quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O "PUXA-SAQUISMO ESTRUTURAL"

Fabrício Maciel
Hoje comecei o dia mal-humorado. Tive o desprazer de escutar em Campos uma rádio montada explicitamente para o puxa-saquismo da prefeita eleita. Pelo menos valeu a pena pela análise. Uma das pérolas que escutei foi sobre um evento que ocorreu ontem no Trianon para celebração e formalização ritual da vitória. Dizia-se que a prefeita estava muito bonita, várias vezes. Isto é emblemático dos limites do aprendizado moral e político no Brasil. A população é convencida muito mais por argumentos que apelam para a estética do que para habilidades, capacidades ou virtudes de seus governantes. É interessante nosso "puxa-saquismo estrutural". Há uma rede de apoio a candidaturas, que permanece ativa após as eleições, guiada por interesses materiais imediatos, e formada basicamente pela pequena-burguesia sem cultura. São aqueles mesmos que pagam mico com seus carros todos pintados durante as campanhas, na esperança da velha boquinha. Isso não tem nada a ver com as explicações do paradigma conservador, ainda predominante no senso comum e na academia brasileira, do composto personalismo-patrimonialismo. A dimensão de nosso puxa-saquismo se explica pela ausência de aprendizado moral e político de uma modernidade seletiva, no sentido que generalizou apenas sua dimensão economica estrita, estando ausente de uma revolução política que generalizasse culturalmente o que o liberalismo político tem de bom. Ou seja, a autopercepção individual enquanto responsável pela construção de um bem público e componente de uma comunidade política. Sem isso os interesses economicos puros se tornam os principais vetores da ação individual no espaço público.
Também é interessante a relação de nosso puxa-saquismo com a especificidade do populismo e a brasilidade. Outra pérola que escutei exprimia bem isso. Dizia-se que a prefeita havia definido de forma muito inteligente (ouvir esta piada logo de manhã é f.) o episódio de ontem, e de forma muito bonita (quase chorei). Ela disse que aquilo não era apenas o Trianon lotado, era o povo de Campos representado. A mesma limitação de aprendizado político explica a facilidade como o povo emerge enquanto categoria vaga e abstrata, que precisa ser evocado enquanto entidade política mas que não existe enquanto agente efetivo. A necessidade de singularidade é vista quando se fala em Povo de Campos, ou seja, a abstração apenas parece sumir quando se atribui identidade cultural e moradia a este ente abstrato. A conexão com a brasilidade está na facilidade de se conectar o perfil deste ente com caracteres estéticos e naturais, típicos de nosso mito, e muito menos com virtudes e capacidades de ação.
No geral, os interesses econômicos nunca podem se apresentar no imaginário social moderno. É neste ponto que a cultura, como um conceito vago e elástico, intocável, sagrado, surge como explicador das especificidades. É o povo de Campos, é a cultura local, é o mandonismo local, etc., tudo como lorota para mascarar o verdadeiro motor econômico das ações. Assim, a mentira da especificidade cultural mascara a especificidade do peso da dimensão economica da vida em uma sociabilidade quase ausente de aprendizado político e moral que ensina e faz internalizar concepções de mundo universalistas que impõem limites à defesa velada dos interesses mais pragmáticos.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que é mais assustador é a quantidade de pessoas "letradas" que apoiam as duas facções que brigam pelo poder na cidade.

Os imbecis da pseudo classe média que ficam tentando justificar sua opção pelo menos corrupto.

Acredito que este cenário deprime e oprime as pessoas que realmente tem a consciência do que vem acontecendo na cidade.

Valeu pelo texto !

Abraços

Anônimo disse...

Pois é, tudo como dantes...
Os políticos diplomados no Trianon, poderiam aproveitar o momento de "mudança" e colocar publicamente p.exp. em quanto ficou o rega-bôfe com direito a puxasaquismo do Moreira Lima.
Quanto custou? Quem pagou?
Lógico eles não vão disponibilizar esta informação e muitas outras que ocorreram nestes próximos 4 anos.
Mas temos que cobrar...

Em tempo: alguém sabe dar alguma informação a respeito daquela conta do exterior de senha ILSAN?

Fabrício Maciel disse...

Pois é anonimo, me detive na pequena burguesia mas a classe média letrada tem sua parcela de culpa, com certeza, nao dei muita enfase nesta pois me parece minoria diante da massa de pequeno burgueses que aparece com a cara na reta enchendo os Trianons da vida.