DEU EM O GLOBO
O que o vazamento do WikiLeaks ensina (Editorial)
O australiano Julian Assange, o hacker responsável pelo site WikiLeaks, o terror de autoridades no mundo inteiro, devido ao vazamento de informações que patrocina, é considerado por David Brooks, colunista do "New York Times", um "anarquista à moda antiga", para quem todas as instituições são corruptas e os pronunciamentos públicos, mentiras deslavadas.
Daí, Assange não pensar duas vezes antes de divulgar tudo o que lhe chega às mãos, sem critério, como demonstra a atuação do site.
David Brooks, em recente coluna, registra que, de acordo com a revista "New Yorker", Assange já revelou detalhes técnicos de um equipamento do Exército americano criado para prevenir a explosão de bombas colocadas em estradas, uma importante causa de baixas do país no Oriente Médio.
Não preocupou o australiano se a revelação das informações colocaria vidas em perigo.
Mas não é o caso de se decretar uma caça a Julian Assange. Afinal, toda a sociedade tem o direito de ser informada de assuntos de Estado — o desativador de bombas, por óbvio, não se enquadra neste caso.
Mas é melhor existir o WikiLeaks do que não. A questão passa a ser outra: o processamento das informações divulgadas em bruto por Assange.
A última, e ainda em andamento, operação do WikiLeaks é esclarecedora de alguns aspectos deste mundo cada vez mais digitalizado, em que arquivos nunca estão absolutamente a salvo, e a privacidade se torna um conceito cada vez mais relativo.
De posse de cerca de 200 mil documentos do Departamento de Estado americano, o site decidiu passá-los com alguma antecedência a quatro veículos de imprensa: ao inglês "Guardian", ao francês "Le Monde", ao espanhol "El País" e à revista alemã "Der Spiegel".
O "Guardian" repassou-os ao "New York Times". Tem sido exemplar o comportamento destas redações. Em duas ou três semanas, antes da primeira publicação coordenada da série de matérias, editores se lançaram a um enorme trabalho de garimpagem para escolher o que lhes interessava, e de triagem.
Como sempre ocorre nestas situações, tem de ser pesado o interesse público das informações, se a divulgação delas colocará em risco a integridade física de pessoas, e avaliar-se até mesmo questões de segurança nacional — as quais costumam ficar em segundo plano diante do interesse da sociedade.
Estas redações exercem um papel estratégico de filtro, ainda mais essencial no universo da internet, um avanço tecnológico histórico, mas que também serve para toda sorte de malfeitorias: denegrir pessoas e instituições, caluniar, manipular com interesses político-ideológicos etc.
No mundo dos blogs maliciosos, das informações inverídicas espalhadas em comunidades virtuais, do uso criminoso da internet, é crescente a importância dos tradicionais grupos de comunicação.
Por também atuarem em todas as novas plataformas digitais, eles estão em posição privilegiada dentro desta cacofonia digital.
Pessoa ligada visceralmente a este novo mundo, Julian Assange deve ter encontrado boas razões para bater às portas da "velha" mídia.
Um comentário:
As viúvas da "velha mídia", se comportam como umas carpideiras diante da perda daquilo que antes as tornavam tão poderosas.
A grande imprensa, comprometida visceralmente com seus financiadores, já não é mais a dona da bola... e longe de aceitar novos "players", quer mesmo é lhes dar uma rasteira.
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