sábado, 21 de fevereiro de 2009

Invisíveis também na morte: amém

por Roberto Torres

Agora há pouco, movido pela curiosidade de saber como anda se expressando o conservadorismo direitista travestido de aura de imparcialidade, visitei o Blog do advogado Marcelo Bessa Cabral e encontrei a seguinte postagem:

É de se lamentar

Os jornais campistas estampam hoje a notícia de uma chacina que, ao que tudo indica, foi causada - como sempre - pelo uso recorrente de drogas (como diz o ditado, "droga só leva a dois lugares: cadeia ou cemitério").
Sinceramente não sei o que é mais lamentável: se é a morte de três pessoas tão jovens, se o fato de que dois deles morreram por "queima de arquivo" (ao que tudo indica) ou as fotos escancaradas dos corpos estampadas nas versões impressas e online de alguns jornais (numa boa: não vou nem colocar link, porque é tétrico).



Nao pude resistir.... a pérola mexeu comigo. Salvo algum elogio que sepossa fazer à honestidade, salta aos olhos o fato do funcionário da Justica Eleitoral sugerir - com o tom de imparcialidade permitida pelo "nao sei" - que a divulgacao das fotos pela imprensa local seja mais lamentável do que a própria morte dos jovens. Certamente sem ter nenhuma consciencia do que está fazendo, o blogueiro explicita o acordo silencioso através do qual a lei, a polícia e a imprensa cumprem a agenda de uma luta de classes contra os abandonados à sua própria sorte, e empurrados para a delinquencia: que sejam punidos e assassinados com o grau de invisibilidade necessário para que a exposicao de seus corpos nao desperte nenhum tipo de empatia, talvez em razao da brutalidade que sobre eles se abate e a qual podem mostrar de algum modo. É por conta da existencia deste acordo, que penetra o sitema jurídico por meio de relacoes de classe que também ali se manifestam, que nao podemos entender o lamento sincero do "blogueiro imparcial" apenas como algo subjetivo. Ao expressar sua opiniao, ele cumpre sua parte em exigir o esquecimento do acordo para que ele possa funcionar melhor em silencio.

4 comentários:

Fabrício Maciel disse...

Excelente sacada Roberto. O importante na sua crítica é notar que mesmo tendo alguma intenção sincera, como em tentar criticar a mídia, por exemplo, a objetividade dos acordos morais é incontornável e se expressa relativamente de acordo com o lugar social em que se ocupa em tal moralidade. Não é canalhice nem inocência, o que voce descreve é o cúmulo da irracionalidade a que se chega uma sociedade do mérito, onde pode se cogitar algo pior do que a morte. é claro que uma morte em condições consideradas indignas pode ser pior do que o fato biológico da morte. Mas aqui fica claro que a morte dos que nada valem em vida é assunto fútil demais para um foto.

Anônimo disse...

O "Dutô adevogado" desta vez pegou pesado... é um cretino mesmo...

xacal disse...

A construção do discurso, muito próprio da "cobertura jornalística", antecipa como sentença, a causa da morte(drogas ilícitas)como forma de "legitimar" o resultado(morte)...

Já tinha percebido essas aberrações em outros textos, mas, sinceramente, ando de saco cheio em "abrir" novas frentes de debate, e nesse caso, há muita pouca chance de crescer intelectualmente com as "opiniões" do interlocutor, que são sofríveis e pontuadas por lugares comuns...

Roberto Torres disse...

Claro, Xacal. Nao é novidade esse papel da imprensa. E também nao estou apostando num nova frente de debate rs rs rs, quis só tomar como objeto