quinta-feira, 30 de abril de 2009

Nós, os “blogueiros desocupados”....

Roberto Torres

Dando uma passeada agora pela rede campista de Blogs, acabo de tomar conhecimento da manifestação do presidente da Camara Municipal diante das críticas que os “vereadores-vendidos” (lembrando o “banqueiro-bandido” do Protógenes) vem sofrendo em alguns Blogs. Segundo Nelson Nahim, tratam-se de “blogueiros desocupados” os que ficam escrevendo contra a “moral de nossos vereadores.” Não quero aqui discutir em que medida os Blogs atacam ou não a moral dos vereadores. O comportamento que a “Casa das Leis”, onde “nós, o povo”, nos faríamos representar, diante de todos os absurdos administrativos e políticos de qualquer governo que compra as suas vozes (seja o do “Macabro”, seja esse ai da família Garotinho...) já basta para provar que eles não agem de acordo com nenhuma moral próxima daquela a que eles juram adesão quando tomam posse. O que eu quero discutir aqui é o conteúdo implícito da fala do presidente da casa.
Qual o sentido de “desocupados” no contexto da gramática política de Nahim e seus “honrados amigos vereadores”, gramática essa que podemos, creio eu, aludir ao que chamamos vagamente de “cultura política local” (que, na verdade, é muito mais que “cultural” e do que “local...”)? Não somos desocupados simplesmente porque temos tempo livre e porque manchamos a moral do trabalho “tao cara” à Nahim e a seus amigos, eleitores e todos os que dão legitimidade a seu discurso e comportamento. Ter tempo livre não é um incomodo para a boa consciência para essa gente que se incomoda com a desocupação dos blogueiros. Eles tem bastante, haja vista a quantidade de faltas nas seções da Casa, e os “debates” sobre o novo Bar da Pelinca quanto estão presentes. O tempo livre em si não é o que contraria essa forma de ver a agir na política que, em Campos, é praticamente feita a céu aberto. Ficar em casa escrevendo na internet não é condenável desde que não se mexa com a vida alheia e com os negócios alheios. É assim que Nahim e seus colegas percebem a vereança: como um negócio particular. A arrogância que sai de sua manifestação expressa mesmo toda a ignorância prática, nada ingenua, sobre o que seja a vida pública: diante de críticas à conduta dos vereadores como homens que desempenham funções públicas, Nahim reage como alguém que se sente violado em sua vida privada.
Não acho que os maiores problemas de uma sociedade, assim como de uma cidade, devam ser compreendidos a partir das mazelas e esquizofrenias do poder público, embora não se possa ignorar isso. Acho que devemos sempre combinar a “crítica da política” com a crítica analítica das condições sociais que dão o sentido à ação de um indivíduo na política. Devemos saber que Nahim fala a gramática predominante da política em Campos e não apenas a sua ou a do “Clã Garotinho”. Mas devemos também saber “o que fazer” com nossa análise quando ela se refere a algo tao absurdamente presente e repugnante para os que querem enfrentar essa gramática que leva a política para dentro de casa e do convívio doméstico. Como só temos as míseras palavras... ai vai minha opinião sobe o que devemos fazer com elas: Nahim foi ridículo e com isso nos mostra que devemos avançar na crítica detalhada que irrite o quando mais esse poder nefasto. Nenhuma tolerância! Nenhuma flexibilidade. Esse é o nosso papel.

domingo, 26 de abril de 2009

O que é Mercado?

Roberto Torres


Talvez a forma mais eficiente que o neoliberalismo encontrou na tentativa de perpetuar sua hegemonia no mundo tenha sido a proclamação do fim das ideologias. A vida social completamente regulada pelas “forcas de mercado” foi trazida à condição de fatalidade contra a qual a política deveria ser perpetuamente limitada. Por mais que a realidade fosse de concentração acentuada do capital, a idéia de um mercado como palco da competição justa se firmou como pedra angular de uma visão de mundo que pretendia ser a única possível. A esquerda foi encurralada. A democracia reduzida, implementada e expandida como formalismo. Respeitar os formatos institucionais que dariam suporte ao mundo justo e competitivo do mercado vitorioso foi colocado como tabu e sua violação passava a render os xingamentos de “atrasado”, “viúvas do muro de Berlin”, entre outros que visavam desautorizar um questionamento político da ordem vigente.
Este mundo do Deus-mercado pretendia que a economia fosse imunizada ao máximo contra a política, como se ela fosse um “dado da evolução humana” em busca do seu bem estar, o qual deveria ser protegido contra quem pudesse usar a política para “reinventar” o mundo, interferir naquilo que funcionaria tao melhor quanto menos intervenção tivesse. Criaram-se critérios quase oficiais para condenar os aventureiros que, se eleitos, podiam ameaçar a marcha soberana da “livre iniciativa”, das “forcas do progresso”. Foi exatamente neste contexto de hegemonia ideológica que as “mentes brilhantes” do liberalismo brasileiro buscaram o conceito de patrimonialismo para legitimar o discurso de demonização do Estado. Segundo a tese de nossos liberais, tudo de ruim que havia no Brasil tinha a ver com a existência de um “estamento burocrático” (termo de Raymundo Faoro) que engolia todas as iniciativas virtuosas dos homens de mercado. Esse estamento, na cabeca de nossos liberais e seus seguidores, tem o poder explicativo que um “encosto” possui na Igreja Universal: ela está em toda parte onde o mal se manifesta.
A falsa dicotomia entre mercado e Estado busca esconder que o mercado é sempre fruto da política, que não funciona sem que seja criado por uma vontade parcial que se impõe sobre as outras, vontade essa que, se vista em seu lastro histórico, sempre vai derivar de um acordo dos vencedores para instaurar a competição. Mercados são áreas de competição, cooperação e consensos valorativos que nunca puderam prescindir de uma ordem social e política. A legalidade quase natural que o neoliberalismo pretende atribuir ao mercado historicamente existente esconde que a competição permitida e percebida como justa é feita por competidores herdeiros do poder, que foram favorecidos por políticas estatais sem as quais a ordem vigente da competição não existira em lugar algum. O liberalismo econômico é uma intervenção política que usa o Estado para fomentar a competição consentida entre si pelos vencedores e esconde todo o esforço político que precisa para ser o que é. Esconder sua ideologia, torná-la espontânea, é o que faz a política do mercado para que este seja percebido como envolvido por nenhuma política.
A crise do “fim das ideologias” traz à esquerda vários desafios, tanto práticos como teóricos. Do ponto de vista teórico, parece fundamental que a esquerda se lance numa discussão sobre o mercado, seu status na História e suas possibilidades evolutivas. O que não pode é a esquerda usar as mesmas armas em sentido contrário, como se bastasse denunciar os esquemas neoliberais de controle do Estado como “patrimonialismo de direita”. Patrimonialismo é um termo do senso comum erudito que serve para mascarar os conflitos sociais entre classes e todo tipo de privilégio que atravessam mercado e Estado. Se os fatos parecem mostrar que o mercado não é o contrário de Estado e muito menos o contrário de política e todas as incertezas e mazelas que associamos à esta em meio à hegemonia de sua demonização, como definir então o mercado? Demonstrando a mentira liberal, sobra algo de positivo no mercado que a esquerda poderia ou deveria incluir em suas proposições? Em que medida o mercado se associa à democracia?. Me parece que uma vertente muito promissora para essa questão é a chamada “nova sociologia econômica”. O que também nao é nenhum um pouco positivo é o revanchismo preguiçoso de alguns que acreditam num mero retorno à Marx como caminho suficiente para uma crítica radical ao capitalismo. No momento em que ninguém pode mais esconder a necessidade de política para restabelecer a ordem dos mercados, nada me parece mais oportuno do que alargar os termos do debate para que a pobreza intelectual que interessa à direita (imagine que hoje Reinaldo de Azevedo e FHC tem igual importância para DEM e PSDB!) não seja mantida com a pretensão de parte da esquerda que acha poder enfrentar o dogmatismo neoliberal sem atualizar Marx

segunda-feira, 20 de abril de 2009

I Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica

Prezad@s,

A universalização do acesso escolar, sabemos, não é necessariamente sinônimo de democratização do ensino, pois podemos considerar, entre outros exemplos, o demorado retorno da Sociologia às salas de aula no ensino médio, passados mais de duas décadas da redemocratização do país, configurando desde então um prejuízo para a educação escolar dos jovens, privados que foram (e ainda são) do aprendizado dos conceitos básicos dessa ciência e das questões de ontem e de hoje legadas pelos "clássicos" Durkheim, Marx e Weber e pelos demais autores que seguiram suas pegadas e se lançaram em novas trilhas no acidentado terreno da modernidade tardia. À emergência de situações e problemas que desafiam os canônes da razão instuída dentro e fora das escolas, viabilizou-se somente nos anos 2000 o ensino de Sociologia no nível médio e pouco a pouco este tema começa a se institucionalizar como um campo de pesquisa. Nesse sentido, é oportuno o debate organizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Confiram e participem!

* Texto abaixo extraído de: www.sbsociologia.com.br

I Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica
Reflexão sobre as experiências nas universidades e nas escolas.

Data: 25 de julho a 27 de julho de 2009

Local: IFCS/UFRJ, Largo São Francisco, Rio de Janeiro (RJ) Realização: SBS e UFRJ

Inscrições em breve! O evento visa a promover uma discussão ampla sobre as conseqüências da obrigatoriedade do ensino de sociologia na escola média brasileira, como foco: no ensino da disciplina, como conteúdos programáticos, metodologias de ensino, recursos e materiais didáticos; nos cursos de licenciatura e formação de professores; nas pesquisas sobre o ensino da disciplina; na constituição de uma comunidade de professores de sociologia no ensino médio.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Concurso Público UFF Campos RJ - Adjunto e Assistente

Prezad@s,


A pedido dos professores Luiz Claudio Duarte e Ana Maria da Costa venho divulgar concurso público para provimento de vagas na UFF Campos. Este tipo de informe visa cumprir uma das missões, em minha leitura, da blogosfera: democratizar informações relevantes acerca de temas de interesse público. Tudo o que não precisamos é de uma blogosfera ensimesmada.


Boa sorte!



EDITAL Nº 137/2009

CONCURSOS PÚBLICOS DE PROVAS E TÍTULOS PARA A CARREIRA DO MAGISTÉRIO SUPERIOR NA CLASSE DE PROFESSOR ASSISTENTE I - 40 HORAS-DE

Campos dos Goytacazes / RJ

De acordo com o que prevê a Portaria MPOG Nº. 286, de 02 de setembro de 2008 - DOU, de 03 de setembro de 2008, Portaria MEC Nº. 1.226, de 06 de outubro de 2008 - DOU, de 07 de outubro de 2008 e Portaria MPOG Nº. 36, de 26 de fevereiro de 2009 – DOU de 27 de fevereiro de 2009.

ÁREAS DE CONHECIMENTO: HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

(TRÊS VAGAS) - Período de Realização do Concurso: 11/05 a 14/05/2009; Macroeconomia (duas vagas) Período de Realização do Concurso: 18/05 a 21/05/2009 e Microeconomia (duas vagas) – Período de Realização do Concurso: 04/05 a 07/05/2009. Período de Inscrição: 07/04 a 08/04, de 13/04 a 17/04, 22/04 e 24/04/2009.

Local: Universidade Federal Fluminense - Niterói - RJ.

PRÉ-REQUISITOS: MESTRADO OU DOUTORADO OU LIVRE-DOCENTE OU TÍTULO DE NOTÓRIO SABER, APROVADO PELOS CONSELHOS SUPERIORES DA UFF.

Valor da inscrição: R$ 111,00 (cento e onze reais). Nome do cargo: Professor Assistente I. Remuneração total: R$ R$ 4.442,60 (quatro mil, quatrocentos e quarenta e dois reais e sessenta centavos). Regime de Trabalho: 40 horas com dedicação exclusiva. Prazo de validade do concurso: de 01 (um) ano a partir da Homologação do Resultado do concurso público em DOU, previsto no Artigo 12 da Portaria MPOG N° 450, de 06-11-2002, publicada em DOU de 07-11-2002. Decreto Nº. 4.175, de 27-03-2002. A lotação e o exercício dos candidatos habilitados serão no Departamento de Ensino de Fundamentos de Ciências da Sociedade (SFC) - Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional (ESR) - UFF/RJ. O Edital que deu origem ao presente Extrato encontra-se disponível no site: www.uff.br/copemag. Maiores informações na COPEMAG - UFF ou pelo telefone (21) 2629-5272.

ROBERTO DE SOUZA SALLES

Reitor

EDITAL Nº 133/2009

CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS PARA A CARREIRA DO MAGISTÉRIO SUPERIOR NA CLASSE DE PROFESSOR ADJUNTO I - 40H-DE

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE RIO DAS OSTRAS (puro) / RJ De acordo com o que prevê a Portaria MPOG Nº. 286, de 02 de setembro de 2008 - DOU, de 03 de setembro de 2008, Portaria MEC Nº. 1.226, de 06 de outubro de 2008 - DOU, de 07 de outubro de 2008 e Portaria MPOG Nº. 36, de 26 de fevereiro de 2009 – DOU de 27 de fevereiro de 2009.

Área de Conhecimento: Estado e Sociedade no capitalismo contemporânea e gestão em políticas sociais (uma vaga).

Período de Realização do Concurso: 27/04 30/04/2009. Período de Inscrição: 07/04 a 08/04; 13/04 a 16/04/2009. Local: Universidade Federal Fluminense - Niterói - RJ. Pré-requisitos: Doutorado ou Livre-Docente ou Título de Notório Saber, aprovado pelos Conselhos Superiores da UFF. Valor da inscrição: R$ 168,00 (cento e sessenta e oito reais). Nome do cargo: Professor Adjunto I. Remuneração total: R$ 6.722,85. Regime de Trabalho: 40 horas - DE. Prazo de validade do concurso: de 01 (um) ano a partir da Homologação do Resultado do

concurso público em DOU, previsto no Artigo 12 da Portaria MPOG N° 450, de 06-11-2002, publicada em DOU de 07-11-2002. Decreto Nº. 4.175, de 27-03-2002. A lotação e o exercício do candidato habilitado serão no Departamento de Ensino Interdisciplinar do Campus Universitário de Rio das Ostras (PURO) / RJ. O Edital que deu origem ao presente Extrato encontra-se disponível no site: www.uff.br/copemag. Maiores informações na COPEMAG

- UFF ou pelo telefone (21) 2629-5272.

ROBERTO DE SOUZA SALLES

Reitor

EDITAL Nº 135/2009

CONCURSOS PÚBLICOS DE PROVAS E TÍTULOS PARA A CARREIRA DO MAGISTÉRIO SUPERIOR NA CLASSE DE PROFESSOR ADJUNTO I - 40 HORAS-DE

(Vagas de CONVERSÃO de PROFESSORES SUBSTITUTOS) NITERÓI / RJ De acordo com o que prevê a Portaria MPOG Nº. 224, de 23 de julho de 2007, publicada no Diário Oficial da União (DOU), de 24 de julho de 2007, em seu anexo, na Portaria Normativa Interministerial, N° 22 de 30 de abril de 2007, DOU de 02/05/2007 e Resoluções números 066, 163, 173 e 386/2008 do Conselho de Ensino e Pesquisa/UFF.

ÁREAS DE CONHECIMENTO: PESQUISA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

NO SERVIÇO SOCIAl (uma vaga) –

Período de Realização do Concurso: 15/06 a 18/06/2009 e Questão Social, Serviço Social e Política Social (uma vaga) - Período de Realização do Concurso: 04/05 a 07/05/2009. Período de Inscrição: 07-04 a 08-04, de 13-04 a 17-04, 22-04, de 24-04-2009. Local: Universidade Federal Fluminense - Niterói - RJ. Pré-requisitos: Doutorado ou Livre-Docente ou Título de Notório Saber, aprovado pelos Conselhos Superiores da UFF. Valor da inscrição: R$ 168,00 (cento e sessenta e oito reais). Nome do cargo: Professor Adjunto I. Remuneração total: R$ 6.722,85. Regime de Trabalho: 40 horas com dedicação exclusiva. Prazo de validade dos concursos: de 01 (um) ano a partir da Homologação dos Resultados dos concursos públicos em DOU, previsto no Artigo 12 da Portaria MPOG N° 450, de 06-11-2002, publicada em DOU de 07-11-2002. Decreto nº. 4.175, de 27-03-2002. A lotação e o exercício dos candidatos habilitados serão no Departamento de Ensino de Serviço Social (SSC) - Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional (ESR) - UFF/RJ. O Edital que deu origem ao presente Extrato encontra-se disponível no site: www.uff.br/copemag. Maiores informações na COPEMAG - UFF ou pelo telefone (21) 2629-5272.

ROBERTO DE SOUZA SALLES

Reitor

sábado, 11 de abril de 2009

Pensando criticamente a blogosfera – limites e potenciais após um ano de “Outros Campos”

George Gomes Coutinho

Neste 11 de abril de 2009 o blog “Outros Campos” completa um ano de seu lançamento. O marco é o seu manifesto de fundação, onde, profundamente influenciados pelos ventos da operação “Telhado de Vidro” de 11 de março de 2008, acreditávamos que se desenharia aí para Campos dos Goytacazes um “outro tempo”. Decerto o desenrolar dos fatos ainda não produziu um cenário diametralmente diverso para a cidade, a despeito da conseqüente euforia cívica decorrente do sentimento de ruptura da sensação de impunidade entre a camarilha do poder local. Mas, há alguns potenciais importantes explorados de maneira insuficiente. Dentre estes o da revitalização da esfera pública local que, ao meu ver, permanece inconclusa.

Pensei que como forma de agradecimento aos que lêem o nosso blog e nos incentivam, inclusive não somente os campistas dado que há leitores de diversos pontos do Brasil e alhures, eu poderia apresentar algumas impressões que me incomodam sobre a relação “esfera pública” e os blogs.

Há uma relativa ansiedade sobre este fenômeno, a proliferação em larga escala dos blogs e a politização dos debates, o que poderá gerar futuramente pesquisas “iluminíferas” como diria o saudoso e exótico Darcy Ribeiro. Neste momento não poderia me dedicar exaustivamente ao tema. Mas, de maneira “ensaística” decidi partilhar estas reflexões primárias influenciado seletivamente pelas ponderações do texto “Why the net is not a public sphere”, de Jodi Dean*, publicado na revista Constellations de 2003. É igualmente um texto não conclusivo, dado que lida com a internet, um fenômeno historicamente muito recente. Também não tem por objeto os “blogs”. Mas, nos servirá como ponto de partida visto a aridez persistente quanto ao tema.

Uma das primeiras coisas que devemos ter em mente quanto aos “blogs” é sua dubiedade (algo que entrecorta a internet segundo Dean): tanto é meramente o reflexo de uma sociedade radicalmente individualista, que se recusa a ter relações “reais”, quanto também possibilita a democratização de informação sob um viés interativo. De maneira aterradora as duas facetas parecem conviver e se retroalimentar. Se pensarmos no caso dos blogs, particularmente, veremos demonstrações narcísicas de toda ordem, com elementos do mais puro fascismo ou demonstrações de ódio e ameaças aos agrupamentos que se rebelam contra o establishment (ou o anti-establishment igualmente vociferando de maneira viril contra o status quo). N

o outro lado da moeda os blogs informam as “outras versões” dos fatos, rompem o cerco do oligopólio das informações em âmbito local e até mesmo nacional ou internacional. Este último ponto explica parcialmente o crescimento quantitativo dos blogs em Campos, visto que havia inegável discrepância entre o que se discutia em determinados momentos no espaço público e o que a midia tradicional de fato divulgava. Com esta esquizofrenia informacional os blogs apresentaram-se como válvula de escape destes anseios e destas informações alijadas . E é neste sentido contra-hegemônico que os blogs conquistam sua legitimidade, ao propagarem leituras de realidade que até então eram solenemente ignoradas.

De toda forma, como deve ter ficado claro, os blogs são espaço de disputa de hegemonia em um sentido gramsciano atualizado. Os projetos de sociedade estão postos e em disputa e a diversidade dos blogs vai a reboque desta diversidade político-normativa.

Portanto não há essencialmente um uso progressista ou positivo dos blogs. Estes são ferramentas, são “meio”, para a circulação em caráter simbólico dos fundamentos políticos e normativos em disputa na sociedade. Portanto são “suporte”, não podem ser “essência” ou “substância” da ação coletiva. Caberia, enquanto pesquisa futura, discutir sob qual(is) ponto(s) do espectro político os blogs locais se encontram. Decerto teríamos um mapa onde veríamos quais elementos programáticos estão disponíveis. Entendam que até mesmo projetos personalistas de poder necessitam de algum tipo de programa. Mas, além disto, seria fundamental avaliar o seu fluxo de leitores. Ai teríamos a possibilidade de avaliar o impacto destes blogs. E temo que o resultado será menos “avant-garde” do que gostaríamos.

Dean argumenta que a “transparência” que a internet reivindica oculta que os atores interagindo em seus blogs estão em uma relação intrinsecamente assimétrica, o que explica a maior ou menor audiência destes "meios". Retomarei este ponto adiante.

Ainda, o autor em seu texto alerta sobre o volume de informações racistas, sexistas, e outros tantos istas, que circulam na grande rede. Possivelmente até mesmo superam uma utilização socialmente progressista da grande rede. Longe de termos algum parâmetro de circulação de informações voltada para a “esfera pública”, onde haveria o pressuposto da formação de consensos e uma prática com pretensões universalistas sobre a sociedade, temos o particularismo enquanto resposta predominante. Este último ponto é passível igualmente de ser constatado localmente.

Seja como for, o que não podemos autorizar é um uso homogêneo do termo “blogosfera”. Não existe uma “blogosfera” em um sentido harmônico com um projeto de sociedade compartilhado. Há uma “blogosfera” altamente fragmentada, em disputa, com níveis desiguais de exposição de seus conteúdos, e com impactos variáveis no espaço público propriamente dito. Evidentemente os blogs não estão dissociados da “vida real”. Há interesses, e os que se locupletam muitas vezes o fazem reproduzindo a hierarquia simbólica situada fora do espaço virtual. Hierarquia acadêmica, política, social, etc.. Os recursos e capitais dispostos de forma desigual, evidentemente, explicam a maior ou menor porosidade de blog “x” ou “y” em detrimento de “z”. Há blogs e blogs.

Para além do fetiche de uma “blogosfera” única, onde haveria supostamente o posicionamento desinteressado da proliferação livre de informações, sentido descartado como já discuti acima, há algo que me preocupa. A dissociação entre esfera pública “real” e a “blogosfera”. Este “gap” será objeto de minha atenção daqui por diante.

Ao depositarmos exclusivamente as nossas energias na “blogosfera” estamos rompendo o circuito potencialmente instaurado que levaria às modificações na “política real”. Reificamos aquilo que é mediação, meio, instrumento, o tornando em atividade “finalística”. Para que este circuito de reflexividade possa gerar os frutos ansiados é fundamental a atuação na vida real, com as interações face-a-face, onde de fato os consensos e conflitos decisivos são apresentados.
Visando ilustrar esse raciocínio proponho o seguinte esquema:



A = Redes construídas na esfera pública, atuação sistemática e programática no espaço público efetivamente
B = Os blogs, que reproduzem os influxos comunicativos das redes e agrupamentos em disputa em “A”
C = O leitor em sua esfera privada que avalia a produção de “B” que representa um posicionamento ante as disputas em “A”

D = A opinião política que constitui-se como reflexão da ação, efetuada pelo somatório de agentes privados, retornando para “A”

Obs: As setas em azul exemplificam a conexão efetiva. A seta em branco representa aquilo que é ainda um potencial ou é frágil na contemporaneidade.


Em forma de “circuito”, como reproduzi de maneira rudimentar acima, procurei explicitar o “gap” na passagem de “D” para “A”. Ou seja, reconhecidamente formamos opinião e incitamos ao debate. Estamos conectados com os projetos em disputa. Mas, as opiniões aí derivadas não se transformam automaticamente em ação política efetiva na esfera pública e tampouco causam repercussão imediata e obrigatória na ação dos atores e redes coletivas que a constituem.

Hoje há uma maior relação esfera pública e blogosfera, na medida que os blogs tem funcionado (parte destes) como instrumentos de controle democrático. Caso ilustrativo, dentre tantos outros, foi o papel desempenhado pelo “Eu penso que” de Ricardo André Vasconcelos onde foi detectada a permanência de uma empresa, denunciada como fantasma, na aproximação com o erário campista (ver aqui). Outros blogs igualmente importantes, vide Roberto Moraes, "Atrolha", Urgente, Cleber Tinoco, dentre outros, justamente em sua postura “não alinhada” causam abalos relativos no tabuleiro do poder local. Outros, como o “Razão e Crítica”, partilham da elaboração de esforços interpretativos sobre a realidade. E sem dúvida todos auxiliam sobremaneira na busca por maior transparência e probidade no uso de recursos públicos.

Mas, ainda tem sido tímidos os rearranjos da política local “real” pela estrutura deste tipo de comunicação, mediada por computadores e usualmente construída na esfera privada. Os blogs podem sim fetichizar a ação ao se tornar objeto de atuação finalística. Possivelmente por isso vimos o caráter efêmero do “Chega de Palhaçada” ou mesmo temos a atuação dos blogs articulados com os movimentos sociais (vide o caso SEPE e eleições diretas para as escolas municipais) ainda configurando um momento raro.

De toda forma, se os membros da blogosfera quiserem dar um passo efetivo adiante, com o upgrade que mereça ser chamada de “blogosfera 2.0”, o debate precisa ser colocado em caráter crítico e não apologético. Os blogs são a possibilidade de gerar o frescor no debate por trazerem opiniões diversas do que se encontra na mídia tradicional, divulgando informações da mais alta qualidade. Em suma, podem ser ferramentas imprescindíveis no que Dean chama de “neodemocracias” na medida que socializam fatos e opiniões que até então era restritos a determinados círculos sociais. Mas, não substituem as interações face-a-face nos partidos, movimentos sociais, sindicatos, associações de moradores, etc.. Em suma: são incapazes de substituir as interações face-a-face, o real fundamento da ação na esfera pública.


* DEAN, Jodi. Why the net is not a public sphere. In: Constellations. Vol. 10, n.1, 2003, p.95-11

texto atualizado em 18:52, 11 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009


A foto do G20 e simbologia do mundo dividido em dois

O preconceito contra os pobres que a classe média condensa contra Lula a impede de perceber, por subestimar a inteligencia do Presidente em sintetizar a questao política envolvida na luta de classes que marcou sua trajetória, o sentido da dicotomia entre "brancos de olhos azuís" e "nao brancos sem olhos azuís" que ele usou há poucas semanas. Aferrado na crenca de que somente a formacao escolar pode trazer sabedoria válida na política, o senso comum de classe média só viu nesta frase o uso mau calculado de palavras, com o cheiro de um racismo às avessas, dirigido por Lula aos "brancos de olhos azuis". A cronica de Luis Fernando Veríssimo, publicada há alguns dias no O Globo e que tomei emprestada do Blog do Roberto Moraes, supera esta visao mesquinha e recontextualiza o jogo de palavras de Lula, sugerindo que a divisao de "racas" sugerida pelo nosso presidente nao é meramente aquela que separa mundos pela cor da pele.


Lado a lado
“Encosto ou não encosto? Só o joelho. O que pode acontecer? Ela dizer “Mr. Lula, please!” Aí eu recolho o joelho, peço desculpas, “aimsórri, aimsórri” e pronto. Se eu soubesse falar inglês, explicaria. Sabe o que é, Elizabeth? Eu estava aqui pensando: quando é que, lá em Pernambuco, eu ia imaginar que um dia estaria sentado ao lado da rainha da Inglaterra? Não sei quem é que me botou aqui para tirar esta fotografia dos G-20. Não acho que tenha sido um pedido seu, “Quero o bonitinho de barba à minha esquerda”. Claro que não. Mas o fato é que estou aqui e o Barack está aí atrás em algum lugar, de pé e se perguntado o que eu tenho que ele não tem. O Sarkozy não deve nem estar aparecendo. Ficou atrás da Merkel e não vai sair na foto. E eu aqui ao seu lado, na primeira fila. Isto significa muito, viu Elizabeth? Lá na minha terra vai ter gente se mordendo de raiva. Onde já se viu, aquele retirante nordestino que nem fala direito sentado à esquerda da rainha da Inglaterra?

Quando eu me elegi muita gente ficou horrorizada: como é que vai ser quando ele, um torneiro mecânico, tiver que nos representar num jantar oferecido, por exemplo, pela coroa inglesa? Vai ser servido na cozinha, para não dar vexame na escolha dos talheres. E aqui estou eu, sentado ao lado – com todo o respeito – da coroa inglesa em pessoa.

Se foi o protocolo que me botou aqui, ele acertou, viu Beth? Você, queira ou não, não é só a rainha dos ingleses, é, simbolicamente, a rainha de todos os loiros de olhos azuis do mundo, incluindo o Barack. De todos os bandidos que causaram esta crise e hoje nos infernizam a vida. E, de certo modo, eu sou o seu oposto. Sou uma espécie de rei republicano dos não-loiros do mundo – ou pelo menos deve ter sido essa a ideia do protocolo aos nos botar lado a lado. Todos os outros chefes de Estado desta fotografia seriam dispensáveis. A foto poderia ser só de nós dois e estariam todos representados. E isto significa outra coisa também, viu Beth? Eu não me contentei em ter nascido na miséria, no Nordeste, e quis mais. Não me contentei em ser um torneiro mecânico em São Paulo e quis mais. Não me contentei em ser um líder sindical e quis mais. Não me contentei em perder eleição atrás de eleição, insisti e acabei presidente.

Agora estou aqui, lado a lado com a rainha da Inglaterra, num dos pontos mais altos da minha carreira, e também quero mais. Por isso minha perna se moveu e meu joelho encostou no seu. De certa forma, o movimento da minha perna foi o passo final da caminhada que começou em Pernambuco, tantos anos atrás. Já que, ao contrário de você, Beth, não posso ficar no poder para sempre”

sábado, 4 de abril de 2009

Em busca da honra (ou o conteúdo cultural do americanismo tardio)

Talvez estejamos ainda estupefatos com a frase de Obama sobre Lula, na reunião do G20. De fato, soa como algo surpreendente porque nós nos acostumamos na velha posição criada por nosso “complexo de vira-lata”, e como que de súbito galgamos patamares evolutivos em direção à nova forma de Pit-Bull. Isto é o que ouvi, em várias análises de jornal, que preferiram isto a ressaltar explicações como “gentileza” ou “afago interessado”. Não é esta a frase que mais me atraiu na reunião do G20. A mais interessante foi a de Lula, explicando o ocorrido: “vocês acham que é fácil para um americano dizer isso?”. Lula aqui inverte o argumento, e de forma perspicaz foca os EUA, não o Brasil. Minha questão principal sobre o ocorrido vem exatamente desta inversão, e pergunto: qual é a atual atmosfera cultural americana sob a qual esta frase faz todo o sentido?
Nenhum outro país se viu tanto no cinema como os americanos (talvez os indianos). Grande parte da vida americana passou na tela, grande parte de seu imaginário foi estampado em película e exportado para o mundo todo. Estamos, pois, diante de um bem cultural que apresenta as auto-representações de uma nação inteira, que ademais serviu para perpetuar duas de suas características mais identificáveis: “a honra e o orgulho americano”. Estes dois elementos combinados criaram a figura do Xerife dos filmes de John Ford, a figura dos pioneiros que em caravanas expandiam os limites territoriais em direção ao oeste profundo. Dois atores marcaram época e incorporaram a imagem da bravura, da honra e do orgulho americano: Henri Fonda e Clint Eastwood. Nesta mesma época, década de 50 e 60, o sonho americano se concretizava na “golden age”. Este era o cenário cultural propício para a exaltação da honra. Isto perdurou e, na política externa, a expressão da honra e do orgulho americano ocorria nas famosas afirmações a respeito da “arrogância americana”, do unilateralismo. G. Bush foi a expressão radicalizada e tardia dessa atmosfera cultural, que obviamente expressava subliminarmente interesses econômicos.
Mas, em Bush, aquela atmosfera já havia mudado (saiu do cargo como o presidente mais detestado da história, e pelos americanos) e ninguém expressou tão bem esta mudança como o cinema. Não falarei da cinematografia de Eastwood, que dá uma guinada (em um de seus últimos, “A troca”, a inimiga é a polícia e no mais recente, “Gran Torino”, os imigrantes asiáticos são amigos). Não falarei também dos últimos filmes dos irmãos Coen, eles são canadenses (“Onde os fracos não tem vez” é emblemático, o xerife corre do bandido). O que mais me interessa é um dos maiores filmes da história do cinema, “Sangue negro” (There will be blood, EUA, 2007, Paul Thomas Anderson). Ali há a materialização de tal mudança na atmosfera cultural americana. Há a desconstrução dos dois personagens mais emblemáticos da história americana: o pioneiro, caracterizado por um pastor evangélico e um capitalista, explorador de petróleo (para a nascente indústria símbolo americana, a indústria de automóveis). Estas figuras, sempre idealizadas, se enfrentam em todo o filme, não pela honra, mas pelos seus próprios interesses econômicos, a ponto do capitalista se converter para que sua reserva seja aprovada pela comunidade, obviamente mediante uma doação para a igreja. Os símbolos da honra americana são figuras ridicularizadas. As cenas mais interessantes são os batismos: o pastor é mergulhado em uma poça de petróleo (à força) e o capitalista no “sangue de cristo” (na cena, Daniel Day-Lewis cinicamente deixa-se banhar). Não há em nenhum momento um único valor nobre a se ressaltar.
Poderia citar vários outros exemplos, eles têm aparecido com mais força. Mas o que interessa é que estes filmes captaram talvez uma mudança nos valores americanos. Em função das migrações latinas e asiáticas? Em função da radicalização da doutrina Bush? Não se sabe, mas talvez tudo isso tenha contribuído. A questão é que em tal atmosfera cultural a frase de Obama é possível e não mais tão difícil de ser dita. Mesmo o Brasil assumindo uma posição ímpar nas relações internacionais, o que acho ser o caso, esta frase só seria dita por um líder americano em tal atmosfera cultural.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Emprego Público no Brasil - Estudo IPEA

Prezad@s,

Certamente mais um mito do pensamento reacionário que pulula na nossa mídia e nos corações mesquinhos e ressentidos do senso comum da lumpenpetitebourgeoise caiu por terra.

O mito se objetiva em seus “heróis”, Alexandres Garcias, Mainardis, Reinaldos Azevedos e afins, onde suas penas e vozes muitas vezes descreveram ad nauseam um Estado brasileiro “paquidérmico”, com um número excessivo de funcionários, etc... Na verdade tratava-se, antes de constituir-se a partir de estudos efetivos, da mera reprodução do que berravam agências multilaterais em dogmas privatistas que afundaram economias inteiras na aposta irresponsável de um modelo de sociedade construído à imagem e semelhança dos imperativos de mercado. Modelo que, como tudo que é sólido, desmanchou no ar nos últimos meses.

O estudo do IPEA (Instituto de Política Econômica Aplicada) realiza uma análise comparativa entre diferentes Estados-Nacionais e detecta o que o bom senso já havia percebido: ainda o Estado brasileiro é menor do que deveria ser. Se isto não implica que não devamos reclamar por maior eficiência, menos opacidade, e outros parâmetros republicanos no que tange a coisa pública, por outro lado devemos compreender que ainda o Estado brasileiro não atinge todos os campos e cantos do território nacional por uma insuficiência numérica. A despeito do senso comum dos próceres da lumpenpetiteburgeoise.

O estudo do IPEA pode ser lido aqui:

http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/comunicado_presidencia/09_03_30_ComunicaPresi_EmpPublico_v19.pdf

Reedição - Minima Moralia - Theodor Adorno

Vale a nota. A "Azougue Editorial" relança o texto "Minima Moralia" de Theodor W. Adorno. Trata-se de uma nova tradução do irônico texto do autor alemão acerca do cotidiano e vida no capitalismo maduro.

Possivelmente é uma resposta ácida ao texto "Magna Moralia" de Aristóteles...

Altamente recomendável. O texto estava fora de catálogo há um bom tempo em nosso país por razões inacessíveis dado que é um texto fundamental da teoria crítica elaborada no século XX.