quinta-feira, 29 de abril de 2010

GLOBO E PSDB: amor à primeira vista

Fabrício Maciel
Depois do quase tiro no pé em seu apoio descarado ao PSDB, no caso do ridículo vídeo sobre os 45 anos da emissora, a Globo parece ter aprendido a lição e agora atua com mais sutileza. Ontem a tarde exibia no ingênuo programa Video Show, uma espécie de reality show dos programas da própria emissora, um tipo de túnel do tempo também ingênuo. Como toda história de amor à primeira vista, o programa recordava uma novela na qual um casal apaixonado fugia do Brasil e o motivo afirmado era, pra variar, a corrupção. A mulher perguntava para o ricaço personagem masculino se "valia a pena ser honesto no Brasil". Ele dizia que não, fugindo deste em seu jatinho e com uma mala de dólares. O programa enfatizava veementemente a frase compartilhada pelo casal.
O amor à primeira vista das novelas, aqui, esconde o amor à primeira vista entre a classe média e a classe alta predominante dentro da Globo e também fora dela, com o discurso do PSDB. Dizer que não vale a pena ser honesto no Brasil é uma maneira diferente de repetir o discurso sobre a corrupção inata do brasileiro. Este discurso é essencialista e racista, pois em torno de uma idéia abstrata de cultura brasileira constrói um senso comum conservador no qual o Brasil é o país da sacanagem, desordem, baderna, desorganização, desconfiança e deslealdade. Todos estes defeitos aludidos ao brasileiro são sutilmente sustentados ao mesmo tempo em que se ameniza, em nosso senso comum, o perfil do brasileiro com os ideais de bondade, ingenuidade e sexualidade do brasileiro.
Especialmente a idéia aparentemente positiva de ingenuidade se completa com as idéias negativas sobre o brasileiro apresentadas acima. No fundo, o brasileiro é corrupto não por que é maldoso, mas por que é burro e ingênuo. Não foi por mal. Entretanto, isso não é suficiente para evitar o discurso racista sobre o brasileiro. Racista por que com isso acaba sutilmente colocando o brasileiro em abstrato num patamar inferior a povos como os europeus e o norte-americano. Aqui o culturalismo é racismo disfarçado, como vem afirmando Jessé Souza.
Esta concepção racista, essencialista e abstrata no pior sentido, ou seja, sem referência ao mundo real por qualquer tipo de empiria, sedimenta a idéia de Brasil corrupto, punindo nossa população com altas taxas de juro do capitalismo financeiro internacional, que não aposta em lugares de "desconfiança", como é o caso da crise atual da Grécia. Como tal concepção é um amor à primeira vista com o discurso do PSDB?
O discurso deste partido conservador que representa as classes dominantes e médias brasileiras, privilegiadas com capital econômico, cultural e por osmose social, é o discurso do administrador. Não por acaso, o mesmo mantra que reduz a figura de Lula e por osmose a legitimidade do PT a populismo e carisma, no sentido reduzido, maldoso e distorcido deste termo. Para Max Weber, o carisma era uma virtude necessaria a um político, e não um defeito, ou seja, fazia parte de uma "ética da convicção", um quinhão de fé em algo e de paixão, necessário a qualquer político sério. Em contrapartida, uma "ética da responsabilidade", que aludia a equilíbrio e senso de proporção, deveria equilibrar-se com a paixão pela política.
O discurso do administrador parece simplificar e reduzir esta concepção de política de Max Weber. Ele transforma, consciente ou não, a política a uma polaridade falsa, separando suas características centrais, articuladas por Weber. A figura de Lula é reduzida ao carisma estilo Garotinho, e transforma a ética da convicção em senso comum. Em complemento, a figura do administrador, cristalizada no cisudo Serra, parece uma redução da ética da responsabilidade.
O amor a primeira vista está na relação implícita entre a incapacidade e ingenuidade do brasileiro, por consequencia disso corrupto, com o discurso de transparencia, organização, administração enxuta. Um povo burro assim precisa de um governante sério. Aqui, o discurso da força e da organização nacional retorna revestido em pele de ovelha, na imagem do administrador, que reduz a figura de qualquer político a esta única capacidade, o que é uma simplificação da política e especialmente perigoso quando se trata especificamente da presidencia de uma república que representa populaçao tao grande. Agora, cabe ao leitor interpretar qual é o partido brasileiro que realmente apresenta práticas e um discurso semelhante ao da ditadura...

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