Acostumado aos imbróglios acadêmicos, nunca me senti confortável em discussões onde todos concordavam. Confesso: sinto uma enorme afeição por conflitos. Não simplesmente por acreditar que toda a unanimidade é burra, mas por achar que a probabilidade de todos estarem errados é pior do que ter a certeza de que, num conflito, ao menos uma fração estará menos equivocada que outra. Acho que isso tem a ver com o tal liberalismo político de Stuart Mill (que meus amigos cismam em creditar a Habermas).
Nas ciências sociais os imbróglios são muitos. Raras são as oportunidades de observarmos na realidade os contra-factuais teóricos (isso quando alguém que se auto-intitula teórico constrói supostas teorias que permitem ao menos um contra-factual teórico).
Quiçá, tenhamos com a crise econômica uma oportunidade de ouro, qual seja, a de testarmos as assertivas dos apocalípticos teóricos da ecologia que viam no “desenfreado” crescimento econômico a causa do suposto desaparecimento da vida no planeta terra. Onde estão aqueles que idolatram as “verdades” hollywoodianas do Al Gore?
Os outrora chamados de pessimistas têm a possibilidade de se mostrarem agora otimistas! Ao menos terão a chance de mostrar a “falsificabilidade” de suas teses (algo que se esqueceram ao inferir quantidade de dióxido de carbono por camadas polares no século IV).
A tal “verdade inconveniente” pode agora ser testada sem “assalto à razão”: se o crescimento econômico gera aumento da temperatura global, então... um crescimento econômico menor ou até mesmo uma recessão global implicaria, necessariamente, numa diminuição do aumento da temperatura também global. A teoria que, se comprovada, só poderia ser observada por aqueles que conseguissem bancar um “apezinho” em outro planeta, agora pode ser observada na realidade aqui mesmo no planeta Terra; ou não. Chegou a vez de testar se o contra-factual se tornar fato real!
Pois bem, quando é que veremos a descida da empilhadeira hollywoodiana em que o pomposo Al Gore anunciava o “lasciate ogni esperanza”?
18 comentários:
"crescimento econômico gera aumento da temperatura global, então... um crescimento econômico menor ou até mesmo uma recessão global implicaria, necessariamente, numa diminuição do aumento da temperatura também global." Vitão meu caro, seu argumento é bom, e em mim vc obtem consenso, mas os argumentos estão equivocados. A frase supracitada que vc deve ter ouvido da "unanimidade burra" que tomou a vulgata é um despropério sem limite. O correto seria: o crescimento econômico ocidental dos últimos 200 anos acelerou tendências ao aquecimento global. Portanto, não é qualquer tipo de crescimento econômico que faria o mesmo, mas o nosso tipo, baseado na extração sem limites de recursos naturais com a consequente emissão de gases do efeito estufa. seu argumento peca ainda (espero que pelo fato de adorar o conflito, vc permita a discordância, inclusive daqueles que odeiam o conflito) pensando (ingenuamente) que o que vier a acontecer agora no planeta possa alterar a tendência ao aquecimento: meu caro, o IPCC da ONu diz que aquecer vai, pelo menos por mais 150 anos, mesmo que alteremos nosso padrão civilizatório. portanto, mesmo se todos os bois do meu pai pararem de peidar, ainda assim vamos aquecer, os mares vão subir e o koala vai morrer... Este desaquecimento não muda nada. não serve de prova factual. Infelizmente não será desta vez que falsificaremos a tese destes que ganharam o prêmio Nobel, estes cientistas chatos do IPCC que só querem nosso mal (segundo vc, ao querer o consenso).
Grande abraço (na base do consenso)
Grande amigo Bill,
O argumento exposto (do IPCC - quase uma organização criminosa, rs,rs,rs...), segundo vc o correto, ainda é muito pior por três motivos:
Primeiro: o crescimento ocidental dos 200 anos acelerou o aquecimento? E o oriental, foi a base de bambú por acaso? A China produz aço e demais metais industrializados com técnicas do Kung Fu, né?
Segundo: 200 anos? Ah tá... em 1808 a industrialização da Inglaterra causou um impacto equivalente a quantos minutos de uma única fábrica de fertilizantes de hoje? A diminuição de 3 pontos percentuais no crescimento da China (já esperado para esse ano) deveria ter no mínimo a equivalência de umas 9 décadas no século XIX, ora!
Terceiro: para os ecólogos o aquecimento global não tem solução. Pensemos, então, que racionalmente é menos pior deixar essa porra como está (vai aquecer de qualquer jeito) do que romper o crescimento e matar bilhões de fome por falta de comida. Em resumo: vamos crescer e alimentar essa gente que não pára de procriar, pois tudo vai acabar um dia. Maravilha, já que morreremos de qualquer maneira, vamos viver de maneira especial; e fodam-se os nobeis.
Essa teoria é tão apocalíptica quanto a bíblia. E vou lançar uma teoria alternativa: daqui a 87,91 bilhões de anos essa porra toda vai estar esgotada, migraremos para um planeta próximo, os humanos terão pulmões que suportarão viver por 202 anos sem precisar de oxigênio e ainda poderão fumar um cigarrinho depois de cada refeição. Evolução, meu caro, evolução...
Abraços saudosos,
Sem perder a ternura, se as vacas do seu pai forem como os peixes, tenho certeza que não contribuirão para o aumento da temperatura global. Pelos meus parcos conhecimentos em fantasmas, hectoplasmas não peidam! rs,rs,rs...
Abraços,
Vitão,
o que vc coloca não muda nada o argumento: o crescimento chinês é baseado no padrão produtivo da indústria ocidental, é uma cópia, como a dos outros países orientais. o que digo é que este padrão industrial é o que contribuiu como nenhum outro fenômeno antrópico para o aquecimento global que o painel da onu registrou. Mais uma vez (queira entender o argumento contrário, meu caro!), 1808 na Inglaterra poluia sim, para aqueles padrões, menos que hoje, obviamente, mas poluía, veja o livro do hobsbawn "da revolução industrial inglesa ao imperialismo", isto está claro lá. Mas o que importa é que este padrão produtivo engendrou formas de produção e consequentemente uma relação com a natureza mais degradante (vc pode negar, mas vc é cientista político! hahaha).
Abraço, vitão.
Faltou contestar o terceiro argumento, Bill. Vocês ecossociólgos conseguiram mudar d'O que Fazer para o "Para que Fazer?".
Do ponto de vista sociológico, ou seja, como as massas interpretam a mensagem dos especialistas, dos novos profetas da ciência, um dos apontamentos de Vitor é interessante. Não há como negar que existe um forte sentimento religioso na militância ecológica. A despeito das discussões do IPCC, dos nobéis,e sei lá mais o que, a militância ecológica, ou seja, as viúvas do muro de Berlim, nutrem sentimentos religiosos em relação ao aquecimento global. Já que o apocalipse redentor não vem pelas mãos da classe trabalhadora, a Natureza, que é por onde Deus intervém no mundo, irá nos vingar das maldades do capitalismo. A Natureza irá nos redimir do fracasso de não ter conseguido fazer a revolução. É um pouco assim que muito dos que Vitor se refere pensam, uma vingança religiosa e ressentida.
Com isso não quero dizer que não seja urgente o repensar sobre nossos padrões de consumo, como também no controle de natalidade. Numa casa de 100m quadrados não podem viver 20 pessoas, pq num planeta que é limitado a população tem que ser ilimitada? Malthus precisa ser relido.
Abraço
ô meus amigos,
Até parece que pessoas como Carlos Nobre, o nosso nobel, saiba o que é revolução trabalhadora... sem exageros. É claro que um ponto de vcs é importante, o do discurso especialista que tomou conta da modernidade, mas daí achar que o IPCC seja puramente ideológico é um exagero analítico.
abraço.
O Bill, eu nao questionei os cientistas nao, só falei de como a massa interpreta isso.
Brand,
a massa está distante de tudo isso... esta militância religiosa a que vc faz menção é um âmbito profundamente secularizado dos movimentos de protestos modernos. Taí um discurso que não pode ser tomado restritamente como milenarista, messiânico e afins.
Vitão, o terceiro ponto é discutido por muitos, e já faz muito tempo... desde a década de 50, quando o ambientalismo moderno ganha estatuto próprio. O problema é que mudança civilizacional não é parar de fumar... muita coisa tem ocorrido em termos de mudanças.
Abraço.
Concordo, Bill! Parar de fumar é muito mais complexo do que mudar o componente civilizacional... (seja lá o que isso significa).
Tem um aspécto muito importante que nínguem ainda levantou nesse debate. Por exemplo, Brand fala nas massas que aderem ao discurso do fim do mundo pela revolta milenarista da natureza.. quem adere a isso? Nao podemos deixar de tematizar que a preocupacao com o fim do do planeta, a menos que este fim esteja previsto para amanha, só preocupa as grupos e classes sociais cujo horizonte de acao conta com um futuro individual e coletivo. Se nao faz nenhum sentido um fudido sem fututo se preocuopar com sua contas no fim do mes, por que ele vai se preocupar com o fututro do planeta...
Vitor, quando vc apresenta uma nocao de racionalidade para justificar se tem ou nao sentido frear o crescimento economico, sem dizer de onde esta racionalidade vem, e quais os grupos sociais que podem dar suporte a ela, vc acaba caindo num raciocínio típico da filosofia política que, inclusive, é o oposto do tipo de raciocício científico que voce defende. Ok, é legitimo debater como seria a melhor decisao possível caso houvesse uma possibilidade de cáculo racional ao alcance de todos sobre os quais a questao em foco incide! Acontece essa análise precisa considerar o que como as pessoas decidem em nao havendo a possibilidade do cáuculo racional com meios e fins claramente expostos e acessüíveis.
A bem da verdade, esse texto não era para atacar os ambientalistas em si. Mas apenas para apontar que a questão de ser taxado como otimitas ou pessimista pode mudar bruscamente de um cenário para outro.
E mais: os custos de ser um ambientalista e apontar a degradação da natureza (por consequencia, o neoapocalípse) num cenário onde não havia possibilidade de se verificar a desasceleração das causas era ínfimo. Ou seja, o mesmo que um pastor dizer para seus asseclas que eles irão para o inferno caso cometam algum pecado, ou mesmo vender um terreno no céu. Repito: não tem custos! A não ser o do Bill, que vai ao supermercado e traz os produtos na mão para economizar sacolas plásticas, somente não pergunte como ele joga o lixo fora (isso ele nunca fez, sempre juntou no quarto de empregada no CVC - era um horror! rs,rs,rs).
O texto acabou se desviando do seu ponto central, que era dizer o seguinte: quero ver agora quem terá o culhão de afirmar que os custos da crise econômica serão recompensados daqui a 600 anos!
Era só isso.
Abraços,
PS: Eu acho que vcs interpretaram o Brand equivocadamente.
Roberto, eu não disse nada disso que vc delirou. Vc inverteu tudo! rs,rs,rs...
Vitor, voce realmente nao disse, mas é um pressuposto do que voce disse. Voce parte sempre da premissa que o tema se poe em termos de custos e benefícios sem nunca dizer que custos e que benefícios as pessoas criadas em sociedade, em lugares sociais diferenciados, podem conceber para si mesmas. Voce acha que eu inverto seu argumento só porque eu pergunto pela fundo falso que a voce nao interessa discutir.
Roberto, vc já foi melhor. Acho que vc está um pouco confuso.
Deixa eu te ajudar: o principal problema do método que eu utilizo não é com a demonstração dos custos e dos benefícios. Aliás, esse é um dos pontos mais fortes da metodologia. Pois se consegue construir um cenário que não se resume a unidimensionalidade tão comum nas ciências sociais. São múltiplos os caminhos e alternativas com interações etc. A metodologia consiste em explicar o porquê de determinados caminhos, identificar os custos em cada situação para cada indivíduo (ah, antes que eu me esqueça, esse tal de indivíduo existe para nós!).
A fragilidade do método está em como esses custos e benefícios se constituem. Como a questão cultural, visões de mundo e etc. agem para que determinados custos são preferidos aos demais, ou o porquê determinados benefícios são mais valorados do que outros. Essa é a questão que se evita. Identificar os custos e benefícios ninguém faz melhor do que o método que uso, o problema é demonstrar a sua constituição.
Mas essa não é a questão em pauta. Vc novamente enche meu saco com isso e deturpa toda discussão (rs,rs,rs...).
Em tempo: o custo ao qual eu me referi no post anterior pode ser resumido pela impossibilidade de falsificar. Explico: aquele que vende um lugar no Céu não terá aborrecimentos com o PROCON. Como vc bem sabe, a inovação maior dos neopentencostais foi trazer os benefícios do pós-morte para a vida terrena. Talvez a melhor explicação para o sucesso, não é mesmo? Entretanto, também materializaram os custos, já há processos judiciais que conferiram ao reclamante a devolução do dízimos pelo fato da "benção" prometida não ter sido alcançada.
O que eu tentei passar no texto postado no blog é que a recessão mundial pode ser um fator de materialização dos benefícios prometidos pelos ambientalistas. A questão é muito simples: não dizem que temos que crescer menos para sobrevivermos? Então, agora esse fenômeno que era improvável está se concretizando! Porra, agora veremos se isso diminuirá as catástrofes que atingirão o planeta (ou qualquer furacão no cú do mundo não era de responsabilidade do aquecimento glogal?). Mas já arranjaram uma saída, a la Bill, de dizer que somente daqui a uns 100 anos veremos os resultados, já que as causas são de 200 anos atrás. Dito de outra, conseguiram "trancendentalizar" os benefícios novamente, pois não estaremos mais vivos para ver essa merda.
Um porém, todavia, deram mais uma vez um tiro no pé pois. Com os benefícios à prazo (longo), dificilmente conseguirão arregimentar adeptos e construir uma mobilização para bancar os custos à vista. Dito de outra: fizeram o movimento contrário dos neopetencostais, mas são constituídos pela mesma essência: o fundamentalismo!
Abraços,
Vitor, para mim a questao ambiental serve como um grande exemplo de como metas de longo prazo so se tornam bens desejáveis, e assim capazes de serem relevantes na vida dos indivíduos e dos grupos sociais, quando os indivíduos sao socializados de modo a poderem se interessar por essas metas. Bem, eu conto sinceramente que voce nao discorda disso.
O que eu quis dizer é que, sendo uma meta de longo prazo, quase "transcendental", como voce disse,o "concerto" do clima nao tem nenhum sentido enquanto benefício (bem socialmente desejável) para aqueles indivíduos ou grupos cujo agir nao se orienta por uma nocao de temporalidade dotada de um porvir abstrato. Certamente os neopentecostais da ralé nao vao se interessar por isso!
Se essa nao é uma questao em pauta, eu acho que a pauta está cega para o que realmente importa, rs!
Acho que voce também busca dizer isso no seu texto confuso....
Eu acho ótima a sua metologia se ele consegue realmente medir a adesao aos custos e benefícios já constituídos ... mas sinceramente eu acho um risco muito grande medir sem ter uma preocupacao constante com a genese do dado constituído...
A minha disputa com voce é no fundo quanto a importancia relativa de cada um dos passos: reconstruir a genese do dado, ou medilo. Mas, sem querer nenhum tipo de acordo, por que nao tenho medo de voce, rsrs e nem quero muito acordo contigo, eu admito que uma ciencia que deixa de lado a metologia e mensuracao é pobre e perde muito a sua qualidade de ciencia...
Parem o mundo que eu quero descer... Vitão, pelo amor de Deus, reescreva seu texto.
Bill, vc será novamente coroinha! Só que desta vez da religião dos ecossociólogos, rs,rs,rs...
E não adianta pedir para o mundo parar para vc descer do planeta onde vc se encontra agora. Vc saltou enquanto estava em movimento, agora volte para cá da mesma forma que vc pulou pra fora. E venha rápido! rs,rs,rs...
Abraços,
Vitão, com seu discurso otimista, acho que é vc que mora em outro planeta, não é não? Dá licença que eu vou comer meu alface com rúcula na feira agro-ecológica. abraço.
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