terça-feira, 10 de março de 2009

Amnésia seletiva da grande imprensa brasileira

Em breve postarei um texto que está em fase de acabamento, onde recolhi algumas formas reiteradas da cobertura da imprensa econômica no Brasil. Especificamente, o texto buscará evidenciar os usos dos indicadores econômicos nas reportagens sobre a crise mundial.
Até a finalização, fica uma avaliação relativamente recente do Luciano Costa publicada pelo Observatório da Imprensa.


20/02/2009 - 01h02
A imprensa ignora o Brasil

Por Luciano Martins Costa, para o Observatório da Imprensa


Já se passou mais de uma semana da divulgação, pela Fundação Getúlio Vargas, da pesquisa sobre a mobilidade social no Brasil. As conclusões são interessantes e deveriam estar inspirando debates muito mais ricos do que tem sido admitido pela imprensa sobre o nosso modelo econômico e as chances brasileiras diante da crise mundial.

Aliás, uma leitura cuidadosa do estudo autoriza a jogar no lixo muita coisa que se tem publicado ultimamente sobre macroeconomia, crise, programas de inclusão social e alguns outros temas muito em voga.

A principal constatação do trabalho da Fundação Getúlio Vargas revela que a crise financeira internacional vem atingindo com mais força as classes de renda A e B do que a classe média e os mais pobres. O indicador desse fenômeno é a mobilidade social: tomados proporcionalmente ao seu peso no total da população, os indivíduos das classes de renda privilegiadas correm mais risco de cair para uma faixa de renda inferior, enquanto os mais pobres continuam ascendendo às classes médias.

Jornalistas distraídos

A explicação oferecida pelos coordenadores do estudo é que as pessoas com renda mais alta estão mais vinculadas aos setores impactados mais fortemente pela crise, como as exportações, os setores financeiro e imobiliário. As dificuldades desses setores não afetam tanto a maioria de classe média porque são menos importantes no Brasil em termos de geração de emprego e de indicadores de renda do que em outros países.

No extremo inferior da pirâmide social, as classes D e E também estão encolhendo, com maior número de famílias ascendendo à classe C. A informação é de extrema relevância e alguns analistas estranham o fato de que a imprensa não tenha manifestado maior interesse pelo assunto.

Um dos aspectos que deveriam estar movimentando os comentadores de jornais e dos noticiários televisivos e radiofônicos é a possibilidade de estarmos assistindo a uma alteração profunda no desenho da pirâmide social do Brasil.

Trata-se de um tema fascinante até mesmo para o jornalista mais distraído, mas parece que a imprensa faz questão de ignorar a realidade brasileira.

Sociedade em mutação

O estudo da Fundação Getúlio Vargas considera que, na última década, as mudanças no modelo econômico brasileiro têm produzido um novo desenho na sociedade, o que acaba por levantar defesas contra a crise internacional.

Algumas iniciativas dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, provendo estabilidade aos negócios, estimulando a exportação e facilitando a criação de um sistema bancário sólido e competitivo, criaram as bases para investimentos produtivos de longo prazo e para a modernização de alguns setores, como o das telecomunicações.

Os projetos sociais de transferência de renda, criados ou ampliados nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva, tiraram da miséria milhões de famílias e produziram a nova classe média que agora sustenta em grande parte a economia brasileira.

A pesquisa de mobilidade social revela os números dessa mudança de posições. Ela é importante porque pode orientar inovações nas estratégias das empresas e nas políticas públicas. Uma classe ascendente tem sempre um enorme potencial de energia criativa e de consumo.

As primeiras gerações das famílias que ascendem socialmente são um fator importante de desenvolvimento, e, conforme observam os coordenadores da pesquisa, 25% dos brasileiros se encontram nessa condição.

Pauta esquecida

A prosseguir a tendência apontada pelo estudo, teremos em algum tempo não exatamente uma pirâmide social, mas um hectaedro, com uma base e um ápice mais estreitos e uma parte central mais avantajada, formada pela maioria da classe média.

Claro que, diante desses indicadores, tornam-se importantes novos negócios dirigidos a essa nova classe média, o que já vem sendo explorado por algumas empresas. A imprensa também se beneficia desse fenômeno, pois quase todas as empresas jornalísticas têm um título popular, e esse é o nicho que mais cresce no Brasil.

Por todos esses motivos, torna-se incompreensível que a imprensa, de modo geral, tenha se esquivado de se aprofundar no tema.


(Envolverde/Observatório da Imprensa)

27 comentários:

George Gomes Coutinho disse...

muitíssimo pertinente Vitor!

Unknown disse...

Realmente é uma informação muito relevante, além de extremamente interessante. Esses dados apontam para um ponto que é negligenciado pela economia neo-clássica e que a sociologia econômica coloca em evidência: a existência de uma pluralidade mercados regidos por lógicas de funcionamento e reprodução distintas. Apesar da crise do mercado financeiro, existem outras formas de mercados que estão em certa medida relativamente descolados da economia de finanças. O exemplo disso é o chamado mercado “popular”, que visa atender a uma demanda de consumo dos estratos de classe mais baixos da “pirâmide social”. Diferentemente do mercado formal ou legal que é voltado para os estratos de classe com maior poder de compra ou capital econômico, o mercado popular constitui um modalidade peculiar de mercado (informalidade, baixos preços, mercadorias de menor valor agregado), cujo principal consumidor é o sujeito como baixo capital econômico e baixo capital cultural. Outra característica desse tipo de mercado é que nele, os produtores de bens materiais e simbólicos também são oriundos e alvo de monopólio das chamadas classes baixas. A exemplo disso, temos o mercado de música brega, de eletrodomésticos, de DVDs, funk, etc. Essa é uma tipologia de mercado em franca ascensão e é altamente dinâmica, pois seus consumidores participam ativamente na produção, reprodução e circulação dos bens negociados. Por exemplo, um vendedor X da rede de Lojas Casas Bahia que gosta de ouvir Calipso e compra um CD pirata. Além disso, ele também é consumidor das mercadorias disponíveis pela Loja onde trabalha, pois compra o tocador de DVD/CD na mesma loja. Isso em certa medida produz uma rede de negócios alimentada por uma pluralidade de mercados e agentes econômicos que não estão necessariamente ligados por um mercado monopolista como o financeiro.

Parabéns Vitor pela divulgação! Uma informação bastante importante que permite abrir novos flancos de análise da relação entre mobilidade social e tipos de mercado.

Unknown disse...

Só para acrescentar, me arrisco a afirmar que se o governo federal financiar, como vem prometendo, a formação de um mercado de casas populares voltado para atender exclusivamente os estratos mais baixos (inclusive a ralé), aí sim, vamos ver algo inacreditável acontecer na vida econômica e social brasileira.

bill disse...

Resta saber, embora necessite de tempo, se estas classes não sofrerão a longo prazo o agravamento da crise. Ainda é muito cedo para avaliar a crise porque os dados que temos são ainda do ano passado, período em que o PIB cresceu 5.1%. Neste momento a cautela é a melhor opção. E por isso, tudo o que sai na imprensa sobre o futuro é só profecia e especulação.
Abraço.

Thiago M. Venancio disse...

Concordo com o Bill.

Ainda é cedo para falar disso. Penso que os efeitos da crise ainda chegarão as camadas mais baixas.

Não vejo muito fundamento pluralidade de mercados, como disse o Pescador. O vendedor X das casas Bahia que compra o CD player para ouvir Calipso (credo...) também será impactado, pois as empresas que fabricam os CD players passam por imensas dificuldades (vide a GE). Logo, ele pode até mesmo ficar desempregado nos próximos meses.

Um bom exemplo disso são as demissões em massa na Embraer e montadoras de veículos ao redor do mundo. Não adianta o governo espernear, empresas independentes farão de tudo para cortar gastos, por mais triste que isto seja para a sociedade.

Anônimo disse...

Acho que temos temas aqui aos montes. A começar com a interdependencia dos mercados, acredito que seja um elemento ainda crucial, e portanto que os clássicos permanecem clássicos (os neoclássicos só fazem complementar os modelos). A sociologia econômica ainda não jogou isso fora. Se o Governo financiar as casas populares, pode ter certeza que os produtores de insumos da construção irão adorar também. Exatamente pelo fato do setor de construção ser uma das potentes engrenagens do sistema econômico interdependente. O mesmo aconteceu com o setor automobilístico.
A experiencia do tecnobrega é até bem interessante (a experiencia, não o barulho que mais parece um grunido. Podem chamar de preconceito, eu me importarei muito pouco), mas o impacto relativo na economia é risível. Aliás, tenho amigos que acabaram de lançar um livro que mensura o mercado (até que eles são otimistas quanto às estimativas impactos em determinadas cadeias produtivas... mas só em algumas cadeias). Cadeias independentes são raríssimas, e de tão raras são ínfimas. Sempre que tivermos que inferir o valor de algo devemos pensar no seu contrafactual. Então vamos estressar o argumento da seguinte forma: imagine que amanhã ninguém mais ouça tecnobrega, ninguém vende, ninguém compra. O que aconteria com o PIB brasileiro?
Aliás, acredito que teríamos muito menos gritaria contra o bolsa família se as classes média e alta compreendesse que um dos principais amortecedores dos efeitos da crise é exatamente um mercado interno robusto (quase completamente interdependente). Afirmas que as classes abastadas foram as primeiras afetadas também não significa afirmar que serão as únicas. De todo modo, com centenas de milhares de novos consumidores no mercado brasileiro, os efeitos da crise provavelmente não serão tão drásticos como em outros países. Novamente, dizer que os impactos serão menores aqui não significa afirmar que serão fracos. O problema é que não se consegue prever a intensidade da crise lá em cima.

Por isso, acho que o Bill tem certa razão em pregar a prudência. Mas também não vejo ninguém pregando que estamos no melhor mundo possivel. Em realidade, vejo muito o contrário. O apocalípse é anunciado todos os dias. Aliás, alguns parecem fazer a dança da chuva tentando chamar o dilúvio final.


Outra questão é a referida pelo Venancio como o "governo espernear". Não me parece ser bem essa a atual relação entre governo e empresários. Aliás, o que vemos são empresários se esperneando para conseguir ajuda estatal para socializar seus prejuízos. Não o contrário. E qualquer instituição que faça aporte financeiro, o governo também fará suas exigências, que podem ser muito bem a manutenção dos empregos. Como gostam de repetir alguns: "não existe almoço gratuito". Mas não esqueçamos de complementar: nem para um lado, nem para outro. E que assim seja!



Abraços,

Unknown disse...

Caro Thiago!

Creio que você talvez não tenha entendido o meu comentário sobre a idéia de pluralidade de mercados. Em primeiro lugar, é preciso compreender que o tipo de mercado que está em crise atualmente é o “mercado auto-regulável”, particularmente, o mercado de finanças (como todos já devem ter lido ou ouvido, existem outros tipos de mercado: mercado industrial, mercado comercial). Essa modalidade de mercado - conforme assinala Karl Polanyi e, em certa medida, também Max Weber – só se tornou dominante a partir do séc. XIX. Isto é, a economia de mercado é baseada num tipo histórico de mercado muito peculiar e que só recentemente assumiu a forma de “fenômeno de massa”. Antes disso, o mercado auto-regulável dividia sua atuação com outros tipos de mercados, a exemplo do mercado regulado. Aliás, a única coisa que o “mercado regulado” (fazendo uso da terminologia weberiana, um “fenômeno econômico economicamente condicionado”) compartilha com o “mercado auto-regulável” é o principio de permuta, troca e barganha. Entretanto, o principal elemento de distinção entre os dois tipos é justamente a relação de determinação causal. Continuando, o mercado auto-regulável é um “fenômeno social estritamente econômico” que, como foi dito anteriormente, a partir do século XIX passou a colonizar as outras esferas sociais, impondo sua lógica e modus operandi. Porém, também todos sabem, no inicio do século XX (com a crise de 1929) esse sistema econômico (internacional) entrou em colapso sendo, logo em seguida, substituído pela economia regulada, resultando numa nova etapa do capitalismo (capitalismo organizado, diria Habermas e Claus Offe). Etapa essa que, por sua vez, vai entrar em crise também nos anos de 1970, fazendo com que o mercado auto-regulável retorne com toda a sua força.

Foi necessário fazer esse resgate histórico para ficar mais claro a minha interpretação. Quando dei o exemplo do mercado de música brega, o objetivo era chamar atenção para o fato da existência de certos tipos muito pontuais de mercados relativamente descolados da lógica de funcionamento da economia monetária internacional (por “n” razões: geografia, tipo de “doxa” estruturante, etc.). O mercado de música brega, assim como o mercado de bens mágicos e religiosos (santos, velas, etc.) é um exemplo típico de mercado condicionado por outras motivações que transcendem o interesse material imediato (ainda não possa negar a sua existência). Assim, e modalidade mercado não é dependente da economia de finanças. Radicalmente diferente do exemplo da Embraer e da industria automotiva, essas, sim, totalmente subordinadas a economia de mercado e de finanças (lembre-se que são setores que apresentam “capital aberto”, isto é, o valor de seus bens é negociado no mercado de ações). Outra observação importante é que o principal produtor e consumidor dos bens populares é a ralé estrutural (prostituta, a empregada domestica, a costureira, o feirante, etc.). Nesse seguimento, a crise ainda não chegou com força. Aliás, eu conheço costureira, sapateiro e biscaitero aqui em Natal faturando muito desde que começou a crise. Isso porque, com a perda do poder de compra, muitos estratos da classe média, em vez de comprar novos produtos, está optando por consertar os antigos. Observe bem que setores exatamente da cadeia produtiva (finanças, setor imobiliário, automotivo, commodities, turismo)está em crise no Brasil e verá que faz sentido minhas considerações. Tratam-se de setores tradicionais extremamente subordinados a economia de mercado. Assim como aconteceu na década de 1929, muitos perderam, mas também muitos ganharam com a crise.
Abraços,

Anônimo disse...

Pescador,

O fator que você utilizou para caracterizar o mercado financeiro, a saber, "auto-regulação", é definido pela negação do Estado. Ou seja, a não intervenção do Estado nas transações financeiras. Não há regulação, não há intervenção, não há controle.

Interessante notar que o fator que caracteriza fundamentalmente o mercado de tecnobrega também é a ausência de regulação. Não se esqueça que não se paga imposto sobre a maioria dos produtos comercializados, não há regulação sobre conteúdo. E mais: o Estado mal sabe o que se passa dentro desses mercados.

Se a não regulação do Estado foi o fator causal que explica a quase insolvencia do mercado financeiro internacional (o que eu também acredito), também poderemos esperar que o tecnobrega tenha pouco futuro, pois também não é regulado.

Isso me pareceu um tanto confuso na suas colocações.


Abraços,

Anônimo disse...

No mais, acreditar que a lógica de reprodução do mercado tecnobrega seja diferente do mercado financeiro para mim soa um tanto estranho. Ou os agentes do mercado do tecnobrega são candidatos à santos ou são esquizofrênicos.

Pelo que me consta, aqueles agentes não possuem qualquer projeto que se possa julgar como uma imitação dos Falantérios do Fourier!

Unknown disse...

Oi Vitor!


Achei muito competente a sua análise, mas gostaria de fazer algumas considerações pontuais. Os diferentes mercados não são eternos nem imutáveis. São construtos históricos que, assim como surgem em determinada época, desenvolvendo-se e se tornando dominante, também desaparecem. Essa é a visão míope da teoria econômica, ignora completamente a história econômica, só sabem ler números (não por acaso, os economistas mais certeiros em relação a crise são grandes conhecedores da história econômica da civilização ocidental). Você tem razão quando afirma a desproporcionalidade entre mercado de automóveis e o mercado de brega no que se refere ao PIB brasileiro atualmente. Mas por outro lado, ignora o fato de que o mercado automotivo só se tornou um fenômeno de massas com o Henry Ford e sua idéia de difundir a cultura do uso de automóveis (lembre-se que os próprios operários compravam os carros). Da mesma maneira, o mercado de aviões quando surgiu não tinha expressão no PIB de nenhuma nação. O que estou precisamente especulando é que essa crise não é apenas de capital, mas também envolve a crise de tipos históricos peculiares de mercados. Posso está sendo um louco ao fazer tal previsão, mas creio que o mercado de automóveis vai, senão explodir, se tornar cada vez mais insignificante nesse século que mal começou. Em contrapartida, vem surgindo novos nichos de mercado que podem ou não se tornar expressivos futuramente no PIB. Por exemplo, o mercado de comunicação e informação em plena crise, só cresce. Veja nos gráficos da bolsa de valores, a trajetória histórica de ações das empresas de comunicação no Brasil, tais como a BrasilTelecon: é absurdo a diferença nas curvas de cotação. Até parece que a crise não bateu nesse setor, assim como em mercados de economia de bens popular (sempre tratados com preconceito ou pouco interesse por grande parte dos economistas). Isso porque esse mercados são fragmentados e não seguem lógicas coerentes com a economia clássica. Não estou sendo otimista em relação a economia brasileira, mas creio que ela é mais heterogênea do que os economistas pensam.

Unknown disse...

Vitor,

Vitor,


Eu não disse que o mercado de música brega é um exemplo de mercado regulado. Disse que é descolado do mercado de finanças em relação outros setores e que, também, é guiado por outra lógica de funcionamento que não permite se visualizado como um “fenômeno estritamente econômico”. Quando fiz o comentário da distinção entre mercado regulado e auto-regulável, o objetivo era apresentar uma forma de exemplificação da existência de uma pluralidade de mercados. Além do mercado regulado (que sofre intervenção do Estado) existem outras modalidades de mercados se são “fenômenos economicamente relevantes” ou “fenômenos economicamente condicionados”. Não por acaso, Max Weber escolhe como objeto de estudo o “mercado religioso” (fenômeno econômicamente relevante). É bom lembrar que essa distinção não existe em sua forma pura (trata-se de tipos ideais). Embora o mercado de brega não seja regulado pelo Estado, ele também não pode ser considerado um mercado auto-regulável, pois a lei de oferta e procura não é determinante nesse tipo de mercado. Existem outros fatores explicativos de sua dinâmica. Ele é melhor explicado como um exemplo de “inserção cultural das relações mercantis”. Viviana Zelizer, (uma socióloga francesa muito prestigiada no meio da sociologia econômica), tem um estudo clássico onde ela estuda exemplos de inserção cultural do mercado. Assim, ela demonstra como, por exemplo, a crença na idéia de cuidado com as crianças e com os velhos vai ajudar a constituir um mercado de serviços assistenciais, transformando-se futuramente numa forte industria mundial. Sua gênese, assim como o mercado de tecno-brega é informal.

Unknown disse...

O caráter distintivo de uma economia de mercado ou um sistema auto-regulável de mercados não é apenas a presença ou ausência do Estado, mas um elemento básico: trata-se, nas palavras de Polanyi, de uma "economia dirigida pelos preços do mercado a nada além do mercado". É a motivação estritamente econômica (ganho e lucro feitos nas trocas) que define uma economia de mercado. O Estado, conforme demonstrou Polanyi, pode perfeitamente fazer funcionar essa lógica. O que ele critica é justamente reduzir a economia a essa lógica. Para Polanyi e Weber, o sistema econômico é dirigido também por motivações não-econômicas. Aliás, Polanyi e Durkheim (outro crítico do utilitarismo econômico - mais do Weber e Marx)são muito mais violentos na crítica a economia auto-regulável. Portanto, retornar ao modelo de economia regulada pelo Estado, sem frear também a racionalidade estritamente econômica (guiada apenas pelo lucro) não vai resolver um problema que sistêmico no capitalismo. É apenas estancar a sangria.

VP disse...

Pescador,

Então vc acredita que o mercado tecnobrega não é regido pela busca por lucro? Se assim o for, volto a questionar, ou os agentes são esquizofrênicos ou candidatos à santo.

E mais: dizer que o mercado de automóveis, ou o que quer que seja, é histórico e pode acabar não se direciona à questão primordial. O fato é que o mercado tanto de automóveis quanto o de tecnobrega seguem as mesmas lógicas de reprodução clássicas: a busca pelo lucro. Ou não estamos mais no capitalismo?

Essa lógica de por meio da "inserção social" é apenas mais nicho de mercado que será explorado pelas MESMAS formas de reprodução capitalista que regem outros mercados.
Não consigo imaginar que os agentes do tecnobrega estão ali motivados por outros interesses que não o de reprodução do capital. Acreditar no contrário é no mínimo ingenuidade.

O fato dos agentes que atuam no mercado de tecnobrega terem "criado" mercados antes inexplorados não o fazem ser orientados por outra lógica. Nisso não há "revisionismo" da sociologia econômica que faça mudar.

Para terminar, o que determina fundamentalmente as características dos mercados tem mais a ver com o agir do indivíduos do que com as características intrísecas dos produtos (apesar de também serem importantes, não fundamentam os mercados, mas delineam suas potencialidades). Se os automóveis sairão da lista de consumo, isso não importa para os fundamentos do mercado, ou seja, para a reprodução do mercado. Não importa se serão automóveis, aviões ou laranjas.

Abraços,

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Dá uma olhadinha no BLog do garotinho. Ele fala com muita categoria sobre o assunto.Dá uma passadinha lá. Interessante.

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Trouxe para vcs:
Nos últimos dias a jornalista Miriam Leitão, de O GLOBO vem defendendo medidas econômicas que contrariam tudo que ela havia dito no passado. Aliás, quando fui candidato a presidente, em 2002 e afirmava que a economia neoliberal era uma “bolha”, que não demoraria muito a explodir fui considerado irresponsável por essa senhora e muitos jornalistas econômicos que hoje defendem as mesmas medidas que eu defendi há sete anos.

Quando afirmei que o sistema financeiro internacional precisava de uma regulamentação fui taxado de ultrapassado. Hoje quem defende isso é Barack Obama, presidente dos Estados Unidos e o presidente do FED, a maior autoridade monetária do mundo.

Está claro que os abusos praticados durante anos pelo capital sem controle iriam dar exatamente na quebradeira mundial que avisei, com pelo menos 7 anos de antecedência.

Sempre disse que o Brasil poderia praticar taxas de juros compatíveis com o mundo. Fui chamado de irresponsável e que isso geraria inflação. Agora Miriam Leitão e a maioria dos jornalistas econômicos imploram ao Banco Central para reduzir os juros da taxa SELIC, que ainda fazem do Brasil o campeão mundial em juros altos.

Enquanto muitos defendiam a especulação, o ganho fácil das aplicações sem lastro, sempre defendi a economia real, o investimento produtivo e agora eu estou vendo que estava certo. Os que apostavam nos lucros de curto prazo perderam muito dinheiro.

Também me lembro, que por diversas vezes afirmei que o lucro dos bancos no Brasil estava acima da média mundial. Aqui vai um aviso: se essa política não mudar e rápido, a quebradeira em breve será maior do que já está.

Espero que a senhora Miriam Leitão e outros jornalistas econômicos que defenderam tanto esse sistema que entrou em colapso no mundo façam uma auto-crítica, do que escreveram no passado defendendo esse modelo que levou tantas pessoas a perderem o emprego. Afinal, muitas pessoas acreditam no que lêem e nas previsões dos jornalistas econômicos.

Graças a Deus, a minha cabeça eles nunca fizeram

Unknown disse...

Oi Vitor!

Primeiramente, peço desculpas por não ter respondido aos seus últimos comentários. No presente momento, estou com muitas atividades a serem equacionadas, mas pretendo fazer um texto em cima das suas considerações críticas dirigidas a sociologia econômica a afim de enriquecer ainda mais nosso debate. Observei que você compartilha com certos pressupostos "chaves" da teoria econômica, que não só a "nova" sociologia econômica, mas a sociologia propriamente geral (Durkheim, Max Weber, Simmel e Marcel Mauss) a tempos, tem questionado. Aliás, como se sabe, fazer uma crítica da filosofia econômica utilitarista e de sua, também, pretensa proposta de antropologia da psicologia econômica estão entre as principais motivações (além, é claro, da crítica da psicologia tradicional)do surgimento da sociologia, entendida enquanto ciência das relações sociais.
Assim que eu tiver um tempo livre mais "elástico", vou desenvolver e detalhar melhor esse raciocínio.
Abraços,

Anônimo disse...

Putz...
Blog do Garotinho foi demais...

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Anônimo, foi demais "sobrando" ou "faltando?"

E por que você vem num debate como anônimo e faz uma declaração assim...


Nu espaço tão esclarecedor deste... não entendo você anônimo.

Não vai falar sobre?

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

É eu vou ser muito sincera, só me lembrei deste texto por causa desta fala do Bill:
Resta saber, embora necessite de tempo, se estas classes não sofrerão a longo prazo o agravamento da crise. Ainda é muito cedo para avaliar a crise porque os dados que temos são ainda do ano passado, período em que o PIB cresceu 5.1%. Neste momento a cautela é a melhor opção. E por isso, tudo o que sai na imprensa sobre o futuro é só profecia e especulação.

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Tudo bem. Pateta aqui não tem vez!

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Vcs viram o título da postagem?

Anônimo disse...

A Jumentinha cansou da trolha do XACAL e veio pastar em outros campos.

Ligue la a sua TV na Record que o RR Soares esta falando !!

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

No momento não, anônimo, porque o assunto aqui é "amnésia seletiva da grande imprensa brasileira"

Você esqueceu?

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Bem como texto estava em fase de acabamento, pensei que seria de alguma pequena valia uma contribuição, e penso que esta que trouxe, apesar de ser um grão de mostarda diante de sementes graúdas, poderia no mínimo abrir outros horizontes.

Realmente não só a Imprensa ignora o Brasil como o brasileiro ignora, e muito, a Imprensa.

As Chances brasileiras diante da crise mundial deverá ser a partir de agora motivo para grandes reflexões sim.

...Mas... jornalista estão distraídos...
...A sociedade está em Mutação...

E o pior de tudo:

A PAUTA ESTÁ ESQUECIDA!

^^ :( alguém aí?


olha a palavra: uncerp.

E olha... poderíamos arrscar um...

presunção.

Será que nós, (incluo eu também, claro) não somos muito presunçosos????

Humildade é bom, gente... eu persigo isto...

Se O Brasil dscer do pedestal poderemos emprestar as nações e nem precisaremos pedir emprestado, sabia?

( perdoa erros, mas não tenho tempo de fazer muitas correções... Quando Deus começa a dar tenho que jorrar..)

Jesus é LIndo gente...

Anônimo disse...

Sai jumentinha... tu es muito chata...

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Quinze de março de dois mil e nove das treze e quarenta e sete, quais foram mesmo as suas palavras?
Ah! Que é para eu sair que sou muito chata?

Vamos por parte:

Há um sofrimento em ser mal compreendido, sabia?

Você quer ser amanhã um articulador de governo?
Como? Se nem aceitas uma conterrânea que só quer verdade, humildade e integridade...
Estamos diante de elite do Conhecimento ou não?

Estar em campos ou posições diferentes nem sempre quer dizer pensar "tudo" diferente. Ou quer?

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

AMADOS! ISTO RESPONDE?


"Pauta esquecida

A prosseguir a tendência apontada pelo estudo, teremos em algum tempo não exatamente uma pirâmide social, mas um hectaedro, com uma base e um ápice mais estreitos e uma parte central mais avantajada, formada pela maioria da classe média.

Claro que, diante desses indicadores, tornam-se importantes novos negócios dirigidos a essa nova classe média, o que já vem sendo explorado por algumas empresas. A imprensa também se beneficia desse fenômeno, pois quase todas as empresas jornalísticas têm um título popular, e esse é o nicho que mais cresce no Brasil.

Por todos esses motivos, torna-se incompreensível que a imprensa, de modo geral, tenha se esquivado de se aprofundar no tema.


(Envolverde/Observatório da Imprensa)
postado por Vitor Peixoto às 07:27 em 10/03/2009"


olha a palavra para refletir:

SOUTO!!!