Pessoal, depois da analíse vamos à ação. Surge esta possibilidade que encontrei no excelente blog Que cazzo é esse?. Abaixo assinado virtual pelo cessar fogo em Gaza.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
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19 comentários:
tinha assinado por lá mesmo Fabrício.
Todo tipo de esforço para frear o capitalismo em sua faceta beligerante e anti-humanista vale muitíssimo a pena.
Abçs!
Isso, e cabe lembrar que não existe capitalismo sem relações internacionais, essa coisa de capitalismo local é uma das maiores besteiras que se diz hoje em dia. Sempre tivemos um sistema político-economico internacional escondido pela besteira das singularidades culturais. abraço.
Capitalismo? Isso mesmo que vcs querem dizer? Tem certeza? E o império otomano também era capitalista?
Abraços,
Vitor Peixoto
Sim, Vitor por que? qual o problema em falar no capitalismo? ele não existe mais?
Vitor,
Creio que seu necessária provocação mereça uma resposta ponderada em pequeno ensaio aqui no blog...
Mas, sinceramente, adiantando o debate, o império otomano jamais produziu um complexo industrial-militar profundamendamente racionalizado, sob auspícios científicos, como o capitalismo tardio produziu. E é deste aparato que Israel se serve.
Nestes termos trazer a guerra atual sob um prisma a-histórico dificulta compreendemos sua particularidade: a lógica de uma sistema econômico que também se beneficia de destruição humana em massa.
Portanto há sim muito do modo de produção capitalista nesta guerra. E desconfio que pelo anti-humanismo de Hamas ou do Estado de Israel isto pode ser compreendido pela faceta destrutiva do capitalismo.
Abçs
George
A provocação do Vitor é muito boa mesmo! Não podemos nos esquecer do principio lógico que nos diz que, “aquilo que explica tudo, logo não explica nada”. Daí sermos claros no uso de nossos conceitos torna-se muito importante, por mais que “capitalismo” seja um conceito valioso, é um termo desgastado, carregado de pesos semânticos e resignificado pelo uso generalizado do termo. Eu desconfio até que entre nós mesmos tenha grandes diferenças entre o entendimento do conceito. Dizer que o conflito pode ser um produto do sistema capitalista pode ate ser uma boa explicação, mas é um grande salto, eu gostaria que vcs me descrevessem o caminho. Até agora não me convenceram que o que ocorre ali é um produto disto.
A bola está lançada, que rufem os tambores. . . aahaha
abracos
A minha provocação se refere exatamente à história do conflito, George. Não sou especialista em História do conflito no oriente, mas pelo que se pode conferir com simples consulta aos manuais é que os conflitos remontam a séculos antes de Cristo, de tal forma que hoje é quase impossível dizer quem resiste a quem. Daí a grande dificuldade de se tomar um lado como dotado de razão, por conseguinte, realizar uma justificação convincente.
Fabrício, existir existe. Mas o botiquim do Seu Nenê também existe e não foi acusado de ser responsável pelo conflito. O fato do modo de produção, por seu modus operandi, ter contribuído para conflito, não significa que seja a CAUSA das atrocidades. Aliás, ironicamente, boa parte da "ocupação" sionista pós 67 em territórios antes palestinos são realizados por kibutzim (comunidades rurais inspiradas em idéias dos socialistas utópicos, mais precisamente nos falanstérios pensados por Fourier). Muito antes disso, o Império Otomano, que dominara por mais de 6 séculos a região (em realidade, as terras em questão estiveram sob domínio otomano desde 1520), fora derrubado pelos países que conflagraram o CAPITALISTA, sobretudo, a Inglaterra.
George, ao contrário do que vc apregoou, o que estou a fazer é dotar os fatos de sentidos históricos. Vou tentar ser direto: o capitalismo pode sim ter afetado o conflito na região (e acredito que tenha de fato afetado). Porém, as explicações para o conflito não deveriam ser resumidas com palavras de ordem, tais como "fora Bush", "isso é coisa do capitalismo", "isso coisa do satã", e demais coisas do gênero.
E mais: o modo de produção socialista também cometeu atrocidades. Querem relembrar vosso camarada Josefino? Conquistas também foram realizadas, e para tal se utilizou de meios pouco ortodoxos.
Para ficar por aqui, o que estou a levantar é que o modo de produção pode ter pouco a ver tanto com os objetivos quanto com os método de combates. Isso não elimina que tenha influências.
Enfim, deixo mais uma vez o benefício da dúvida, assim como pela primeira vez assumo o lado que estou, exatamente o lado oposto àquele que liga o HAMAS a ISRAEL: a intolerância mútua. Como ouvi certa vez, não tolero a intolerância, seja que quem for. No caso, tanto do HAMAS quanto de Israel.
No mais, reitero as assertivas do Brand. Às vezes, vocês são pouco ditáticos, o que não contribui muito para o diálogo com aqueles que tem pouca familiaridade com os termos utilizados por vocês.
Grande abraço,
Bem, acho que junto com o modernidade, precisamos discutir o conceito de capitalismo.
Vitor, entender as razoes que fazem Isael ter mais opcoes de patrocinar tolerencia do que o Hamas, quando ocorre exatamente o contrário, me leva a defender que a violencia do Hamas é mais justificável que a de Israel. Entao para mim é mais fácil tolerar a violencia do Hamas do que a de Israel.
Vitor,
O modo como os seres humanos saciam suas necessidades o que redunda no moderno sistema produtor de mercadorias (esta é a definição de capitalismo que utilizo), cujos imperativos tomam de assalto praticamente todas as esferas da vida evidentemente não pode ser apontado como o único fator detonador do conflito no oriente médio. Ele deve ser compreendido como o "pano de fundo" onde os agentes estão "atuando". E nem sempre os agentes tem noção exata destas regras e imperativos. Como diria Marx, "não sabem mas fazem".
Em conflitos como esse podemos falar de um conjunto de variáveis explicativas... Inclusive para as assimetrias existentes entre os dois lados em "disputa" (disputa porra nenhuma.. um lado simplesmente esmagando civis e cagando para qualquer tipo de convenção internacional..).
De toda forma se olharmos para o fenômeno como se este fosse um poliedro.. ora, a variável da expansão da fronteira econômica a todo custo, a da manutenção cômoda do estado de natureza na ordem internacional (ninguém parece comovido com as centenas de civis mortos do lado palestino a ponto de frear Israel) e dos poderosos ganhos do complexo industrial militar são conectadas. E explicam UM LADO DO POLIEDRO.
Simplesmente desconsiderar a variável sobrevivência objetiva em qualquer guerra é abandonar parte do entendimento do que ocorre, das motivações humanas, em prol de narrativas metafísicas.
Na verdade o debate sobre as motivações econômicas explicam parte das razões últimas da existência humana e consequentemente da sociedade e das suas disputas. E me parece, tal como qualquer narrativa histórica, narrativa literária ou simplesmente móveis culturais e/ou metafísicos, uma via legítima de conceber o problema.
Mas, por favor.. evitemos a preguiça mental do "clash of civilizations". Não tomemos essa matança por uma lógica atávica... o Estado de Israel foi criado no século XX!! E sua opção de expansão de fronteiras foi bélica. E ponto.
Significa a expansão de fronteira econômica e de um modus vivendi na ponta da espada.
Abçs
ah sim.. nem sempre falar em capitalismo é bradar palavras de ordem...
Não devemos confundir alhos com bugalhos.
E Roberto,
Não creio mesmo que seja possível justificarmos discursivamente a barbárie.
Nem por "a" ou por "b".
Me recordo do jovem Lukács, ainda na primeira guerra, que em reunião na casa de Max Weber comentava entediado o entusiasmo dos convidados por um dos lados: "seja como for, quanto melhor, oras, pior!".
Em contribuição ao debate, gostaria de fazer também algumas ponderações. Primeiramente, embora concorde com o ingrediente bélico existente no sistema capitalista, não compartilho com a visão dos colegas – que ao meu ver é mesma leitura de Lênin acerca da inclinação do capitalismo para a guerra – sobre a motivação econômica como ponto de repouso causal para a explicação do conflito árabe/israelense. Em contraposição a tese da guerra como instrumento de reprodução do capitalismo, considero pertinente atualizar as análises clássicas de Karl Polanyi e Max Weber sobre a relação entre economia e guerra. Para esses dois, existem momentos da história em que o sistema capitalista se beneficiou da paz.
Assim, a exemplo, a civilização do século XIX experimentou um período de paz nunca vivenciado na história na humanidade – 1815/1914. De acordo com Karl Polanyi, o triunfo do pacifismo pragmático só foi possível graças a emergência de um forte interesse pela paz geral motivado pelo “novo” sistema monetário internacional que se constituía na época. Se é verdade que o capital financeiro se beneficiou com a conflagração de guerras coloniais, também é verdade que em grande medida, o mesmo promoveu a paz geral a fim de garantir a sua reprodução, visto que necessitava da paz para a realização da atividade econômica financeira em escala global. Da mesma maneira, Max Weber em seus estudos de sociologia econômica destaca a influência recíproca entre a esfera econômica e a política. Na visão de Weber, embora o “conflito” ou “luta” seja uma característica comum às duas esferas supracitadas, o que as diferencia é a forma que o conflito vai assumir em cada esfera. Enquanto que a esfera política é marcada pelo monopólio da violência física, na esfera econômica “moderna”, os conflitos de interesses vão se dar pela via pacífica,isto é, por meio da “concorrência “e do “ragateio”. Nesse sentido, também para Weber, a emergência da economia de mercado contribuiu em grande medida para a generalização da paz na sociedade moderna. Posto as duas análises acima, gostaria de concluir observando um detalhe que considerando importante no conflito atual em curso: estamos em plena crise do sistema econômico global, assim como da ausência de qualquer forma de sistema equilíbrio de poder (veja o caso da crise nas principais potências políticas mundiais - EUA, Europa e China)- outro elemento importante norteador da paz, segundo Polanyi. Cenário semelhante ao descrito pelo mesmo autor sobre o período de 1920-1930.
George,
Sobre a face beligerante do capitalismo, o Pescador já dissertou, e disse com mais propriedade do que eu o faria.
Vou separar seu cometário anterior por partes, acredito que assim ficará mais organizado o debate, e consequentemente, menor a probabilidade de ruídos como outrora.
1- "a variável da expansão da fronteira econômica a todo custo, a da manutenção cômoda do estado de natureza na ordem internacional (ninguém parece comovido com as centenas de civis mortos do lado palestino a ponto de frear Israel) e dos poderosos ganhos do complexo industrial militar são conectadas. E explicam UM LADO DO POLIEDRO."
Réplica: A expansão da fronteira econômica esteve presente em todos os Impérios, portanto, não pode ser uma característica do Capitalismo. A não ser que o Império Inca seja classificado com Capitalista, o que me pareceria um tanto disfuncional, pois, por séculos subjulgou uma série de povos, trucidou-os, e os explorou economicamente. Não obstante, julgo que o modo de produção Capitalista é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade para que seja responsabilizado por todas as ações imperialistas. Em outros termos, uma constante não pode ser explicada por uma variável. Não esqueçamos que a expansão das fronteiras econômicas estavam presentes no feudalismo também!
Aproveito seus parênteses para contrariar a concepção de que há um consenso sionista na imprensa. O que percebo é exatamente o mundo das opiniões (jornais, blogs, manifestos, etc.) mobilizado contra as atrocidades cometidas por Israel. No que concerne aos Estados Nacionais, existe uma inação - mas ficaria reticente se é uma inação cúmplice.
2- "Simplesmente desconsiderar a variável sobrevivência objetiva em qualquer guerra é abandonar parte do entendimento do que ocorre, das motivações humanas, em prol de narrativas metafísicas."
Réplica: Mais uma vez, sobrevivência objetiva é uma condição da natureza humana. Indivíduos e coletividades agem por proteção à vida em qualquer modo de produção, seja ele Capitalista ou não. Como vc mesmo afirma, "em qualquer guerra", até nos conflitos entre tribos indígenas do Brasil pré-Colonial.
3 - "Mas, por favor.. evitemos a preguiça mental do "clash of civilizations". Não tomemos essa matança por uma lógica atávica... "
Réplica: Discordo absolutamente, pois a lógica atávica pode, a meu ver, explicar o porquê de Israel se dedicar a trucidar creches e escolas infantis. Serão menos indivíduos a buscar justiçar seus pais amanhã, aqueles que buscam hoje "justiçar" os avós e bisovós e etc. Por isso repito: há muito mais do que um componente puramente econômico. (Nunca pensei que diria isso)O que siginifica que buscar racionalidade econômica nesse conflito pode não ser tão prolífico, APESAR de estar presente. Aqui caberia retomar o ponto das construções das questões identitárias, que, creio eu, são o ponto nevrálgico do sistema que poderia explicar os conflitos na região. A criação de qualquer identidade tem mais a ver com as diferenças para os demais do que com as próprias semelhanças entre si (isso é vago, concordo, mas espero dissertar em outra ocasião mais apropriada, fico apenas em soltar a seguinte afirmação: as contruções identitárias, tanto de áraber-palestinos quanto de judeus-israelenses, foram contruídas sobre um cimento moral de eliminação do outro como condição de sua própria existência).
4 - "o Estado de Israel foi criado no século XX!! E sua opção de expansão de fronteiras foi bélica. E ponto."
Réplica: Acredito que aqui está o cerne de nossa discordãncia. Creio que as causas dos conflitos são muito anteriores a criação do Estado de Israel em 1948. Até poderia concordar que o Capitalismo europeu tenha responsabilidade com o retorno dos israelenses, entretanto, o que dizer da diáspora ocorrida séculos antes? Se perguntares a qualquer judeu a justificativa da ocupação naquele território, terás como resposta que foi uma (re)ocupação das terras de onde foram expulsos. Se é legítimo ou não, NÃO SEI!
Grande abraço,
Roberto,
Eu reconstruria sua assertiva da seguinte forma: apesar da intolerância não ser tolerável, nesse momento específico, é mais fácil não tolerar Israel do que o Hamas.
Não obstante, como nos referimos a princípios, e princípios são inflexíveis no tempo, ambos são intolerantes e, portanto, não devem ser toleráveis.
O que quero afirmar é que, se o Hamas tivesse com as condições bélicas de Israel, faria o mesmo com o povo judeu. Exatamente por terem como princípio a não-existencia do outro como justificativa de sua própria existência. Isso DEVE SER inadimissível por questão moral.
Grande abraço,
Caros amigos,
Diante da riqueza de idéias do presente debate, gostaria de propor a abertura de um novo tópico sobre a natureza causal-explicativa do conflito atual. Também tenho minhas considerações críticas acerca da teoria do choque de civilizações e pretendo externar meu posicionamento.
Abraços
Vitor e Cadu,
Dada a extensão e profundidade das considerações acho mesmo que pode ser contraproducente mantermos o debate nos comentários ad eternum.
Mas objetivamente gostaria de dissipar só uma cortina da fumaça sobre meu argumento.
A economia é apenas um ponto de partida, dentre outros tantos possíveis, para compreendermos o que está acontecendo em Gaza. Acreditem, não sou aquele determinista econômico de outrora (risos).
Mas esta minha opção, por uma análise instrumental do conflito, me foi uma saída possível diante de eventuais riscos de essencializarmos identidades e respectivas cosmogonias.
Abçs e devemos prosseguir sim com outros textos tendo por exercício intelectual a análise do problema
George
Claro Vitor, a violencia e a beligerancia sao inadimissíveis do nosso ponto de vista moral. Mas ainda faco uma correcao na sua rearrumacao da minha fala. Nao só nesse momento específico Israel tem mais responsabilidade pela violencia. Durante toda a existencia do Estado de Israel houve uma escalada constante, com algumas pausas, muito assimetríca.
Com relacao ao Cadu. Concordo com tudo! Sociologia economica é algo que eu gostaria muito de estudar, mas já que por enquanto nao posso, fico contente pelas intervencoes de quem anda estudando.
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