamente a produção brasileira. O jornalista Jad Mouawad, que nasceu em Beirute e fora criado em Paris, analisa os riscos das variações climáticas para os preços do biodiesel pelas recentes inundações dos Estados produtores de milho (corn belt – principalmente, Iowa, Illinois, Indiana e Ohio).
Em duas páginas de matéria (intitulada "Weather Risks Cloud Promise fo Biofuel") , o jornalista não cita sequer uma única vez a produção brasileira. Também nada fala sobre a tecnologia Flex, criada no Brasil, que permite a utilização de múltiplas matrizes energéticas, que poderia diminuir os riscos das variações de preços ao consumidor.
Não é novidade alguma a disseminação do medo como tática de mercado. Entretanto, a matéria do “The New York Times” torna ainda mais clara a forte atuação na imprensa de grupos de interesses da indústria petrolífera.
Se a crítica ecológica não tem fundamento, então, criticaram-se os riscos do desabastecimento alimentar. Como também não se sustentaram por muito tempo, o risco das variações de preços é a mais nova invenção da velha tática do conservadorismo como forma de frear as evoluções e os progressos.
Nas duas primeiras críticas (ecológica e abastecimento alimentar), havíamos presenciado as “teses da ameaça”, já que a introdução do biodiesel ameaçaria tanto as florestas quanto os preços dos alimentos (apesar de serem contraditórias, se ameaça o abastecimento, não poderia ameaçar a floresta, pois esta já não existiria! Mas a lógica não é o forte destes críticos...). O discurso das oscilações dos preços, provocadas pelas variações climáticas, inova a retórica e insere a “tese dos efeitos perversos”, pois a alternativa do biodiesel introduziria ainda mais imprevisibilidades nos mercados.
Para completar a tríade das “retóricas da intransigência” de Albert Hirschman falta apenas a “tese da futilidade”. Quiçá esta esteja reservada aos próprios críticos e suas críticas!
Um comentário:
Sobre isto vítor, sem considerar estes aspectos a que vc se refere, há uma eficiência também em relação a um novo cenário que começa a se tornar realidade, qual seja, um ambiente com muita oferta de CO2. Comprovadamente a cana-de-açúcar é um vegetal que se aproveitará disso, mais que o milho por exemplo, podendo interferir, ainda que pouco nos processos naturais de despoluição. Só falta mesmo a melhoria das condições de trabalho... Gostei do texto. abração.
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