quarta-feira, 16 de abril de 2008

As primárias americanas: o tradicional e o moderno

Alguns elementos das campanhas primárias têm me chamado atenção, a saber, a convivência entre os meios tradicionais e modernos da forma de se fazer campanha. Indiscutivelmente as campanhas eleitorais foram “virtualizadas”, com direito a vídeo conferencias, sites, e-mails, etc.

É inegável que as campanhas se tornaram mais dinâmicas e interativas. Permitem a participação do eleitor sem que este precise sair de sua casa, ou interferir no processo mesmo se estiver em qualquer outra parte do planeta com acesso à internet. Os eleitores podem até mesmo contribuir financeiramente via internet por meio de cartão de créditos!

Mas ainda permanecem os elementos tradicionais, como os encontros diretos. Algumas das características filmadas por Robert Drew em 1960 podem ainda ser vistas atualmente (Primary, que retrata o embate em F. Kennedy e Humphrey pela candidatura dos democratas).

Os contatos face a face entre os candidatos e eleitores são os que permitem assistir as perguntas mais melindrosas, como questão do aborto, drogas, emprego, seguro saúde e imigração, por exemplo. Não há possibilidade de repetir, refazer ou mesmo apagar a frase equivocada como se faz na edição de um vídeo. Não há “Ctrl+z”. Não há script!

A platéia não é composta somente por comissariados dos partidos ou mesmo simpatizantes dos candidatos. Em alguns Estados nem mesmo é necessário ser filiado ao partido para participar das primárias (aqui os partidos também são bastante descentralizados, podem escolher o método e o dia da eleição). Nesses encontros muitos dos eleitores são cidadãos que ainda não tomaram a decisão em quem votar. Nada parecem com os comícios (que aqui também são bastante comuns), pois os candidatos não possuem palanques, não há shows de sertanejos e os discursos não são feitos com antecedência. Os candidatos ficam no mesmo patamar dos eleitores, sentado numa cadeira e dali é sabatinado. Às vezes parecem mais réus do que candidatos.

Esses dois elementos longe de serem contraditórios, parecem conviver de forma complementar. Por um lado, as inovações tecnológicas substituindo os adesivos de automóveis e as placas fixadas nos jardins das casas (algo que pouco ou quase nada se ver por aqui). Por outro, as sabatinas face a face desconcertantes. Mesmo com os encontros com vídeos conferência já postas em práticas até via celular, o elemento tradicional do contato pessoal e de perguntas não programadas permanecem na agenda dos candidatos em disputa.


Vitor Peixoto

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