sexta-feira, 30 de janeiro de 2009


JustificarQuando as bravatas são indispensáveis....

Por Roberto Torres


O senso comum bom moco, quase sempre homicida em segredo, costuma nos dizer que bravata é coisa feia em política... principalmente em política externa... Em coro silencioso com este senso comum, temos sempre a mídia internacional defendendo seu código de boas maneiras que no fundo tem a função de estabelecer tabus, silenciar vozes e obliterar questões e denúncias... Diante dessa orquestração, em grande parte conduzida de modo pré-reflexivo até por gente que convictamente não apóia o silenciamento de vozes e nem a obliteração de debates, a insistência nas bravatas, nos artifícios retóricos, performativos e diplomático-rituais talvez seja a única arma de quem rema contar maré, lutando com armas impotentes... estes recursos, ao emergirem de atos de vontade rebeldes aos bons modos institucionais, tem o poder de desmoralizar a cerimonia, e merecem o mais alto grau de admiração de quem verdadeiramente se revolta contra o cinismo.
Não é a toa que a mídia internacionalmente orquestrada se preocupa em difundir os esteriótipos: Hugo Chaves é bravateiro, Morales etc.... Diante do Holocausto empreendido pelo Estado de Israel não me recordo de atitude mais exemplar deste poder desmoralizador das bravatas do que a iniciativa de Hugo Chaves de expulsar o Embaixador de Israel da Venezuela! Ontem, em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o Primeiro-Ministro da Turquia Recep Tayyip, levantou-se de sua cadeira e abandonou o debate com Shimon Peres sobre os ataques de Israel, após ser impedido pelo mediador do debate de responder uma longa intervenção do líder do Estado Siono-Nazista. A bravata de Tayyip talvez não tenha sido nada diante do pulsacao genocida que vinha de Shimon Peres em sua defesa veemente do Holocausto, e diante dos aplausos do público presente que explicitou a cumplicidade política do Atlantico Norte com o massacre...
Mas ele mostra que, diante do cinismo, a honra e a falta de bons modos na política externa, nos eventos onde os chefes das máquinas de matar mais poderosas do planeta querem dar conselhos ao mundo, é a única arma de quem deseja realmente marcar distancia da barbárie e se solarizar com as vítimas do extermínio de Estado.

5 comentários:

Fabrício Maciel disse...

É isso aí Roberto! É ótimo que estejam acompanhando estes fatos para explicitar em tempo real a postura pseudo-civilizada do Atlantico Norte diante da morte sistemática da ralé mundial. Não é diferente o descaso constante com a África e seus problemas. Na academia qualquer bravata é logo rotulada de não ciência.

Roberto Torres disse...

A manutencao de um ambiente cordial, embora seja um traco inegável de uma esfera de cooperacao crítica a que almeja ser a ciencia, e mesmo a política em algumas de suas instancias, nem sempre se faz visando a efetivacao desse ambiente, mas sim a dissimulacao de conflitos e barbaridades que, com o tempo, se pretende esquecer.

Paulo Sérgio Ribeiro disse...

A eficácia simbólica de uma "bravata" está em negar explicitamente o bom senso que faz com nos contentemos com tudo do jeito que está. O silêncio ou o retirar-se em um debate televisionado é, ao menos, um ato de insubordinação.

Maycon Bezerra disse...

Bom texto Roberto, somente problematizaria a incorporação do termio bravata. Você não considera que é esta uma categoria intrinsecamente carregada de sentido pejorativo? Não seria necessário realizar um disputa em torno das próprias categorias envolvidas na discussão política? De qualquer forma, concordo com você com a questão de fundo de seu texto. um abraço!

Roberto Torres disse...

Concordo sim Maycon, a disputa para definiar o objeto é importantíssima. Assim como bravata, o próprio termo terrorismo precisa ser criticado.