terça-feira, 15 de abril de 2008

Quanto pior, melhor?

Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Jr



Eventos como os ocorridos em 11 de março suscitam reações diversas, algumas beirando à histeria. Como não poderia deixar de ser, leituras espontâneas sobre os rumos da política surgem dos mais variados grupos que recorrem quase sempre à polarização em torno de nomes tradicionais da política local que, nos últimos anos, assumiram visibilidade no cenário nacional para azar da representação social de Campos dos Goytacazes. Assim se faz a visão comum sobre o desenrolar da investigação operada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público sobre a contratação irregular de pessoal nos níveis inferiores da administração municipal; superfaturamento de obras públicas e demais ilicitudes. Por maior evidência que possamos atribuir à cobertura jornalística desde então, esta passa ao longe da reflexividade exigível para compreender o alcance dos conflitos de valores emergidos nessa conjuntura.

Penso que a pergunta sobre a possibilidade de controles democráticos dos obscuros processos de decisão no executivo e no legislativo seja um bom começo para um debate que inclua não apenas círculos acadêmicos e que não espelhe o elitismo anti-plebeu (do qual nos sentimos um pouco tentados). Talvez certos níveis de análise se articulem num pano-de-fundo cuja face mais visível é a disputa de grupos de interesse privado pelo “botim” municipal e o desemprego em massa combinado à elevada segregação sócio-econômica.

Para além dos atributos quase mágicos das curvas dos royalties da indústria do petróleo ou das expectativas desenvolvimentistas falaciosas quanto ao estabelecimento de qualquer outra indústria no município – como bem frisou Fabrício Maciel em sua análise – há que se dimensionar as alternativas que se abrem nos termos da sucessão eleitoral vindoura. Deparamos aqui com uma perspectiva amarga para muitos, ao menos quanto à organização de coletivos cuja experiência redunde nas trilhas conhecidas do mercado político campista. Estudantes, sindicatos e demais associações e movimentos sociais com seus grupos independentes têm uma breve janela histórica para publicizar demandas sociais obstruídas há muito pelas redes de clientela estruturadas em moldes ilegais. No entanto, quais concepções e práticas poderão ser mobilizadas para tal exercício de contestação? Outro sabor amargo: entre a opulência e a pobreza massiva há todo um universo de relações de troca que faz dos “assistidos” de sempre aos “novos ricos” uma sólida (mas, não eterna) base social do arranjo de poder cuja lógica não pode ser entendida meramente pela lente do personalismo. Sob o abrigo do cetismo, mas não sem certa dose de ativismo cívico, façamos as tomadas de posição necessárias.

Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Jr.

Sociólogo. Mestrando em Políticas Sociais (UENF)

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