quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Estrutura e conjuntura social: Um problema para a modernidade

Décio Vieira da Rocha

O Brasil foi constituído por relações pessoais de muita proximidade, onde o status de classe chega a enganar, parecendo por vezes simétrico e fazendo perder totalmente de vista a essência de formação da estrutura social. O modelo positivista no Brasil falhou principalmente por causa disso; por mais que se tentasse montar uma diferenciação entre o público e o privado, o insistente aparelhamento do estado brasileiro e a idéia de que ele é que acabaria com os problemas sociais existentes causaram essa confusão, e sempre que preciso os governantes o utilizavam para tal fim.A burocracia não conseguiu entrar no Brasil.

A partir de um estudo sociológico que Luiz de Aguiar da Costa Pinto fez no Recôncavo baiano, onde foi instalada a primeira plataforma de extração de petróleo em 1950, podemos fazer uma análise comparativa com os demais estados brasileiros que também se utilizaram dessas grandes obras para constituir uma modernização política .Nesse estudo Costa Pinto vai analisar a grande mudança que ocorria na região por conta dos investimentos da empresa petrolífera .Havia ali uma grande modernização, porém, segundo ele, a estrutura social não se movia.A modernização e os avanços nas áreas de bem-estar e construção civil são sempre inevitáveis, o que o estado faz é acelerá-los.No Brasil a modernização econômica não consegue modernizar a estrutura social. Isso explica os grandes esquemas de corrupção no país; todos vêem no estado a possibilidade de sanar demandas de grupos ou de classe.

A composição altamente complexa dessa sociedade traz cada vez mais dificuldades e entraves a modernização política. Em 2008 trabalhei na Secretaria Municipal de Cultura de Italva (minha cidade natal) como chefe setor, onde por vezes eu via votos serem trocados por tambores para o carnaval, por pequenas doações de livros e o crescente aparelhamento da prefeitura onde me retirei por não querer compactuar com tais coisas. O carnaval só acontece se a prefeitura ajudar, obras inadequadas são feitas e trazem mais uma vez a mesma idéia que Costa Pinto viu em 1950, a falsa idéia de progresso, mas o pensamento estrutural de ganhar algo com ajuda do estado é sim ainda o maior entrave. Campos também é uma prova do conservadorismo que toma sempre a prefeitura na intenção de preservar um status de classe. Concentra-se nas classes maiores o poder, sempre utilizando o estado para conseguir tal façanha, e como no pensamento social tem-se a idéia de que eles querem a “modernização” tudo é aceito de forma tranqüila, o que faz com que a cidade tenha que ter sempre novas eleições antes do tempo certo.

Todos os estratos sociais tem essa idéia de mitigação dos problemas a partir do estado (quando são também considerados, já que em Campos por muito tempo as diferenças eram consideradas normais,[você sabe com quem está falando?]).Se o estado foi quem admitiu a escravidão, os problemas de classe , os problemas de gênero ,entre outros por tanto tempo, imagina-se que ele vai ser a eterna ferramenta para acabar com tais coisas.Os fins estão justificados pelos meios. E com isso são criadas secretarias, ministérios e tipos de serviços mais variados para que o estado possa absorver esses problemas. As elites locais se sentem nesse direito, o estado serve para “melhorar” a vida dos mais “necessitados”, e é aí que o patrimônio público se mistura ao privado.

A necessidade de modificar a sociedade alavancando o bem-estar social é importante, mas enquanto o Leviatã brasileiro não sair de cena, as estruturas sociais vão ser cada vez mais deficientes e problemáticas. A mudança estrutural é fundamental para que possamos “não ser mais os mesmos e continuarmos vivendo como nossos pais”.

5 comentários:

Roberto Torres disse...

O Décio,

entao uma de suas teses é que a estrutura social no Brasil nao se moveu com a modernizacao. Sim, esta é uma das consequencias do argumento faoriano. Uma das mais absurdas, e meu ver rs.

Outra, relacionada a essa, é que de que nao há diferenciacao funcional no Brasil. Ora, é precisamente a denúncia da corrupcao que atesta a existência desta diferenciacia.

No que weber entendia por dominacao patrimonial nao havia corrupcao, posto que era evidente que a política era um potentado de seu mantenedor.

Décio Vieira da Rocha disse...

Roberto,

primeiro agradeço pela possibilidade da exposição da ideia, muito obrigado.

Não creio que seja um absurdo a modernização no Brasil estar separada da mudança estrutural uma vez que a "nova classe média" compra carro, eletrodomésticos e os mais variados produtos que o mercado expõe porém não consegue por os filhos na escola e aumentar a potencialidade de classe como agente político.Uma vez que também não conseguem pagar um plano de saúde que vem estraçalhado pelo estado.Essa "nova classe média" tem esgoto na porta de casa.Quem que se modernizou?
Eu utilizo o termo patrimonialismo mais para representar a falta da distinção das classes mais abastadas entre o que é público e o que é privado.Realmente não há corrupção no estado patrimonialista, já que todos querem utiliza-lo para ganhar algo.Os mais pobres ganham dentadura em troca do voto e os mais ricos ganham dinheiro controlando os meios políticos.Realmente não há corrupção nisso, é um ciclo que ficou perfeito no Brasil.

Roberto Torres disse...

Nao Décio,

há corrupcao no Brasil, e nao só no Brasil. Ah sim, existe mais corrupcao no Brasil do que na Alemanha. Muito provavelmente. Existe mais impunidade no Brasil, certamente.

Mas isso nao tem nada a ver com patrimonialismo. Patrimonialismo é uma forma de dominacao típica de sociedades sem diferenciacao, na qual, inclusive, nao existe economia monetária generalisada.

Quanto a "nova classe média", é um bom exemplo. Engracado no seu diagnóstico é que os problemas tem a ver com a falta de Estado.

Cara, do que voce tá falando com "modernizacao"? Eu to falando em sentido sociológico, no sentido de que já nascemos todos nós numa sociedade moderna. O pensamento social brasileiro tem até hoje o hábito de tratar modernizacao como sendo algo bom e o que nao é bom como sendo atraso.

Pelo amor de Deus, já é hora de superar isso. A "teoria da modernizacao" americana nao tem mais validade em nenhum lugar do mundo, nem nos EUA. Porque só no Brasil?

Veja o caso da nova classe média: é fruto da economia, dos critérios impessoais de selecao social. Se tem problemas, nao é porque nao se modernizou, mas justamente o contrário.

Décio Vieira da Rocha disse...

Sim, justamente há modernização, não há é mudança estrutural.Não gosto de me arriscar em palpites,mas talvez realmente não seja "nova classe média" e sim nova classe operária moderna.

Roberto Torres disse...

Concordo que nova classe média seja um termo problemático demais.

Mas a mudanca estrutural é enorme.
Mudanca estrutural é a coisa mais constante da sociedade moderna.

Isso mao quer dizer que esta nova classe esteja melhor do que a antiga classe trabalhadora, mas apenas que é diferente, que é composta por perfis diferentes no sentido da inclusao em diferentes esferas sociais e do estilo de vida que disso decorre.

A sociedade muda, mesmo quando nao vemos e mesmo quando nao gostamos da mudanca.