quinta-feira, 5 de junho de 2008

Eles estão voltando?

Uma reportagem da famosa revista alemã, “Der Spiegel”, alerta para o aumento tanto em número, quanto no grau de violência dos ataques de neonazistas na Alemanha. Um outro dado da matéria também é alarmante, a população se espanta cada vez menos com estes episódios. Muitas cidades do interior da Alemanha, muito especialmente as da ex-Alemanha Oriental (socialista), não são recomendadas para estrangeiros morar, há também bairros em algumas cidades como Leipzig e Berlim, por exemplo, nos quais estrangeiros devem evitar. A verdade é que as manifestações (muitas delas violentas) de grupos de extrema direita é uma crescente em todo leste europeu. Países como Polônia, Hungria entre outros, abrigam, por mais estranho que pareça, grupos neonazistas. As possíveis explicações para este fenômeno são de natureza muito complexa, em que as peculiaridades nacionais também desempenham um importante papel. Dentre estas muitas possibilidades, no caso da Alemanha alguns aspectos que estão inter-relacionados ganham destaque como potencial explicativo para o crescimento dos grupos neonazistas, a saber, os vários impactos da reunificação, o crescimento da pobreza, os altos níveis de desemprego e o histórico de xenofobia que marca parte da identidade cultural alemã.
A primeira coisa que se deve ter em mente quando se analisa esse fenômeno, é que ele nada tem a ver com um movimento político organizado, com estratégias e ambições claras de se tomar o poder do país, como foi o nacional-socialismo. Quando falamos em neonazistas, estamos falando de gangues de bairro, ou de pequenas cidades, muitas delas com líderes oriundos de torcidas organizadas de futebol (hooligans), que por vezes tem organizações maiores. Como todas as gangues, têm também suas gangues inimigas (punks e extremistas de esquerda) que, quando se encontram, se engalfinham em conflitos sangrentos. Esses grupos neonazistas são formados em geral por jovens pobres, desempregados e com o nível de escolaridade menor do que boa parte da população. Esses movimentos são muito mais uma expressão da nova tensão social que recai sobre estes jovens, do que um movimento político organizado. Mesmo que bradem pelo nacionalismo e por um anti-capitalismo, podem ser enquadrados naquilo que chamamos de movimentos pré-políticos. A forma com que eles lidam como fracasso na competição do mundo liberal capitalista (não é coincidência que estes movimentos são mais fortes na ex-Alemanha socialista) é encontrando um bode expiatório, ou seja, os estrangeiros.
A herança do histórico nacional de xenofobia é o tempero perfeito para o novo quadro de tensão social que cresce na Alemanha. Com essa mistura, o menü neonazista é formado. Esses jovens deslocados de sua sociedade encontram sua identidade numa resignificação do ideário xenófobo que fez parte da história do país. Com essa resignificação, eles deixam de ser, pelo menos em suas mentes, os jovens fracassados em que o reconhecimento social lhes é negado, para tornar-se heróis que vão devolver a Alemanha para os alemães. Massacrando o seu bode expiatório fogem do conflito interno terrível que os atormenta.
Mesmo não os identificando como um grupo político altamente organizado, não são eles menos perigosos, é devem ser cada vez mais observados pelas autoridades.


2 comentários:

Fabrício Maciel disse...

òtima postagem Brand, tanto pelo valor informativo no geral, quanto por sua ótima análise. É interessante notar que a narrativa coletiva de um povo não some na história tão facilmente, como parece sugerir uma interpretação dominante acerca da globalização, que anuncia o fim da história e das utopias, dentre elas sendo incluídas as identidades nacionais. Este é o discurso dominante, ou seja, vivemos em um mundo fragmentado onde nada é sólido. Com isso, não enxergamos a solidez e possível perigo de identidades como estas que voce apresenta. é preciso defender agora utopias universalistas e civilizadas, ña medida em que estas compreendam de fato as particularidades rumo a um convívio conflituoso sim, mas não bárbaro, o que é muito diferente.

xacal disse...

a identidade da direita é não ter identidade...

esse fenômeno não é novo, mas decerto assumiu uma complexidade e uma capilaridade ampliada pals possibilidades tecnológicas...

paradoxalmente, a avanço tecnólogico nem sempre pode ser associado a progresso, como querem alguns...

com toda a interativiade e interconectividade da rede, barreiras ideológicas, raciais e de genêro, bem como entre pobres e ricos, são erguidas com uma solidez nuna vistas...

nesse aspecto, muros físicos, como o de berlim, o da fronteira méxico/eeuu e o de israel são mais honestos...

é a diluição incorporada, como diria fred 04 da ótima banda mundo livre s/a...