segunda-feira, 8 de março de 2010

Para que defender a política da corrupcao?


Confirmando a visao que nós brasileiros temos sobre nosso país, a agenda política local nao deixa dúvida: nenhum tema político é mais importante do que o combate a corrupacao. Dizer o contrário na terra de Garotinho e sua tradicao provavelmente seja visto como um insulto cínico aos que se preocupam com a coisa pública. Gostaria de levantar algumas questoes a respeito.
Mesmo a corrupacao no Brasil sendo maior do que em países desenvolvidos é um enorme equívoco considerá-la como uma singularidade nossa. Precisamos nos rebelar contra este preconceito internacional que essencializa em nós uma patologia de todos os países. Preconceito que, entre outras coisas, serve de justificativa para que o Brasil page juros enormes ao sistema financeiro internacional. É em parte pela plausibilidade deste preconceito que nossas elites economicas naturalizam o fato de precisarmos pagar mais caro pelo crédito.
Por isso é preciso questionar como essa agenda contra a corrupacao, imposta internacionalmente e abracada internamente, toma o lugar da principal contradicao social existente entre nós: a exclusao social. Ao tomar nosso tempo e toda nossa energia para os assuntos políticos o tema da corrupacao funciona como um impedimento para a própria política: nao se discute o teor das decisoes políticas, para onde elas podem nos levar e de onde elas devem nos tirar, mas somente se sao ou nao corruptas. Nao se busca definir o bem comum, mas somente defende-lo da corrupcao. Isto nao significa que nao se deva condenar ou condenar menos a corrupcao. Mas é preciso questionar se ela é mesmo nosso maior desafio rumo a uma política melhor. Ao esgotar nosso incomodo com a corrupacao nao produzimos mais do que uma negacao da política, uma negacao que condena a política corrupta sem nada dizer sobre para que queremos a política.
Em Campos a situacao é bastante dramática. O Governo Rosinha foi eleito com o discurso de enfrentar a corrupcao de Mocaiber. A oposicao hoje pode constatar e denunciar que o discurso é falso, o que promete dividendos eleitorais no futuro breve. No fim a questao é mostrar quem é menos corrupto, quem escapa melhor da justica ou quem desmascara mais corrupacao. Assim parece se formar a orientacao de interesses dos políticos e de seus observadores locais. O dilema é que a causa do combate a corrupcao é travada em defesa da política moralizada sem que se crie nenhum tema atraente para que as pessoas se interessem por defender a política. Queremos defender a política de algo e a falta de um horizonte no qual faca sentido a política impede até a motivacao para esta defesa.

3 comentários:

douglas da mata disse...

Vai lá para o núcleo da questão.

Ótimo texto.

Engraçado como essa tese da corrupção como discussão anterior a tudo e acima de tudo(uber alles, como gostam os alemães)tem uma prima bem próxima:

A tese da perseguição, ou seja, quando há alguma forma de persecução, é sempre desqualificada como uma "jogada" do tabuleiro político.

Assim, como no caso da corrupção, discutimos a "forma", e esquecemos o "mérito", e sob esse manto, nivelamos todas as medidas e favorecemos os se locupletam.

Um abraço.

Gustavo Carvalho disse...

Essa discussão faz lembrar a clássica distinção entre a "liberdade negativa" e a "liberdade positiva". A política reduzida à mera administração dos "custos" da corrupção amesquinha a cidadania ao mero exercício gerencial da coisa pública. Ficando vedado o acesso ao sentido positivo-afirmativo da liberdade cívica.
Vontade de potência para todos!

Roberto Torres disse...

Pois é.

Acho que tanto a prisao à liberdade negativa quanto a desqualificacao do tabuleiro político representam uma negacao da politica que defendemos: uma politica transformadora da realidade, capaz de fazer história.

Acho que um ponto concreto nessa luta é defender a classe política. Porque quase ninguem hoje ousa dizer que admira políticos? Claro, rs, para isso precisamos elencar exemplos. Acho que podemos elenca-los inclusive no "campo conservador".

abraco