sábado, 3 de abril de 2010

Campista é eleito o craque da maior conquista da história do Bahia, a taça Brasil de 59


50 anos Taça Brasil: Vicente Arenari foi eleito o craque do time de 1959


Marcelo Sant''''Anna Redação CORREIO

Vicente amanheceu como um noivo em dia de domingo; como todo tricolor, um noivo da vitória. Trêmulo, mas confiante. Para o quarto-zagueiro, a final começou na véspera. O gosto do título, também.
Bahia e Santos decidiriam naquele 29 de março de 1960 a a Taça Brasil, no Maracanã. O Bahia ganhou por 3 x 2 na Vila Belmiro e o Santos, por 2 x 0, na Fonte Nova. Vicente ganhou de véspera: 5 x 2 em julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, após três horas e meia. Expulso na Fonte Nova, estava liberado após brilhante defesa do advogado Octávio Vilas Boas. Vicente acordou trêmulo e confiante.
Coutinho fez 1 x 0, Vicente empatou, de falta. Léo virou e Alencar definiu: 3 x 1. “Desculpa, tô até nervoso em falar”, diz Vicente Arenari, três vezes durante a entrevista, 50 anos depois do título. “É que resolvíamos nossos complexos em campo. Entre nós, os jogadores, a gente conversava muito, porque futebol é no campo”.
No campo, o Santos fez 99 jogos em 59. Perdeu 14 - um pra o Bahia, na Vila. Marcou 342 gols. “A gente acreditava. Geninho dava muita confiança e assim entramos em acreditava. Geninho dava muita confiança e assim entramos em campo”.
Trajetória
Vicente, filho de pai italiano e mãe brasileira, nasceu dia 23 de março de 1935 em Campos dos Goytacazes, no Rio. Primeiro drible foi na desconfiança da família. “No início, tinha aquela história que não dava certo. Futebol só tinha mau elemento”, lembra Capistrano, irmão mais novo de Vicente Arenari Filho.
Em época de passe preso, o talento reconhecido no interior do Rio abriu exceção. “O contrato permitia que ele saísse quando quisesse sem pagar multa. Era difícil e, na época, outro caso parecido foi com Evaristo de Macedo”.
Evaristo deixou o Flamengo em 1957, aos 24 anos, indo pra o Barcelona. Um ano antes, Vicente, com 21, havia acertado a vinda para o Bahia. “Osório(Vilas Boas, presidente) foi lá no Flamengo. Zagallo, que já era conhecido, falou pra ele que eu tinha qualidade, era bom na saída de bola”.
Poucos meses depois, casou- se com Maria. O clube viajava muito e faria em 57 sua primeira excursão pra Europa. A irmã Ada veio fazer companhia - casou com Evandro Simões, sobrinho de Hamilton Figueira Simões, presidente do Bahia durante alguns meses de 1961. Entre os fatos, Vicente conquistou o elenco.
Craque
“Quando ele jogava bem, a gente ia bem. Se ia mal... Era nossa segurança”, elogia o goleiro Nadinho. O ponta Marito concorda. Ambos escolheram Vicente como o melhor do time de 1959. “Eu me dava bem com todos. Deve ter sido um ato de bondade dos amigos”, diminui Vicente. “Era um grupo que todos jogavam. Ambiente era bom e não tinha um destaque. Fazia parte do conjunto”, reforça.
Em 1960, Salvador, com 655 mil habitantes, ganhou a primeira emissora de TV, a Itapoan. Talvez se a TV tivesse chegado antes,Vicente seria reconhecido craque. Craque que não tremia. Exalava confiança.
Esquecimento
Cadê Vicente? O zagueiro não ficou no Time dos Sonhos na eleição da Placar, em novembro de 1994. Foi lembrado por seis dos 33 que votaram: Osório Vilas Boas, ex-presidente; Alemão, massagista; Ivan Pedro, jornalista; Jones, massagista; Jomar Maia, ex-árbitro; e Rubens Pitangueiras, ex-médico. Eleitos: Roberto Rebouças (29) e Henrique (19). Sapatão teve seis votos.
Revolução na imprensa
Em 1958, primeira temporada completa de Vicente em Salvador, existiam no Brasil 708 estações de rádio, oito de TV e 252 jornais diários. A Copa da Suécia foi a primeira Copa transmitida pra Europa. No Brasil, com dois dias de atraso, exibiam-se videotapes com 30 minutos.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica (Abinee), havia, no máximo, mil receptores de TV. Em 60, o número chegou a 621.919 unidades.Ouso do videotape se popularizou no ano seguinte. Em 62, indicado por Geninho, Vicente foi ao Palmeiras de Ademir da Guia.
A primeira vez no Maracanã
O Vasco tinha desde atletas geniosos, como Almir Pernambuquinho; a geniais, como Bellini, capitão do Brasil na Copa de 1958. “(Almir) é o jogador mais desleal que já vi na minha vida. Preferível era o Bigode, que, pelo menos, dava pela frente”, criticou o técnico Geninho, ex-Botafogo, após o jogo apitado pelo baiano Climanute França - em Salvador, apito do carioca Francisco Moreno Biriba, por exemplo, voltou com a cabeça enfaixada após entrada de Paulinho.
Se não fosse o jogo duro e tenso, a viagem teria sido tranquila. “Não tinha diferença nenhuma jogar lá. A gente conhecia demais o campo”, diz Vicente, ex-Flamengo, como Leone. Outros experientes eram o goleiro Nadinho, ex-Bangu; Henrique, ex-Portuguesa-RJ; e Mário, ex-Flu e Botafogo.
(Notícia publicada na edição impressa do dia 25/03/2010 do CORREIO)

2 comentários:

Paulo Sérgio Ribeiro disse...

Fala Seu Vicente! Gente boa. Um grande abraço para esse grande campista.

Fabrício Maciel disse...

Bem que os políticos campistas podiam aprender um pouco com o nosso craque: simplicidade nas definições e precisão nas ações.

Abraço aos queridos Arenari.