sábado, 20 de dezembro de 2008

O lugar do cristianismo: apontamentos íntimos.

Quando assumimos um ponto de vista científico sobre o mundo, mesmo que não estendamos para toda a existência, nos deparamos com momentos cruciais em que se chocam tal ponto de vista com outros que nos são igualmente substanciais. O problema muitas vezes é que o ponto de vista científico emerge em um momento em que já possuímos uma vivência prévia que nos forneceu as bases mais significativas de nossas compreensões sobre o mundo. Assumir então esta nova visão de mundo se constitui em um trabalho tão doloroso que parece nos cortar a própria carne. Podemos falar de conversão ou mesmo de alternação, o conceito de Peter Berger: a capacidade de assumir pontos de vistas diferentes. Mas há um habitus entranhado, incorporado, que recorrentemente nos “lembra” o passado, mesmo que imperceptivelmente. A religião é a grande inimiga da ciência, enquanto visões de mundo, e não deve ser diferente. Ambas fornecem significados para a existência que são antagônicos em método e teoria. E nos esquivamos instrumentalizando a ciência – profissão - e experimentando a religião - modo de vida. Esta diferenciação é moderna e ela resolve muitos problemas, a despeito de muitas vezes tender à esquizofrenia quando se tenta articular. Ao se aproximar o natal, tudo isso me vem à tona, e sempre me pergunto: qual é o atual significado deste evento já que na totalidade da minha vida cotidiana a religião está ausente? Minha resposta é: isto é um alto-engano. É desprezar, por exemplo, o quanto o cristianismo esteve presente na formação da ciência moderna, nos tratados morais que hoje nos chegam, nos conteúdos significativos não-científicos que preenchem grande parte da existência no ocidente. Neste sentido, penso com Rorty e Vattimo[1], a respeito do cristianismo: o mundo ocidental é um mundo melhor com ele, com as histórias morais de redenção, ajuda mútua, solidariedade – porém na esfera privada. É nesta esfera que parte do conteúdo de nossas ações públicas se estruturam, porém de forma íntima, de modo particular, e deve ser assim. Um pragmatismo religioso: não importa a veracidade científica do cristianismo, importa a utopia política do “bom Samaritano”, a irmandade solidária da “repartição dos pães”. Um grande cineasta captou isso antes dos autores acima, o italiano Píer Paolo Pasolini. Sua primeira fase traz uma pérola cristã, “O evangelho segundo Matheus” (1964), em que esse “Jesus pragmatista” é apresentado sensível à causa dos “pequenos” e profundamente solidário. O interessante é que o cineasta era além de cristão, comunista e homossexual. Não importa muito, na maior data cristã, nossas idiossincrasias. No natal, a mensagem de fraternidade cristã nos supera.

[1]The Future of Religion. Gianni Vattimo, Richard Rorty e Santiago
Zabala. Columbia University Press. 2005.

4 comentários:

Roberto Torres disse...

Bill, seu eu entendi bem, parece entao que o pramatismo relioso tem a ver com uma certa "sabedoria" dos secularuzados em aceitar que adesao religiosa é fundamental para a prática de valores irrecusáveis.

Fabrício Maciel disse...

Também não podemos esquecer a base cristã do universalismo ocidental. Na verdade, o que Bill nos diz é que até um ateu pode ser cristão, se reproduz na prática o potencial solidário do cristianismo.

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Ter a capacidade de dar razões coerentes e convincentes sobre o que ou em que se crê, não é uma das tarefas mais fáceis. Apologética trata desta área especificamente. Muitos pensam que ciência e religião deveriam estar totalmente separadas. A verdade é que é impossível separar estas duas áreas do conhecimento humano.

Quanto se trata do criacionismo, uma pergunta paira no ar: Quem é o Criador?

Nesta área do site encontra-se o material de estudo referencial sobre o Criador.

A posição deste site, nesta área de estudo voltada para a religião (estudo sobre o Criador), é a posição Judeo-Cristã. Deixamos claro que o estudo do Criador, o Deus descrito na Bíblia, apresentado aqui, não é parte do estudo da ciência criacionista nem é uma proposta da mesma, pois a ciência criacionista ocupa-se em estudar a Criação e não o Criador. Por outro lado, a Bíblia tem sido um dos livros mais lidos e também um dos mais criticados através da história.

Nesta área de apologética serão colocados vários artigos que mostram o quanto a Bíblia é coerente e compatível com as leis científicas e as evidências científicas e o quanto ela é digna do nosso estudo e aceitação. Pois em última análise, “… a maior questão do nosso tempo não é o comunismo versus o individualismo. Não é a Europa versus a América. Nem tão pouco o Oriente versus o Ocidente. Mas sim se o ser humano conseguirá vencer a pressão de viver sem Deus.” (Will Durant, historiador).

Deste ponto nasce um desejo sincero de fazer conhecida a grande relevância do conhecimento do Deus da Bíblia como o Criador de tudo aquilo que a Ciência tem descoberto. Como já foi dito no passado por Johannes Kepler, o pai da Astronomia: “O mundo da natureza, o mundo do homem, o mundo de Deus: todos eles se encaixam”.

Adauto Lourenço.

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Leia mais: www.universocriacionista.com.br
Vale a pena.