George Gomes Coutinho
Neste 11 de abril de 2009 o blog “Outros Campos” completa um ano de seu lançamento. O marco é o seu manifesto de fundação, onde, profundamente influenciados pelos ventos da operação “Telhado de Vidro” de 11 de março de 2008, acreditávamos que se desenharia aí para Campos dos Goytacazes um “outro tempo”. Decerto o desenrolar dos fatos ainda não produziu um cenário diametralmente diverso para a cidade, a despeito da conseqüente euforia cívica decorrente do sentimento de ruptura da sensação de impunidade entre a camarilha do poder local. Mas, há alguns potenciais importantes explorados de maneira insuficiente. Dentre estes o da revitalização da esfera pública local que, ao meu ver, permanece inconclusa.
Pensei que como forma de agradecimento aos que lêem o nosso blog e nos incentivam, inclusive não somente os campistas dado que há leitores de diversos pontos do Brasil e alhures, eu poderia apresentar algumas impressões que me incomodam sobre a relação “esfera pública” e os blogs.
Há uma relativa ansiedade sobre este fenômeno, a proliferação em larga escala dos blogs e a politização dos debates, o que poderá gerar futuramente pesquisas “iluminíferas” como diria o saudoso e exótico Darcy Ribeiro. Neste momento não poderia me dedicar exaustivamente ao tema. Mas, de maneira “ensaística” decidi partilhar estas reflexões primárias influenciado seletivamente pelas ponderações do texto “Why the net is not a public sphere”, de Jodi Dean*, publicado na revista Constellations de 2003. É igualmente um texto não conclusivo, dado que lida com a internet, um fenômeno historicamente muito recente. Também não tem por objeto os “blogs”. Mas, nos servirá como ponto de partida visto a aridez persistente quanto ao tema.
Uma das primeiras coisas que devemos ter em mente quanto aos “blogs” é sua dubiedade (algo que entrecorta a internet segundo Dean): tanto é meramente o reflexo de uma sociedade radicalmente individualista, que se recusa a ter relações “reais”, quanto também possibilita a democratização de informação sob um viés interativo. De maneira aterradora as duas facetas parecem conviver e se retroalimentar. Se pensarmos no caso dos blogs, particularmente, veremos demonstrações narcísicas de toda ordem, com elementos do mais puro fascismo ou demonstrações de ódio e ameaças aos agrupamentos que se rebelam contra o establishment (ou o anti-establishment igualmente vociferando de maneira viril contra o status quo). N
o outro lado da moeda os blogs informam as “outras versões” dos fatos, rompem o cerco do oligopólio das informações em âmbito local e até mesmo nacional ou internacional. Este último ponto explica parcialmente o crescimento quantitativo dos blogs em Campos, visto que havia inegável discrepância entre o que se discutia em determinados momentos no espaço público e o que a midia tradicional de fato divulgava. Com esta esquizofrenia informacional os blogs apresentaram-se como válvula de escape destes anseios e destas informações alijadas . E é neste sentido contra-hegemônico que os blogs conquistam sua legitimidade, ao propagarem leituras de realidade que até então eram solenemente ignoradas.
De toda forma, como deve ter ficado claro, os blogs são espaço de disputa de hegemonia em um sentido gramsciano atualizado. Os projetos de sociedade estão postos e em disputa e a diversidade dos blogs vai a reboque desta diversidade político-normativa.
Portanto não há essencialmente um uso progressista ou positivo dos blogs. Estes são ferramentas, são “meio”, para a circulação em caráter simbólico dos fundamentos políticos e normativos em disputa na sociedade. Portanto são “suporte”, não podem ser “essência” ou “substância” da ação coletiva. Caberia, enquanto pesquisa futura, discutir sob qual(is) ponto(s) do espectro político os blogs locais se encontram. Decerto teríamos um mapa onde veríamos quais elementos programáticos estão disponíveis. Entendam que até mesmo projetos personalistas de poder necessitam de algum tipo de programa. Mas, além disto, seria fundamental avaliar o seu fluxo de leitores. Ai teríamos a possibilidade de avaliar o impacto destes blogs. E temo que o resultado será menos “avant-garde” do que gostaríamos.
Dean argumenta que a “transparência” que a internet reivindica oculta que os atores interagindo em seus blogs estão em uma relação intrinsecamente assimétrica, o que explica a maior ou menor audiência destes "meios". Retomarei este ponto adiante.
Ainda, o autor em seu texto alerta sobre o volume de informações racistas, sexistas, e outros tantos istas, que circulam na grande rede. Possivelmente até mesmo superam uma utilização socialmente progressista da grande rede. Longe de termos algum parâmetro de circulação de informações voltada para a “esfera pública”, onde haveria o pressuposto da formação de consensos e uma prática com pretensões universalistas sobre a sociedade, temos o particularismo enquanto resposta predominante. Este último ponto é passível igualmente de ser constatado localmente.
Seja como for, o que não podemos autorizar é um uso homogêneo do termo “blogosfera”. Não existe uma “blogosfera” em um sentido harmônico com um projeto de sociedade compartilhado. Há uma “blogosfera” altamente fragmentada, em disputa, com níveis desiguais de exposição de seus conteúdos, e com impactos variáveis no espaço público propriamente dito. Evidentemente os blogs não estão dissociados da “vida real”. Há interesses, e os que se locupletam muitas vezes o fazem reproduzindo a hierarquia simbólica situada fora do espaço virtual. Hierarquia acadêmica, política, social, etc.. Os recursos e capitais dispostos de forma desigual, evidentemente, explicam a maior ou menor porosidade de blog “x” ou “y” em detrimento de “z”. Há blogs e blogs.
Para além do fetiche de uma “blogosfera” única, onde haveria supostamente o posicionamento desinteressado da proliferação livre de informações, sentido descartado como já discuti acima, há algo que me preocupa. A dissociação entre esfera pública “real” e a “blogosfera”. Este “gap” será objeto de minha atenção daqui por diante.
Ao depositarmos exclusivamente as nossas energias na “blogosfera” estamos rompendo o circuito potencialmente instaurado que levaria às modificações na “política real”. Reificamos aquilo que é mediação, meio, instrumento, o tornando em atividade “finalística”. Para que este circuito de reflexividade possa gerar os frutos ansiados é fundamental a atuação na vida real, com as interações face-a-face, onde de fato os consensos e conflitos decisivos são apresentados.
Visando ilustrar esse raciocínio proponho o seguinte esquema:
A = Redes construídas na esfera pública, atuação sistemática e programática no espaço público efetivamente
B = Os blogs, que reproduzem os influxos comunicativos das redes e agrupamentos em disputa em “A”
C = O leitor em sua esfera privada que avalia a produção de “B” que representa um posicionamento ante as disputas em “A”
D = A opinião política que constitui-se como reflexão da ação, efetuada pelo somatório de agentes privados, retornando para “A”
Obs: As setas em azul exemplificam a conexão efetiva. A seta em branco representa aquilo que é ainda um potencial ou é frágil na contemporaneidade.
Em forma de “circuito”, como reproduzi de maneira rudimentar acima, procurei explicitar o “gap” na passagem de “D” para “A”. Ou seja, reconhecidamente formamos opinião e incitamos ao debate. Estamos conectados com os projetos em disputa. Mas, as opiniões aí derivadas não se transformam automaticamente em ação política efetiva na esfera pública e tampouco causam repercussão imediata e obrigatória na ação dos atores e redes coletivas que a constituem.
Hoje há uma maior relação esfera pública e blogosfera, na medida que os blogs tem funcionado (parte destes) como instrumentos de controle democrático. Caso ilustrativo, dentre tantos outros, foi o papel desempenhado pelo “Eu penso que” de Ricardo André Vasconcelos onde foi detectada a permanência de uma empresa, denunciada como fantasma, na aproximação com o erário campista (ver aqui). Outros blogs igualmente importantes, vide Roberto Moraes, "Atrolha", Urgente, Cleber Tinoco, dentre outros, justamente em sua postura “não alinhada” causam abalos relativos no tabuleiro do poder local. Outros, como o “Razão e Crítica”, partilham da elaboração de esforços interpretativos sobre a realidade. E sem dúvida todos auxiliam sobremaneira na busca por maior transparência e probidade no uso de recursos públicos.
Mas, ainda tem sido tímidos os rearranjos da política local “real” pela estrutura deste tipo de comunicação, mediada por computadores e usualmente construída na esfera privada. Os blogs podem sim fetichizar a ação ao se tornar objeto de atuação finalística. Possivelmente por isso vimos o caráter efêmero do “Chega de Palhaçada” ou mesmo temos a atuação dos blogs articulados com os movimentos sociais (vide o caso SEPE e eleições diretas para as escolas municipais) ainda configurando um momento raro.
De toda forma, se os membros da blogosfera quiserem dar um passo efetivo adiante, com o upgrade que mereça ser chamada de “blogosfera 2.0”, o debate precisa ser colocado em caráter crítico e não apologético. Os blogs são a possibilidade de gerar o frescor no debate por trazerem opiniões diversas do que se encontra na mídia tradicional, divulgando informações da mais alta qualidade. Em suma, podem ser ferramentas imprescindíveis no que Dean chama de “neodemocracias” na medida que socializam fatos e opiniões que até então era restritos a determinados círculos sociais. Mas, não substituem as interações face-a-face nos partidos, movimentos sociais, sindicatos, associações de moradores, etc.. Em suma: são incapazes de substituir as interações face-a-face, o real fundamento da ação na esfera pública.
* DEAN, Jodi. Why the net is not a public sphere. In: Constellations. Vol. 10, n.1, 2003, p.95-11
texto atualizado em 18:52, 11 de abril de 2009
Neste 11 de abril de 2009 o blog “Outros Campos” completa um ano de seu lançamento. O marco é o seu manifesto de fundação, onde, profundamente influenciados pelos ventos da operação “Telhado de Vidro” de 11 de março de 2008, acreditávamos que se desenharia aí para Campos dos Goytacazes um “outro tempo”. Decerto o desenrolar dos fatos ainda não produziu um cenário diametralmente diverso para a cidade, a despeito da conseqüente euforia cívica decorrente do sentimento de ruptura da sensação de impunidade entre a camarilha do poder local. Mas, há alguns potenciais importantes explorados de maneira insuficiente. Dentre estes o da revitalização da esfera pública local que, ao meu ver, permanece inconclusa.
Pensei que como forma de agradecimento aos que lêem o nosso blog e nos incentivam, inclusive não somente os campistas dado que há leitores de diversos pontos do Brasil e alhures, eu poderia apresentar algumas impressões que me incomodam sobre a relação “esfera pública” e os blogs.
Há uma relativa ansiedade sobre este fenômeno, a proliferação em larga escala dos blogs e a politização dos debates, o que poderá gerar futuramente pesquisas “iluminíferas” como diria o saudoso e exótico Darcy Ribeiro. Neste momento não poderia me dedicar exaustivamente ao tema. Mas, de maneira “ensaística” decidi partilhar estas reflexões primárias influenciado seletivamente pelas ponderações do texto “Why the net is not a public sphere”, de Jodi Dean*, publicado na revista Constellations de 2003. É igualmente um texto não conclusivo, dado que lida com a internet, um fenômeno historicamente muito recente. Também não tem por objeto os “blogs”. Mas, nos servirá como ponto de partida visto a aridez persistente quanto ao tema.
Uma das primeiras coisas que devemos ter em mente quanto aos “blogs” é sua dubiedade (algo que entrecorta a internet segundo Dean): tanto é meramente o reflexo de uma sociedade radicalmente individualista, que se recusa a ter relações “reais”, quanto também possibilita a democratização de informação sob um viés interativo. De maneira aterradora as duas facetas parecem conviver e se retroalimentar. Se pensarmos no caso dos blogs, particularmente, veremos demonstrações narcísicas de toda ordem, com elementos do mais puro fascismo ou demonstrações de ódio e ameaças aos agrupamentos que se rebelam contra o establishment (ou o anti-establishment igualmente vociferando de maneira viril contra o status quo). N
o outro lado da moeda os blogs informam as “outras versões” dos fatos, rompem o cerco do oligopólio das informações em âmbito local e até mesmo nacional ou internacional. Este último ponto explica parcialmente o crescimento quantitativo dos blogs em Campos, visto que havia inegável discrepância entre o que se discutia em determinados momentos no espaço público e o que a midia tradicional de fato divulgava. Com esta esquizofrenia informacional os blogs apresentaram-se como válvula de escape destes anseios e destas informações alijadas . E é neste sentido contra-hegemônico que os blogs conquistam sua legitimidade, ao propagarem leituras de realidade que até então eram solenemente ignoradas.
De toda forma, como deve ter ficado claro, os blogs são espaço de disputa de hegemonia em um sentido gramsciano atualizado. Os projetos de sociedade estão postos e em disputa e a diversidade dos blogs vai a reboque desta diversidade político-normativa.
Portanto não há essencialmente um uso progressista ou positivo dos blogs. Estes são ferramentas, são “meio”, para a circulação em caráter simbólico dos fundamentos políticos e normativos em disputa na sociedade. Portanto são “suporte”, não podem ser “essência” ou “substância” da ação coletiva. Caberia, enquanto pesquisa futura, discutir sob qual(is) ponto(s) do espectro político os blogs locais se encontram. Decerto teríamos um mapa onde veríamos quais elementos programáticos estão disponíveis. Entendam que até mesmo projetos personalistas de poder necessitam de algum tipo de programa. Mas, além disto, seria fundamental avaliar o seu fluxo de leitores. Ai teríamos a possibilidade de avaliar o impacto destes blogs. E temo que o resultado será menos “avant-garde” do que gostaríamos.
Dean argumenta que a “transparência” que a internet reivindica oculta que os atores interagindo em seus blogs estão em uma relação intrinsecamente assimétrica, o que explica a maior ou menor audiência destes "meios". Retomarei este ponto adiante.
Ainda, o autor em seu texto alerta sobre o volume de informações racistas, sexistas, e outros tantos istas, que circulam na grande rede. Possivelmente até mesmo superam uma utilização socialmente progressista da grande rede. Longe de termos algum parâmetro de circulação de informações voltada para a “esfera pública”, onde haveria o pressuposto da formação de consensos e uma prática com pretensões universalistas sobre a sociedade, temos o particularismo enquanto resposta predominante. Este último ponto é passível igualmente de ser constatado localmente.
Seja como for, o que não podemos autorizar é um uso homogêneo do termo “blogosfera”. Não existe uma “blogosfera” em um sentido harmônico com um projeto de sociedade compartilhado. Há uma “blogosfera” altamente fragmentada, em disputa, com níveis desiguais de exposição de seus conteúdos, e com impactos variáveis no espaço público propriamente dito. Evidentemente os blogs não estão dissociados da “vida real”. Há interesses, e os que se locupletam muitas vezes o fazem reproduzindo a hierarquia simbólica situada fora do espaço virtual. Hierarquia acadêmica, política, social, etc.. Os recursos e capitais dispostos de forma desigual, evidentemente, explicam a maior ou menor porosidade de blog “x” ou “y” em detrimento de “z”. Há blogs e blogs.
Para além do fetiche de uma “blogosfera” única, onde haveria supostamente o posicionamento desinteressado da proliferação livre de informações, sentido descartado como já discuti acima, há algo que me preocupa. A dissociação entre esfera pública “real” e a “blogosfera”. Este “gap” será objeto de minha atenção daqui por diante.
Ao depositarmos exclusivamente as nossas energias na “blogosfera” estamos rompendo o circuito potencialmente instaurado que levaria às modificações na “política real”. Reificamos aquilo que é mediação, meio, instrumento, o tornando em atividade “finalística”. Para que este circuito de reflexividade possa gerar os frutos ansiados é fundamental a atuação na vida real, com as interações face-a-face, onde de fato os consensos e conflitos decisivos são apresentados.
Visando ilustrar esse raciocínio proponho o seguinte esquema:
A = Redes construídas na esfera pública, atuação sistemática e programática no espaço público efetivamente
B = Os blogs, que reproduzem os influxos comunicativos das redes e agrupamentos em disputa em “A”
C = O leitor em sua esfera privada que avalia a produção de “B” que representa um posicionamento ante as disputas em “A”
D = A opinião política que constitui-se como reflexão da ação, efetuada pelo somatório de agentes privados, retornando para “A”
Obs: As setas em azul exemplificam a conexão efetiva. A seta em branco representa aquilo que é ainda um potencial ou é frágil na contemporaneidade.
Em forma de “circuito”, como reproduzi de maneira rudimentar acima, procurei explicitar o “gap” na passagem de “D” para “A”. Ou seja, reconhecidamente formamos opinião e incitamos ao debate. Estamos conectados com os projetos em disputa. Mas, as opiniões aí derivadas não se transformam automaticamente em ação política efetiva na esfera pública e tampouco causam repercussão imediata e obrigatória na ação dos atores e redes coletivas que a constituem.
Hoje há uma maior relação esfera pública e blogosfera, na medida que os blogs tem funcionado (parte destes) como instrumentos de controle democrático. Caso ilustrativo, dentre tantos outros, foi o papel desempenhado pelo “Eu penso que” de Ricardo André Vasconcelos onde foi detectada a permanência de uma empresa, denunciada como fantasma, na aproximação com o erário campista (ver aqui). Outros blogs igualmente importantes, vide Roberto Moraes, "Atrolha", Urgente, Cleber Tinoco, dentre outros, justamente em sua postura “não alinhada” causam abalos relativos no tabuleiro do poder local. Outros, como o “Razão e Crítica”, partilham da elaboração de esforços interpretativos sobre a realidade. E sem dúvida todos auxiliam sobremaneira na busca por maior transparência e probidade no uso de recursos públicos.
Mas, ainda tem sido tímidos os rearranjos da política local “real” pela estrutura deste tipo de comunicação, mediada por computadores e usualmente construída na esfera privada. Os blogs podem sim fetichizar a ação ao se tornar objeto de atuação finalística. Possivelmente por isso vimos o caráter efêmero do “Chega de Palhaçada” ou mesmo temos a atuação dos blogs articulados com os movimentos sociais (vide o caso SEPE e eleições diretas para as escolas municipais) ainda configurando um momento raro.
De toda forma, se os membros da blogosfera quiserem dar um passo efetivo adiante, com o upgrade que mereça ser chamada de “blogosfera 2.0”, o debate precisa ser colocado em caráter crítico e não apologético. Os blogs são a possibilidade de gerar o frescor no debate por trazerem opiniões diversas do que se encontra na mídia tradicional, divulgando informações da mais alta qualidade. Em suma, podem ser ferramentas imprescindíveis no que Dean chama de “neodemocracias” na medida que socializam fatos e opiniões que até então era restritos a determinados círculos sociais. Mas, não substituem as interações face-a-face nos partidos, movimentos sociais, sindicatos, associações de moradores, etc.. Em suma: são incapazes de substituir as interações face-a-face, o real fundamento da ação na esfera pública.
* DEAN, Jodi. Why the net is not a public sphere. In: Constellations. Vol. 10, n.1, 2003, p.95-11
texto atualizado em 18:52, 11 de abril de 2009
35 comentários:
Geroge, bom diagnóstico, mas acho que voce está ainda muito preso à definicao habermasiana de esfera pública, onde, lembrado aquele seu debate anterior com o fabrício, prevalece o normativo em detrimento do fático. Definir esfera pública como o lugar da busca pelo consenso e da manifestacao de posicoes universalistas é tudo que precisa ser abandonado em Habermas em nome de de um conceito sociológico de esfera pública. A esfera pública é o local de disputa e o universalismo das normas nunca decorre de posturas universalistas a priori, como se estas fossem eximidas de usar o poder e assimetria. Normas universalistas decorrem do poder bem usado de posicoes particulares com maior potencial de serem legitimadas como universais a posteriori.
Olá Roberto,
Na apresentação do conceito, em Habermas, há de fato uma esfera pública exageradamente idealizada e descontextualizada. Concordo com sua crítica... Mesmo no "Mudança estrutural", que é um estudo com pretensões históricas, a esfera pública ali descrita se existiu é excludente. Alguns argumentam que ela sequer existiu.
Mas, voltamos para aquele debate: sem pontos de validade minimamente compartilhados, ainda que precariamente, não é possível chegarmos a consensos provisórios acerca da vida em sociedade. E justamente por conta dos particularismos que elementos mínimos universais são evocados. É o medium mínimo de diálogo e comunicação.
Ou seja, sem este consenso procedimental mínimo, que guarda potencial universal, só ficamos com a violência como resposta. Justamente a barbárie...
Trata-se de um universalismo PROCEDIMENTAL fático potencialmente neutro. Não estou propondo qualquer tipo de normativismo fora da realidade.
Minha posição não nega os dissensos conteudísticos universais (normativos, étnicos, de gênero). Na verdade os assumo na análise. Mas, o procedimentalismo acima torna passível que sejam discutidos em um âmbito comum. Acho que está aí a chave para a elaboração de uma sociologia política que não seja nem relativista e tampouco insensível às lutas e diferenças de conteúdo que tomam lugar na esfera pública fática.
Por fim, estou trabalhando com uma noção de complexidade que compreende a profunda variabilidade das posições normativas estabelecidas circunstancialmente. Isto também torna o termo "universal" fluido.... Mas, caso a caso, discute aquelas normas tidas como "legítimas" em determinada configuração social.
Estou tentando trazer a sociologia política para dialogar com o Habermas.
Não sei se serei bem sucedido... mas prossigo tentando.
Abçs
Ótima análise do George, e de certa forma, reúne um incômodo, que há muito já tínhamos percebido...
Como transformar essa esfera de debates, em algo que repercuta na vida coletiva, com a formação de algum senso político...
O problema é que nem sabemos se isso é possível, dado o ineditismo desse fenômeno, e da ausência de estudos nesse sentido...
Um abraço...
Exatamente Xacal,
Compreendi que o avanço mais simples de ser detectado é que estamos ajudando a formar um público leitor mais crítico (ao menos os que lêem os blogs "não alinhados").
O desafio é o "após" isso... Ou seja, o problema da ação política...
Por fim, fiz a atualização do texto. Seu blog presta um papel fundamental ao aumentar a fornalha da crítica na planície.
Abçs!
George,
a idealizacao da esfera pública parmanece em Habermas junto com a crenca na neutralidade enquanto dimensao moral efetiva na realidade. A neutralidade é justamente o discurso do procedimento sobre si mesmo que esconde as pre-condicoes particulares de sua existencia, ou seja, sua nao neutralidade inerente. O que Habermas faz é mobilizar um discurso filosófico, a pragmática da linguaguem, para imaginar que a ideologia sobre o procedimento democrático possa assumir o papel de realidade. Acho que defender o procedimento democrático, contra a barbárie, é algo que se faz melhor assumindo sua nao imparcialidade.
Parabéns pela postagem!
Uma coisa eu sei... que nessa esfera de debate algo foi transformado dentro de mim e o meu posicicionamento diante do que suguei repercutiu e muito em minha atuação na vida coletiva!
Um abraço...
Roberto,
Temos a discordância, então, acerca do pressuposto do procedimento democrático...Mais uma vez (risos).
Na medida em que os pressupostos do procedimentalismo, dentro da teoria habermasiana, não são meros arranjos contrafáticos ou estritamente normativos...
Acho, como já disse, a esfera pública habermasiana fantasiosa.
Mas, a democracia procedimental reivindica a explicitação, como você mesmo sabe, do direito enquanto ponto arquimédico do sistema com o mundo da vida. E me parece que aí há um avanço heurístico que explique como determinadas normas são validadas.
Em caso oposto como a teoria da luta de classes explicaria avanços da legislação social e a consequente complexificação da cidadania? Mera reprodução das relações de dominação? Ideologia em sentido de falsa consciência?
Habermas explicaria acerca da formação de um consenso, derivado de uma determinada conjuntura histórica (demandas sistêmicas e normativas). Inclusive são estes consensos, motivados exatamente pelas lutas sociais, que permitem a legitimação de políticas redistributivas para os "desorganizados" ou a "ralé".
Acho que teorias agonísticas, como já disse, explicam parcialmente a realidade social. E teorias acerca da formação dos consensos explicam o restante.
A questão é o enfoque dado que ambas estão no mesmo espectro progressista (embora nem todos interpretem assim).
Abçs
Obrigado Hilda!
E sim, seu posicionamento na vida coletiva é absolutamente relevante.
Me pergunto é acerca do outro restante não engajado!
Abçs
Parabéns George, concordo com o Xacal, aliás sempre brilhante e na ponta do serviço a que se propõe, estou também com a Hilda e ainda digo mais: Se cada um de nós celulas formadoras desse organismo sociedade formos somando a sanidade de nossas mentes em um breve tempo esse cancêr será banido é uma questão de tempo!
George, concordo que o consenso é importante é que ele explica exatamente a parte que a teoria da luta nao explica. Mas para o lugar do consenso nao pode ser definido como o móvel da acao. Se os agentes buscam um consenso, o fazem motivados por suas experiencias particulares de privacao de reconhecimento. A a esfera pública precisa ser definida também como o espaco onde essas motivacoes particularistas se manifestam, se nao vamos ficar sempre achando que agir motivado particularistamente é uma forma patológica de de buscar a esfera pública e vamos com isso reproduzir a estigmatizacao dos que nao aprenderam a performance discursiva de mostrar-se portador de normas universalistas. Acho que Habermas é indispensável, só acho que precisamos definir o lugar dele. De resto, gostaria também de fazer coro em sua enfase sobre as interacoes face a face. Acho a autocrítica que voce convida aos blogs é para nao superestimarem seus espacos privados na frente do PC e para irem discutir em espacos reais, sempre bem acompanhados e animados pelo menu etílico. Um abraco
Meus caros,
George:
Sua inconsciência de tocar o sentimento que combate(o individualismo narcisista, e inócuo), ficou explicíto na tentativa de corrigir o texto para render homenagens a outros blogs e, e inclusive a TrOlHa, como se o fato de não ter nos citado fosse corroer alguma relevância do papel que nos propomos a fazer...
Confesso que ao começar a ler o texto, essa ausência me incomodou, e ao terminar, pude entender o quanto mesquinho era esse sentimento...É preciso avançar para além dos PCs...
Mas entendei também, que na esfera coletiva presencial esse sentimento talvez se expresse com muito mais força e perniciosidade...Já assistimos muitos movimentos políticos afundarem frente a projetos personalistas...Então, o problema não é só de meio, é de essência...
Confesso que esse dilema me incomoda todos os dias, e às vezes me tenta a terminar com a experiência do blog, por estar tomando uma dimensão indesejável e incontrolável, talvez fascistóide e demobilizadora...
O que o George fez hoje foi fazer a autópsia, pois a morte eu já conhecia...rsrsr...
Um abraço...e obrigado..
Parabéns George,
Masnão podemos esquecer, que a blogosfera ainda é um sistema iniciante.
Todavia, para minha satisfação de leitor diário e constante, já avançou bastante.
Em rodas de conversa já não cito mais esse ou aquele jornal, local ou nacional, me refiro ao informado pelos blogs e me alegra muito quando, em considerável número de interlocutores tenho a reciprocidade de também terem o mesmo nível e fonte de informação.
Assim, já considero um grande avanço.
O "Outros Campos" não está divorciado da mudança.
Prezad@s,
Xacal: cara, o fato de não ter citado "a trolha" na primeira versão do texto se deu por aquela mistura de pressa (ansiedade) para postar o texto com a dúvida cruel acerca de como eu tentaria classificar o seu blog.. Dado que ele é tanto painel de questões fáticas quanto analítico.
De toda forma, por favor, encare unicamente a ausência na primeira versão do texto mais como um erro do editor do que como desconsideração ou algo afim...
Até porque reconheço "A trolha" como um dos mais valorosos combatentes. Somos camaradas de trincheira.
Roberto: Sem dúvida meu caro... penso também nas expressões particularistas na esfera pública.. E sempre me vem a mente a excludente cidadania corporativa por exemplo... Os lobbies...
É essa a esfera pública "fática" nua e crua. Os exemplos de espraiamento de princípios universalistas são importantes... Mas não são de fato a regra!
Acho, sinceramente, que há um gap aí... concordamos que as sociedades avançam a partir de lutas. E os avanços se consolidam a partir dos consensos... Mas, exatamente como estes consensos são formados? Como o convencimento pelas lutas é operacionalmente formado?
Juro que não tenho a menor idéia de como recebe
Marcos Valério: Obrigado pelo incentivo de sempre! Também acho que somos aqueles caras que podem dar conta das patologias políticas locais.. Não tanto pela posição de "intelectuais" mas, sim, como cidadãos comuns instrumentalizados. Aí sim nossas patologias serão enfrentadas. A questão é termos o duro realismo para analisar que ainda estamos um pouco distanciados deste momento...
Anônimo: acho que você tocou em um ponto chave. E aqui retorno ao Roberto e ao Xacal.
O que eu fiz no texto foi enfrentar o senso comum da "blogosfera" tentando dizer, de fato, o que ela significa.. Reconhecer os limites é o caminho para os avanços serem feitos.
Neste momento, em uma cidade como Campos, os blogs se tornaram ferramenta indispensável. Como o anônimo disse, estamos informando, debatendo, trazendo dados novos. Isto é formar um público-leitor, o que não é pouca coisa...
Eu mesmo diariamente, várias vezes por dia, leio um conjunto de blogs regionais, nacionais e gringos.. Desconheço forma mais interessante e interativa de me informar.
Minha preocupação, mantendo a blogosfera que é fundamental, é não reificá-la. Sem mistificações acerca de seu papel...
Por fim a questão continua: como tornar todo este potencial crítico, que é importante, em atuação na esfera coletiva real? Como algo constante e não esporádico????
Esta deve ser a nossa nova preocupação..
Mas, por favor, não devemos desistir deste fundamental papel que assumimos.. Sem desistências. E devemos resistir até o(a) último(a) homem/mulher.
Abçs
Ihh, george...
acho que foi eu que não me fiz entender...
mas vamos lá...
eu não disse que você deveria me citar, até porque, como você mesmo percebeu, categorizar nossa experiência é um pouco difícil...
mencionei apenas, que você inconscientemente, tentou reverter esse "esquecimento", como algo que realmente devesse fazer...
não creio que a TrOlHa seja mais, nem menos importante do que blogs de outras categorias...freqüência numérica não é um bom parâmetro(embora seja um deles), e ainda não temos um outro parâmetro para definir uma "hierarquia"...
eu só "denunciei" que você, de forma inconsciente" achou que "esquecer" da TrOlHa fosse algo grave, e que merecesse ser reparado...
esse episódio, revelou o que, justamente, você descreve em seu texto, e que me fez, no início ficar meio puto, e que depois entendi...e me fez refletir...
talvez porque, sendo esse aqui um blog de integrantes da academia, busquemos sempre um tipo de refernciação, como: viu, os intelectuais nos aceitam, portanto, todos devem nos aceitar...
mas foi só isso, e minha fala aí em cima, foi muito mais um percepção pessoal do que uma análise fenomenológica...
um abraço...
Compreendi a reflexão desencadeada sim Xacal!
Acho que ela é inclusive importante... Os "vacilos" narcísicos estão aí, nos espreitando.. São como demônios arranhando a porta do porão, onde estão trancafiados, pedindo liberdade.
E digo isto de todos nós... Acho mesmo que é um cacoete particularista que pode colocar tudo a perder em um projeto de sociedade republicano.
Por fim, só para frisar, dei uma "cagada" mesmo não revisando o texto uma segunda vez.. Me toquei da "falha" lendo novamente o blog ;)
E foi falha de edição mesmo. Ou talvez uma peça pregada pelo inconsciente ;)
Sei lá... o insconsciente não nos é imediatamente acessível.. Vai saber!
Abçs
ihhh, acho que peguei pesado, daqui a pouco vc vai fazer psicanálise, ou acreditar em deus...sabe-se lá...rsrsrsrs...
Oi George, acho que a discussão crítica sobre a blogosfera ganharia em qualidade se conseguíssemos analisar em separado os dois tipos de problemas: a) a natureza (limites e potencialidades) da comunicação via blogs; b) e sua capacidade de intervenção real na esfera pública (coisa que não pode ser alienda da nossa cultura política [viu Renatinho!] local). Primeiro, acho que devíamos assumir a precariedade do meio (a vigência da arbítrio narcísico e no limite a sua fetichização, não sã meros efeitoa colaterais!). Podíamos nos fazer algumas perguntas "a vera": um grande volume de acessos e postagens configura alguma qualidade na interlocução ou debate? O que move as pessoas em geral em direção aos blogs (existe blogosfera?)? O que aconteceria com a "audiência" dos blogs mais "populares" em caso de mudança de foco (mais crítico reflexivo e menos crítico personalista)? Será que essa "fidelidade" resistiria? É irônico como o "último intelectual" (Habermas) sempre retorna ao debate: devemos pressupor, como Habermas, uma "comunidade de fala ideal" vigente = um público leitor crítico formado como base mínima de consenso; ou devemos nos colocar na posição iluminista clássica que aposta na FORMAÇÃO desse público/consenso (estilulando que a luz natural de cada um floresça em AUTONOMIA)? A segunda questão, da intervenção na vida real, depende da primeira, mas é diferente. Os atores e instituições devem ser capturados pela vigilância crítica e propagação instantânea dos blogs. Mas isso é só parte da tarefa, a fiscalização cidadã. A dimensão propositiva e republicana da cidadania depende da qualidade POLÍTICA das nossas intervenções. E para construir essa efetividade temos que nos articular organicamente com as plurais instituições da soc. civil (sindicatos, partidos, ongs, etc), veiculando (e criticando) suas demandas, propostas, projetos, etc. O que nos leva à nossa cultura política local e sua tradição histórica: personalista, privatista, maniqueísta, etc. Uma outra maneira de aprender a fazer isso, é aprender com a experiência do povo: como exemplo de resistência cultura e civismo temos a Festa de Santo Amaro, em especial a grande Cavalhada...
Um abraço
"Como o convencimento pelas lutas é operacionalmente formado?"
George, voce agora colocou a questao de um modo bem interessante. Será que buscarmos pelos "especialistas da formacao de consensos em sociedades secularizadas seria uma caminho frutífero?
Raskolnikov, acho que Habermas é um grande "companheiro" nessa nossa tarefa de refletir sobre o que fazemos, seja pressuponto o público crítico, seja buscando formá-lo. Eu discordo da solucao que Habermas dá ao problema que ele poe, mas confesso que a questao em si me fascina bastante: é possível buscarmos normas no jeto da gente falar e se dirigir pela fala ao outro que facilite a "manifestacao" da razao e do aprendizado humano, logo também político?
George,
É isto que enriquece os blogs, o debate promovido através dos comentários.
Cada qual tem sua temática. A minha p.ex. é trabalhar a prevenção de DST/HIV/Aids. Para tanto, procuro a todo instante conscientizar sobre a importância do uso correto e sistemático do preservativo nas relações sexuais como meio de prevenção à contaminação do vírus.
Mas não basta ir lá dizer assim:
-use camisinha sempre que vc estará protegido.
Não. Sabemos que não é fácil transformar comportamentos, a pessoas fazem sexo por uma série de razões: pra procriar, por dinheiro, por prazer, ou mesmo porque não têm outra opção. Trabalhar nesta prevenção exige uma série de ações que vão desde à informação, passando pela cultura, formação e educação, ao ato sexual propriamente dito.
No meu caso, o espaço está aberto à sensualidade e ao erotismo, combinados não só ao uso do preservativo, mas também na redução de relações silmutâneas.
Um tema difícil, mais fácil seria me deixar levar pela pornografia, mas como este não é o foco de meu trabalho -chamo isto de trabalho sim, uma vez que dedico grande parte do meu tempo a esta causa- embora não tenha lucro financeiro algum... Bem verdade que ainda estou buscando alternativas, estudando possibilidades... e se eu puder conciliar a isso, minha experiência de vida e as coisas (valores) que realmente acredito, aí sim, vai valer a pena.
E aí, talvez eu possa daqui a 1 ano estar fazendo exatamente como vc, comemorando meu bom desempenho na rede e ter adesão de fortes aliados nesta luta.
Toda vez que deixo um comentário em algum lugar e a imagem que fica é a do laço vermelho ou da camisinha, estou fazendo também um trabalho de prevenção, do meu jeito, avessa ou não, criticada às vezes sim (e muito!), não importa, mas estou lá, lembrando às pessoas que usem camisinha, que tenham cuidado em seus relacionamentos e que amem na exata proporção de como devem ser amados, respeitando o parceiro ou a parceira, sempre
!
Isto, mto prazer, meu nome é Tetê.
E agradeço a Xacal pela chamada no seu blog para seu post,
porque assim tive a oportunidade de me apresentar.
Bom restinho de Páscoa pra vc
!!
Caro Raskolnikov,
Primeiramente parabéns pelo pseudônimo dostoievskiano. Tenho profundo respeito pelo autor. Interessante que mesmo Weber, um sujeito que me pareceu a vida inteira pouco afeito a entusiasmos, tenha participado de círculos literários para debater Dostoievski....
Voltemos então ao debate.
Em suas questões bem construídas creio que concordamos que a forma com a qual proponho analisar os blogs pareceu ser bem sucedida. A sua "substância" (conteúdos, forma e sentidos da comunicação via blogs) e o "impacto" (conexão dos blogs enquanto meio de comunicação no espaço real).
Mas, você levanta uma novidade que não trabalho no texto. O problema da cultura política local. Acredito mesmo que, fazendo as devidas contextualizações com o descréscimo de participação e apatia que assola as democracias ocidentais, sua questão apresenta parte da resposta acerca do déficit entre "blogs" e "política fática". Os blogs, sem dúvida, estão enredados nos complexos mecanismos de reprodução da política local.
Por outro lado, acrescentando na sua reflexão, a questão do "gap" está também no fetichismo que os blogueiros podem atribuir a sua atividade. Anulando a política em interações "face-a-face" em prol de uma opção privada. Acho que esse é o ponto mais dramático, vide a permanência do narcisismo que já apontamos.
Pegando agora suas perguntas... Posso responder com impressões apenas:
1) um grande volume de acessos e postagens configura alguma qualidade na interlocução ou debate?
Parâmetros quantitativos podem ocultar mais do que responder a esta pergunta. Mas, o volume de acessos nos diz algo sobre o impacto, quanti, de blog X ou Y certamente. Mas, a interlocução só pode averiguada ou "face-a-face" ou nos comentários...
2) O que move as pessoas em geral em direção aos blogs (existe blogosfera?)
O texto discute algumas hipóteses sobre o que move as pessoas. Explicando o que identifiquei como "não alinhados" penso que são grupos e/ou simplesmente indivíduos que não se sentiam (e não se sentem) contemplados com a mídia tradicional. Eis que os blogs então são utilizados para "empoderar" esses discursos que até então não tinham um veículo para se expressar. Sobre os outros mecanismos que deflagram a ação precisamos de pesquisas.
E me parece que há uma blogosfera em Campos enquanto somatório de blogs. Difusa, indefinida.. Mas com alguma notoriedade. Fico curioso para saber quantos blogs, com algum interesse público, de fato existem hoje.
3) O que aconteceria com a "audiência" dos blogs mais "populares" em caso de mudança de foco (mais crítico reflexivo e menos crítico personalista)?
Aí só a experiência ;) poderá nos responder. Mas, precisaríamos definir quais parâmetros definem o "populares" e os diferenciam do restante dos outros blogs.
4) Será que essa "fidelidade" resistiria?
Mais uma vez esta resposta precisaria de algo de experimentalismo para ser respondida.
Sobre a questão da comunidade ideal de fala e o auto-esclarescimento irradiado de um público leitor: Habermas diria que houve a experiência histórica, fática, com os cafés em Paris, clubes de leitura, etc.. Isto operacionaliza o ideal iluminista.
A formação de um público leitor é condição para a esfera pública. Por isso acho que os blogs são muito importantes em Campos neste momento. O problema é o paradoxo de sua própria condição (a sua substância) que pode ser um impedititivo para sua realização na esfera política de fato.
Por fim, quando vc conecta os blogs aos orgãos tradicionais da ação coletiva (movimentos sociais,sindicatos, partidos), endossa a minha questão maior: os agentes que participam dos blogs devem atuar na política fática e participar das consequentes disputas de poder justamente por serem cidadãos. O cidadão deve antecipar-se e se sobrepor ao bloggueiro.
Só não sei se devemos mistificar as experiência populares enquanto realmente capazes de produzirem, em nossa realidade, um outro aprendizado político eficiente.
Não pude responder tudo.. Todavia estou satisfeito com suas provocações.
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Ao Xacal: Eu acredito em Freud (risos)
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Roberto meu camarada... Juro que não sei como responder a sua pergunta. Coerentemente com o que eu apontei, não acho que os movimentos populares per se, por algum tipo de essência, possam nos fornecer uma outra gramática política assim tão avançada.
Por outro lado tenho desconfiança do autoritarismo que pode estar contido na noção de "vanguarda".
Não sei, mesmo, que agente pode ser esse
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Tetê,
Tocante sua narrativa. Interessantíssimo seu blog e suas questões em uma cidade ainda tão atada por diferentes tipos de conservadorismo.
Não me entenda mal.. Mas, eu gostaria de ver suas questões se transformando em políticas públicas de educação sexual e afins. E acredito que posturas como a sua, com persistência, possam se articular com o Estado ou com as mídias tradicionais, produzindo resultados de alta qualidade. Suas idéias são muito pertinentes.
No mais obrigado pela visita e volte sempre.
Caro George, não gosto de idéia de consenso aplicada aos blogs. Também não sou simpático à instrumentalização dos blogs para a transposição de antigas formas de militância política. O bacana dos blogs é justamente o fato deles possibilitarem o rompimento com antigos monopólios de reprodução de bens simbólicos (seja da imprensa ou dos movimentos sociais). Me incomoda a leitura de que, por exemplo, o "Chega de Palhaçada" tenha sido algo efêmero apenas porque não teve continuidade nos moldes dos antigos movimentos. Creio no oposto: sua validade está justamente em ter sido algo concretizável em um dado momento, sem que tenha precisado, para isso, que se tornar algo orgânico. Se apenas quisermos transferir a velha militância para os blogs, estaremos perdendo a chance de explorar esta ferramenta no que ela realmente tem de novo e de potencialmente plural. Grande abraço e parabéns a todos do blog por este primeiro aniversário!
Caro Vitor, nao entendi sua posicao. A pluralidade é boa,sem dúvida. Mas será que ela deve ser o único objetivo? Acho que se recusarmos buscar consensos, convencimento, em disputa com a mídia hegemonica que faz isso, estamos apenas embelzando o mundo com nossa pluralidade, que talvez nem seja tao bonita assim.
Caro Vítor,
O que é novo no "modus operandi" da política...?
O que me parece que o George colocou é que a blogosfera não pode se arvorar de "grande novidade" nesse contexto, só porque é um instrumento(meio)meio diferente...
Como já vimos, de forma assimétrica(emprestando um termo aqui colocado), tanto o lado de cá(dos blogs) quanto da sociedade campista se ressentem de uma linguagem política que corresponda a uma forma "diferente", e não necessariamente "nova"(pelo ineditismo) de fazer política...
o "diferente" aqui, em Campos dos G. já existe há séculos em democracias mais maduras, inclusive na relação da imprensa com esses movimentos, e sua auto-definição como agentes nesse cenário, ou seja: o que são, para que servem e a QUEM servem...
quanto ao chega de palhaçada, a questão da análise não é uma crítica sobre aspectos orgânicos-quantitativos que teriam impossibilitado seu avanço...
já falamos isso em outros debates... o problema do chega de palhaçada é a efemeridade, ou dispersão de sua plataforma política, como os movimentos Cansei, Basta, IPTU não, etc, etc, etc....
Não foi uma crítica a inviabilidade momentânea da rede em mobilizar...veja bem que no caso do SEPE, mesmo com todos os seus problemas, todos por aqui são unânimes em apontar e rede como uma possibilidade de dinamizar as relações político-institucionais já existentes, inclusive para alterá-las..
essa é a questão: no caso do chega de palhaçada elas(essas relações)nunca existiram, e nunca existirão...
democrático abraço...
Vitor,
Concordo com as questões de Roberto e Xacal...
De fato não sei se o pluralismo possa ser um "fim em si" dos blogs.
Também acho dificil atingirmos um consenso absoluto, e neste sentido é importante mantermos o pluralismo. Isso enriquece... Ilustra as diferenciações de nossos diferentes pontos de partida e pressupostos. Todos crescemos.
Mas.. Temos uma conexão e uma obrigação com o mundo real. Chegamos a uma dívida moral. Todos aqui estudaram, incluso vc, temos uma função pública.. E isto deve voltar para a sociedade.
Mistificarmos e diferença não me parece ser o caminho.
Abçs e sua opinião é sempre bem vinda. Consensual ou não.
Ola pessoal.
Comecei a ler o blog de vocês por ser amigo de longa data do George. Tambem ja conhecia o Bill dos tempos remotos da UENF. :-)
Leio com certa freqüência, apesar de normalmente não participar das discussões. Muitas vezes por falta de profundidade nos temas abordados.
A blogosfera campista esta desempenhando um excelente papel. Gostaria de parabeniza-los pelo excelente trabalho. Os parabéns também vão para Xacal, Roberto Moraes e Ricardo André, alem de outros mais.
Saudações,
Agora, para descontrair e fazer um pouco de troça:
esse negócio de mistificar a diferença pega muito bem para propaganda de cigarros FREE, ou para out-doors da Benetton...
Com certeza Xacal, como todos os cliches. O mundo plural é assim: todo mundo mostra sua opiniao, ninguem se arroga a refutar ou a convencer ninguem e o poder estabelecido fica como está. A mídia tradicional fazendo o servico conhecido, e os blogs convidados a contribuir para a pluralidade sem esse negócio "ulprapassado" de criticar a visao dos outros, coisa de militancia tradicional. Eu que nao sabia direito o que foi o chega de palhacada, porque nao tava ai, agora sei bem do que se trata....
mistificar a diferença: NÂO é uma questão de bom senso :)
boa george...
a propósito, ficou muito boa a foto...bacana...!
Roberto,
fiquei "encasquetado" com o que você disse, que embora seja um comentário curto, me fez refletir...
talvez aí esteja um dos pontos que estamos a discutir e que seja um dos caminhos a serem perseguidos...
a tentativa de estabelecer uma blogosfera "pluralista", e por isso mesmo amorfa e dispersa, impede que possamos transpor a barreira do virtual para o orgânico...
os movimentos da blogosfera que desejem utilizá-la como ferramenta de aglutinação de forças e contraposição político-ideológica ao status quo, devem estar preparados para abrir mão dessa versão oba-oba-light da blogosfera...
isso não significa uma formatação estanque, impermeável e "stalinista", mas sim definir parâmetros, objetivos e demarcações, inclusive para proporcionar ao leitor/comentarista/colaborador a possibilidade de se situar e formular seu próprio discurso, dentro de suas espectativas...
mal comparando é o que acontece com outros veículos: quem abre a veja e a Carta Capital procuram por jornalismo, mas de viés diametralmente opostos...
não sei se me fiz entender...
Bravo! Sem medo (ou vergonha) de ser intelectual! Vide: www.fabiosiqueira.blogspot.com
Saudações Possessas
seu discurso me pareceu bem claro Xacal.... E foi esse o objetivo original do texto.
Xacal, assino em baixo. Claro que devemos sempre evitar o perigo de uma posicao autoritária, anti-pluralista. Mas acho que devemos criticar e combater o pluralismo despolitizante, que se recusa a falar em parametros, em hierarquias de temas e questoes políticas, como se o que valesse fosse somente acrescer mais uma vóz diferente no mosaico.
Em suma: que a blogosfera seja mais do que um exótico bibelô multicultural.
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