Passadas as eleições municipais de 2008 os partidos começam a projetar cenários para as eleições de 2010. Esse fenômeno não deveria causar espanto, pois os partidos são feitos para ganhar eleições. Mas o que se pode esperar para o próximo pleito presidencial? Mais precisamente: qual o impacto de 2008 nas eleições de 2010?
As respostas ainda são muito vagas. O cenário é absolutamente nebuloso. As experiências das eleições de 2002 e 2006 são insuficientes, além de contraditórias. Um exemplo: em 2006, Lula obteve em média melhores resultados nos municípios administrados pelos partidos de oposição, particularmente pelo antigo PFL. Fenômeno que surpreendeu muitos analistas. Acreditava-se que o candidato do PSDB levasse ligeira vantagem nesses municípios. Qual foi a surpresa? Esperavam que Lula repetisse a distribuição de desempenho das eleições de 2002, ou seja, concentrado nos municípios administrados pelo PT. Não foi o que ocorreu. Explicação? Pode colocar na conta do Bolsa Família: o maior programa de transferência direta de renda do planeta foi aplicado nos municípios onde se concentra a pobreza (óbvio, não?), “coincidentemente” os mesmos municípios administrados pelos partidos de oposição. Interessante que esses eleitores foram acusados de, ao votarem no Lula, agirem como que “comprados” pelo BF. Ninguém lembrou que esses mesmos eleitores, 2 anos antes (em 2004), haviam votado e eleito prefeitos dos partidos de oposição ao Governo Federal.
A pergunta permanece: em 2010 qual será o papel dos prefeitos? Ninguém sabe! A única certeza que se tem até o momento joga ainda mais dúvidas na projeção do cenário para 2010, qual seja, Lula não disputará as próximas eleições. Tampouco está definido o seu candidato.
Poder-se-ia perguntar: mas e a Dilma? Novamente, ninguém sabe! Apenas desconfio que seja o chamado “boi de piranha”, mas se o boi atravessar intacto o rio, bom. Senão entra outro (talvez já escolhido, e ninguém nunca saberá). Mas repito: são apenas desconfianças.
Outra questão que torna ainda mais nebuloso o cenário é o PMDB. Foi o partido com melhor desempenho nas eleições municipais, mas tem um histórico de descentralização, exatamente o que garante sua permanência como um único partido. Grupo heterogêneo somente se mantém unido em respeito a suas diferenças. Isso pode ser observado em vários níveis: na organização partidária, na distribuição de recursos do fundo partidário, nas estratégias de coligações, na etc. A única saída que vejo para uma coordenação para lançar um candidato à presidência em 2010 seria a candidatura do Aécio Neves (não me surpreenderia se isso ocorresse, por mais improvável que pareça até o momento).
O PSDB tenta coordenar suas estratégias de modo a evitar o fratricídio ou mesmo a mitose (com a defecção do Aécio). O acordo vigente entre os dois maiores grupos do PSDB é quase uma reedição do acordo “café-com-leite”, mas está ameaçado de duas formas: primeiro, o cargo de presidente é único, ou seja, não pode ser dividido, o que significa que umas das partes deverá necessariamente ceder – não se esqueçam que são os dois maiores colégios eleitorais do país. Segundo fator é o descontentamento das bancadas do outros Estados, apesar de se submeterem ao poder de Minas Gerais e São Paulo, buscarão ser o fiel da balança, aumentando assim seu poder de barganha. Na teoria das coalizões o poder do ator não é mensurado apenas por seu tamanho, mas também por sua posição estratégica. Ou seja, a gota d’água passa ter importância fundamental quando o copo já está cheio, pois ela fará transbordar.
Em adição, temos ainda os chamados “terceiros partidos”, que poderá ser um conglomerado deles (PSB, PDT, PL, PP). Para ilustrar essa influência basta comparar os ataques por meio da imprensa aos candidatos em 2002 e 2006. Roseana Sarney era franca favorita a ir ao segundo turno em 2002 contra o Lula, e foi alvejada até sucumbir pelos meios de comunicação e demais órgãos do estado também dominados pelo PSDB (logo em seguida Ciro Gomes foi a “bola da vez). Já em 2006, Heloísa Helena obteve quase que um apoio formal dos órgãos da imprensa. Qual a diferença? HH retirava votos do Lula, enquanto que Roseana e Ciro competiam pelo eleitorado tradicional do PSDB.
Ainda existe o componente externo que é a crise econômica. Ninguém sabe exatamente onde pode chegar e a quem irá afetar. Acho temerário a oposição adotar um discurso apocalíptico nesse momento (e José Serra já percebeu isso), pois pode perder o apoio de setores produtivos que sempre financiam as eleições. Tudo que os financiadores não querem ouvir agora é o discurso histérico do fim do mundo, pois sabem que, em se tratando de economia, a administração das expectativas é essencial. Candidato que se portar como os ambientalistas prevendo o fim do mundo não será “bem-vindo” por aqueles que financiam as campanhas.
Em resumo, o que se pode dizer é que existem muitas variáveis ainda não definidas que afetarão as eleições de 2010. E, por definição, variáveis variam! Só não me venham com certezas.
8 comentários:
Pronto p apanhar de novo...rs?
Vitor, uma pergunta de um ignorante no assunto. As vezes eu acho que a eleicao municipal e a presidencial operam em universos muito distintos, o que torna quase impossível fazer alguma correlacao entre elas. Talvez, no máximo as prefeituras de SP, Rio, BH, POA tenham alguma relevancia nisso. Pra nao entrar no problema dos partidos, né!? O que vc acha?
Alô pessoal do blog!
gente chata papo esquisito
Nenhuma notinha a respeito da segunda jornada em politicas
sociais que aconteceu nos dias 25 e 26 do corrente. Esquecimento ou desinteresse proposital
Caro anonimo, eu sou mestre em politicas sociais e teria muito prazer em anunciar qualquer coisa que projete a uenf em campos. E tenho certeza que todos nesse blog fariam o mesmo. Agora, se voce é do mestrado em politicas socias, aluno ou professor, eu nao entendo porque acha o nosso papo esquisito... Sobre o que voce gosta de conversar? E se acha esquisito, mas entra sempre no blog é porque esse "esquisito" é sinonimo de: "com eu gostaria de participar desse papo!". Talvez voce consiga ate se sair bem, acredite.. mas o problema deve ser a inseguranca..
Anônimo, o seu comentário é muito injusto! Teríamos o maior prazer em divulgar o evento, caso fossemos informados! A divulgação do evento que deveria ter nos contatado, e seria prontamente atendida. Todos aqui têm o interesse de divulgar e promover a UENF, instituição a qual tivemos o orgulho de fazer parte.
Esquisito pra mim é um aluno de ciências sociais achar o papo aqui chato! E seja mais respeitoso com quem sempre respeitou a UENF!
Prezado(a) Anônimo(a) ressentido(a),
Invariavelmente eu recebo pedidos para divulgar jornadas da UFF, da UENF e alhures... Faço de fato as divulgações justamente por ser esta uma das motivações deste espaço na rede. Um espaço para divulgar o que há de interessante academicamente.
Como Brand lembrou não fomos contactados.
E estamos muito ocupados para ficar pajeando quem quer que seja. Incluso aí o mestrado que também me formou.
Por fim, faça como fazemos.. tenha a hombridade, a idoneidade, de se identificar. Ninguém aqui tem poder para lhe prejudicar.
Seu malicioso comentário só explicita a sua personalidade mesquinha. Mas não nos prejudicou dado que muitos de nós mantém algum tipo de colaboração, ou mesmo publicaram bastante, enquanto mestrandos em políticas sociais.
Algo muito mais relevante do que divulgar qualquer evento que seja..
Não nos faça adotar a prática de moderação dos comentários.
Brand, eu tenho a mesma impressão, e até já escrevi trabalhos afirmando essas duas lógicas. A bem da verdade, hoje questiono muito isso. Mas não tenho muita certeza de nada que vá nesse sentido. Desconfio que uma péssima avaliação do prefeito possa contar negativamente para um candidato à presidência, mas o mesmo não ocorreria com uma boa avaliação. Aquela velha história do consumidor insatisfeito que conta para 12 pessoas, enquanto o satisfeito somente para o melhor amigo.
Enfim, são apenas desconfianças.
Roberto, deleite-se com anônimo , pois está ao seu alcance. Treine com ele, depois vc tente formular questões que possam ser debatidas por quem já ultrapassou a adolecência.
Quem ve assim até pensa que se trata de um cara muito sério e adulto. O que nos diz por exmeplo de ficar poostando como anonimo no blog do qual voce é um dos lideres? Isso é que é coisa de gente crescida...Eu só fico te perturbando porque acho que podemos ter um terreno comum de debate ... mas se vc prefere ficar com sua ciencia dominante e seu método consagrado na sua honrada e inalcancável instituicao, tudo bem.
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