quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Mais um capítulo da novela Satiagraha: ou a imprensa da imprensa


Novamente surgem declarações e indícios da complexa interação entre meios de comunicação, polícias, empresários e o Estado. Confesso que, no caso da Satiagraha, não consegui identificar quem é quem nos grupos de interesses envolvidos. São tantos atores no jogo, e polígonos de paixões e interesses, que confundiriam até mesmo meus amigos leitores assíduos de Dostoiévski.

Após a investigação da investigação, temos agora a escuta das escutas. E parecem envolver cada vez mais personagens. Pelo caminhar dos fatos, espera-se que em breve, assim como temos jornalismo de economia, jornalismo de política, jornalismo de ciência, teremos também o jornalismo do jornalismo!

Observem abaixo a matéria da imprensa da imprensa.

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"Material apreendido de Protógenes revela: Globo participou da Operação Satiagraha"


Do Portal Comunique-se

O site Consultor Jurídico informa, nesta segunda-feira (12/01), que o delegado Protógenes Queiroz utilizou-se de seus contatos na Rede Globo para filmar o flagrante do encontro de Humberto Braz e Hugo Chicaroni, no restaurante El Tranvia, em São Paulo, 18/06, no qual Braz, ex-diretor da Brasil Telecom, tenta subornar a Polícia Federal para que deixe de investigar o empresário Daniel Dantas.

Segundo o delegado Amaro Ferreira – que comanda a operação –, os mais de 450 áudios em lugares onde Queiroz freqüentava, mostram que Robinson Braios Cerântula e Willian José dos Santos, da equipe da TV Globo, gravaram o momento da tentativa de suborno no restaurante El Tranvia.

Os áudios foram conseguidos com aprovação da Justiça, do juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo, em outubro.

Por conta das informações privilegiadas é que a Globo também, segundo este relatório, conseguiu filmar a prisão – de pijamas – do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

A Rede Globo preferiu não comentar o caso. Por diversas vezes, a equipe do Comunique-se tentou falar com o repórter César Tralli, que narrou a operação no restaurante. Sem retorno.

Repórter da Folha teria conseguido informações com Abin
A repórter da Folha em Brasília Andréa Micael, segundo o relatório da PF, teria conseguido informações privilegiadas de que a polícia investigava Daniel Dantas e publicado com exclusividade em 26/04/08 com agentes da Abin Luiz Eduardo Melo e Thelio Braun D´Azevedo.

À época, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi colocada em prova por ter feito escutas clandestinas para esta investigação de, entre outros, o ministro do Supremo, Gilmar Mendes.

Em férias, a repórter Andréa Micael disse apenas que, nos seus 20 anos de profissão, nunca revelou suas fontes. "Fonte é um negócio sagrado", afirmou.


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Desconfio que isso não corre o mínimo risco de dar certo.





Um comentário:

bill disse...

Parece que a lógica é a da construção dos fatos jurídicos através da imprensa. Por todos os lados. Não há quem consiga ganhar força nessa briga de cachorro grande sem contar com os interesses em conflito na grande imprensa. Só através dos veículos de comunicação de massa em países democráticos se consegue transformar o que tão somente é especulação (mesmo sendo fato)em fato. Nem a política e nem a justiça, consegue mobilizar tanta gente e dar amparo factual, mesmo sendo uma grande mentira.
Abraço.